sábado, 17 de fevereiro de 2018

A VIA SACRA DE GUIGNARD



A VIA SACRA E A VIA-CRÚCIS DE GUIGNARD


 Guignard - Foto Acervo EBA-UFMG
 
A arte sacra é repleta de obras dos grandes artistas plásticos maneiristas, barrocos, góticos, renascentistas, expressionistas, impressionistas e modernistas. E, quando se faz referências, normalmente surgem os nomes de Giotto, Botticelli, Fra Angelico, Mantegna, Bellini, Correggio, Tiziano, Anton van Dyck, Grunewald, Tintoretto, Antonello, Velázques, etc.
Mas é importante saber que tivemos vários artistas brasileiros, pintores e escultores, que também poderiam ser mencionados, tais como: Antônio Francisco de Lisboa (Aleijadinho), Joaquim da Rocha, Frei Jesuíno de Monte Carmelo, Costa Ataíde, Teófilo de Jesus, Brecheret, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Portinari, Cláudio Pastro, etc.
Outro nome, pouco lembrado e que muito contribuiu para a grandeza da Arte Sacra nacional é Alberto da Veiga Guignard, o carioca&mineiro, nascido em Nova Friburgo (RJ) a 25 de fevereiro de 1896 e falecido em 26 de junho de 1962, em Belo Horizonte, deixou um vasto acervo, pouco conhecido. Suas pinceladas retrataram vários rostos de Cristo, São Sebastião, Santo Antônio e a Via Sacra (14 estações, óleo sobre madeira).
A Via Sacra de Guignard, “apesar de obedecer às 14 estações do martírio de Jesus estabelecidas pela iconografia litúrgica desde o final do século XVI, a série põe no lugar do culto de piedade presumido nos passos da paixão um sarcasmo doído, tragicômico, arrancado de formas esgarçadas, numa espessura mínima e aguada de tinta. O percurso é protagonizado por um Cristo agigantado, patético, longe do intuito de corroborar o enlevo e a devoção que a antiga representação sacra prevê. A pulsante experimentação cromática deste trabalho, com películas finas de vermelho, preto, roxo, amarelo, laranja, verde, azul etc., tem aqui um ponto alto das configurações abruptas e inesperadas que norteiam os últimos dez anos da trajetória do artista, inclinada, na maioria das vezes, a insinuar alterações constantes na ordem das coisas, do tumulto das nuvens, com pinceladas em caracol, às figuras repuxadas por linhas finas, entre o demoníaco e o enfermiço” (1).
Podemos verificar em várias obras de Guignard, principalmente nas obras sacras, sua “Via-Crúcis” – sua vida dolorosa. Nasceu com abertura total entre a boca, o nariz e o palato (lábio leporino). Ao completar 10 anos, o pai, a quem adorava, se suicidou com um tiro de fuzil. No ano seguinte, a mãe casou-se com um barão alemão e Guignard foi para a Europa. Devido o defeito, foi uma criança desnutrida e com sérios problemas de crescimento. Passou por várias operações para corrigir este defeito congênito durante a juventude, que resultou no fechamento parcial do lábio superior, mas não impediu a regurgitação de alimentos nem diminuiu a dificuldade para falar. Outro desastre na vida de Guignard foi seu casamento com a estudante de música, em Munique, Anna Doring, que, em plena lua de mel abandonou o artista. Sem recursos financeiros, viveu de empréstimos. Realizou várias telas e vendeu para seu sustento e principalmente suas bebidas. Reconhecido como artista, venceu e foi adotado por várias famílias abastadas de Minas, inclusive o presidente Juscelino Kubistchek, grande admirador do artista.
A Síntese Biográfica de Guignard poderá ser vista em:

“Guignard fixou-se morada em Minas Gerais. Pintou, desenhou, foi professor de pintura, participou de várias exposições e foi admirado por vários intelectuais, como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Ismael Nery, Cícero Dias, Goeldi, Portinari, Cecília Meirelles e outros.
Guignard, em 1960, morando em Ouro Preto, foi para o Rio de Janeiro a convite do governador Sette Câmara. Lá pintou, em ritmo frenético, os 14 quadros que compõem a Via Sacra encomendada pelo governador para a Capela São Daniel, em Bonsucesso.
Ao ficar pronta, a “A Via Sacra” causou certa polêmica entre os padres quanto à forma usada por Guignard ao pintar Jesus Cristo. Afinal, foi colocada na capela, mas seu desconhecimento deve-se à localização, já que a capela ficava dentro de um conjunto habitacional, na época de acesso bem complicado. Quem viu, provavelmente não teve a dimensão exata da obra de Guignard. Pois para não serem danificados, os 14 quadros foram pendurados no alto da parede.
Por fim, os próprios padres, temendo danos, solicitaram que a Via Sacra fosse retirada. E os quadros voltaram aos verdadeiros donos, já que ao pintar, Guignard escreveu uma dedicatória atrás de cada quadro e assinou. De modo que a Via Sacra não foi doada à pequena capela e, sim, emprestada.
Todo esse processo provocou o desconhecimento das obras, expostas pela primeira vez. Para tanto, foi criado um espaço semelhante ao da capelinha redonda, especialmente para que os visitantes admirassem a Via Sacra” (2).
Na sequência a “A VIA SACRA” de GUIGNARD
















NOTAS
(1)          Ribeiro, José Augusto. Guignard e o ambiente artístico no Brasil nas décadas de 1930 e 1940. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, área de concentração Teoria, Ensino e Aprendizagem da Arte, linha de pesquisa História, Crítica e Teoria da Arte, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, pdf;
(2)          Daddario, Heloisa. O Reino de Guignard. Catálogo da Exposição: “O Humanismo Lírico de Guignard”. Museu Nacional de Belas Artes, RJ e Museu de Arte de São Paulo, SP, 2000 – p. 25.

Fontes Pesquisadas:
- Andrade, Alessandra Amaral. A Presença Feminina na “Escolinha do Parque”: Trajetórias de Vida de Ex-Alunas de Guignard. Dissertação Pós-Graduação. Universidade Federal de Minas Gerais, 2008;
- Amaral, Aracy A. Artes Plásticas na Semana de 22. Editora 34, São Paulo, 1998;
- Batista, Marta Rossetti; Lima, Yone Soares de. Coleção Mário de Andrade – Artes Plásticas. IEB/USP, São Paulo, 1984;
- Aulicino, Marcos Rodrigues. O Distante Próximo, o Próximo Distante: a elaboração de um espaço imaginário nas paisagens de Guignard. Tese de Doutorado – Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2007;
- Catálogo da Exposição: “O Humanismo Lírico de Guignard”. Museu Nacional de Belas Artes, RJ e Museu de Arte de São Paulo, SP, 2000;
- Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, por José Augusto Pereira Ribeiro, Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, pdf;
- Morais, Frederico. Panorama das artes plásticas: séculos XIX e XX. Apresentação de Ernest Robert de Carvalho Mange. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1989.
- Pousa, Fabrize Santos. As Artes Plásticas em Belo Horizonte, de 1918-1944: Aníbal Mattos e Seu Tempo. Estudo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, sd;
- Rosa, Rafael Vogt Maia. Inútil Paisagem. Seção Crítica – Artes Plásticas, da Revista Novos Estudos n.º 57 – Julho de 2000 – Págs. 177 a 181 – publicação do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

Outras Fontes:
http://www.museuguignard.mg.gov.br – último acesso: fevereiro de 2018.

 Última atualização - 17/2/2018 - Luiz de Almeida

terça-feira, 19 de setembro de 2017

DI CAVALCANTI



DI CAVALCANTI

 SÍNTESE BIOGRÁFICA E HISTÓRICA
Ilustração 1

Pintar bem está ao alcance de todos, mas exprimir alguma coisa, transmitir uma emoção é privilégio de poucos.
(Di Cavalcanti)

Introdução:

A área das Artes Plásticas brasileira está comemorando os 120 anos do nascimento de Di Cavalcanti (modernista, pintor, ilustrador, caricaturista, gravador, desenhista, jornalista, cenógrafo, escritor e advogado). Foi o fomentador para a realização da Semana de Arte Moderna de 22.
Existem muitas biografias de Di, mas o Retalhos do Modernismo resolveu desenvolver sua síntese biográfica e histórica, principalmente para não fugir dos propósitos do Blog que, dentre outras, procura relembrar os participantes da Semana de Arte Moderna de 22 e seus principais Personagens, fomentar a pesquisa, auxiliar estudantes e interessados na busca de dados dos literatos, artistas plásticos, músicos e mecenas da primeira fase do modernismo brasileiro. Sendo assim, não poderia deixar passar em branco essa comemoração.
Di Cavalcanti é considerado um dos maiores representantes brasileiros dentre os artistas plásticos. Ele conseguiu deixar nas suas telas, com muita cor, a imagem do carnaval, das mulatas, dos pescadores cariocas, etc. Foi um artista preocupado com o “brasileirismo”. Sempre esteve atento às falcatruas políticas da época. Começou a desenvolver seu talento muito cedo e pintou até o final da vida. Denise Mattar, curadora e organizadora do livro "Di Cavalcanti - Conquistador de lirismo", afirma:
- “Estimasse que Di Cavalcanti tenha produzido 9 mil obras, entre 1916 e 1976”.(1)
Não necessitando acrescentar mais nada, pois a própria “Síntese Biográfica e Histórica” irá trazer ao leitor uma visão da vida desse grande artista carioca e brasileiro.

                                                             Luiz de Almeida

Sobre a Síntese Biográfica e Histórica

1 – Em letras azuis está a síntese biográfica de Di Cavalcanti;
2 – Para facilitar a descrição e a leitura, salvo em descrição de terceiros, o nome de Di Cavalcanti foi abreviado para DC, em vermelho;
3 – Também para cada período, foi escolhida pelo autor da Síntese, uma obra que representasse o período;
4 – Em todos os anos da vida de DC, mesmo nos que não foram encontrados dados sobre ele, foram adicionados dois “Adendos”, o “Cultural” e o “Brasil”, onde foram adicionados dados relevantes no período nas áreas da Cultura e da Histórica do Brasil, escolhidos pelo autor da Síntese;
5 – As “Referências” foram numeradas e estão disponibilizadas no final da Síntese;
6 – Toda ilustração também foi numerada. As referências das ilustrações estão disponibilizadas no final da Síntese, em: “Referências das Ilustrações”;
7 – Toda obra utilizada para a pesquisa está descrita no final da Síntese, em: “Bibliografia”;
8 – Todos os endereços de sites e blogs utilizados para a pesquisa estão descritos, também no final da Síntese, em: “Fontes Pesquisadas na Internet”;
9 – Caso o leitor tenha interesse na Apostila da Síntese, basta solicitar através do “Entre em Contato”, janela disponibilizada no lado direito superior do Blog. O Blog Retalhos do Modernismo envia por e-mail, em pdf, sem nenhum ônus;
10 – Caso o leitor encontre algum dado equivocado ou tenha outros dados e informações sobre DC, também poderá notificar o Blog através do “Entre em Contato”.

Síntese Biográfica e Histórica

1897
6 de setembro: Nasce no Rio de Janeiro, na rua Mata-Cavalos (atualmente Rua Riachuelo), Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (Di Cavalcanti), filho de Frederico Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (Tenente do Exército. Trabalhava na Guarda do Palácio Imperial) e d. Rosália de Albuquerque Melo. Era sobrinho do abolicionista José do Patrocínio (1853-1905);
Adendo Cultural: 28 de julho: numa sala do Museu Pedagogium, Rua do Passeio (RJ), realizou-se a sessão inaugural da Academia Brasileira de Letras, sob a presidência do escritor Machado de Assis (1839-1908) e com a presença de dezesseis acadêmicos. O discurso inaugural foi feito por Joaquim Nabuco (1849-1910). Nasce em Itapetininga (SP), a decoradora Regina Gomide, irmã do artista plástico Antônio Gomide (1895-1967). Foi casada com o artista plástico suíço John Graz (1891-1980).
Adendo Brasil: Janeiro: inauguração do telégrafo submarino entre Rio de Janeiro e Pernambuco. 22 de setembro: morte do Antonio Conselheiro (Antônio Vicente Mendes Maciel). Nasceu em Quixeramobim (Ceará) em 13 de março de 1830 e faleceu em Canudos (Bahia) em 22 de setembro, líder da comunidade da cidade de Canudos (Bahia), onde ocorreu a Guerra dos Canudos. Em outubro: fim da Guerra dos Canudos, que morreram mais de 25 mil pessoas e a cidade de Canudos foi destruída. O escritor Euclides da Cunha (1866-1909) era repórter do O Estado de S. Paulo e foi designado para fazer a cobertura dos acontecimentos em Canudos. No livro Os Sertões, Euclides descreve como era a comunidade de Canudos liderada pelo beato Antonio Conselheiro. Pudente de Morais (1841-1902) era o presidente do Brasil. 12 de dezembro: Ouro Preto deixou de ser a capital de Minas Gerais, cedendo lugar para a recém-construída “Cidade de Minas”, que, em 1991, passaria a se chamar Belo Horizonte.

1898
Adendo Cultural: Dia 15 de fevereiro, o Teatro São José, construído próximo ao largo de São Gonçalo (hoje Pça João Mendes), em São Paulo, foi destruído por um incêndio. São Paulo ficava sem teatro. 12 de março, em Santos (SP): nasce o escritor Ribeiro Couto (faleceu em 1963). 4 de agosto: nasce em Pinhal, município de Santa Maria (RS), o poeta Raul Bopp (faleceu em 1984), autor de Cobra Norato. 20 de setembro: nasce em S. Paulo o escritor modernista, crítico de artes Sérgio Milliet (faleceu em 1966). 8 de dezembro: nasce em Rio Claro (SP), Yan de Almeida Prado – irá participar da Semana de 22 com trabalhos realizados conjuntamente com Antônio Paim Vieira (1895-1988).
Adento Brasil: Campos Sales inicia seu governo como presidente da República que findará em 1902. Vital Brasil (1865-1950), no Instituto Bacteriológico de São Paulo, descobre o primeiro soro eficaz contra a picada de cobras.

1899
Adendo Cultural: 14 de julho: nasce em Campinas (SP), o escritor modernista: Carlos Tácito Alberto de Almeida Araújo (Tácito de Almeida, faleceu em 1940), irmão do poeta Guilherme de Almeida (1890-1969). 10 de Agosto, na cidade de Amparo da Barra Mansa (RJ): nasce Flávio de Carvalho (faleceu em 1973), artista plástico. 19 de dezembro: nasce no Recife, Vicente do Rêgo Monteiro, artista plástico. Faleceu em 1970.
Adendo Brasil: Sugerido por Adolpho Lutz (1855-1940), o Governo do Estado de São Paulo criou, na capital, o Instituto Soroterápico (futuro Butantã), que seria dirigido por Vital Brasil.

1900
A família se muda para o bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro;
Adendo Cultural: Nasce, em Belo Horizonte (MG), a artista plástica modernista Zina Aita (faleceu na Itália em 1967). Nasce em Belém do Pará, Ismael Nery
Adendo Brasil: Comemorações do IV Centenário do Descobrimento do Brasil. 7 de maio: em São Paulo, foi inaugurada a primeira linha de bonde elétrico, que partia do Largo São Bento com destino ao bairro da Barra Funda.

1901-1907
Estuda nos Colégios Aldéia Noronha, Militar e Pio Americano. Tem aula de piano com Judith Levy; 

Adendo Cultural no período de 1901 a 1907:
1901: 17 de maio: nasce em São Paulo, o poeta bissexto Luís Aranha (faleceu em 1987), participante da Semana de 22 e da Revista Klaxon.
1902: Anita Malfatti (1889-1964) inicia seus primeiros estudos de desenho e pintura com a mãe; 25 de julho: foi inaugura a primeira exposição coletiva nacional de relativa significância realizada em São Paulo, capital, foi a Exposição de Belas Artes e Artes Industriais, em um edifício localizado no Largo do Rosário, exposição exibiu 406 trabalhos de pintura, escultura, artes industriais, cerâmica, cutelaria, desenho, arquitetura e fotografia, de artistas nacionais e estrangeiros residentes no País. Tarsila do Amaral (1886-1973), com 16 anos, viaja à Europa com os pais, matriculando-se no Colégio Sacré-Coeur, em Barcelona, quando inicia suas primeiras experiências com pintura. 24 de janeiro: nasce em Porto Alegre aquele que seria o “divulgador da estética modernista” no Rio Grande do Sul, Augusto Meyer.
1903: 5 de junho: início das obras do futuro palco da Semana de Arte Moderna de 1922, o Teatro Municipal de São Paulo, um projeto de Ramos de Azevedo. 30 de dezembro: Nascimento do artista plástico Cândido Portinari, numa fazenda próxima de Brodowski (SP). Com 9 anos, chega ao Brasil, Victor Brecheret (1894-1955).
1904: Inaugurado o primeiro cinema brasileiro no Rio de Janeiro.
1905: O artista plástico Lasar Segall (1891-1957) inicia estudos de arte na Academia de Desenho em Vilna do mestre Lev Antokolski (1872-1942). 2 de janeiro: início das obras para construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Surge no Rio de Janeiro a primeira revista brasileira de histórias em quadrinhos para crianças: O Tico-Tico. Ano da inauguração da Pinacoteca do Estado de São Paulo, gestão do presidente paulista Jorge Tibiriçá Piratininga, com a participação do mecenas e senador estadual Freitas Valle (1870-1958).
1906: Criado em S. Paulo o Conservatório Dramático e Musical. Ocorre mudança na direção da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, com Eliseu Visconti (1866-1944) sendo eleito para substituir Henrique Bernardelli (1858-1936).
1907: No Rio surge a revista Fon-Fon! - que foi o reduto dos simbolistas. O artista espanhol Pablo Picasso (1881-1973), (Registrado com o nome: Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Martyr Patricio Clito Ruíz y Picasso), lança o Cubismo.

Adendo Brasil no período de 1901 a 1907:
1901: 19 de outubro: Santos Dumont, pilotando o balão nº 6, dá a volta em torno da torre Eiffel, em Paris, percorrendo 11 quilômetros.
1902: 15 de novembro: Rodrigues Alves (1848-1919) assume o poder e começa a reconstruir e sanear o Rio de Janeiro. Irá governar até 1906.
1903: 28 de maio: em São Paulo, realiza-se o II Congresso Socialista (o I é de 1892), que funda o Partido Socialista do Brasil. No Rio de Janeiro acontece novo surto de febre amarela. Também no Rio, em agosto, acontece uma greve geral pela jornada de 8 horas e por melhores salários. Oswaldo Cruz (1872-1917) inicia campanha de saneamento para combater a febre amarela no Rio de Janeiro.
1904: 31 de outubro: Aprovada a lei de vacinação obrigatória contra a varíola. No Rio de Janeiro explode a revolta popular contra a vacinação obrigatória. Washington Luís (1869-1957) é eleito deputado estadual por São Paulo. 15 de novembro: Rodrigues Alves sancionou a nova lei eleitoral da República, que tomou o n° 1.269, conhecida pelo nome de Lei Rosa e Silva. Essa lei revogou a Lei Eleitoral n° 35 de 26 de janeiro de 1892.
1905: Lançadas as candidaturas para presidente e vice-presidente de Afonso Pena (1847-1909) e Nilo Peçanha (1867-1924). A Light, empresa canadense fundada em 1899, começa sua atuação no Rio de Janeiro. Já atuava na cidade de São Paulo. Washington Luís integrava ativamente a Assembleia Nacional Constituinte defendendo a autonomia dos municípios frente aos governos estaduais e federal.
1906: No Rio de Janeiro acontece a Conferência Pan-Americana. 1º de maio: é eleito presidente do estado de São Paulo. Seu governo terminará em maio de 1912. 23 de outubro: primeiro voo em avião por Santos Dumont, em Paris. Em Taubaté (SP) é assinado o “Convênio de Taubaté”, visando favorecer os cafeicultores. 15 de novembro: posse do presidente da República Afonso Pena e o vice Nilo Peçanha. Irão governar até 1909.
1907: Em maio: começa uma greve geral em São Paulo, onde os trabalhadores reivindicam a jornada de 8 horas de trabalho e aumento salarial. A greve durou um mês.

1908
Começa a estudar com o artista plástico e pintor Gaspar Puga Garcia (1800-1914);
Adendo Cultural: 29 de setembro: morte de Machado de Assis, escritor e fundador da Academia Brasileira de Letras. No Rio de Janeiro é lançado o filme do cinematógrafo Pathé, Nhô Anastácio Chegou de Viagem, considerado a primeira comédia nacional. Surge no Rio a revista Careta, reduto dos parnasianos.
Adendo Brasil: 7 de abril: o socialista Gustavo de Lacerda (1854-1909), funda a Associação de Imprensa, mais tarde Associação Brasileira de Imprensa (ABI), com objetivo de defender a liberdade de expressão e os interesses dos jornalistas. Em maio: aprovada é aprovada a Lei do Serviço Militar obrigatório, iniciativa do marechal Hermes da Fonseca (1855-1923), então Ministro da Guerra. Manuel Joaquim de Albuquerque Lins, em 1º de maio, toma posse como presidente do estado de São Paulo.

1909-1913
Obra escolhida para representar 1910:
Ilustração 2 – A Dança

Adendo Cultural no período de 1909 a 1913:
1909: Felipo Tommaso Emilio Marinetti (1876-1944), escritor italiano, lança o Primeiro Manifesto Futurista no jornal Le Figaro, que irá influenciar os escritores modernistas, principalmente Oswald de Andrade (1890-1954), ano que este inicia sua carreira de jornalista. 14 de julho: inauguração do Teatro Municipal do Rio de Janeiro pelo presidente Nilo Peçanha com capacidade para 1.739 espectadores. 15 de agosto: assassinato do escritor Euclides da Cunha. Novembro: Joaquim José de Carvalho (1850-1918) funda a Academia Paulista de Letras.
1910: Anita Malfatti, em agosto, financiada pelo seu tio e padrinho, Jorge Krug (falecido em 1919), embarca para Alemanha no navio Cap Arcona, chegando a Berlim no dia 7 de setembro. Iniciou os estudos de pintura no ateliê do artista Fritz Burger (1867-1916), o seu primeiro mestre, onde estudou o “segredo da composição da cor” e as teorias de subdivisão da cor. Em Londres acontece a primeira Exposição Pós-Impressionista (Manet e outros pós-impressionistas), organizada por Roger Fry. Após o manifesto geral dos pintores futuristas, a Igreja da Europa impõe ao clero um “juramento anti-modernista”. Ano que o expressionismo alemão ganha força. A Pinacoteca do Estado de São Paulo é constituída oficialmente.
1911: Anita Malfatti matricula-se na Academia Lewin Funcke, cujo professor era Franz Heinrich Louis Corinth, que utilizava o pseudônimo de Lovis Corinth (1858-1925), pintor expressionista alemão. Na XXII Exposição da Primavera em Berlim, o termo expressionismo(*) foi aplicado pela primeira vez. Em agosto: Oswald de Andrade funda o semanário humorístico O Pirralho. Mário de Andrade (1893-1945) ingressa no Conservatório Dramático e Musical, em São Paulo. 12 de setembro: com apresentação da ópera Hamlet, de Ambrósio Thomas, é inaugurado o Teatro Municipal de São Paulo. A Lei nº 1.271, de 21 de novembro, assinada pelo então presidente do Estado de São Paulo, dr. Manoel Joaquim de Albuquerque Lins (1852-1926), no seu bojo, dispõe sobre a organização da Pinacoteca do Estado de São Paulo e, em 14 de dezembro, acontece a I Exposição Brasileira de Belas-Artes.
(*) O Expressionismo é um movimento artístico que procura a expressão dos sentimentos e das emoções do autor, não tanto a representação objetiva da realidade. Este movimento revela o lado pessimista da vida, desencadeado pelas circunstâncias históricas de determinado momento. A face oculta da modernização, o isolamento, a alienação, a massificação se fizeram presentes nas grandes cidades e os artistas acharam que deveriam captar os sentimentos mais profundos do ser humano, assim, o principal motor deste movimento é a angústia existencial.(2) 

1912: Oswald de Andrade viaja para a Europa. O Senador José de Freitas Valle, político paulista influente, passa a receber na sua residência, na Vila Kyrial, toda a intelectualidade paulista (escritores, músicos, artistas plásticos, arquitetos, etc.). Oswald de Andrade retorna da Europa com o “Manifesto Futurista” do poeta italiano Marinetti, publicado pelo jornal Le Figaro, em 1909. Acontece a Exposição Futurista em Paris. 22 de abril: Criação do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, através do Decreto nº 2.234, sociedade que promovia concertos e espetáculos com virtuosos, conjuntos de câmara e orquestras sinfônicas.
1913: Mário de Andrade é contratado como professor do Conservatório de São Paulo, para lecionar História da Música. Em março: Lasar Segall realiza sua primeira exposição em São Paulo, inaugurada no dia 2 de março e encerrada a 5 de abril, à Rua São Bento, 85. Expos também em Campinas (SP), em junho, no Centro de Ciências, Letras e Artes. 19 de outubro: Nasce no Rio de Janeiro, Vinícius de Moraes.

Adendo Brasil no período de 1909 a 1913
1909: 15 de junho: morre o presidente Afonso Pena. Posse de Nilo Peçanha. Seu governo terminará no ano seguinte. A campanha para presidência da República, em 1909-10, foi a primeira efetiva disputa eleitoral da vida republicana. O marechal Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro, saiu candidato com o apoio do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e dos militares. São Paulo, na oposição, lançou a candidatura de Rui Barbosa (1849-1923), em aliança com a Bahia. Santos Dumont, em 13 de novembro, em Paris, apresenta outro avião construído por ele, o Demoiselle, oito vezes menor que o 14-Bis, e capaz de voar a 96 km por hora.
1910: 1º de março: Hermes da Fonseca vence as eleições para presidente e em 15 de novembro toma posse, abalando a “política do café com leite”, pondo em prática a chamada “política das salvações”, visando assim acabar com as oligarquias cafeeiras e concentrar o poder. Durante o governo de Hermes da Fonseca ocorreu a Revolta da Chibata(3) no Rio de Janeiro, de 22 a 27 de novembro. Foi um levante de cunho social, realizado em subdivisões da Marinha, sediadas no Rio de Janeiro. O objetivo era por fim às punições físicas a que eram submetidos os marinheiros, como as chicotadas, o uso da santa-luzia e o aprisionamento em celas destinadas ao isolamento. Os marinheiros requeriam também uma alimentação mais saudável e que fosse colocada em prática a lei de reajuste de seus honorários, já votada pelo Congresso. Hermes da Fonseca governou até 1914. O ano de 1910 a tuberculose, considerada Mal do Século, matou mais 3 mil pessoas no Rio de Janeiro.
1911: Ano de lançamento da pedra fundamental da nova catedral de São Paulo, a Catedral da Sé, que levaria 41 anos para ser inaugurada. Hermes da Fonseca, eleito presidente da República, põe em prática a chamada “política das salvações”, visando a acabar com as oligarquias cafeeiras e a concentrar o poder.
1912: Em S. Paulo, 17 de maio: devido o aumento da infração, começam as greves operárias reivindicando aumento de salário.
1913: 28 de junho: morre o ex-presidente Campos Sales.

1914
Falece o pai de tuberculose. Publica na revista Fon-Fon! sua primeira caricatura;

Ilustração 3 – Capa da Revista Fon-Fon! elaborada por DC (s/d)

Adendo Cultural: Em Zurique, Nova Iorque e Paris, surgem as primeiras manifestações do Dadaísmo. Lima Barreto (1881-1922) publica Numa e a Ninfa. Cassiano Ricardo (1895-1974) publica Dentro da Noite. Anita Malfatti, preocupada em conseguir uma bolsa do Pensionato Artístico do Estado para aprimorar seus estudos em Paris, preparou sua primeira mostra individual, inaugurada no dia 23 de maio, num salão no primeiro andar da Casa Mappin Stores, Rua 15 de Novembro, 26, em São Paulo, permanecendo aberta até junho, com o título: “Exposição de Estudos de Pintura Annita Malfatti”. Expos 33 obras: gravuras, desenhos, esboços, aquarelas e óleos. No final do ano, Anita viaja aos Estados Unidos, Nova York, para continuar seus estudos. 18 de novembro: nasce em Restinga Seca (RS), Iberê Camargo.
Adendo Brasil: 15 de janeiro: Washington Luís (1869-1957) toma posse como prefeito da cidade de São Paulo. Deixará a prefeitura somente em 16 de agosto de 1919. 1º de março, Venceslau Brás (1868-1966) elege-se presidente da República e toma posse em 15 de novembro. É o retorno da política do “café-com-leite”.

1915
Ilustra a capa para a revista A Vida Moderna;
Adendo Cultural: No final de 1914, Anita Malfatti retornara aos EUA. Em Nova York, matriculou-se na tradicional escola Art Students League, onde teve aulas com Georg Brant Bridgman (1864-1943) e Dimitri Romanovsky (s.d.–1971). Não teve nenhum interesse em estudar gravuras e então matriculou-se na Independent School of Art. Lá conheceu o pintor e filósofo Homer Boss (1882-1956).
Adendo Brasil: Nilo Peçanha toma posse com a retaguarda das tropas federais. É aprovado o Código Civil Brasileiro, disciplinando o Direito privado. 8 de setembro: o gaúcho Pinheiro Machado, nascido em 8 de maio de 1851, político influente na esfera federal, é assassinado no Rio de Janeiro.

1916
Matriculou-se na Escola Livre de Direito no Rio de Janeiro. Em novembro: participa no Rio de Janeiro, do I Salão dos Humoristas, realizado pelo Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, organizado por Olegário Mariano (1889-1958). No Jornal do Commercio de 19 de novembro, comentando o Salão, aberto uma semana antes, escrevia um anônimo comentarista de arte (4):
“São dignos de exame alguns trabalhos de um jovem que estréia com os pseudônimo de Di, ... a caricatura de mlle. Bernardez é uma verdadeira revelação do caricaturista Di, pseudônimo absolutamente ignorando entre nós”.
Adendo Cultural: Em agosto, Anita Malfatti retorna ao Brasil. Tarsila do Amaral começa a trabalhar no ateliê de William Zadig (1884-1952). No Rio de Janeiro acontece a Exposição Geral de Belas Artes.
Adendo Brasil: É publicado por Álvaro Bomilcar (1874-1957) estudo sobre o preconceito de raça no Brasil. Altino Arantes Marques (1876-1965), em 1º de maio assume como presidente eleito do estado de São Paulo. Governará até maio de 1920. Promulgado o Código Civil Brasileiro que fora aprovado em 1915, e Implantado o Serviço Militar Obrigatório no território nacional.

1917
Muda para São Paulo e ingressa na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.  Trabalha como bibliotecário no jornal O Estado de S. Paulo, seu primeiro emprego remunerado. Posteriormente foi promovido a revisor, e escrevia pequenos textos. Inicia seu relacionamento com Mário de Andrade (1893-1945), Oswald de Andrade (1890-1954), Anita Malfatti (1889-1964), Menotti Del Picchia (1895-1988), Guilherme de Almeida (1890-1969), Monteiro Lobato (1882-1948) e outros futuros modernistas paulistas. No seu Diário de Minha Vida, publicado em 1955, descreve sobre sua vinda para a Paulicéia (5):
As cartas de Bilac recomendavam-me a Roberto Moreira, Nestor Pestana e Amadeu Amaral. Minha mãe recomendou-me a Alfredo Pujol, amigo dela desde as primeiras letras. Com essas cartas conquistei São Paulo porque me fiz companheiro de uma porção de jovens que viriam a ser meus companheiros de geração literária e política.
Aracy Amaral, em Artes Plásticas na Semana de 22, assim descreve sobre a permanência de DC em São Paulo (6):
(...). Conta Di Cavalcanti (nota minha: no Viagem da Minha Vida, p. 108, seu primeiro livro de memórias publicado em 1955, Editora Civilização Brasileira), que vivia em São Paulo onde estudava Direito e trabalhava como jornalista e pintor: “O academismo idiota das críticas literárias e artísticas dos grandes jornais, a empáfia dos subliteratos, ocos e palavrosos, instalados no mundanismo e na política, e a presença morta de medalhões nacionais e estrangeiros, empestando o ambiente intelectual de uma paulicéia que se aprestava comercial e industrialmente para sua grande aventura progressista, isso desesperava nosso pequeno clã de criaturas abertas a novas especulações artísticas, curiosas de novas formas literárias, já impregnadas de novas doutrinas filosóficas”. (...).
Ele já expusera, no Rio de Janeiro, no Salão dos Humoristas em 1916, e, em São Paulo, desenvolveu uma arte influenciada pelo romantismo do “fim-de-século” que se arrastava ainda em nossa capital, com “tons velados”, como lhe diria Mário de Andrade, em blague. (...).
DC realiza sua primeira exposição individual, em abril, na redação de A Cigarra, localizada na Rua Direita, em São Paulo. Começa a frequentar o ateliê do pintor impressionista alemão George Elpons (1865-1939). Em maio: inicia sua colaboração na revista A Vida Moderna. Colabora com ilustrações para a revista Panoplia, em São Paulo. Desenha a capa de O Pirralho, edições de 12 de maio e 22 de junho. Em novembro torna-se diretor da revista. Ainda em novembro, visita a casa Anita Malfatti logo após conhecer a obra da artista na Exposição do Saci, promovida por Monteiro Lobato, juntamente com Arnaldo Simões Pinto e outros jornalistas, para conhecer as obras de Anita. Segundo depoimento da artista quando da Conferência em 1951, “A chegada da arte moderna no Brasil”, menciona:
“Numa tarde de novembro apareceram em casa alguns jornalistas como o Di Cavalcanti e Arnaldo Simões Pinto. Foram eles que me entusiasmaram a fazer uma exposição, que eu não queria mais fazer em virtude da opinião negativa dos que me rodeavam. Mais eu recalcitrava mais eles insistiam. E venceram”.

Adendo Cultural: 17 de maio: Freitas Valle dá início ao 1º Ciclo de Conferências na Villa Kyrial, terminando em 16 de agosto (7). Tarsila do Amaral, em São Paulo, estuda com Pedro Alexandrino (1856-1942). Em 12 de dezembro, Anita Malfatti organiza nova exposição em sala térrea cedida pelo Conde Lara [Antônio de Toledo Lara – empresário do ramo de café e empreendedor. Nasceu em Tiete (SP), em 21/12/1864 e faleceu em São Paulo, em 20/4/1935], na Rua Libero Badaró, 111 – considerada a primeira exposição de Arte Moderna do Brasil. Expõe 53 obras, maioria com tendência impressionista, obras realizadas nos Estados Unidos (período: 1915/16), e outras realizadas em São Paulo (período: 1916/17). Também expos algumas obras de pintores amigos norte-americanos. Suas obras chocaram o público. Na primeira semana vendeu oito obras. Em 20 de dezembro, Monteiro Lobato publica, na pág. 4, da edição vespertina do jornal O Estado de S. Paulo, o artigo: “A Propósito da Exposição de Malfatti” (Lobato transcreveu em 1919 no seu livro “Idéas de Géca Tatú”, Edição da Revista do Brasil, com o título mais explícito de: Paranoia ou Mistificação? - e subtítulo: A Propósito da Exposição Malfatti), em Artes e Artistas, artigo em que condena a mostra com críticas duras e severas. Essa exposição foi a que serviu para aglutinar os “moços de 22”, dentre eles: DC, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Brecheret, Guilherme de Almeida e outros.
Adendo Brasil: Em São Paulo, greve geral imobiliza todo parque industrial. No Brasil acontece a famosa “queima” de 3 milhões de sacas de café com alegação de evitar a queda de preços no mercado internacional.

1918
Continua a frequentar o ateliê do pintor e professor George Elpons, onde também frequentou a artista Anita Malfatti. Colabora com ilustrações para a revista Panoplia – e torna-se seu diretor. Em junho: o jornal O Estado de São Paulo noticiou a venda de uma obra de sua autoria intitulada Figura Vaporosa, exposta na Galeria Artística, na Rua São Bento. É o primeiro registro de venda de um trabalho de DC, embora não fique claro se tratava de uma pintura ou um desenho (8);
Obra escolhida para representar 1918:
Ilustração 4 – Ilustração Revista Panoplia

Adendo Cultural: Em Agosto: acontece a 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), Rio de Janeiro. Cândido Portinari (1903-62) matricula-se na ENBA, onde já estuda Ismael Nery (1882-1948). Vicente do Rego Monteiro (1899-1970) expõe em Recife. Anita Malfatti, ressentida com a crítica de Monteiro Lobato, recua para o impressionismo. Monteiro Lobato, em maio, adquiri a Revista do Brasil, que a manteve nos sete anos seguintes, até a falência dos seus negócios em 1925, totalizando 113 números. 18 de dezembro: morre o poeta Olavo Bilac. Tarsila do Amaral, temporariamente, pinta no ateliê do mestre alemão Georg Elpons.
Adendo Brasil: A “gripe espanhola” faz milhares de vítimas. Em São Paulo morrem mais de 8 mil pessoas no mês de outubro. No Rio de Janeiro, a situação foi mais grave, pois morreram aproximadamente 17 mil pessoas. 1º de março: Rodrigues Alves é eleito presidente e, vitimado pela epidemia da “gripe espanhola”, falece em 16 de janeiro de 1919, sem tomar posse. Posse de Delfim Moreira da Costa Ribeiro (1868-1920), interinamente na presidência da República. Maria José Rebelo (1891-1936) é aceita no Ministério do Exterior, tornando-se a primeira mulher diplomata brasileira.

1919
Ilustra o livro Carnaval, de Manuel Bandeira (1886-1968).  Juntamente com Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade, descobre o escultor Vitor Brecheret (1894-1955), que havia instalado seu ateliê no Palácio das Indústrias, em São Paulo, em sala cedida pelo engenheiro Ramos de Azevedo (1851-1928). Desenha capas das revistas O Pirralho e O Malho. Realiza a exposição “Di Cavalcanti: Pinturas”, na Casa Editora O Livro, à Rua Boa Vista, nº 38-B, em São Paulo. Ilustra o livro Ballada do Enforcado, de Oscar Wilde (1854-1900);
Obras escolhidas para representar 1919:
Ilustração 5 - Capa do livro Ballada do Enforcado de Oscar Wilde

Ilustração 6 – Ilustração do Ballada do Enforcado de Oscar Wilde
Acervo Elizabeth Di Cavalcanti

Adendo Cultural: Acontece no Rio de Janeiro a 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na ENBA, em agosto. Tarsila do Amaral, em definitivo, inicia estudos de pintura com George Elpons. Vicente do Rego Monteiro continua com sua exposição em Recife. Ferrignac (Ignácio da Costa Ferreira – 1892-1958) expõe em Roma. Mário de Andrade faz sua primeira viagem a Minas Gerais. Cecília Meireles (1901-64) publica sua primeira obra literária: Espectros. Lima Barreto publica Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá. Manuel Bandeira publica Carnaval. Guilherme de Almeida publica A Dança das Horas e Messidor.
Adendo Brasil: 2 de janeiro: Delegação brasileira parte para a Conferência de Paz, em Versalhes. 16 de janeiro: vitimado pela gripe espanhola, morre, no Rio de Janeiro, Rodrigues Alves. Epitácio Pessoa (1865-1942), em eleição extraordinária, vence Rui Barbosa e é eleito presidente. Toma posse em 28 de julho.

1920
Faz amizade com o escritor e crítico de arte Sérgio Milliet (1898-1966). Mário da Silva Brito (1916-), em História do Modernismo Brasileira, Antecedentes da Semana de Arte Moderna, narra em Os “futuristas” de São Paulo (9):
(...).
Futurista é Brecheret, e futuristas serão outros artistas que, em 1920, se apresentam ao público. (...). É o que ocorre também com Di Cavalcanti, que está sendo lançado em São Paulo, onde “formou sua estética”, e que está sendo muito discutido nas rodas cultas: “Viu-se nêle, a princípio, um artista precoce; depois um renovador, um precursor de novas correntes estéticas e, mais tarde, um incompreendido”. A série de desenhos “Fantoches da Meia-Noite”, que apareceria, tempos depois, editada por Lobato e com texto de Ribeiro Couto, padece a acusação de estar contaminada de “uma leve tendência para o futurismo e para o cubismo”. No quadro “Pierrot Místico” a influência da escola de Marinetti é tida como excessiva.
Em outubro: realiza exposição individual de caricaturas na Casa Di Franco, na Rua São Bento, em São Paulo. DC utilizou muito o pseudônimo de “Albano” nas suas caricaturas. A partir deste ano começa definitivamente a pintar a óleo, até então trabalhava principalmente com desenhos e gravuras;
Obra escolhida para representar 1920:
Ilustração 7 – O Juri

Adendo Cultural: Acontece no Rio de Janeiro a 27ª Exposição Geral de Belas Artes. Tarsila do Amaral viaja para Europa fixando-se me Paris e frequenta a Académie Julian, e estuda com Emile Renard (1873-1951). Em maio: Vicente do Rego Monteiro, pintor pernambucano, após sua exposição em Recife, expõe em São Paulo. Em dezembro, Mário de Andrade começa escrever Paulicéia Desvairada. Victor Brecheret realiza exposição da primeira maquete do Monumento às Bandeiras, na Casa Byington, em São Paulo. Chega ao Brasil: John Graz, artista plástico suíço, e participa com obra na 27ª Exposição Geral de Belas Artes. Expõe, em dezembro, no Salão do Cinema Central, em São Paulo, juntamente com Regina Gomide Graz (1897-1973), decoradora, esposa de Antônio Gomide. Graz irá participar em 1922, da Semana de Arte Moderna. Em 6 de dezembro, Menotti Del Picchia, no Correio Paulistano, escreve o artigo Futurismo, assinando como Hélios, trazendo à tona a nova estética. Anita Malfatti realiza nova exposição individual, a terceira, iniciada dia 18 de novembro até 4 de dezembro, no Clube Comercial de São Paulo, com o objetivo de ganhar uma bolsa de estudos. O governo reconheceu seu talento, mas quem recebeu a bolsa foi o escultor Victor Brecheret. Zina Aita (1900-67) realiza sua primeira exposição individual no Palácio do Conselho Deliberativo, na cidade de Belo Horizonte. Essa exposição é identificada como um evento que revela os primeiros traços da modernidade artística em Minas Gerais. Zina Aita também realiza exposição individual no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e participa ainda da 27ª Exposição Geral de Belas Artes, Rio de Janeiro.
Adendo Brasil: A Ford instalou sua primeira fábrica de montagem no Brasil. Nesse mesmo ano, foi inaugurada a primeira linha de ônibus urbanos de São Paulo. Em 1º de maio, Washington Luís Pereira de Souza toma posse como presidente eleito do estado de São Paulo. Irá governar até maio de 1924. 7 de setembro: criada a Universidade do Rio de Janeiro. Epitácio Pessoa proíbe a participação de jogadores negros no selecionado brasileiro.

1921
Casa-se com Maria, filha de um primo-irmão de seu pai. Expõe, em novembro, os desenhos originais do livro Fantoches da meia-noite, na O Livro, em São Paulo, Rua 15 de Novembro. Nessa exposição conhece o escritor Graça Aranha (1868-1931), como também iniciou as conversas com os futuros moços e intelectuais paulistas. DC promoveu a aproximação dos modernistas cariocas logo após o encerramento de sua exposição. Surge definitivamente a ideia de organizar a Semana de Arte Moderna. O pintor escreveu em seu diário como as coisas aconteceram (10):
“Era preciso uma base econômica para a realização do plano de conferências, exposições e concertos que se projetava nas reuniões da livraria O Livro, ou no apartamento de Graça Aranha, na Rotisserie Sportsman do Largo do Patriarca... Graça Aranha tinha uma ligação de amizade com Paulo Prado, personalidade que nenhum de nós conhecia e muito menos sabíamos ser um erudito da História do Brasil e um escritor excelente. Graça Aranha explicou quem era Paulo Prado e suas disposições em relação ao nosso movimento. Partindo para o Rio, Graça deu-me o cartão de apresentação a Paulo e fui eu, do grupo modernista, o primeiro a conhecer aquela figura nobre e elegante de civilizado paulista, educado pelo tio Eduardo Prado, por Eça de Queiroz, amigo de Claudel, homem que conheceu Oscar Wilde, dançarinas do tempo de Degas e o próprio Degas”. (...).
“Falamos naquela noite, e em outros encontros, da Semana de Deauville e outras semanas de elegância europeia. Eu sugeri a Paulo Prado a nossa semana, que seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulistana”. E mais adiante ele acrescenta: “Nada mais a gosto de Paulo Prado que não suportava o caipirismo que o cercava. Em São Paulo ele convivia sobretudo com gente do comércio e da lavoura e magnatas da alta finança”.
DC ilustra a Balada do Cárcere de Reading, de Oscar Wilde. Torna-se definitivamente jornalista e ilustrador da revista Fon-Fon!. Na edição do Correio Paulistano, de 14 de novembro, Menotti Del Picchia, no artigo Palestras das Segundas, menciona DC(10.1) - segue descrição parcial:
Falemos de arte. Falemos de arte ao menos na segunda-feira. (...).
(...).
Hoje, temos dois certames artísticos. Um argentino, outro brasileiro: Quirós, o maravilhoso, e Di Cavalcanti, o estranho. Comecemos por ai.
De Quirós, de cuja fidalguia e superior personalidade tagarelei à vontade, na segunda-feira passada, direi, depois, algo de novo noutro artigo. Di Cavalcanti, o místico e macabro autor de uma esplêndida série de desenhos sobre a Morte, merece bem dois dedos de prosa.
O jovem artista, que formou sua estética aqui em S. Paulo, é, a meu cer, um dos que mais horarão, pela originalidade e pela profundidade da sua arte, a pintura brasileira. Estranho, original, quase ainda incompreendido, é um milagre de talento num meio hostil à cultura como o nosso, onde pantafaçudos medíocres pontificam sobre arte. (...).
Di Cavalcanti foi cem vezes excomungado por esses Pachecos, que não compreendendo sua maneira e suas intenções, o negam como S. Pedro negou Cristo... Di, entretanto, é um forte e venceu, rompendo, a golpes de vontade, de esforço e de inteligência, todos os cordéis com que os anões da crítica quiseram amarrar sua rebelada individualidade. É moço. A sua vitória – como a de Brecheret – glorificará nossa terra, onde, apesar dos pesares, os que têm valor acabam sempre por vencer.  

Obra escolhida para representar 1921:
Ilustração 8 – Retrato de Moça

Adendo Cultural: Sérgio Milliet e Rubens Borba de Moraes (1899-1986) voltam da Europa e divulgam os autores europeus de vanguarda. Graça Aranha e Plínio Salgado (1895-1975) aderem ao modernismo. Graça Aranha publica A Estética da Vida. 9 de janeiro, realizou-se um banquete no Palácio Trianon, São Paulo, para comemorar o lançamento da obra As Máscaras, de Menotti Del Picchia. Nesse evento, Oswald de Andrade faz um discurso criticando os autores passadistas e exaltando a arte moderna. 8 de março: tem início o 2º Ciclo de Conferências na Villa Kyrial, organizado por Freitas Valle, terminando em 15  de junho. Também em março: Anita Malfatti realiza exposição individual no Vestíbulo do Politeama Rio Branco, em Santos (SP). É criada em São Paulo a “Sociedade Paulista de Belas Artes”, com a finalidade de incentivar o gosto pela arte. Em 27 de maio, Oswald de Andrade, no Jornal do Comercio de São Paulo, o artigo “O Meu Poeta futurista”, envolvendo Mário de Andrade num grande escândalo. Segundo Mario da Silva Brito: “O poeta (Mário de Andrade) sofre, então, em nome da literatura moderna, os mesmos vexames sofridos, poucos anos antes, por Anita Malfatti, em nome da pintura avançada” (11). Victor Brecheret, em 14 de junho, parte para a França. 23 de junho: morre no Rio de Janeiro, aos 40 anos, o escritor João do Rio, que usava o pseudônimo de Paulo Barreto.
Adendo Brasil: 14 de novembro: morte da princesa Isabel (nasceu em 1846), no Castelo d´Eu, na França. Artur da Silva Bernardes (1875-1955) é eleito presidente.  

1922
Idealiza a Semana de Arte Moderna de São Paulo. Aracy Amaral transcreve depoimento de DC sobre a idealização da Semana (12):
“Lá fui eu me encontrar com Paulo Prado na avenida Higienópolis e, da conversa com aquele grande homem que possuía um passado de vida intelectual e de boa vida parisiense, nasceu a ideia da Semana de Arte Moderna.”
(...).
(...). “Falamos naquela noite, e em outros encontros da Semana de Deauville e outras semanas de elegância europeia. Eu sugeri a Paulo Prado a nossa semana, que seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulistana.
(...).
Com os modernistas já em presença de Paulo Prado, foi traçado um plano de ação: “Estabeleceu-se a muito custo um plano geral e num euforismo sem limites começaram os preparativos das festas... A mim e a Rubens Borba estava entregue a incumbência da exposição de artes plásticas e eu, na minha eterna penúria, não podia movimentar-me.
DC faz a capa do catálogo da Semana e expõe doze obras, entre elas: ao pé da cruz (painel para capela); O Homem do mar; Café turco; Retrato; A dúvida; Intimidade; Ilustrações para um livro; Coqueteria; Boêmios e A Piedade da Inerte. Em Viagem da Minha Vida, ele resume o que foram os primeiros momentos do grupo modernista paulista (13):
Quatro homens chefiavam o nosso grupo [Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, Mário de Andrade, Menotti del Picchia], cada um com seu setor, mas unidos por um laço de solidariedade baseado exclusivamente no desejo de terminar com o carrancismo provinciano paulista que ainda perdurava no alvorecer do pós-guerra.
O academismo idiota das críticas literárias e artísticas dos grandes jornais, a empáfia dos subliteratos, ocos e palavrosos, instalados no mundanismo e na política, e a presença morta de medalhões nacionais e estrangeiros, empestando o ambiente intelectual de uma paulicéia que se aprestava comercial e industrialmente para sua grande aventura progressista, isso desesperava nosso pequeno clã de criaturas abertas a novas especulações artísticas, curiosas de novas formas literárias, já impregnadas de novas doutrinas filosóficas. Tudo vinha a nossas mãos pelo filtro de livros inesperados anunciando nova estética ou nova doutrina política, já evidentemente não tão nova na Europa, mas cujo aparecimento cá pelo nosso Brasil a guerra havia retardado.
Em 24 de abril, DC escreve a Mário de Andrade. Na sequência, cópia e descrição da carta, conservada a grafia original (14):
Ilustração 9

Hoje recebi a tua carta de felicitações, que também traz-me a participação que o grupo vai ter uma revista: “Klaxon”. Muito bem, as felicitações eu e Maria agradecemos com todo coração, e a revista uma vida eterna. Mandarei breve o desenho pedido com todo prazer. Eu também ando com ideas de fazer aqui uma pequena revista, que absolutamente não prejudicará da do grupo, pelo contrário... mas tudo depende. Tenho trabalhado bastante e com muito amor. Chegou-nos da Europa mais um para o grupo, é o Alberto Cavalcanti (parente) decorador e architecto. Elle é extraordinario de modernismo. Quanto fôr a S. Paulo com exposição irei com elle provavelmente isto lá para Setembro em fuga das festas do Centenario cruel. Verás então o que tenho de novo. Aqui todos vão bem e dahi desejava saber se os illustricimos srs:
Rubens de Moraes
Oswaldo de Andrade
Luiz Aranha
Guilherme de Almeida
Serge Milliet e Pedro Rodrigues de Almeida, ainda existem e se estão dispóstos a responder novas remeças de correspondencia.
Radiante como esta bahianinha assigno esta carta. Radiante por saberte e sempre amigo do seu
                                       Di Cavalcanti
Um abraço da Maria

DC publica, em maio, o livro Fantoches da meia-noite, com prefácio de Ribeiro Couto (1898-1963), publicado por Monteiro Lobato. Neste álbum de desenhos publicado com pequena tiragem, personagens da noite carioca apareciam ligados a fios imaginários como se fossem marionetes. Segundo Ana Paula Simioni, nessa publicação, ainda influenciado pelo ilustrador inglês Aubrey Beardsley (1872-98), DC iniciou o emprego de linhas mais soltas e limpas, se distanciando do art nouveau, mas sem poder ainda ser considerado um seguidor das vanguardas europeias. Este foi o início da absorção do expressionismo alemão, que ficaria mais visível em trabalhos posteriores, como a capa do catálogo da Semana de Arte Moderna de 1922 (15).

Ilustração 10 – Capa de Fantoches da meia-noite

Na edição nº 2 da revista Klaxon, 15 de junho, é publicado desenho de DC:

DC abandona o Curso de Direito para dedicar-se à pintura. Ingressa, no segundo semestre, como soldado no Exército, na Vila Militar do Rio de Janeiro;
Obra escolhida para representar 1922:
Ilustração 11 – Ilustração do Fantoches da meia-noite

Adendo Cultural: Mário de Andrade é nomeado para a cátedra de História da Música no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Publica Paulicéia Desvairada. Em fevereiro, em São Paulo, são realizados os festivais da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal. Os três dias principais foram: 13, 15 e 17. Era o início do Movimento Modernista no Brasil. O pernambucano Vicente do Rego Monteiro, teve 10 obras expostas no evento, mas não esteve presente. Entre os literatos a grande ausência foi a de Manuel Bandeira, na ocasião estava impossibilitado de viajar do Rio até São Paulo. Da. Olívia Guedes Penteado (1872-1934), desde 1919 na Europa, retorna a São Paulo depois da Semana de Arte Moderna, da qual tomou conhecimento através do amigo Paulo Prado (1869-1943). Inicia-se em 15 de maio, a publicação da Revista Modernista Klaxon, em São Paulo. Com capa criada por Guilherme de Almeida, Klaxon termina em janeiro de 1923 com as edições números 8/9. René Thiollier (1882-1968), um dos mecenas da Semana de Arte Moderna, financiou o aluguel do Teatro Municipal para a realização do evento, publica seu primeiro livro O Senhor Dom Torres. 22 de março: Tem início o 3º Ciclo de Conferências na Villa Kyrial, organizado por Freitas Valle, terminando em 21 de junho. Em junho, Tarsila do Amaral retorna ao Brasil e, em São Paulo, é apresentada aos modernistas por Anita Malfatti. Forma-se o “Grupo dos Cinco”, composto por Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Menotti Del Picchia, Mário e Oswald de Andrade. Em 2 de Agosto é assinado o Decreto Nº 15.596, Ato de criação do Museu Histórico Nacional. Em setembro acontece em São Paulo o I Salão da Sociedade Paulista de Belas Artes, no Palácio das Indústrias, e Tarsila e Anita participam. Em 12 de outubro é inaugurado o Museu Histórico Nacional. 1º de Novembro: morre no Rio de Janeiro o escritor Lima Barreto. Em novembro: Tarsila do Amaral parte para a Europa e é aceita no Salon officiel des artistes français. Cândido Portinari expõe pela primeira vez uma obra sua no Salão Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro. Mário de Andrade publica Paulicéia Desvairada.
Adendo Brasil: 5 e 6 de julho: Revolta do Forte de Copacabana. Os jovens tenentes revoltosos marcham pela Av. Atlântica e são fuzilados pelas tropas do Governo, escapando da morte apenas dois tenentes. Dezesseis mortes, dentre elas a de um civil que aderiu à Marcha. Era o início do “tenentismo”. 7 de setembro: primeira emissão de rádio no Brasil durante as Comemorações do Centenário da Independência, realizada no alto do Corcovado, no Rio de Janeiro, transmitindo o discurso do então presidente Epitácio Pessoa. (Embora na cronologia da comunicação eletrônica de massa brasileira o surgimento do rádio no Brasil é marcado com a fundação da Rádio Clube de Pernambuco por Oscar Moreira Pinto, no Recife, em 6 de abril de 1919). Realiza-se no Rio de Janeiro a exposição comemorativa do Primeiro Centenário da Independência.

1923
Começa a trabalhar nos escritórios da filial carioca da Companhia Mecânica e Importadora de São Paulo. Viaja para a Europa e fixa-se em Paris, onde permaneces até 1925. Em Paris passa ser correspondente do jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. Frequenta a Academia Ranson. Instala seu ateliê em Montparnasse e passa a conviver com grandes artistas do círculo cubista (um dos mais ativos e influentes na época),  tais como: Pablo Picasso (1881-1973), Georges Braque (1882-1963), Fernand Léger (1881-1955), Henri Matisse (1869-1954), Jean Cocteau (1889-1963)  e Blaise Cendrars (1887-1961). 29 de setembro: Tarsila do Amaral (1886-1973), em carta (16) à sua família, menciona DC:
“(...). Acha-se também aqui o Di Cavalcanti, pintor do Rio muito considerado. Ele e Anita Disputarão a mim o primeiro lugar na pintura moderna brasileira. (...)”.
Em 13 de setembro: DC, juntamente com Sérgio Milliet e Brecheret, escreve de Paris para Mário de Andrade (17). Seguem: cópia original da carta e descrição, conservada a grafia original.
Ilustração 11.1

Paris, 13-sept., 1923.

Meu caro Mário, escrevemos do quarto do Brecheret, depois de um jantar com o Cendrars onde nos divertimos a grande. Anita chegou hontem mas ainda não a vi – O Di vai bem e trabalhando, continuará essa carta coletiva. Recebi hoje um cartão do Ivan Goll onde elle me fala de “une admirable épitre de Mário de Andrade”. Elle está agora na montanha mas voltará brevemente. É uma alegria para mim saber que consegui estabelecer mais uma ponte literária entre o grupo e o Paris interessante. Passo a penna ao Di. Abraços!
O Cendrars tem uma cabeça de boxeur uma cabeça assim:
O Dempsey encontrara o Firpo hoje as 10 horas...
Annita chegou de 1ª classe e eu ficari muito feliz se ella voltasse de 3ª Vou para Russia breve ver o Lenine e morrer de frio LAVS DEO.
Amigo Mário um formidável abraço de saudade.

(no verso:)

Eu aqui sempre trabalhando Annita chegou hontem, estamos os três aqui no meu quarto, lembrando todos os nosso queridos irmãos de arte.

V. Brecheret
Di Cavalcanti
Serge Milliet

Um forte e saudoso abraço da Mari Cavalcanti Di Cavalcanti.

Obra escolhida para representar 1923:
Ilustração 12 – O Beijo

Adendo Cultural: 21 de março: Tem início o 4º Ciclo de Conferências na Villa Kyrial, organizado por Freitas Valle, terminando em 20 de junho. O ano de 1923 foi quando realmente o Modernismo no Brasil começou a ter seu momento áureo. Tarsila do Amaral, em Paris, estuda com o pintor cubista e também escultor André Lhote (1885-1962), na escola de Monstparnasse. Frequenta o curso de Albert Gleizes (1881-1953), teórico do cubismo, e estagia no ateliê de Fernand Léger. Nesse ano ela pinta A Negra. Em agosto: Anita Malfatti viaja para a França (Paris) para cursar desenho, onde encontram-se outros artistas brasileiros: DC, Brecheret, Rego Monteiro (1899-1970), Sérgio Milliet, Antonio Gomide e Tarsila. Lasar Segall muda-se para o Brasil, residindo na cidade de São Paulo. No final do ano, dezembro, Tarsila retorna ao Brasil. Realiza-se no Rio de Janeiro o “I Salão da Primavera”.
Adendo Brasil: 1º de março: morre Rui Barbosa. 21 de abril: Edgard Roquete Pinto (1884-1954) e Henry Morize (1860-1930), fundam a primeira estação de rádio brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Em 9 de setembro, falece Hermes da Fonseca.

1924
11 de janeiro: DC prepara cartas de apresentação para Blaise Cendrars destinadas a Oswaldo Costa (da redação do Correio da Manhã), à sua mãe (Rosália de Albuquerque Melo), a Paulo José de Sales, a José Mariano Filho e a Nóbrega da Cunha (da redação de A Vanguarda). Nessas cartas DC insiste com os amigos para que evitem intelectuais: “Cendrars aí no Brasil não pode ficar no meio de literatos comprometedores. Ele precisa conhecer o nosso cerne, os costumes característicos do Rio”, “leve-o aos Democráticos”, diz a Oswaldo Costa; a Mariano pede que “mostre ao Blaise Paquetá” e informa que o escritor, que viaja como repórter do Excelsior, “deseja fazer umas entrevistas sobre a nossa flora e sobre os nossos antigos monumentos”(18). Em 4 de maio, como correspondente do Correio da Manhã, Rio de Janeiro, escreve noticiando Villa Lobos (descrição parcial)(19):
A música de Villa Lobos é o Brasil, é a América, é a força nova, é a nova terra, o sangue novo, o novo idealismo. [...] Precisamos no Brasil de homens exemplares, como sabe ser o nosso grande músico. Em toda escala da atividade humana procuramos criar o nosso exemplo. Uma formação calcada em modelos estrangeiros nunca poderá produzir uma força mental nacional característica, amálgama no espírito da raça. Todo grande valor de Villa Lobos é ter ficado brasileiro, com todos os nossos defeitos, é ter fugido sempre do diletantismo literário (o pior mal da nossa mocidade), aqui em Paris, à sombra de grandes catedrais, ele procura sempre ativar o fogo de seu culto particular.
Manuel Bandeira, em 2 de dezembro, escreve carta(20) a Mário de Andrade, noticiando DC:
(...).
//Di deu à costa um dia destes. Depois que o governo fechou o Correio da Manhã, a situação dele tornou-se insustentável em Paris.
Em seu livro de memórias Viagem da Minha Vida, DC narra sobre sua permanência em Paris nesse ano(21):
Em Fevereiro de 1924 dois acontecimentos marcam minha estada em Paris. Conheço Pablo Picasso e assisto às comemorações da morte de Lenine. [...] Se em Picasso encontrei a magia da fuga anárquica de um mundo (que era e continua sendo seu mundo de pintura), uma órbita de novas concepções estéticas onde se aglomera num quadro tudo o que poderia estar disperso em mil quadros, onde a revelação e destruição das coisas se desfazem para se refazerem, como que construindo, no espaço de uma tela, o seu passado e o seu futuro formais, se em Picasso há, povoando a metafísica da solidão individual, a graça e o espírito de uma objetividade que se destrói e se realiza num momento, deixando apenas a exacerbação de símbolos inéditos, não poderia eu encontrar em Picasso, nas minhas angústias, uma salvação. Meu egoísmo nunca foi desumanização. A minha fuga, a minha ojeriza das ideias que determinam em arte uma realidade medíocre e acadêmica, não queria dizer que eu odiasse a realidade. [...]
Há no real uma perene fonte de novos motivos para o artista. Sobretudo para o pintor que é o artista que se aproxima da realidade objetiva, observando-a mais do que a sentindo.
Bem se pode imaginar meu drama diante do niilismo de Picasso e o que foi para minha consciência o conhecimento do gênio linear, explícito, claro, generoso e realista de Lenine. Era completa oposição a Picasso. [...] O materialismo histórico varria a catedral das minhas angústias místicas como um raio... Senti que todo o diletantismo modernista morria em mim.
Obra escolhida para representar 1924:
 
Ilustração 13 - Pierret

Adendo Cultural: 5 de fevereiro: Blaise Cendrars chega ao Brasil, no Rio de Janeiro, é recebido por Graça Aranha, Ronald de Carvalho (1893-1935), Prudente de Moraes, neto (1904-77), Guilherme de Almeida, Sérgio Buarque de Holanda (1902-82) e outros. No dia seguinte segue para Santos (SP). Em Santos é recepcionado por Sérgio Milliet, Luís Aranha (1901-87) e Rubens Borba de Moraes. As autoridades brasileiras impediram o desembarque de Cendrars porque ele não tinha um braço. Nenhum imigrante mutilado podia adentrar o solo brasileiro nessas condições, ainda que resultantes de um ferimento de guerra. Horas depois, com a intervenção de Paulo Prado, Cendrars desembarcou e vai para São Paulo, onde é recebido por outros modernistas, entre eles, Couto de Barros (1896-1966)(22). 8 de fevereiro: Lasar Segall abre à visitação pública do seu ateliê, à Rua Oscar Porto, nº 31, em São Paulo, onde recebe a visita de modernistas, entre eles Da. Olívia Guedes Penteado, o senador Freitas Valle, Godofredo da Silva Telles (1888-1980), dr. José Manuel de Azevedo Marques (1865-1943), entre outros. Em março, na Rua Álvares Penteado, 24, Segall realiza Exposição Individual. 21 de fevereiro: Cendrars realiza sua primeira conferência na casa do senador Freitas Valle e outra no salão do Conservatório Dramático e Musical, em São Paulo. 9 de março: Tem início o 5º e último Ciclo de Conferências na Villa Kyrial, organizado por Freitas Valle, terminando em 17 de junho. Em abril: Oswald de Andrade lança o “Manifesto Pau-Brasil”. 23 de março: Segall realiza Exposição Individual à rua Álvares Penteado, 24, em São Paulo e retorna a Berlim. Acontece a viagem do grupo modernista: Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Blaise Cendrars às cidades históricas de Minas Gerais. Em São Paulo é realizado o “VI Ciclo de Conferências da Vila Kyrial”, com palestras de Mário e Oswald de Andrade, Blaise Cendrars, Lasar Segall e outros. 19 de junho: Graça Aranha profere na Academia Brasileira de Letras a conferência “O Espírito Moderno” e, em seguida, desliga-se da Academia. Com a eclosão da revolução de Isidoro Dias Lopes em São Paulo, contra o governo central da República, Tarsila e Oswald se refugiam com sua família na Fazenda Sertão, propriedade do pai de Tarsila. Setembro: foi lançada no Rio de Janeiro, a revista Estética, fundada por Sérgio Buarque de Holanda e Prudente de Moraes, neto. No exterior, em Paris, Vicente do Rego Monteiro realiza sua primeira exposição individual, na Galerie Fabre. Tarsila regressa, em setembro a Paris. Zina Aita deixa o Brasil fixando-se em Nápoles (Itália). Anita Malfatti participa do Salão de Outono de Paris, no Grand Palais e também participa da Exposition d’Art Latin Américain, no Musée Galleria.
Adendo Brasil: Em março, 31, falece Nilo Peçanha. 1º de maio: Carlos de Campos (1866-1927) é o presidente eleito do estado de São Paulo. Em julho: Revolução Tenentista, de Isidoro Dias Lopes (1865-1949), em São Paulo. Bombardeio em São Paulo e recuo das tropas até Catanduva, interior de São Paulo. Após a ocupação do centro da cidade pelas forças rebeldes, Carlos de Campos refugiara em Guaiaúna, pequena estação de trens, próxima à Vila Matilde. O presidente da República, Artur Bernardes determinou o bombardeio da capital, a despeito dos esforços do prefeito e de lideranças civis, que tentaram evitar a tragédia. A Revolução teve início no dia 5 de julho e termina no dia 23.

1925
Retorna ao Brasil e fixa-se no Rio de Janeiro e executa ilustrações e caricaturas para jornais e revistas da época. Desenha a capa do livro Os Deuses Vermelhos, de Adolpho Agori. Realiza exposição na Casa Laubsch & Hit, no Rio de Janeiro. Marina Barbosa de Almeida, na sua dissertação(23) menciona que:
A correspondência trocada com Mário de Andrade entre 1920 e 1925 – treze cartas de Di destinadas a Mário (Cartas essas em poder do IEB – Instituto de Estudos Brasileiros, USP, São Paulo) – reproduz parte da discussão gerada pelo grupo antes e após a Semana de 22. São correspondências pessoais nas quais percebemos a luta do artista em estabelecer-se como pintor – dificuldades financeiras e projetos de pinturas, desenhos e ilustrações – e as referências aos amigos em comum, com os quais ambos se correspondiam.
Obra escolhida para representar 1925:
Ilustração 14 – Samba
(Essa obra não existe mais, pois pegou fogo na casa do marchand Jean Boghici, em agosto de 2012)

Adendo Cultural: Ano de fundação da Escola de Belas Artes de São Paulo. Ano também de fundação da Biblioteca Municipal de São Paulo, à Rua Sete de Setembro, 37. Foi aberta ao público em 1926. Tarsila do Amaral regressa ao Brasil, em fevereiro e retorna a Paris em dezembro. Tarsila Ilustra o livro Pau Brasil (poesia), de Oswald de Andrade. Da. Olívia Guedes Penteado cria em seu palacete, localizado entre a Avenida Duque de Caxias e a Rua Conselheiro Nébias, São Paulo, o Salão de Arte Moderna, com a reforma de uma antiga cocheira. Lasar Segall realizou a decoração do local, que ficou conhecido como “Pavilhão Modernista”. No Rio de Janeiro, em agosto, acontece a 32ª Exposição Geral de Belas Artes. Mário de Andrade publica a Escrava que não é Isaura. Vicente do Rego Monteiro realiza em Paris, na Galerie Fabre, sua primeira exposição individual.
Adendo Brasil: Acontece na cidade de São Paulo a primeira edição da corrida de São Silvestre, iniciativa do jornalista Cásper Líbero (1889-1943). Em julho: a Coluna Miguel Costa-Prestes inicia sua marcha pelo Brasil. Washington Luís assumiu o posto de Senador por São Paulo.

1926
Começa a trabalhar no Diário da Noite, São Paulo, como ilustrador e jornalista. Manuel Bandeira, em carta a Mário de Andrade, datada de 29 de janeiro, comenta sobre a capa elaborada por DC para o livro O Losango cáqui, lançado por Mário em 12 de janeiro, dedicado a Anita Malfatti(24):
(...).
//Não gostei da capa do Losango cáqui. Aquele desenho do Di estava bom para ilustrar um livro de poemas ingleses, nãos os teus. Tudo o mais materialmente bom.
Ilustração 15 – Capa de DC

Obra escolhida para representar 1926:
Ilustração 16 – Mulheres na janela

Adendo Cultural: Tarsila do Amaral faz a 1ª exposição individual em Paris, na Galerie Percier, em 7 de julho, apresentado 17 obras feitas entre 1923 e 1926(25). Após a exposição Tarsila retorna ao Brasil. Mário de Andrade começa a escrever Macunaíma. Anita Malfatti expõe no Salão da Sociedade dos Artistas Independentes – aberto em março. Primeira vinda do criador do Manifesto Futurista (1909), o escritor, poeta, político egípcio-italiano, Felippo Godoy Tommaso Marinetti, no Brasil. Chega ao Rio de Janeiro e faz palestra no Teatro Lírico, sendo apresentado por Graça Aranha. Blaise Cendrars faz sua segunda viagem ao Brasil. Mário de Andrade publica Primeiro Andar e Losango cáqui. Oswald de Andrade e Tarsila casam-se em 30 de outubro. De 20 de novembro a 5 de dezembro, Anita Malfatti realiza exposição individual na Galerie André, rue des Saints-Pères, que foi inaugurada com uma vernissage no dia 19, com a presença do embaixador brasileiro Luís Martins de Souza Dantas (1876-1954). Ano de fundação da revista Terra Roxa, em São Paulo. Victor Brecheret faz sua primeira exposição individual em São Paulo, Rua São João, 187-A, iniciada em 4 (ou 7?) de dezembro. Ano do lançamento do Manifesto Regionalista, no Nordeste, tendo na liderança: Gilberto Freyre (1900-87).
Adendo Brasil: Washington Luís assume a presidência no dia 15 de novembro.

1927
Passa a colaborar, como desenhista, no Teatro de Brinquedo, fundado no Rio de Janeiro por Álvaro Moreyra (1888-1964), jornalista, poeta, dramaturgo e cronista – e a também jornalista Eugênia Álvaro Moreyra, também conhecida como Eugênia Brandão (1896-1948). O Teatro de Brinquedo tinha como objetivo divulgar as ideias modernistas. Sabe-se que o casal Moreyra estiveram presentes na Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo;
Obra escolhida para representar 1927:
Ilustração 17 – Retrato de minha mulher ou Retrato de Maria

Adendo Cultural: A 15 de janeiro, Antonio Gomide fez uma de suas poucas exposições individuais: “Exposição Antonio Gomide - Afrescos e Pinturas”, em antiga galeria da Avenida São João, 187.  Anita Malfatti participa do Salão dos Independentes, em janeiro e fevereiro. Participa também do Salão da Tuileries, em abril e do Salon D’Outomme, em Paris. Mário de Andrade, Da. Olívia Guedes Penteado, Dulce (filha de Tarsila) viajam ao Nordeste e Norte do Brasil, chegando até Iquitos, no Peru. Oswald de Andrade publica Primeiro Caderno de Poesias de Oswald de Andrade, com capa de Tarsila do Amaral. Em São Paulo, na Rua Santa Cruz, nº 325, Vila Mariana, o arquiteto Gregori Warchavchik (1896-1972) constrói a primeira Casa Modernista do Brasil, que passa ser sua residência. Os jardins da casa foram projetados pela esposa do arquiteto, Mina Klabin (1896-1969). Mário de Andrade entra como crítico de arte no Diário Nacional, de São Paulo. Lasar Segall naturaliza-se brasileiro e realiza exposição individual em São Paulo, à Rua Barão de Itapetininga, 50. Mário de Andrade publica o romance: Amar, Verbo Intransitivo. René Thiollier, o mecenas da Semana de 22, publica O Homem da Galeria: ecos de uma época. Flávio de Carvalho (1899-1973) apresenta projeto ao concurso para o palácio do governo, em São Paulo. Cícero Dias (1907-2003) realiza sua primeira exposição individual no Rio de Janeiro. 25 de janeiro: nasce no Rio de Janeiro o maestro, compositor, cantor, pianista e violonista, Antônio Carlos Jobim. 24 de novembro: falece, em Bauru (SP), o poeta Rodrigues de Abreu. Em Cataguases, MG, surge a revista Verde com o Manifesto do Grupo Verde de Cataguases, com intuito principal de “Abrasileirar o Brasil”. No Rio de Janeiro, Tasso da Silveira (1895-1968) lança a revista Festa.
Adendo Brasil: Getúlio Vargas (1883-1954) é eleito deputado federal. 27 de abril: falece o presidente do estado de São Paulo, Carlos de Campos. Nesse mesmo dia, Antonio Dino da Costa Bueno, então presidente do senado estadual, assume o poder até 14 de julho, quando Júlio Prestes de Albuquerque torna-se Presidente eleito. Seu governo terminará em outubro de 1930. Fundação do Partido Democrático, com a participação de Mário de Andrade. A Constituição do Rio Grande do Norte concede, pela primeira vez no país, o direito de voto às mulheres.    

1928
Filia-se ao Partido Comunista Brasileiro. Em junho: começa a trabalhar na revista periódica Para todos, onde produziu 140 desenhos até 1930. Mário de Andrade, na edição do Diário Nacional, de 19 de fevereiro, no artigo Regionalismo, menciona Di(26):
Na arte brasileira, até mesmo na moderna, o elemento regional está comparecendo com uma constância apavorante. Carece acabar logo com isso.
Na pintura, com exceção de Tarsila do Amaral, que sempre fugiu com muita discrição do elemento propriamente regional, este elemento se manifesta às vezes tendencioso, mesmo em artistas muito bons que nem Di Cavalcanti.
(...).
DC viaja a Paris;
Obras escolhidas para representar 1928:
Ilustração 18 – Caricatura de Mario de Andrade

Ilustração 19 – Retrato de Berta Singerman

Adendo Cultural: Lasar Segall realiza exposição individual, em julho, no Rio de Janeiro, no Palace Hotel. Segall viaja e passa a residir em Paris. Tarsila pinta Abaporu e presenteia a Oswald de Andrade, no aniversário deste. Foi essa obra que deu ideia a Oswald de Andrade, juntamente com Raul Bopp (1898-1984), elaborar um manifesto denominado Antropófago, publicado no primeiro número da Revista de Antropofagia, em 1º de maio, que contava também com a participação do escritor Alcântara Machado (1901-35). Tarsila realiza, em Paris, sua terceira exposição individual na Galerie Percier. Anita Malfatti participa da 39ª Exposition Societé des Artists Indépendantes, em Paris, no Grand Palais. Em setembro: Anita retorna ao Brasil, partindo de Marselha, a bordo do “Mendoza”, em 10 de setembro, aportando no Brasil no dia 27. Vicente do Rego Monteiro realiza sua segunda mostra individual em Paris. Mário de Andrade publica Ensaio sobre a Música Brasileira e seu livro mais famoso e polêmico: Macunaíma. Paulo Prado publica Retrato do Brasil. Cassiano Ricardo publica Martim-Cererê. Alcântara Machado publica Laranja da China. Anita Malfatti realiza mostra em São Paulo.
Adendo Brasil: 25 de janeiro: Getúlio Vargas toma posse como governador do Rio Grande do Sul. 3 de dezembro: “Cobriu a manhã gloriosa de hoje o luto do maior desastre da aeronáutica brasileira” – essa era a manchete da edição vespertina do Globo de 3 de dezembro de 1928, que relatava uma tragédia ocorrida no Rio de Janeiro: a queda de hidroavião da Kondor Syndicate, ocupado por amigos de Santos Dumont. Em homenagem ao Pai da Aviação, que voltava da Europa para o Brasil, o grupo resolvera sobrevoar o navio SS Cap Arcona que trazia Dumont a bordo para despejar pétalas de rosas. Mas o aparelho caiu perto do chamado Parcel das Feiticeiras, na altura da Ilha das Cobras, e afundou. Entre passageiros, tripulantes e socorristas, morreram 14 pessoas(27).


1929
Realiza exposição no Rio de Janeiro. Ilustra a revista Para Todos e cria a capa do livro de Murilo Mendes (1901-75), História do Brasil. Pinta dois murais para o foyer do Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, a pedido do prefeito do Distrito Federal, Antônio Prado Júnior (1850-1955). Manuel Bandeira, dissertando sobre o Teatro João Caetano, menciona DC(28):
(...).
E o Teatro João Caetano? Por fora é passável. Deu movimento, deu mais horizonte à Praça Tiradentes. Tem uma fachada simples e alegre, sobretudo à hora de funcionar, com os largos panos de vidraçaria iluminada. Por dentro, porém, produz-nos mal-estar por uma porção de detalhes impertinentes que afixam a intenção indiscreta de parecer moderno, soi-disant cubista. O foyer, por exemplo, é irritante e desagradável. A presença ali da bela e genuína decoração do pintor Di Cavalcanti põe em destaque o esnobismo cubista do acabamento arquitetônico. Para que as pinturas se harmonizassem com a ambiência geral da sala seria preciso que... o pintor fosse outro, um desses que os imbecis chamam “um futurista equilibrado”. Embora os painéis não atestem toda a força do pintor (é a primeira vez que ele faz uma grande decoração mural e a novidade do processo parece que tolheu um pouco os recursos do artista), eles agradam não só pelo equilíbrio da composição e das cores, como sobretudo pelo comovido sentimento brasileiro que respiram em cada uma das figuras todas deste nosso bom povo triste e cantador.
(...).
Em julho, em Movimento: “Repertório”, nº 7, Rio de Janeiro, p. 23, publica A Exposição Di Cavalcanti(29):
É uma exposição de quadros de mulheres. Pouca unidade, há mesmo uma mulher vermelha bastante detestável. Outras coisas, porém, muito interessantes e feitas com aquela habilidade extraordinária de Di Cavalcanti. Preferindo os aspectos da vida miserável, os oprimidos, os desgraçados, todas as escalas da patuléa, as suas figuras são sugestivas. Isso, desde que começou, quando ainda muito influenciado pela escola de Beardsley e seus epígonos. Depois que viu os quadros modernos, os transpôs em essência para o nosso meio e a nossa gente, sempre com felicidade. A sua feição artística não se fixa, a cada momento sobre influências diversas, mas que sabe aproveitar com propriedade. Na sua exposição, por exemplo, há um samba do melhor efeito e uma figura de mulher, construída com muita firmeza. Os seus desenhos, (agora está sob o signo de Covarrubias) são muito curiosos e vimos na exposição uns marinheiros magníficos. Di Cavalcanti tem, sobretudo, uma intuição decorativa muito segura. Os seus volumes e colorido, com a graça da composição e a força interior que da às figuras, fazem os seus conjuntos muito característicos. Alguns dos estudos para os painéis do teatro João Caetano são excelentes de cor e movimento.

Obra escolhida para representar 1929:
              Ilustração 20 – Menina de Guaratinguetá

Adendo Cultural: 1º de Fevereiro: Anita Malfatti abre sua mostra individual numa sobre loja na Rua Libero Badaró, nº 20, em São Paulo, permanecendo até 9 de março. Tarsila do Amaral realiza sua primeira exposição individual em São Paulo, no edifício Glória, início da Rua Barão de Itapetininga, nº 6 e no Rio de Janeiro, no Palace Hotel. Mário de Andrade, Paulo Prado e Antônio de Alcântara Machado (1901-1935) rompem amizade com Oswald de Andrade. Oswald de Andrade separa-se de Tarsila e inicia relacionamento com Patrícia Galvão, Pagu (1910-62). Em maio, Portinari faz sua primeira exposição individual, no Palace Hotel do Rio de Janeiro. Em junho, embarca para a França. No Rio de Janeiro, Ismael Nery realiza exposição. O artista plástico Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) retorna ao Brasil. Cândido Portinari realiza sua primeira exposição individual, com 25 retratos, no Palace Hotel do Rio de Janeiro e em seguida embarca para a França retornando ao Brasil somente em 1931. 7 de setembro: Ismael Nery realiza sua primeira exposição individual no Palace Theatre, em Belém do Pará.
Adendo Brasil: Acontece o Crack da Bolsa de Nova York e o preço do café no mercado internacional cai, provocando a falência de inúmeros fazendeiros brasileiros. Lançamento da candidatura de Getúlio Vargas à presidência da República, em julho, pelo vice-governador do Rio Grande do Sul, João das Neves.

1930
Entre 26 de março e 15 de abril, participa da Exposição de uma Casa Modernista, em São Paulo, juntamente com Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Victor Brecheret (1894-1955), Antonio Gomide (1895-1967), Cícero Dias (1907-2003) e Celso Antônio (1896-1984). Em 1º de setembro, escreve a Mário de Andrade. Segue cópia da carta original e a descrição, conservada a grafia original(30):
Ilustração 20.1

1 de IX-930

Meu muito querido Mário                                              Saudades

Então velho ingrato nem um bilhete para o seu amigo e mestre nas festanças... Mas o melhor é não ligar e ir de vez em quando escrevendo para o mago da rua Lopes Chaves. V. perdeu o enterro do Sinhô que eu assisti e vou fazer um quadro para matar o Greco na cabeça elle que fez o enterro do Conde de Orgaz. Manuel está gozando as delícias de Bello Horizonte e o Cícero Dias apaixonou-se por Miss Russia. Abandonei o gordo Schmidth definitivamente elle possue o ordinarismo de O. Andrade sem nenhum encanto creador. Apenas a persistencia na baixeza é que faz que a gente julgue-o engraçado. Abandonando Schmidth vejo pouco o Ovalle. Agora dedico-me a solidão produtiva nem vou a casa do Alvaro quase. Espero que os meus trabalhos dêem-me qualquer cousa porque parece-me já mereço tempo de realizar o que sei que realizarei. Mario felizmente eu não me apresso, não quero nunca realizar obras primas como  quiz o Brecheret o Villa e mesmo já o Celso Antonio o que acontece é que elles sem auto-critica já estão paus. E eu me sinto de uma mocidade comovente. Não é orgulho é vaidade. Elles não amam a vida. Amam a arte como a um mito. E eu amo sobretudo a vida esta vida que vem como os calores sexuais de baixo para cima. recado do Di
De 11 a 30 de outubro, DC participa da exposição The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists, em Nova York, Estados Unidos, juntamente com Anita Malfatti, Antonio Gomide, Cícero Dias, Guignard (1896-1962), Tarsila do Amaral, Ismael Nery (1900-34) e outros;
Obra para representar 1930:
Ilustração 21 – Cinco Moças de Guaratinguetá

Adendo Cultural: A Casa Modernista, de Gregori Warchavchik, à Rua Itápolis 119, no bairro Pacaembu, em São Paulo, é aberta à visitação pública, em março, com a “Exposição de uma Casa Modernista”. Tarsila do Amaral é indicada por Júlio Prestes como conservadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo, permanecendo até outubro, perdendo o emprego após a queda do governo de Prestes. Lúcio Costa (1902-98) assume a direção da Escola Nacional de Belas Artes. Drummond de Andrade (1902-87) publica seu primeiro livro Alguma Poesia. Brecheret realiza Mostra Individual em São Paulo. Vicente do Rego Monteiro participa na Galerie Zak, em Paris, da Première Exposition du Groupe Latino-Américain de Paris. Manuel Bandeira publica: Libertinagem. O Poeta Guilherme de Almeida é eleito para a Academia Brasileira de Letras. Ano da fundação da Associação Brasileira de Música, por Luciano Gallet (1893-1931).
Adendo Brasil: Em 1º de maio ocorrem eleições para presidente e vice-presidente da República. O vice-presidente, João Pessoa, na chapa formada pelos opositores dos paulistas que tinha Getúlio Vargas como candidato principal, foi assassinado na Paraíba no dia 26 de julho, agravando a crise política. O movimento de insurreição que saiu do Rio Grande do Sul fez com que o ainda presidente Washington Luís fosse deposto pelas forças armadas no dia 24 de outubro, colocando uma Junta Governativa Provisória formada por Tasso Fragoso, Mena Barreto e Isaías de Noronha no poder. Assim, em outubro deflagra-se a Revolução, que encerra a República Velha. Júlio Prestes (1882-1946) é eleito Presidente do Brasil. A 15 de novembro instala-se o Governo Provisório, presidido por Getúlio Vargas que assume o poder através de Golpe permanecendo até 1945. Em novembro, 14 e 21, foram criados os Ministérios da Educação e do Trabalho.

1931
Em setembro: participa do Salão Revolucionário ou 38ª Exposição Geral de Belas Artes, onde também participaram: Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Antonio Gomide, Brecheret, Candido Portinari (1903-34), Cícero Dias, Flávio de Carvalho (1899-1973), Guignard, Ismael Nery, John Graz (1891-1980), Regina Graz (1897-1973), Lasar Segall (1889-1957) e outros. Participa também da Exposição na Primeira Casa Modernista do Rio de Janeiro, onde também participaram: Anita Malfatti, Tarsila, Brecheret, Gomide, Cícero Dias, Lucio Costa (1902-98), John Graz, Menotti Del Picchia e Gregori Warchavchik (1896-1972);
Obras escolhidas para representar 1931:

Ilustração 22 – Capa da revista

Ilustração 23 – Cenas de Rua

Adendo Cultural: 26 de janeiro: morre no Rio de Janeiro o escritor Graça Aranha. 15 de março: Mário de Andrade, Paulo Prado e Alcântara Machado lançam a Revista Nova. Através do Decreto nº 4.965, de 11 de abril, em São Paulo, é dissolvido o Pensionato Artístico e criado o Conselho de Orientação Artística. 24 de maio: Villa-Lobos, na cidade de S. Paulo, organiza a primeira concentração orfeônica, sob o nome de Exortação Cívica, que teve a participação de mais de 12 mil vozes. Em 15 de junho, Tarsila do Amaral, que estava em Moscou juntamente com o médico Osório César (1895-1979), realiza exposição individual e a conferência “A Arte no Brasil”, no Museu de Arte Moderna Ocidental. O arquiteto Lúcio Costa assume a direção da Escola Nacional de Belas Artes. Em setembro: Anita Malfatti, Manuel Bandeira, Portinari e outros, participam do júri da 38º Exposição Geral de Belas Artes, inaugurada em 1º de setembro, denominado Salão Revolucionário ou Salão de 31 e ainda Salão dos Tenentes, no Rio de Janeiro, com organização do arquiteto Lúcio Costa. Oswald de Andrade e Patrícia Galvão (Pagu), fundam o jornal O Homem do Povo. Em novembro: Lasar Segall realiza Exposição Individual na Galeria Vignon, em Paris.
Adendo Brasil: 18 de abril: através do Decreto nº 19.890, institui-se o ensino obrigatório de Canto Orfeônico nas escolas do Município do Rio de Janeiro. 12 de outubro: inauguração da estátua do Cristo Redentor, Rio de Janeiro.

1932
Funda em São Paulo, com Flávio de Carvalho, Antonio Gomide e Carlos Prado (1908-92), o Clube dos Artistas Modernos (CAM), conhecido como “Clubinho dos Artistas”, inaugurado em 24 de novembro. O Clube nasceu de uma dissidência do SPAM (Sociedade Pró Arte Moderna... antes que a SPAM existisse(31). O CAM era, naquele momento, a ala esquerda das artes nacionais, e buscava consolidar a propagação do modernismo à margem de instituições oficiais como a Escola Nacional de Belas Artes. Estes artistas em sua maioria eram socialistas e promoviam também a popularização da arte soviética e das tendências proletárias no BrasilDC sofre sua primeira prisão em 1932 durante a Revolução Paulista, permanecendo preso por três meses. Fora acusado de apoiar Getúlio Vargas (1883-1954). Em 8 de maio, Mário de Andrade, no Diário Nacional, São Paulo, escreve sobre DC, com o título “Di Cavalcanti”, transcrito parcialmente na sequência, conservada a grafia original(32):
Di Cavalcanti resolveu fazer uma nova exposição de suas obras em S. Paulo. E essa exposição se abrirá amanhã pelo que anunciam os jornais. Vamos celebrar esse fato, pois fazem nada menos de onze anos que o decorador do Teatro João Caetano, do Rio de Janeiro, não nos dá uma apresentação coletiva de obras suas.
Eu tenho seguido a evolução de Di Cavalcanti desde quase o início dela. Pelo menos, desde aquela fase muito inicial em que esse homem curioso, simili-paulista, simili-pernambucano, simili-carioca, como legítimo brasileiro que é, fazia um simbolismo lânguido, muito de importação, em que umas mulheres muito vagas, muito misteriosas, numa semivirgindade acomodatícia de assombrações, mal se delineavam na neblina do pastel. Esse foi um tempo delicioso artificialismo em nossa arte paulista. (...). Di Cavalcanti com os vultos mal visíveis das suas pinturas era um dos protagonistas do teatrinho. Ele conta mesmo que, numa dedicatória, eu o chamei de “menestrel dos tons velados”, nomeação que reparando bem não está errada, mas me enche de muita vergonha. Parece boba. É uma das verdades mais profundas desta vida que não tem coisa de que a gente se arrependa mais ao passar do tempo, que das dedicatórias deixadas por aí. Dedicatórias e sentenças de álbum, são talvez as maiores fontes de ridículo desta nossa humanidade. Rapazes, nunca chamem ninguém de gênio nem de nada. Abre-se a porta, e um dia vocês também se surpreenderão chamando alguém de “menestrel dos tons velados”.
Di Cavalcanti usava então de preferência o suavíssimo pastel, em místicas fugas da realidade. Mas nessa criação dum mundo feminino muito irreal, já permanecia nele, aquele senso de observação crítica, do nosso mundo, aquela fidelidade à realidade, que seria o caráter mais permanente da arte dele, a sua melhor significação em nossa arte moderna. E foi também o que lhe deu a inesperada finalidade adquirida um tempo com as suas pinturas e desenhos de ordem pragmática.
De fato: Di Cavalcanti pretendia criar mulheres da angelitude então em voga, nascida das criaturas extravagantes (pra nós, latinizados) que assombravam os livros de Maeterlink, de Ibsen e Dostoiewski. Mas Di Cavalcanti maltratava as suas mulheres. Também passara já pela experiência dos desenhistas franceses e belgas, as dançarinas de Degas e as “chanteuses” de Toulouse-Lautrec. Nada intencionalmente, nos seus pastéis de então, no meio dos tons velados com que cantarolava a sua cantiguinha artificial, punha já em valor certos caracteres depreciativos do corpo feminino, denunciava nos seus tipos uma psicologia mais propriamente safada que extravagante, com uma admirável acuidade crítica de desenho.
Também essa fidelidade ao mundo objetivo, a esse amor de significar a vida humana em alguns dos seus aspectos detestáveis, salvaram Di Cavalcanti de perder tempo e se esperdiçar durante as pesquisas do Modernismo. As teorias cubistas, puristas, futuristas, passaram por ele, sem que o descaminhassem.
Di Cavalcanti soube aproveitar delas o que lhe podia enriquecer a técnica e a faculdade de expressar a sua visão ácida do mundo, se enriqueceu habilmente, sem perder tempo. Nacionalizou-se conosco, ao mesmo tempo que o Modernismo o fazia mudar, de hora e de estação. Abandonou os tons velados de outono e crepúsculo, pra se servir de todas as vibrações luminosas da arraiada e da possível primavera. Principalmente com a sua admirável série de mulatas, de que ele soube revelar o rosado recôndito, Di Cavalcanti conquistou uma posição única em nossa pintura contemporânea. Em nossa pintura brasileira. Sem se prender a nenhuma tese nacionalista, é sempre o mais exato pintor das coisas nacionais. Não confundiu o Brasil com paisagem; e em vez do Pão de Açúcar nos dá sambas, em vez de coqueiros, mulatas, pretos e carnavais. Analista do Rio de Janeiro noturno, satirizador odioso e pragmatista das nossas taras sociais, amoroso cantador das nossas festinhas, mulatista-mor da pintura, este é o Di Cavalcanti de agora, mais permanente e completado, que depois de onze anos, vai nos mostrando de novo o que é.

Ilustração 24 – Primeiro de Maio (nanquim e grafite s/ papel)

Adendo Cultural: Tarsila do Amaral, em março, regressa a São Paulo. É presa por dois meses no Presídio do Paraíso (São Paulo), por sua viagem à União Soviética no ano anterior. Portinari faz mostra individual no Palace Hotel, Rio de Janeiro. Lasar Segall, depois de viagem, retorna ao Brasil, São Paulo, onde fixa residência, à Rua Afonso Celso. 23 de novembro: Em São Paulo, na residência do arquiteto Gregori Warchavchik, Anita Malfatti participa da fundação da Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM). Além de Anita outros modernistas estiveram presentes na reunião de formação da SPAM, tais como: Mário de Andrade, Victor Brecheret, Tarsila do Amaral, John Graz e Lasar Segall. Dentre os objetivos da SPAM eram: realizar reuniões, conferências e exposições, todos para promoverem as Artes. A primeira exposição acontecerá em abril de 1933. 24 de novembro: inaugurado o Clube dos Artistas Modernos (CAM), à Rua Pedro Lessa, nº 2, em São Paulo, sob a presidência de Flávio de Carvalho.
Adendo Brasil: 23 de maio: em manifestação na cidade de S. Paulo, morrem os estudantes Mário “Martins” de Almeida (1901-32), Euclydes Bueno “Miragaia” (1911-32), “Dráusio” Marcondes de Souza (1917-32), Antonio Américo “Camargo” Andrade (1901-32) e Orlando de Oliveira “Alvarenga” (1899-1932). As iniciais de seus nomes comporão a sigla “M.M.D.C.A”, estandarte do movimento constitucionalista. 9 de julho: Inicio da Revolução Constitucionalista. 23 de julho: suicídio de Santos Dumont.

1933

Casa-se com sua aluna, a pintora Noêmia Mourão (1912-92). Publica o álbum A Realidade Brasileira, série de 12 desenhos, nos quais enfoca criticamente a sociedade e seus dirigentes e satiriza o militarismo da época. Escreve ainda um artigo para o Diário Carioca sobre a exposição de Tarsila do Amaral, no qual ressalta a relação entre a produção artística e o compromisso social. Participa da 2ª Exposição de Arte Moderna da SPAM, em São Paulo. Participa da exposição coletiva no Salão da Pró-Arte no Rio de Janeiro;

Obra escolhida para representar 1933:
Ilustração 25 - Sem Título ou Grupo de Trabalhadores

Adendo Cultural: Tarsila do Amaral realiza no CAM (Clube dos Artistas Modernos), palestra sobre “Arte Proletária na União Soviética”. Mário Pedrosa (1900-81) realiza conferência dobre “As Tendências Sociais da Arte e Kaethe Kollwitz”, conferência essa considerada um marco para a moderna crítica de arte brasileira. Mário de Andrade redige a apresentação da “Primeira Exposição de Arte Moderna da SPAM” – Sociedade Pró-Arte Moderna. No Palace Hotel no Rio de Janeiro, em outubro, Tarsila do Amaral realiza uma primeira retrospectiva. 28 de abril: falece em São Paulo, o jornalista Nestor Rangel Pestana. É aprovado o Decreto regulamentando o “Salão Paulista de Belas Artes”, através da Sociedade Paulista de Belas Artes (esta criada em 1921). Em Agosto: Lasar Segall realiza Exposição Individual na Galeria Pró-Arte, no Rio de Janeiro. Em novembro: no auge de sua curta existência, o CAM apresenta o primeiro espetáculo do Teatro de Experiência criado por Flávio de Carvalho – iniciativa inspirada pelo teatro surrealista de Antonin Artaud - era a peça Bailado do Deus Morto, um teatro-dança de grande radicalismo, anticlerical, contestadora da ordem burguesa e de seus valores. Seu elenco incluía atores e sambistas, em um formato altamente inovador, cheio de experimentalismos que misturava técnicas  retiradas do teatro expressionista, dança moderna, e teatro clássico grego. Após apenas três apresentações, o teatro é interditado pela polícia e o espetáculo censurado. O evento marca o fim das atividades do CAM, que sem outras formas de levantar fundos, se dispersa. 

1934

Participa novamente do Salão da Pró-Arte, no Rio de Janeiro. Filia-se no Partido Comunista Brasileiro. Esteve na Europa. Nesse mesmo ano mudou-se para a cidade do Recife. Mário de Andrade, em carta(33) endereçada a Manuel Bandeira, datada de 24 de novembro, menciona DC:

(...). Já lá pras duas da manhã, quase estourei outra vez, quando estávamos vendo os meus trabalhos, e vai o Portinari negou qualquer talento ao Di. Então fiquei safado deste mundo. Eu tenho duas aquarelas realmente assombrosas do Di, são obras-primas. (...).

Obra escolhida para representar 1934:
Ilustração 26 – Cena Café-Concerto
(Nanquim e lápis de cor sobre papel)

Adendo Cultural: Em janeiro: Acontece o I Salão Paulista de Belas Artes, em São Paulo, na Rua 11 de Agosto. 9 de junho: morre em São Paulo, Da. Olívia Guedes Penteado, vítima de apendicite. Em dezembro, Portinari realiza sua primeira Exposição Individual na Galeria Itá, em São Paulo. 6 de abril: falece no Rio de Janeiro, Ismael Nery, sete meses antes de completar 34 anos. 21 de novembro: morre o escritor Coelho Neto.
Adendo Brasil: 13 de março: no Congresso Nacional, a primeira deputada brasileira ocupa a tribuna, a médica paulista Carlota Pereira de Queiroz (1892-1982). Gustavo Capanema (1900-85) assume o Ministério da Educação e Saúde. 16 de julho: promulgação da Terceira Constituição do Brasil. É instituída, no rádio, a “Hora do Brasil”. Ano de fundação da USP – Universidade de São Paulo, ocasião que foi implantada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, com a vinda de professores franceses. A Escola Politécnica de São Paulo é incorporada à USP. Em 1934, durante a interventoria de Armando Sales, foi nomeado prefeito da capital de São Paulo, Fábio da Silva Prado (1887-1963).

1935

Participa da Exposição de Arte Social, no Rio de Janeiro, realizada pelo Clube de Cultura Moderna. Participa com Rubem Braga, Carlos Lacerda e outros, do Comitê de Redação do semanário Marcha, Rio de Janeiro Esconde-se na Ilha de Paquetá e é preso com Noêmia;

Obra escolhida para representar 1935:

Ilustração 27 – Nu deitado

Adendo Cultural: Mário de Andrade inicia a organização do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo e cria a primeira Discoteca Pública. Foi nomeado, a 31 de maio, chefe da Divisão de Expansão Cultura e Diretor do Departamento Municipal de cultura de São Paulo. A equipe que trabalhou com Mário: Sérgio Milliet, Diretor da Divisão de Documentação Histórica e Social, e Rubens Borba Alves de Moraes, que ficara com a Divisão de Bibliotecas. 15 de fevereiro: falece no Rio de Janeiro, acidente automobilístico, o escritor Ronald de Carvalho. O crítico de arte, Virgílio Maurício (1892-1937), cria o Grupo Almeida Júnior(34). Um primeiro Grupo com esta denominação fora criado em 1928 por Torquato Bassi (1880-1967) – e tinha como objetivos: realizar exposições temporárias anuais com obras dos membros da entidade, promover conferências artísticas e ainda perpetuar a memória de Almeida Júnior. Foram feitas no mínimo duas exposições em 1936 e outra no ano seguinte. Alguns dos membros fundadores são: Samuel Ribeiro (1882-1952) – presidente de honra –, Lucy Citti Ferreira (1911-2008), Anita Malfatti, Georgina de Albuquerque (1885-1962), José Wasth Rodrigues e outros. 14 de abril: falece no Rio de Janeiro o escritor Antônio de Alcântara Machado. Cândido Portinari, na exposição do Instituto Carnegie, Pittsburg (EUA), conquista Menção Honrosa com a obra Café.

Adendo Brasil: O levante comunista comandado por Luiz Carlos Prestes (1898-1990) é derrotado pelo governo. A Constituição Estadual de São Paulo altera o título de Presidente do Estado para Governador do Estado. Eleito para o governo de São Paulo, Armando de Salles Oliveira. Seu governo terminara em dezembro de 1926.

1936

É detido pela terceira vez. Libertado por amigos, segue para Paris, lá permanecendo até 1940;

Obra escolhida para representar 1936:
Ilustração 28 - Noêmia

Adendo Cultural: Em São Paulo acontece o IV Salão Paulista de Belas Artes. Victor Brecheret, em São Paulo, inicia a execução do Monumento às Bandeiras, cujo anteprojeto data de 1920 e que é inaugurado em 1953 na Praça Armando Salles de Oliveira. 4 de fevereiro: Oscar Lorenzo Fernández (1897-1948) funda o Conservatório Brasileiro de Música, que dirigirá até morrer. Segunda vinda de Felippo Godoy Tommaso Marinetti, ao Brasil. É recebido em São Paulo pelos primeiros modernistas. Em 4 de julho, através do Ato Municipal nº 1.146, é criado o Departamento de Cultura de São Paulo, projeto de Mário de Andrade. Luiz Martins, na época parceiro de Tarsila do Amaral, realiza na Associação dos Artistas Brasileiros, Rio de Janeiro, a conferência “A Pintura Moderna no Brasil”. Chega a São Paulo, o artista plástico italiano, Ernesto De Fiori (1884-1945).
Adendo Brasil: 12 de setembro: Entra no ar a Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

1937
Recebe medalha de ouro com a decoração do Pavilhão da Companhia Franco-Brasileira, na Exposição de Arte Técnica, em Paris. Recebe carteira de jornalista como funcionário da revista Ilustração Brasileira;
Obra escolhida para representar 1937:
Ilustração 29 – Moças com violão

Adendo Cultural: 13 de janeiro: Através da Lei nº 378, é criado o SPHAN – Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Lei que foi regulamentada através do Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro. Victor Brecheret regressa definitivamente ao Brasil, em São Paulo. 25 de maio: inaugurado no grill-room do Esplanada Hotel, o I Salão de Maio, criado por Quirino da Silva (1897-1981), com organização de Geraldo Ferraz (1905-81), Paulo Ribeiro de Magalhães, Flávio de Carvalho e Madeleine Roux. Mário de Andrade promove, pelo Departamento de Cultura de São Paulo, o Primeiro Congresso de Língua Nacional Cantada. Acontece em São Paulo a 1ª Mostra da Família Artística Paulista, constituída majoritariamente com obras do Grupo Santa Helena. Tem origem o Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, como associação de classe, visando contribuir para a profissionalização da atividade artística. Anita Malfatti realiza Exposição individual no Palace Hotel, Rio de Janeiro. Anita também participa da 1ª Exposição da Família Artística Paulista, ao lado de Bonadei (1906-74), Volpi, dentre outros do Grupo Santa Helena, no Esplanada Hotel de São Paulo.
Adendo Brasil: 5 de janeiro: José Joaquim Cardoso de Mello Neto (1883-1965), assume o governo de São Paulo até 10 de novembro, quando ocorre o golpe de Estado, onde caiu toda situação política dominante em São Paulo. Getúlio Vargas, autorizado pelo Congresso, outorgou nova Constituição – de caráter nitidamente fascista. Nomeou interventores para todos os Estados, extinguiu os partidos políticos e determinou a supressão dos direitos individuais. Instaurado o Estado Novo, que duraria até 1945, apoiado pela classe média e pela burguesia. O Congresso é dissolvido. Francisco Luís da Silva Campos (1891-1968), Ministro da Justiça, foi quem redigiu a nova Constituição, de inspiração fascista.

1938

Em Paris, trabalha na Radio Diffusion Française nas emissões Paris Mondial. Em junho: participa com obras no II Salão de Maio, no Explanada Hotel de São Paulo;

Obra escolhida para representar 1938:
Ilustração 30 – Mulata

Adendo Cultural: Acontece em São Paulo o II Salão de Maio, em 27 de junho, no Esplanada Hotel. Na ocasião, Mário de Andrade adquiriu a obra de Guignard: “A Família do Fuzileiro Naval”. Mário de Andrade é exonerado do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo e muda-se para o Rio de Janeiro, assumindo o cargo de diretor do Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal. Leciona Filosofia e História da Arte. Acontece o IV Salão Paulista de Belas Artes, em São Paulo. Anita Malfatti realiza duas exposições individuais: uma no seu próprio ateliê, na Rua Ceará, 219, São Paulo. Lasar Segall representa oficialmente o Brasil no Congresso Internacional de Artistas Independentes realizado em Paris.

1939

Mesmo ausente do Brasil, participa com obras no III Salão de Maio, na Galeria Itá, em São Paulo. Faz rápida viagem para a Espanha;

Obra escolhida para representar 1939:
Ilustração 31 – Maternidade (Déc. de 30)

Adendo Cultural: Acontece em São Paulo o Salão Paulista de Belas Artes e o 2º Salão da Família Artística Paulista, no Automóvel Clube. Cândido Portinari trabalha nos murais do Ministério da Educação e participa do V Salão do Sindicato e realiza exposição individual. Mário de Andrade assume, no Rio de Janeiro, a chefia da Seção do Instituto Nacional do Livro. O III Salão de Maio tem sua última edição, devido desavenças entre Flávio de Carvalho e a comissão organizadora.
Adendo Brasil: É criado o DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda, órgão de censura aos meios de comunicação.

1940
DC retorna de Paris, onde esteve exilado desde 1936 e passa a residir em São Paulo. As obras despachadas, cerca de 40 pinturas e desenhos, desaparecem. Em 11 de setembro, Tarsila do Amaral escreve a crônica “Várias Notícias de Paris”, descrita parcialmente na sequência.(34.1):
Noemia e Di Cavalcanti, esses simpáticos pintores que toda a gente conhece, acham-se entre nós, depois de cinco anos bem agitados em Paris, de onde vieram contando coisas do outro mundo. Notícias gostosas, notícias cômicas e por fim, notícias dolorosas.
Abandonaram Paris às carreiras, deixando quadros, roupas, livros, mil coisinhas mais ou menos supérfluas que costuma girar em torno da vida, e compreenderam que o essencial é mesmo a própria vida. Peripécias, sustos, emoções e, finalmente, a volta ao Brasil pelo “Paconé”, que aqui chegou superlotado com seus inúmeros passageiros que desembarcaram trazendo-nos ouvidos a ressonância dos canhões, o ronco dos aviões devastadores e as vibrações aflitivas dos sinais de alarme.
(...).
Noemia e Di Cavalcanti já devem estar cansados com a insistência das perguntas. É o Di quem responde. Noemia, com aquele ar distante, pouco intervém na conversação animada. O melhor seria andar com um disco bem gravado e um gramofone portátil. Mas o gramofone seria horrível. A imaginação de Di Cavalcanti estoura e por isso ele conta as mesmas coisas com espírito, não se repete e não cansa quem o ouve pela segunda ou terceira vez.
(...).
Outros de quem Noemia e Di Cavalcanti me falaram foram o nosso velho amigo Blaise Cendrars, Picasso, Fernand Léger, Francis Carco, André Breton, André Salmon, Mac Orland, Paul Eluard, Benjamim Crémieux. Maximmillien Gauthier, Brancusi, outros e outros. (...).
Noemia e Di Cavalcanti trouxeram um pouco de Paris até nós, o Paris risonho dos “potins”, o Paris da arte e da literatura, o Paris da guerra. Voltarão para lá? Não se dispersam por enquanto nessas interrogações. Estão trabalhando para expor, já que todos os seus quadros ficaram Deus sabe onde. Mal chegara, estão rodeados de telas prontas. Ambos foram bem acolhidos pela crítica parisiense. Noemia, “a menina vestida de azul da pintura brasileira”, foi apresentada por Kisling numa exposição particular que fez com muito êxito na “Galeria Rive Gauche”, expôs no Salão dos Retratistas Contemporâneos ao lado de Derain, Marie Laurencin, Matisse, Kisling; tomou parte numa exposição coletiva no Salão de Música com Mariette Lidys, Cocteau, Marie Laurencin etc. Seus desenhos e suas bonecas chamaram a atenção no Salão Tropical. Foi recebida como societária na Associação das Mulheres Pintoras da Europa, expondo no Museu Jeu de Pomme. Participou da Exposição de Arte Decorativa no Petit Palais e foi premiada com uma medalha de ouro pela organização artística das vitrines do Stand de Alimentação da Exposição Internacional de Arte Técnica de 1937.
Di Cavalcanti fez duas exposições particulares na “Galerie Rive Gauche”, na “Galerie Worms”, além de muitas outras coletivas. Dois dos seus quadros foram adquiridos, um pela Galeria Nacional de Arte Estrangeira Contemporânea do Museu Jeu de Pomme e outro pelo Museu de Grénoble.
Esses pintores brasileiros vão mostrar agora aos seus patrícios, nas suas próprias exposições, com um espírito novo, o quanto vale uma permanência prolongada na Europa, ao contato dos grandes mestres e das grandes obras artísticas.
DC, convertido ao catolicismo, alegava ter abandonando a militância comunista. Em 8 de outubro, escreveu uma carta ao líder católico Alceu Amoroso Lima (1893-1983) em que expõe ideias completamente opostas ao que vinha pregando até então(35):
“Numa volta à crença completa e à obediência aos ensinamentos da Santa Madre Igreja eu sinto-me integrado na minha verdadeira personalidade de artista e nessa alegria que recebi de Deus eu me sinto profundamente humano. (...) Sei que muitos amigos meus dos mais queridos continuam materialistas, só peço a Deus que os inspire (....).
Fui Comunista. Reconheço que há ainda comunistas errados mas puros em seus malfadados ideais. Hoje porém não aceito mais o comunismo. Nada ganhei para meu gozo material ou para meu gozo espiritual pertencendo a um partido político”.  

Obras escolhidas para representar 1940:
Ilustração 32 - Ciganos

Ilustração 33 - Bordel

Adendo Cultural: Em março: Lasar Segall realiza Exposição Individual na Galeria Neumann-Williard, de Nova Iorque. Em São Paulo é fundado o Clube de Cinema São Paulo e a Empresa Cinematográfica Atlântica. Villa-Lobos realiza Concentração orfeônica no estádio do Vasco da Gama, reunindo aproximadamente 42 mil vozes de crianças estudantes. Nessa concentração aconteceu uma grande ovação ao presidente Vargas, fato esse que desagradou completamente os intelectuais da época. Manuel Bandeira é eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Realiza-se no Rio de Janeiro, a 3ª Exposição da Família Artística Paulista, com apresentação de Sérgio Milliet. Em dezembro, 17, acontece o 7º Salão Paulista de Belas Artes em São Paulo.

1941

Ilustra o livro Uma Noite na Taverna/Macário, de Álvares de Azevedo (1831-52). Participa do I Salão de Arte da Feira Nacional de Indústrias, em São Paulo;

Obra escolhida para representar 1941:
Ilustração 34 – Mulheres protestando

Adendo Cultural: Anita Malfatti é eleita presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. Mário de Andrade retorna do Rio e inicia seus trabalhos na seção paulista do SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Adendo Brasil: 28 de Agosto: entra no ar, pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, o jornal “Repórter Esso”, na voz de Romeu Fernandez (? - ?), anunciando o ataque de aviões da Alemanha à Normandia, durante a Segunda Grande Guerra.

1942
Faz rápida viagem ao Uruguai, em Montevidéu, e na Argentina, Buenos Aires;
Obra escolhida para representar 1942:
Ilustração 35 – Sem Título ou Retrato de Mulher

Adendo Cultural: Em março é fundada a “Sociedade Brasileira de Escritores”, sob a presidência de Sérgio Milliet e vice Mário de Andrade. Em Abril: Mário de Andrade realiza a famosa conferência “O Movimento Modernista”, no Salão de Conferências da Biblioteca do Ministério das Relações Exteriores (Itamarati), no Rio de janeiro. 19 de julho: falece em São Paulo, Pedro Alexandrino.
Adendo Brasil: Vargas vai declarar guerra à Alemanha.

1943
Tem suas obras exibidas na Galeria Greco’s, em Buenos Aires, e no IV Salão de Belas-Artes, em Belo Horizonte (MG). Na seção “Notas de Crítica Literária” do dia 24 de outubro de 1943, publicada na Folha da Manhã, o crítico Antonio Cândido (1918-2017) analisou a obra “Marco Zero 1 – A Revolução Melancólica”, do escritor Oswald de Andrade (1890-1954). Insatisfeito com a crítica, DC publicou artigo em 15 de dezembro para rebater o que ele chamou de “última fornada” de críticos da literatura (*);
(*) Nota minha: Pelo fato das publicações de Antonio Cândido e DC serem extensas, deixo o link: http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2017/05/12/em-1943-di-cavalcanti-rebateu-critica-de-livro-de-oswald-de-andrade-feita-por-antonio-candido/ - acessado em 09/9/2017.
Obra escolhida para representar 1943:
Ilustração 36 - Arlequim

Adendo Cultural: Anita Malfatti participa da Exposição de Arte Moderna, em Belo Horizonte (MG), no Edifício Mariana, em maio. Participa também da exposição Anti-Eixo, no Museu Histórico e Diplomático do Salão Itamaraty, no Rio de Janeiro, e na exposição Anti-Eixo, na Galeria Prestes Maia, em São Paulo. Mário de Andrade escreve extenso ensaio sobre o artista plástico Lasar Segall. 3 de outubro: falece em São Paulo, Paulo Prado. Sérgio Milliet assume a direção da Biblioteca Municipal de São Paulo e apresenta projeto de arquivo e documentação de arte sobre papel, dando início a um acervo de desenhos e gravuras originais que pudessem ser guardados em pastas, permitindo o fácil acesso a pesquisadores e historiadores de arte. Segall realiza exposição individual no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), Rio de Janeiro. Segall publica o álbum de gravuras Mangue, com desenhos feitos em 1924, composto de 42 reproduções em zincografia, três xilogravuras originais e uma litografia, com textos de Jorge de Lima (1886-1953), Mário de Andrade e Manuel Bandeira – onde focalizou a zona de meretrício do Rio de Janeiro.  
Adendo Brasil: Vargas é pressionado e o Brasil declara guerra ao Eixo. Implantado, oficialmente, no Brasil, o Curso de Jornalismo, através do Decreto-Lei Nº 5480, de 13 de maio, pelo então presidente Vargas e pelo ministro da Educação, Gustavo Capanema.

1944
Participa da Exposição de Arte Moderna, no Edifício Mariana, em Belo Horizonte. Integra a Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Royal Academy of Arts e no Norwich Castle and Museum, em Londres. Começa a escrever uma coluna de periodicidade irregular no jornal Correio Paulistano, que levava o título de “Cartas a Angelina”;
Obra escolhida para representar 1944:
Ilustração 37 - Gafieira

Adendo Cultural: Realiza-se, em Belo Horizonte – MG, a primeira Exposição de Pintura Moderna em Minas, no governo do prefeito Juscelino Kubitschek (1902-76). Inaugura-se o Curso de Artes Visuais de Guignard. O Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro realiza exposição de pintura brasileira e norte-americana. Em novembro, em Londres, acontece exposição coletiva de pintores brasileiros. Anita Malfatti expõe no VIII Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos. Participa também de outras exposições coletivas: de Artes Plásticas, no ABI, Rio de Janeiro; no Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, na Galeria Prestes Maia; na de Pintura Moderna Brasileira & Norte-Americana, também na Galeria Prestes Maia. A Livraria Martins Editora inicia a publicação das Obras Completas de Mário de Andrade.
Adendo Brasil: A Força Expedicionária Brasileira embarca para a Itália, com 25 mil homens e o Brasil entra definitivamente na Guerra.

1945
Sérgio Milliet, no seu Diário Crítico, 1945, em 30 de outubro, comentando sobre a Antologia de poetas brasileiros bissextos contemporâneos, de Manuel Bandeira, que foi publicado no ano seguinte, ocasião que menciona DC(36):
(...). Há surpresas admiráveis nesse livro como as poesias de Di Cavalcanti ou Rubem Braga; (...).
Os dois poemas de Di Cavalcanti revelam uma sensibilidade poética e uma expressão literária que nada ficam a dever à sensibilidade e à expressão pictórica do autor. E o que é mais curioso, tais poemas parecem “ilustrações” felizes para os quadros do pioneiro da pintura moderna brasileira. “Ladainha impura” tem a sensibilidade triste de suas melhores telas, e também aquela melancolia pegajosa de suas cores:
Perdido no mar,
Perdido na terra,
Perdido no céu,
Rasguei teu vestido,
Roubei teu anel.

Perdido no mar,
Perdido na terra,
Perdido no céu,
Marquei no teu seio
A estrela do mal.
Obra escolhida para representar 1945:
Ilustração 38 – Maternidade (nanquim)

Adendo Cultural: Janeiro: Sérgio Milliet inaugura a Secção de Arte na Biblioteca Municipal de São Paulo, o primeiro acervo público de arte moderna brasileira. 22 de janeiro, em São Paulo, acontece o Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores. 25 de fevereiro, Mário de Andrade vem a falecer de ataque cardíaco, na sua casa, em São Paulo. 24 de abril: falece em São Paulo, o artista plástico italiano Ernesto De Fiori. O palacete de Da. Olívia Guedes Penteado, localizado entre a Avenida Duque de Caxias e a Rua Conselheiro Nébias, São Paulo, foi demolido, destruindo uma das obras-primas de Lasar Segall, de 1925. Em novembro: Anita Malfatti realiza exposição individual em São Paulo, na Rua 7 de Abril, no Instituto dos Arquitetos, no Edifício Esther, com algumas obras nitidamente impressionistas.
Adendo Brasil: O Partido Comunista Brasileiro (PCB), única organização que, mesmo na clandestinidade, se identificava com a resistência à ditadura e com as ideias libertárias, catalisa grande parte desse processo. Artistas e intelectuais aglutinam-se em torno de suas propostas transformadoras e lança candidato próprio à presidência da República. O PCB, após 18 anos de ação clandestina, em novembro, consegue registro em termos definitivos. Fim da ditadura Vargas. Extinguiu-se o Estado Novo. Novas eleições, em 2 de dezembro, eleito presidente o general Eurico Gaspar Dutra (1883-1974).

1946
Retorna à Paris em busca dos quadros desaparecidos, nesse mesmo ano expõe no Rio de Janeiro, na Associação Brasileira de Imprensa. Ilustra livros de Vinícius de Moraes (1913-80), Álvares de Azevedo (1831-1852) e Jorge Amado (1912-2001);
Obra escolhida para representar 1946:
Ilustração 39 - Nu

Adendo Cultural: Em fevereiro: na Biblioteca Municipal do Rio de Janeiro, acontece a “Exposição de Retratos de Mário de Andrade”. Acontece no Chile exposição de Arte Brasileira organizada por Berto Udler. Acontecem em São Paulo o Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos e o Salão Paulista de Belas Artes, ambos na Galeria Prestes Maia; e Exposição Homenagem Póstuma a Mário de Andrade, na Galeria Itá. 7 de outubro: a Academia Brasileira de Música foi reconhecida de utilidade pública por Decreto Federal.
Adendo Brasil: 31 de janeiro: posse do presidente Eurico Gaspar Dutra. Inicia-se o período de democratização do país. 18 de setembro: promulgada a quinta Constituição do Brasil. O governo cria o SESI (Serviço social da Indústria) e o SESC (Serviço Social do Comércio). Através de Decreto Presidencial são fechados todos os cassinos no Brasil e a proibição de todo tipo de “jogo de azar”. É criada a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC).

1947
Participa com Anita Malfatti e Lasar Segall do júri de premiação de pintura do Grupo dos 19. Expõe na Galeria Domus, no Rio de Janeiro. Em maio: produziu capa para a revista Rio, publicação sobre arte e sociedade dirigida por Roberto Marinho (1904-2003). Em novembro fez capa para a revista periódica Joaquim, Curitiba (PR);
Obras escolhidas para representar 1947:
Ilustração 40 – Capa da Revista Rio

Ilustração 41 – Abigail

Adendo Cultural: Os artistas plásticos John Graz e Antônio Gomide expõem em conjunto, em galeria da Rua Barão de Itapetininga, São Paulo. 6 de julho: a Academia Brasileira de Música é instituída como Órgão Técnico Consultivo do Governo Federal, através de Decreto. Cândido Portinari, perseguido pelo governo Dutra, exila-se no Uruguai. 2 de julho: tem início o Museu de Arte de São Paulo (MASP), à Rua 7 de abril, 230, através do empresário e jornalista Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello (1892-1968) e o crítico de arte italiano Pietro Maria Bardi (1900-99). Também em julho, Cândido Portinari realiza sua primeira exposição individual em Buenos Aires (Argentina), no Salón Penser.
Adendo Brasil: 14 de março: Adhemar de Barros (1901-69), toma posse como governador de São Paulo. Seu governo terminará em janeiro de 1951. O Tribunal Superior Eleitoral cancela o registro do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

1948
São realizadas duas Mostras Retrospectivas em São Paulo: “Emiliano Di Cavalcanti 30 Anos de Pintura: 1918-1948”, no Instituo dos Arquitetos do Brasil e no MASP, em São Paulo. Em outubro: realiza conferência no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), Os Mitos do Modernismo. A conferência foi depois publicada na revista Fundamentos, sob o título Realismo e Abstracionismo. Sérgio Milliet, no seu Diário Crítico – 1948-49, em 15 de abril, comentando o livro de Margarida Sarfatti, sobre o estado da pintura no momento atual (“Espejo de la pintura”), que acabara de publicar, comenta parte que a autora comenta  DC(37):
(...).
Margarida Sarfatti refere-se ainda carinhosamente, a Di Cavalcanti, Lasar Segall, Lúcia Suané, Alfredo Volpi, Paulo Rossi, Noêmia, Quirino da Silva e Bonadei. Vê em Di Cavalcanti um poeta da plástica e não erra ao acentuar sua sensualidade e sua imaginação, (...).
Sérgio Milliet, ainda no seu Diário Crítico – 1948-49, em 24 de junho, comentando as dificuldades que o Lourival Gomes Machado teve de vencer para escrever uma rápida história da arte moderna no Brasil, menciona DC(38):
(...). O clima de liberdade que se criaria com o movimento modernista teria como resultado principal possibilitar a expressão de uma sensibilidade própria nacional. Mais nada. O mais realizado de todos os artistas desse tempo, Di Cavalcanti, só muito depois chegara à plena consciência do problema e nos daria uma arte realmente pessoal, muito nossa pela poesia e pela humanidade, pela atitude sentimental da vida. (...).
Sérgio Milliet, em 21 de julho, nesse mesmo Diário Crítico, volta a mencionar DC(39):
Em conferência pronunciada na Lapa, Di Cavalcanti defendeu a pintura figurativa, depois de passar em revista as diferentes pesquisas tentadas pelos artistas modernos. A seu ver a arte é também, e antes de tudo, uma tomada de posição humana. Como um herói de Sartre, Di Cavalcanti acha que a liberdade do artista consiste em renunciar à liberdade em benefício de um destino, consiste em escolher um caminho que leve a outras vidas, e a outros destinos para cuja realização o artista coopera, justificando assim a sua presença e a sua necessidade. Entre as duas soluções, a da participação que consiste em escolher entre a cor da matraca com a qual se será ferido, e da evasão, que consiste em criar um mundo próprio e estanque apenas acessível a uns poucos requintados, Di Cavalcanti prefere a primeira. Isso o levou a considerar a pintura sob dois aspectos diversos, o técnico e o filosófico. Tecnicamente todas as pesquisas interessam, todas as procuras enriquecem; filosoficamente a pintura tem que ser uma expressão do humano e destinar-se a provocar uma emoção no maior número possível de indivíduos. Daí aceitar ele o abstracionismo apenas como contribuição pictórica e não como fim em si.
(...).
A posição assumida por Di Cavalcanti é uma posição generosa, porque é uma posição de luta por um ideal respeitável. Isso não quer dizer que esteja fatalmente dentro da verdade. Como participante e interessado ele não pode julgar do futuro da pintura. Este virá à nossa revelia. Mas ele pode – e o faz – desejar que a arte não enverede pelo caminho que se lhe afigura sem sentido humano. (...).

Obra escolhida para representar 1948:
Ilustração 42 – Mulheres no Mangue

Adendo Cultural: Lasar Segall viaja aos Estados Unidos e, em março, realiza Exposição Individual na Galeria Artistas Americanos Associados (Associated American Artists Galleries), Nova York e, em maio, na União Pan-Americana, Washington. É realizada no Teatro Municipal de São Paulo, Exposição Coletiva de Artes Plásticas de Pintoras e Escultoras de São Paulo. Criação do Museu de Arte Moderna (MAM) no Rio de Janeiro. O Museu de Arte Moderna de São Paulo foi constituído oficialmente, por escritura pública, em 15 de julho. 4 de julho: morre o escritor Monteiro Lobato.

1949
Murilo Mendes, na edição do A Manhã, Rio de Janeiro, 6 de fevereiro, na coluna Letras e Artes, escreve sobre DC(40):
Ora, esse efeito boêmio do temperamento de Di Cavalcanti combina-se com uma
capacidade de trabalho que espanta os mais desatentos e desprevenidos. A arte de Di Cavalcanti, bem como sua pessoa humana, bem como seu método de ofício, está fundada na liberdade. Uma vocação de liberdade que tem sido a linha dominante de sua vida que fez dele - em certa época o único pintor social militante do Brasil - um revoltado contra as imposições drásticas dos partidos, um homem que sempre examina seus problemas, e que atingiu um elevado nível de consciência artística. Debaixo de aparências ligeiras, a carreira do Di Cavalcanti tem assumido aspectos patéticos de alto drama intelectual: este homem inquieto tem vivido em encruzilhadas, à procura de soluções plásticas, políticas e críticas, debatendo continuamente o caso do Brasil, o caso da anarquia universal e seu próprio caso que se misturou com outros.
Eis o aparente paradoxo de Emiliano Di Cavalcanti: este grande individualista é um pintor social, este boêmio dispersivo é um trabalhador obstinado, este copiador de histórias pitorescas é um espírito sério capaz de disciplina.
Viaja ao México para o Congresso de Intelectuais pela Paz, como representante do Partido Comunista Brasileiro. Expõe na Cidade do México;
.
Obra escolhida para representar 1949:


Ilustração 43 – Lavadeiras (nanquim s/ papel),
c/ dedicatória a João Condé (1917-71)

Adendo Cultural: 8 de março: abertura da sede oficial do Museu de Arte Moderna de São Paulo, à Rua 7 de abril. O MASP da Av. Paulista será inaugurado em 7 de novembro de 1968, projetado pela arquiteta italiana Lina Bo (1914/92), esposa de Pietro Maria Bardi. Acontece a Primeira Retrospectiva de Anita Malfatti no MASP, São Paulo. Acontece em Salvador (Bahia), o 1º Salão Baiano de Belas Artes, no Hotel Bahia. Em 19 de junho, em São Paulo, falece o desenhista e arquiteto Antônio Garcia Moya. Tem início o acervo da Pinacoteca da Associação Paulista de Medicina que será inaugurada em 1951.

1950
Termina seu casamento com Noêmia. Passa a conviver com Beryl Tucker Gilman, no Rio de Janeiro;
Obra escolhida para representar 1950:
Ilustração 44 – Nu e Figuras

Adendo Cultural: Tarsila do Amaral realiza retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a convite de seu diretor, Sergio Milliet. Cândido Portinari participa da XXV Bienal de Veneza, com seis obras.  
Adendo Brasil: 18 de setembro: às 22 h, em São Paulo, foi ao ar o primeiro programa da televisão brasileira, TV Tupi. 3 de outubro: Getúlio Vargas é eleito presidente, obtendo 3.849.040 votos (49% dos votos válidos). Os outros dois concorrentes, Eduardo Gomes (1896-1981), 30%, e Cristiano Machado (1893-1953), 22%.

1951
É convidado e participa da I Bienal de São Paulo. Ministra Curso de Cenografia, no Serviço Nacional de Teatro, no Rio de Janeiro. Em dezembro: produziu sob encomenda a capa e um artigo sobre gastronomia para a revista Cultura e Alimentação, produzida pelo Serviço de Alimentação da Previdência Social dirigida pelo poeta Murilo Mendes;
Obra escolhida para representar 1951:
Ilustração 45 - Pescadores

Adendo Cultural: Acontece em São Paulo o 1º Salão Paulista de Arte Moderna. 20 de outubro: inaugurada em S. Paulo a I Bienal de São Paulo, no edifício Trianon (atualmente o edifício do MASP), na Avenida Paulista, com obras de vários artistas modernistas.
Adendo Brasil: 18 de janeiro: Vargas toma posse.

1952
Doa 560 desenhos, produzidos ao longo de 30 anos, para o Museu de Arte Moderna de São Paulo. Escreve para o Última Hora de São Paulo e do Rio de Janeiro. Participa no Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, da Exposição de Artistas Brasileiros.
Obra escolhida para representar 1952:
Ilustração 46 - Mulher

Adendo Cultural: Acontece em São Paulo a “Exposição Coletiva comemorativa da Semana de Arte Moderna de 1922”. O artista Plástico Alberto da Veiga Guignard organiza o 7º Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte, na Prefeitura de Belo Horizonte – MG. Tarsila do Amaral recebe o 2º Prêmio Nacional de Pintura, no valor de Cr$ 50.000,00, quando da participação na I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Adendo Brasil: 1º de janeiro: Lucas Nogueira Garcez (1913-82) assume o governo do estado de São Paulo. Seu governo terminará em janeiro de 1955. Vargas cria o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), a fim de incentivar a indústria nacional.

1953
Recebe, juntamente com Alfredo Volpi (1896-1988), o prêmio de melhor pintor nacional da II Bienal Internacional de São Paulo;
Obra escolhida para representar 1953:
Ilustração 47 – Mulher com gato

Adendo Cultural: Zina Aita volta ao Brasil, Teresópolis, por curto período e retorna para a Itália. Em maio, concorrendo com a produção cinematográfica de 26 países, o filme brasileiro: “O Cangaceiro” é premiado no Festival de Cannes, na França, dirigido por Vitor de Lima Barreto. O Brasil todo canta: Mulher Rendeira.
Adendo Brasil: Vão para o ar a TV Rio (Canal 13) e a TV Record (Canal 7), de S. Paulo. Através da Lei n.° 2.004, Vargas cria a Petrobrás, em­presa estatal que detinha o monopólio de exploração e refino do petróleo no Brasil.

1954
Realiza, no Museu de Arte Moderna, São Paulo, realiza a exposição individual: “Di Cavalcanti – desenhos”. Cria os figurinos para o balé A Lenda do Amor Impossível, que foi encenado pelo Corpo de Baile do 4º Centenário de São Paulo. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, realiza a exposição “Di Cavalcanti: Retrospectiva”, com setenta de seus trabalhos. Em depoimento na Folha da Manhã, a José Geraldo Vieira (1897-1977), em 30 de maio, na coluna “Branco e Preto”, DC afirmava(41):
Nunca fiz abstracionismo porque sou um artista literário. Isto é, escrevo com grafismo minha arte. Conto alguma coisa! Testemunho realidades! Fixo dramas! Surpreendo horas, estados da alma, o povo, a rua, os interiores pobres, etc.
Obra escolhida para representar 1954:
      Ilustração 48 – Mulher Deitada com Cachorro

Adendo Cultural: Por ocasião das comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo, foi construído o Palácio das Exposições, no Parque do Ibirapuera, onde acontece a Exposição de História do Brasil. 22 de outubro: morre o escritor Oswald de Andrade, na cidade de S. Paulo. Acontece em São Paulo, no Museu de Arte Moderna, a Exposição Coletiva de Arte Contemporânea.
Adendo Brasil: 24 de agosto: Vargas recebe um ultimato do ministro da guerra, exigindo seu afastamento. Isolado no Palácio do Catete, Getúlio Vargas redige seu testamento e suicida-se. Posse de João Café Filho (1899-1970), vice-presidente.

1955
Publica Viagem da Minha Vida: O Testamento da Alvorada, primeiro livro de memórias, editora Civilização Brasileira. Sua experiência mais fecunda como colunista diário foi nesse ano, no jornal Ultima Hora, do Rio de Janeiro. Foram cinco meses de trabalho, nos quais ele produziu um total de 70 colunas, que tinham o título de “Preto & Branco”. Versando sobre temas variados, quase sempre com grande lucidez, e sem receio de abordar mesmo assuntos mais sensíveis, ele ganhou fama como cronista na época. Em julho daquele ano, a coluna social “Black Tié”, assinada no mesmo jornal por João da Ega, pseudônimo do jornalista Carlos Laet, proclamava(42):
- Não há leitor de Última Hora que possa evitar a leitura da coluna “Preto & Branco”, de Di Cavalcanti. Aqueles que o admiravam como pintor, andam agora envoltos na mais tremenda dúvida, para distinguir se ele é maior como cronista ou como antes se havia revelado.

Sérgio Milliet, no seu Diário Crítico – 1955/56, dedica o dia 27 de setembro, para tecer longa descrição a respeito da publicação do Viagem da Minha Vida. Segue descrição parcial, conservada a ortografia original(43):
O que me agrada inteiramente em “Viagem de minha vida” é o tom de conversa de mesa de bar, a naturalidade com que êsse integralíssimo boêmio nos conta seus casos, e em poucos traços – não tivesse sido êle um caricaturista no início de sua carreira artística – retrata algum ator dêsse “teatro da vida” que tão bem entende e de que tanto gosta. O que me agrada é a presença de Di Cavalcanti porque, a meu ver, as memórias interessam na medida em que revelam o próprio autor, e só ocasionalmente pelos acontecimentos que narra, quando o destino fêz viver o narrador em alguma época ainda carecedora de esclarecimento histórico. É o homem que buscamos compreender melhor em suas memórias, as quais nos atraem principalmente quando, por vários motivos sua personalidade artística ou social se nos afigura curiosa ou importante.
(...).
Di Cavalcanti sabe ver e contar. Sabe ver os homens mais do que a paisagem. Esta, muito raramente aparece e ainda assim só se esboça, como um tom ambiental, não em seus pormenores; e para valorizar os indivíduos, apenas. Ou explicá-los. Êstes, êle os vê na sua expressão mais características, e com uma frase por vêzes os define: “Oswaldo de Andrade e o senso divinatório de um novo mundo que êle agarrava pelas fraldas da camisa literária de um Cocteau” etc... Ou “A personalidade de Mário de Andrade foi sempre a de um professor, professor (...) às vêzes inesperadamente desiludido de si mesmo, mas sempre atento aos discípulos”. Ou ainda: “Graça Aranha para mim era um nome sonoro de antologia escolar”.
O curioso é que neste primeiro volume tudo sabe a Rio e São Paulo (o São Paulo provinciano das vésperas da Semana de Arte Moderna), embora uma parte do que se relata venha de Paris. (...). Di permanece essencialmente brasileiro, em sua maneira de ser como um sua pintura, por mais que viaje e viva alhures. E eu sei que essa vida dêle, no estrangeiro, nada teve de turístico. Sem dúvida aprendeu alguma coisa em Paris: a apreciar mais sensual e requintadamente certos aspectos do cotidiano, e digo cotidiano porque do cotidiano é que tira sua poesia, sua inspiração, sua obra. Com a estada na França não se mascarou de civilizado. O que diz a respeito de Menotti del Picchia, que amou o modernismo sem jamais se casar com êle, poderíamos também aplicar ao próprio pintor que nunca fêz Braque, nem Mondrian, nem ninguém que não fôsse Di Cavalcanti. Entretanto, naquelas alturas de 1922, não ceder à injunção das novidades européias era difícil. Elas surgiam com um brilho ofuscante, tanto mais quanto carecíamos de uma tradição literária sólida (ou a desconhecíamos?), bem nossa, que nos preservasse do contágio. (...). Em pintura então é que não havia nada de verdade; o academismo mal disfarçado pelo tema nacional não podia bastar para que um artista resistisse ao chamado da Europa em plena revolução estética. E sua autenticidade salvou-o. O fenômeno dessa resistência talvez se esclareça à luz de suas memórias e eis por que as leremos não apenas com prazer mas também com atenção, à cata do segrêdo recôndito de uma originalidade difícil de se encontrar em meio tão comospolita como o nosso. Um trecho de “Viagem da minha vida” parece-me, a êsse respeito, elucidativo. Vale a pena citá-lo, e não só por isso, mas porque mostra igualmente o estilo típico de conversa, a que aludi: “do Carnaval carioca tirei o amor à côr, ao ritmo, à sensualidade de um Brasil original: do bairro de São Cristóvão a permanência do romanesco, o familiar gênero Machado de Assis, a preocupação política aprendi nas charges do velho “Malho”; do Nordeste de meus parentes paraibanos e pernambucanos vinha meu aventurismo, minha ousadia que aumentara depois do contacto com a zona agrícola do Interior de São Paulo, revelação da existência de um Brasil de colonização italiana, industrializando a produção cafeeira, criando cidades”. Natural, antiliterário por excelência, algo relaxado, contudo elegante, direto, vivo; num estilo de pijama ou de roupa de brim, nunca de terno escuro, colarinho e gravata. Bem nosso, bem familiar aos nossos ouvidos.
Capa do livro Viagem da Minha Vida:
Ilustração 49

Obra escolhida para representar 1955:
Ilustração 50 – Um sonho de carnaval

Adendo Cultural: Anita Malfatti apresenta no MASP, a convite de Pietro Maria Bardi, a exposição “Tomei a liberdade de pintar a meu modo”. Acontece o 4º Salão Paulista de Arte Moderna, exposição coletiva, na Galeria Prestes Maia, em São Paulo. Em julho: acontece em São Paulo a III Bienal Internacional de São Paulo. No Rio de Janeiro, sob a coordenação do Itamaraty, em 27 de fevereiro, foi aberta no Teatro Municipal do Rio, uma das maiores exposição de artes até então. 17 de dezembro: falece em São Paulo, Victor Brecheret.
Adendo Brasil: 3 de outubro: Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-76) é eleito Presidente, obtendo 36% dos votos válidos.

1956
Participa como representante do Brasil na XXVIII Bienal de Veneza e recebe o I Prêmio da Mostra Internacional de Arte Sacra de Trieste, Itália;
Obra escolhida para representar 1956:
Ilustração 51 - Figuras

Adendo Cultural: Acontece em São Paulo, no Museu de Arte Moderna, a exposição “50 anos de Paisagem Brasileira”.
Adendo Brasil: 31 de janeiro: posse de Juscelino Kubitschek, como presidente do Brasil.

1957
Participa da IV Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Participa, com 30 obras, na Galeria Exclusividades, Rio de Janeiro;
Obra escolhida para representar 1957:
Ilustração 52 - Mulata

Adendo Cultural: Zina Aita realiza a exposição individual “Ceramiche di Zina Aita”, na Galleria d’Arte Vanvitelli, em Nápoles – Itália. Participa também da exposição coletiva “Mostra do Presépio”, no Palácio Braschi, em Roma, e da exposição coletiva “Manifestação de Arte Nacional”, no Palácio Real, em Nápoles. 2 de Agosto: Lasar Segall, vítima de enfermidade cardíaca, falece em sua casa, na Rua Afonso Celso, em São Paulo. Foi sepultado no Cemitério Israelita da Vila Mariana. Em setembro: acontece na 4ª Bienal do MASP, em São Paulo, a Exposição Comemorativa Lasar Segall. Em São Paulo, a exposição de Anita Malfatti, de 1917, foi comemorada com uma mostra individual no “Clubinho” com desenhos e algumas experiências abstratas. Brecheret e Anita Malfatti participam da exposição coletiva: “Arte Moderna no Brasil”, em Buenos Aires (Argentina), no Museu de Arte Moderno; ainda na Argentina, em Rosário, no Museu Municipal de Bellas Artes Juan B. Castagnino; em Santiago do Chile, no Museu de Arte Contemporáneo; em Lima (Peru), no Museu de Arte de Lima. Rego Monteiro retorna ao Brasil. Os poetas paulistas Décio Pignatari (1927-2012), Haroldo de Campos (1929-2003) lançam o "Manifesto Concretista".
Adendo Brasil: Fevereiro: inicia-se a construção da nova capital, Brasília, sob a direção dos arquitetos Oscar Niemeyer (1907-2012) e Lúcio Costa, autor do plano piloto da cidade.

1958
Executa para Oscar Niemeyer os cartões para as tapeçarias do Palácio da Alvorada;
Obra escolhida para representar 1958:
Ilustração 53 – Retrato de Yolanda Penteado

Adendo Cultural: Janeiro: o escritor, desenhista e pintor modernista Flávio de Carvalho, escandaliza a elite moralista da cidade de S. Paulo, desfilando pelo centro da cidade com saiote e meias rendadas de bailarina, alegando estar criando uma “nova moda masculina” mais adequada ao clima do país. Março: acontece na Galeria de Artes das Folhas, São Paulo, exposição Retrospectivas de desenhos e gravuras de Lasar Segall. Como destaque na música: Surge a Bossa Nova, sob a liderança de João Gilberto (1931), Roberto Menescal (1937), Chico Feitosa (1935-2004), Tom Jobim (1927-94) e Nara Leão (1942-89). Estreia no Teatro de Arena a peça “Eles Não Usam Black-Time”, de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006). Falecimento do artista plástico Ignácio da Costa Ferreira (Ferrignac). 14 de fevereiro: falece, em São Paulo, um dos mecenas dos modernistas, o senador Freitas Valle.

1959
Participa da “Exposição Coletiva Itinerante”, pelo MAM (RJ). Recebe do político Carlos Otávio Flexa Ribeiro (1914-91), o título de “O Patriarca da Pintura Moderna Brasileira”;
Obra escolhida para representar 1959:
Ilustração 54 – Cena no Interior
(nanquim e grafite)

Adendo Cultural: Em setembro: acontece a V Bienal de São Paulo, com sala especial dedicada a Cândido Portinari e a Lasar Segall.
Adendo Brasil: 31 de janeiro: Carlos Alberto Alves Carvalho Pinto (1910-87) toma posse como governador de São Paulo. Seu governo terminará em janeiro de 1963.

1960
Recebe a medalha de ouro por sua participação com sala especial na II Bienal Interamericana, no México. Pinta a Via Sacra para a Catedral de Brasília e um painel para os Escritórios da Aviação Real na cidade do México. Ilustra o livro Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado (1912-2001). Realiza ainda exposições em Paris, Rio de Janeiro e São Paulo. Pinta painéis para o Palácio do Congresso, em Brasília, e para o Banco Lar Brasileiro, hoje no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), Rio de Janeiro;
Obra escolhida para representar 1960:
Ilustração 55 – Mercado de peixe

Adendo Cultural: Acontece em São Paulo a Exposição Contribuição da mulher às artes plásticas no país, no Museu de Arte Moderna, de dezembro até janeiro de 61.
Adendo Brasil: 21 de Abril: a capital do Brasil é transferida do Rio de Janeiro para Brasília. 3 de outubro: Jânio Quadros (1917-92) é eleito presidente do Brasil e João Goulart (1919-76) o vice.

1961
Decide anular sua participação na VI Bienal Internacional de São Paulo. Realiza Exposição Individual na Petite Galeria, Rio de Janeiro;
Obra escolhida para representar 1961:
Ilustração 56 – Tempos Modernos

Adendo Cultural: 21 de janeiro: morre, em Paris, o escritor suíço Blaise Cendrars. Acontece em São Paulo a VI Bienal Internacional de São Paulo. 16 de fevereiro: falece no Rio de Janeiro o artista plástico Osvaldo Goeldi. Tarsila realiza retrospectiva na Casa do Artista Plástico, em São Paulo. Em outubro: acontece no Centro de Ciências, Letras e Artes, de Campinas (SP), a exposição “Lasar Segall: gravuras”.
Adendo Brasil: 25 de Agosto: Renúncia de Jânio Quadros (PTN) da presidência do Brasil. Assumi seu vice, João Goulart, conhecido como Jango, um homem que defendeu medidas consideradas de esquerda para a então política brasileira. Início do regime parlamentarista, atribuindo funções do Executivo ao Congresso.

1962
Participa do Congresso da Paz, em Paris e Moscou. Realiza no Instituo dos Arquitetos do Brasil, a palestra “Responsabilidades dos Intelectuais na Luta pelo Desarmamento e pela Paz”. Realiza Mostras no Rio de Janeiro. Participa da I Bienal de Arte Americana em Córdoba, Argentina. Participa também da Exposição de Artistas Brasileiros em Casablanca, Rabat e Tânger, no Marrocos. Ilustra o livro A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água, de Jorge Amado;
Obra escolhida para representar 1962:
Ilustração 57 – Duas Mulatas

Adendo Cultural: 6 de fevereiro: falece Cândido Portinari, no Rio de Janeiro. 26 de junho: falece o artista plástico Alberto da Veiga Guignard. 12 de dezembro: falece em Santos (SP), Patrícia Galvão, a Pagu. O filme Pagador de Promessas, do cineasta Anselmo Duarte (1920-2009) é o primeiro filme brasileiro a ganhar a Palma de Ouro, no Festival de Cannes, na França.
Adendo Brasil: O presidente João Goulart sanciona a Lei que institui o décimo terceiro salário para todo trabalhador com carteira assinada. A seleção brasileira de futebol consegue o bicampeonato de futebol no Chile. O Acre passa a receber a categoria de mais um Estado do Brasil.

1963
É homenageado com sala especial na VII Bienal Internacional de São Paulo. Luís Martins (1907-81), assim descreveu sobre DC na VII Bienal(44):
“Sua generosidade inata levá-lo-ia naturalmente a outros caminhos e a novas perspectivas, quando, em 1923, em sua primeira viagem à Europa, descobriu Picasso – o Picasso que se evadia das linhas frias, severas, retas e angulosas do cubismo (*), para as curvas sensuais, exuberantes e mediterrâneas de sua fase neoclássica. Mas, se esse encontro com o grande pintor espanhol constituiu provavelmente, para o jovem brasileiro, uma revelação do seu próprio temperamento, sugerindo-lhe uma forma de exprimir plasticamente o que há de ondulante, macio, cálido e maternal no corpo feminino, força é confessar que a personalidade de nosso artista não se deixou subjugar ou dominar passivamente pela outra, mais amadurecida, do mestre consagrado. O que há em Di Cavalcanti de intrinsecamente brasileiro, ou melhor particularizando, de carioca, levava-o a uma interpretação pessoal, a uma espécie de tradução para o mulato das mulheres clássicas e um pouco olímpicas de Picasso, dando-lhes um frêmito, uma malícia e uma indolência que elas não tinham”.
(*) O Cubismo é um movimento artístico que teve surgimento no século XX e é considerado o mais influente deste período. Com suas formas geométricas representadas, na maioria das vezes, por cubos e cilindros, a arte cubista rompeu com os padrões estéticos que primavam pela perfeição das formas na busca da imagem realista da natureza. A imagem única e fiel à natureza, tão apreciada pelos europeus desde o Renascimento, deu lugar a esta nova forma de expressão onde um único objeto pode ser visto por diferentes ângulos ao mesmo tempo.(45)

Obra escolhida para representar 1963:
Ilustração 58 – Menino com galo brincando

Adendo Cultural: O Museu de Arte da Prefeitura de Belo Horizonte (MG), realiza em maio, a exposição: Segall: desenhos e pinturas. Acontece a VII Bienal Internacional de São Paulo, entre 28 de setembro e 22 de dezembro. Anita Malfatti realiza exposição individual na Casa do Artista Plástico, em junho, em São Paulo. Anita foi homenageada na VII Bienal Internacional de Arte de São Paulo, iniciada dia 28 de setembro e encerrada em 22 de dezembro, com uma sala inteiramente dedicada às suas obras. Foi a última exposição com a presença da pioneira do modernismo brasileiro, Anita Catarina Malfatti.
Adendo Brasil: 6 de janeiro: Plebiscito escolhe o sistema presidencialista no Brasil, derrotando o parlamentarismo. Em São Paulo tem início a greve dos 700 mil, envolvendo 78 sindicatos, reivindicando aumento salarial e a unificação das datas base. 1º de maio: a TV Tupi faz a primeira transmissão em cores da televisão brasileira.

1964
A Galeria Relevo, Rio de Janeiro, organiza exposição comemorativa dos seus quarenta anos de artista: “Di Cavalcanti – 40 anos de pintura. Publica o livro Reminiscências líricas de um perfeito carioca. Inicia desenhos de joias que são executadas pelo joalheiro Lucien, do Rio de Janeiro. Participa, no Rio de Janeiro, na Galeria Ibeu, da exposição “O Nu na Arte Contemporânea. É indicado pelo presidente João Goulart (1919-76) para ser adido cultural na França, embarca para Paris, mas não assume por causa do golpe militar no Brasil;
Obra escolhida para representar 1964:
Ilustração 59 – Mulher Sentada

Adendo Cultural: Acontece em Veneza, Itália, a XXXII Bienal. 6 de novembro: falece Anita Catarina Malfatti, aos 75 anos, na Santa Casa de Misericórdia, em São Paulo. 9 de novembro: falece no Rio de Janeiro, Cecília Meireles. Glauber Rocha (1939-81) lança "Deus e o Diabo na Terra do Sol", marco do cinema novo.
Adendo Brasil: Acontece o “Golpe Militar”: O estopim para o golpe militar no Brasil aconteceu em março, quando Jango, após um discurso inflamado no Rio de Janeiro, determinou a reforma agrária e a nacionalização das refinarias estrangeiras de petróleo. Imediatamente, a elite reagiu: o clero conservador, a imprensa, o empresariado e a direita em geral organizaram, em São Paulo a "Marcha da Família Com Deus pela Liberdade", que reuniu cerca de 500 mil pessoas. O repúdio às tentativas de reforma à Constituição Brasileira e a defesa dos princípios, garantias e prerrogativas democráticas constituíram a tônica de todos os discursos e mensagens. Em 31 de março daquele ano, os militares iniciam a tomada do poder e a deposição de Jango. No dia 2 de abril, o presidente João Goulart partiu de Brasília para Porto Alegre e Ranieri Mazilli (PSD) assumiu a presidência interinamente. Dois dias depois, João Goulart se exilou no Uruguai. Em 9 de abril, foi editado o AI-1 (Ato Institucional número 1), decreto militar que depôs o presidente e iniciou as cassações dos mandatos políticos. No mesmo mês, o marechal Castello Branco (1897-1967) foi empossado presidente com um mandato até 24 de janeiro de 1967. O Regime Militar no Brasil duraria até 1985.

1965
Obra escolhida para representar 1965:
Ilustração 60 – Cena de Rua com Mulher

1966
São localizados seus trabalhos desaparecidos no início da década de 40, nos porões da Embaixada do Brasil na França, provavelmente colocados ali pelos próprios agentes do governo, que teriam se encarregado de censurar sua obra. DC é incluído na coleção de fascículos Pinacoteca de los Genios, nº 96, editada em Buenos Aires, Argentina. Participa, em São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea, USP, da Exposição Itinerante “Meio Século de Arte Nova”. Concorre a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas não consegue o intento. Manuel Bandeira, a respeito de DC na ABL, escreveu(46):
(...). Di Cavalcanti é outro pintor cuja admissão na Academia muito a honraria: escreve versos e prosa com elegância e o original sabor de sua vigorosa personalidade.

Obra escolhida para representar 1966:
Ilustração 61 – Mulata com gato

Adendo Cultural: 9 de novembro: Falece em São Paulo, Sérgio Milliet, escritor e crítico de arte.

1967
Obra escolhida para representar 1967:
Ilustração 62 – Mulheres na Praia

Adendo Cultural: 31 de Agosto: Falece em Ubatuba (SP), o artista plástico Antonio Gomide. No Museu Lasar Segall, São Paulo, acontece a exposição “Segall: exposição de obras de colecionadores”. No MAM, Rio de Janeiro: Exposição Retrospectiva Lasar Segall.

1968
Obra para representar 1968:
Ilustração 63 – Mulheres Facetadas (Mangue)

Adendo Cultural: 13 de Outubro: Falece no Rio de Janeiro, Manuel Bandeira. 24 de outubro: Falece em São Paulo, René Thiollier, um dos mecenas da Semana de Arte Moderna de 1922. Em São Paulo, o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) depreda o teatro que apresentava a peça "Roda Viva", de Chico Buarque de Holanda, dirigida por José Celso Martinez Côrrea, e espanca os atores. Glauber Rocha lança o filme "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro". Em outubro: No Rio, Geraldo Vandré apresenta, no 3º Festival Internacional da Canção, a música "Para Não Dizer que Não Falei nas Flores", considerada subversiva pelo coronel Otávio Costa, que exige a prisão do compositor. Morre Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta.

1969
Ilustra os bilhetes das extrações da Inconfidência, São João, Independência e Natal, da Loteria Federal;
Obra escolhida para representar 1969:
Ilustração 64 – Marina Montini

Adendo Cultural: Aracy Amaral organiza a Exposição Retrospectiva “Tarsila: 50 Anos de pintura” – no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e depois no Museu de Arte Contemporânea da USP, em São Paulo. 11 de julho: às 3h56m da madrugada, Guilherme de Almeida morre em sua casa, na Rua Macapá, vítima de uremia. O sepultamento, com honras militares, se deu às 11h do dia seguinte, e seus despojos se encontram no Obelisco e Mausoléu do Soldado Constitucionalista de 32, no Parque Ibirapuera, em São Paulo.

1970
Obra escolhida para representar 1970:
Ilustração 65 - Carnaval

Adendo Cultural: É fundado, em São Paulo, o Museu Lasar Segall, na residência do artista, na Vila Mariana. 5 de junho, falece no Recife, Vicente do Rego Monteiro.

1971
Participa da XI Bienal Internacional de São Paulo. O Museu de Arte Moderna de São Paulo organiza retrospectiva de sua obra, exibindo 475 obras de todas as fases do artista. Recebe prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). Realiza Mostra com 23 obras na Galeria Ipanema, Rio de Janeiro;
Obra escolhida para representar 1971:
Ilustração 66 – Mulata-Pombo e Paisagem

Adendo Cultural: Em maio: No MASP, São Paulo, acontece a exposição “Cem Pinturas de Lasar Segall”. O livro Incidente em Antares, de Érico Veríssimo (1905-75) é um dos poucos livros que escapa à censura instaurada no Brasil, sendo publicado nesse ano.

1972
Recebe o Prêmio Moinho Santista. Participa em São Paulo da Exposição “50 anos depois”, na Galeria Collectio. Muda-se para Salvador (BA). Publica o álbum “7 Xilografias de Di Cavalcanti”, com apresentação de Luís Martins, pela Editora Chile;
Obra escolhida para representar 1972:
Ilustração 67 – Baile Popular

Adendo Brasil: No Museu de Arte Moderna de São Paulo acontece a exposição “A Semana de 22”. Março: começam em definitivo as transmissões em cores da televisão brasileira.

1973
Recebe o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia, em Salvador;
Obra escolhida para representar 1973:
Ilustração 68 – Mulher no Divã

Adendo Cultural: Acontece em São Paulo a 12ª Bienal Internacional. Nessa Bienal, Tarsila do Amaral ganha sala especial. 17 de janeiro: falece em São Paulo, Tarsila do Amaral. 4 de junho: falece em Valinhos (SP), Flávio de Carvalho.

1974
Participa das Exposições “Tempo dos Modernistas”, em São Paulo no MASP e na Bolsa de Artes, Rio de Janeiro. O poeta Odorico Tavares (1912-80), no seu livro Meus Poemas aos Meus Pintores, Edição Fora do Comércio, Salvador (BA), escreve o poema Di Cavalcanti a Elisabeth(47):

Na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro,
foi assinado um pacto entre
Deus e Di Cavalcanti,
Chamado o Protocolo de São Cristóvão.

Deus ficou com a incumbência
de continuar criando as mulheres
e dessa as mulatas
seriam os modelos do pintor

O artista nos seus quadros
Não devia esquecer dos materiais,
Chamados Poesia e Brasil.

Não se pode pintar uma mulata
Sem essas duas coisas.

A Bahia, que é terra das mulatas,
Deu o título de professor
A Di Cavalcanti
Quem tem um pacto com Deus.

O professor continua
pintando bem, mantendo
sua palavra com Deus.

Ilustração 69 – José Lins do Rego, Odorico Tavares e DC – s/data.

Obra escolhida para representar 1974:
Ilustração 70 – Mulata com vestido verde

Adendo Cultural: 14 de janeiro: falece no Rio de Janeiro, Cassiano Ricardo. Em São Paulo, no Museu de Arte Moderna, acontece a exposição “Tempos dos Modernistas”.

1975
5 de Abril: foi feito Comendador da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal. É submetido a duas cirurgias. Participa no Museu Lasar Segall, Vila Mariana, São Paulo, da exposição “O Modernismo de 1917 a 1930”;
Obra escolhida para representar 1975:
Ilustração 71 – Quatro Estações

Adendo Cultural: Em São Paulo, acontece a 13ª Bienal Internacional. No Museu Lasar Segall, em São Paulo, acontece a exposição “O Modernismo de 1917 a 1930”. Lançamento do "Dicionário da Língua Portuguesa", organizado por Aurélio Buarque de Holanda (1910-89), e da "Enciclopédia Mirador", organizada por Antônio Houaiss (1915-99).

1976
Acontece no Museu Nacional de Belas Artes e no Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, a exposição: “Di Cavalcanti: Retrospectiva”;
26 de outubro: após a terceira cirurgia, o pintor, caricaturista, desenhista, ilustrador, escritor e advogado, Di Cavalcanti, falece no Rio de Janeiro, às 21h15min, na UTI do Hospital de Beneficência onde estava internado há 20 dias com crise renal. O corpo foi transferido para o Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, onde foi velado. A prefeitura de São Paulo altera o nome da Rua 4, no Alto da Mooca, para Rua Emiliano Di Cavalcanti.
Obra escolhida para representar 1976:
Ilustração 72 – Mulata Nua

Adendo Cultural: O enterro de DC foi filmado pelo cineasta Glauber Rocha (1939-81). No ano seguinte, Glauber lançou o documentário "Ninguém Assistirá Ao Enterro Da Tua Última Quimera, Somente A Ingratidão, Aquela Pantera, Foi Sua Companheira Inseparável!, - Di Cavalcanti di Glauber". O curta foi premiado no Festival de Cannes, mas o filme foi embargado judicialmente pela família do artista.
Ilustração 73 – DC em 1969
(Arquivos Implacáveis de João Condé)

Ilustração 74 – DC em 1975

Depoimentos:

- De Sérgio Milliet
Era um porão alto na praça da República. Alguns quadros de Di Cavalcanti, um busto de Brecheret e o gordo anfitrião Oswald de Andrade a descobrir gênios nos amigos. Di ainda era magro, mais caricaturista do que pintor e em busca de um tipo que, mais tarde, levaria ao de suas mulatas com tana sensualidade pintadas. Quando ocasionalmente se lançava à pintura, empregava uma técnica impressionista a serviço de seu expressionismo natural. Davam-se bom os dois inquietos de 22, piadistas ambos e mordazes. E generosos também, e atentos a todas as novidades artísticas e políticas. (...).
Fonte: Milliet, Sérgio. In: O Modernismo no Brasil. Org. P. M. Bardi. Banco Sudameris Brasil S.A., São Paulo, 1982, p. 56.

- De Luís Martins:
(...) quando assinala a tendência de Di Cavalcanti para o fauvismo, acentua Sérgio Milliet seu caráter instintivo. Mesmo certas aproximações expressionistas, evidentes e incontestáveis em alguns quadros da época, seriam meras coincidências, isto é, seriam menos derivadas de uma consciente filiação escolástica do que a indisciplinada, intuitiva e heróica necessidade de destruir, de negar, de contradizer todo o formidável acervo de banalidades e lugares-comuns que entupiam museus, salas de exposições e paredes de salões particulares no ano do centenário de nossa independência. Era um expressionismo natural e impulsivo, nascido da necessidade de satirizar, de combater e demolir a deformação que derivava da violência da caricatura, forma de combate que constituiu uma reação instintiva do inconformismo e da rebeldia (...). Assim como o seu expressionismo era uma forma de manifestar socialmente sua inadaptação à rotina, o seu fauvismo seria a necessidade de contradizer o habitualmente feito e passivamente aceito (...).
Fonte: Luís Martins - in Di Cavalcanti. Marcondes, Marcos Antônio. São Paulo, Art, 1983.

- De Roberto Pontual:
Talvez mais do que a sua própria obra de pintor e desenhista, observada isoladamente, é a totalidade do ser humano que passou um dia, muito cedo na vida, a assinar-se Di Cavalcanti, que se instaura como símbolo no modernismo brasileiro. Isso se acentua pelo fato de sua presença nunca ter-se restringido à área exclusiva das artes visuais, abrangendo também a prosa e a poesia, a ponto de ele preferir que o considerassem não como um pintor, mas como um intelectual que pintava. Por pretender agir sobre o mundo como algo mais do que as tintas e os pincéis, foi que ele logo se integrou, cabeça e mãos, na inteira militância contra o academismo amorfo na pintura e contra a rigidez parnasiana na literatura (...).
Fonte: Pontual, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Prefácio de Gilberto Allard Chateaubriand e Antônio Houaiss. Apresentação de M. F. do Nascimento Brito. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1987.

- De Olívio Tavares de Araújo:
Tinha prazer com o ato de pintar e não se preocupava em alcançar a cada vez a obra-prima; queria basicamente expressar-se. Nos anos 20 e 30, sua produção é mais homogênea; nos 40 e 50, surgem numerosas e famosas obras magistrais; dos 60 em diante, elas se tornam raridade. Apesar disso, Emiliano Di Cavalcanti permanecerá para sempre como um dos maiores pintores brasileiros, e o que melhor captou um determinado lado do país: o amoroso, o sensual. O largo predomínio da figura humana em sua arte é também uma manifestação de seu humanismo essencial - o mesmo humanismo que o levou a ser um indivíduo da esquerda, embora não exatamente um ativista partidário. Como Segall, Ismael Nery e Portinari, Di fez do homem o objeto de sua atenção.
Fonte: Araújo, Olívio Tavares. Pintura brasileira do século XX: trajetórias relevantes. Rio de Janeiro: Editora 4 Estações, 1998. Pág.46-48.

- De Murilo Mendes:
Eis o aparente paradoxo de Emiliano Di Cavalcanti: este grande individualista é um pintor social, este boêmio dispersivo é um trabalhador obstinado, este copiador de histórias pitorescas é um espírito sério capaz de disciplina. O homem Di Cavalcanti é rico em surpresas e imprevistos, solidário com outros no sofrimento e na alegria. Sabe que o prazer sempre foi um elemento importante na criação da obra de arte. Sabe que o prazer encerra também conflitos, abismos, contradições...

- De Luís Lopes Coelho:
Um quadro de Di Cavalcanti - qualquer quadro - é, antes de mais nada, uma projeção de sua sensibilidade e de sua personalidade; e daí, o seu extraordinário fascínio, o seu poderoso encanto, a sua capacidade de encantar instantaneamente a simpatia e a admiração de um público heterogêneo, em que se irmanam solidariamente leigos e entendidos. Diante de bem poucos artistas nacionais se poderia com rigorosa veracidade repetir, como diante de Di Cavalcanti, este aparente lugar-comum, muito menos comum, aliás, do que se imagina: a obra é o homem.

- De Antonio Bento:
Ao longo deste meio século transcorrido, Di Cavalcanti ocupou um lugar de 1º plano nas artes plásticas do Brasil. Além de idealizar a Semana de 1922, foi ainda o principal responsável pelo surto de uma pintura temática nacional, dominante após aquele movimento. Apesar de suas ligações com a Escola de Paris e o Cubismo, é um pintor profundamente carioca e brasileiro. A sua obra reflete como nenhuma outra, pela extensão no tempo, a vida do nosso povo. O carnaval, o ritmo e a ginga dos sambistas, as baianas, as mulatas capitosas, as mulheres da vida, os passistas, os malandros, os seresteiros, os bailes de gafieira, os trabalhadores, a paisagem, enfim a própria vida do País está presente em sua pintura, que é sempre vigorosa. A sensualidade brasileira está nas linhas, formas e cores, expressionistas de suas telas.

- De Mário Pedrosa:
Di Cavalcanti é demasiado terra-a-terra, demasiado sensorial, demasiado materialista.  

Referências:

(3) Santana Mirian, Ilza. In: http://www.infoescola.com/historia/revolta-da-chibata/ - Acesso junho/2016.
(4) Bortoloti, Marcelo. Cinco Décadas de Di Cavalcanti na Imprensa Brasileira. Fundação Biblioteca Nacional (Ministério da Cultura), 2011, estudo em pdf, nota 6, p. 8 – Disponível em:
(5) Almeida, Marina Barbosa de.  As Mulatas de Di Cavalcanti: Representação Racial e de Gênero na Construção da Identidade Brasileira (1920 e 1930). Dissertação para obtenção de grau de mestre em História, ao Departamento de História do Setor de Ciências, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007, p. 32, Nota 35.
(6) Amaral, Aracy A. Artes Plásticas na Semana de 22. Editora 34, São Paulo, 5ª edição revista e ampliada, 1998, pp. 96-97.
(7) Toda descrição dos Ciclos de Conferências realizadas por Freitas Valle, poderá ser conhecida em: Camargos, Marcia. Villa Kyrial – Crônica da Belle Époque Paulistana. Editora Senac, São Paulo, 2ª ed. 2001.
(8) Bortoloti, Marcelo. Cinco Décadas de Di Cavalcanti na Imprensa Brasileira. Fundação Biblioteca Nacional (Ministério da Cultura), 2011, estudo em pdf, nota 7, p. 8 – Disponível em:
(9) Brito, Antonio da Silva. História do Modernismo Brasileiro: antecedentes da Semana de Arte Moderna. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 5ª Ed., 1978 – p. 162.
(10) http://www.pco.org.br/cultura/ - acesso em 2005.
(10.1) Picchia, Menotti Del. Menotti Del Picchia o gedeão do modernismo: 1920/22. Introdução, seleção e organização de Yoshie Sakiyama Barreirinhas. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro; Secretaria de Estado da Cultura, São Paulo – 1983, pp. 295-296.
(11) Brito, Mario de Silva. In: História do Modernismo Brasileiro – Antecedentes da Semana de Arte Moderna. Editora Civilização Brasileira, 5ª ed. Rio de Janeiro, 1978, p. 231.
(12) Amaral, Aracy A. Artes Plásticas na Semana de 22. Editora 34, São Paulo, 5ª edição revista e ampliada, 1998, pp. 128-129.
(13) Almeida, Marina Barbosa de.  As Mulatas de Di Cavalcanti: Representação Racial e de Gênero na Construção da Identidade Brasileira (1920 e 1930). Dissertação para obtenção de grau de mestre em História, ao Departamento de História do Setor de Ciências, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007, p. 31, Nota 35.
(14) Batista, Marta Rossetti; Lopez, Telê Porto Ancona; Lima, Yone Soares de. Brasil: 1º Tempo Modernista – 1917/29 – Documentação. Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, 1972, pp. 64-65.
(15) Bortoloti, Marcelo. Cinco Décadas de Di Cavalcanti na Imprensa Brasileira. Fundação Biblioteca Nacional (Ministério da Cultura), 2011, estudo em pdf, p. 11 – Disponível em:
(16) Andrade, Mário de. Correspondência Mário de Andrade & Tarsila do Amaral. Organização, introdução e notas por Aracy Amaral. Edusp, São Paulo, V. 2, 1999, págs. 22-23.
(17) Batista, Marta Rossetti; Lopez, Telê Porto Ancona; Lima, Yone Soares de. Brasil: 1º Tempo Modernista – 1917/29 – Documentação. Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, 1972, pp. 76-77.
(18) Eulalio, Alexandre. (1932-88). A Aventura Brasileira de Blaise Cendrars. 2ª ed. revista e ampliada por Carlos Augusto Calil. Edusp & Fapesp, São Paulo, 2001, p. 271.
(19) Almeida, Marina Barbosa de.  As Mulatas de Di Cavalcanti: Representação Racial e de Gênero na Construção da Identidade Brasileira (1920 e 1930). Dissertação para obtenção de grau de mestre em História, ao Departamento de História do Setor de Ciências, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007, p. 25, Nota 24.
(20) Andrade, Mário. Correspondência Mário de Andrade & Manuel Bandeira. Organização, Introdução e Notas de Marcos Antonio de Moraes. EDUSP, São Paulo, 2 Ed. – 2001, p. 156.
(21) Almeida, Marina Barbosa de.  As Mulatas de Di Cavalcanti: Representação Racial e de Gênero na Construção da Identidade Brasileira (1920 e 1930). Dissertação para obtenção de grau de mestre em História, ao Departamento de História do Setor de Ciências, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007, p. 42, Nota 54.
(22) Saliba, Elias Thomé. A Serventia dos livros. Publicado em 26/04/2011, em:
(23) Almeida, Marina Barbosa de.  As Mulatas de Di Cavalcanti: Representação Racial e de Gênero na Construção da Identidade Brasileira (1920 e 1930). Dissertação para obtenção de grau de mestre em História, ao Departamento de História do Setor de Ciências, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007, p. 50.
(24) Andrade, Mário. Correspondência Mário de Andrade & Manuel Bandeira. Organização, Introdução e Notas de Marcos Antonio de Moraes. EDUSP, São Paulo, 2 Ed. – 2001, p. 271.
(25) Ribeiro, Maria Isabel Blanco. Tarsila do Amaral. Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros. Folha de S. Paulo & Instituto Itaú Cultural. 1ª ed. São Paulo, 2013, p. 24.
(26) Amaral, Aracy A. Tarsila: Sua obra e seu tempo. Editora 34 & Edusp, São Paulo, 3ª Ed. – 2003, p. 425.
(28) Bandeira, Manuel. Andorinha, Andorinha. Edição Comemorativa do Centenário de Nascimento do Bardo (1886-1968). Seleção e Coordenação de textos de Carlos Drummond de Andrade. José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 2ª Ed. – 1986, pp. 120-121.
(29) Batista, Marta Rossetti; Lopez, Telê Porto Ancona; Lima, Yone Soares de. Brasil: 1º Tempo Modernista – 1917/29 – Documentação. Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, 1972, p. 156.
(30) Batista, Marta Rossetti; Lopez, Telê Porto Ancona; Lima, Yone Soares de. Brasil: 1º Tempo Modernista – 1917/29 – Documentação. Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, 1972, p. 156-157.
(31) Almeida, Paulo Mendes de. De Anita ao Museu. Editora Perspectiva, São Paulo, 1976, p. 76.
(32) Andrade, Mário de. Taxi e Crônicas no Diário Nacional. Estabelecimento de texto, introdução e notas de Telê Porto Ancona Lopes. Livraria Duas Cidades & Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, São Paulo, 1976, pp.527-528.
(33) Andrade, Mário. Correspondência Mário de Andrade & Manuel Bandeira. Organização, Introdução e Notas de Marcos Antonio de Moraes. EDUSP, São Paulo, 2 Ed. – 2001, p. 594.
(34) Nascimento, Ana Paula. A contribuição editorial de Virgílio Maurício no jornal Gazeta de Notícias em 1923. Arte e suas Instituições – XXXIII Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte, UFRJ, set. 2013 – Nota 46, p. 282.
(34.1) Amaral, Tarsila do. Tarsila Cronista. Intr. e Org. Aracy Amaral. Edusp, São Paulo, 2001, pp.154 a 156.
(35) Bortoloti, Marcelo. Cinco Décadas de Di Cavalcanti na Imprensa Brasileira. Fundação Biblioteca Nacional (Ministério da Cultura), 2011, estudo em pdf, p. 20 –
(36) Milliet, Sérgio. Diário Crítico de Sérgio Milliet, 1945. Introdução de Antonio Cândido. – 2ª Ed. – São Paulo, V. III, Livraria Martins Editora & Edusp, 1981, pp. 168-169.
(37) Milliet, Sérgio. Diário Crítico de Sérgio Milliet, 1948/1949. Vol. XXXVII da Coleção Departamento de Cultura, publicado pela Divisão do Arquivo Histórico de São Paulo, 1ª Ed. – São Paulo, 1950, pp. 75/76.
(38) Milliet, Sérgio. Diário Crítico de Sérgio Milliet, 1948/1949. Vol. XXXVII da Coleção Departamento de Cultura, publicado pela Divisão do Arquivo Histórico de São Paulo, 1ª Ed. – São Paulo, 1950, pp. 121/122.
(39) Milliet, Sérgio. Diário Crítico de Sérgio Milliet, 1948/1949. Vol. XXXVII da Coleção Departamento de Cultura, publicado pela Divisão do Arquivo Histórico de São Paulo, 1ª Ed. – São Paulo, 1950, p. 138 e 140.
(40) Almeida, Marina Barbosa de.  As Mulatas de Di Cavalcanti: Representação Racial e de Gênero na Construção da Identidade Brasileira (1920 e 1930). Dissertação para obtenção de grau de mestre em História, ao Departamento de História do Setor de Ciências, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007, p. 44, Nota 61
(41) Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Texto de Lygia Eluf. Folha de São Paulo & Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 1ª Ed. – 2013, p. 86.
(42) Bortoloti, Marcelo. Cinco Décadas de Di Cavalcanti na Imprensa Brasileira. Fundação Biblioteca Nacional (Ministério da Cultura), 2011, estudo em pdf, p. 29 – Disponível em:
(43) Milliet, Sérgio. Diário Crítico de Sérgio Milliet, 1948/1949. Vol. 10 – Livraria Martins Editora, 1ª Ed. – São Paulo, 1959, pp. 72 a 74.
(44) Mestres do Modernismo. Coord. editorial e introdução de Maria Alice Milliet, textos de Marcelo Mattos Araujo e outros. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Fundação José e Paulina Nemirovsky e Pinacoteca do Estado, 1ª Ed., 2005, p. 70.
(45) Disponível em: http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/cubismo/  - Acesso em 2013. 
(46) Bandeira, Manuel. Andorinha, Andorinha. Edição Comemorativa do Centenário de Nascimento do Bardo (1886-1968). Seleção e Coordenação de textos de Carlos Drummond de Andrade. José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 2ª Ed. – 1986, pp. 160-161.
(47) Tavares, Odorico. Poema transcrito no Modernidade - Coleção de Arte Brasileira Odorico Tavares. Curador Emanoel Araujo – São Paulo: Museu Afro Brasil, 2013, p.73.

Referências das Ilustrações:

6: Almeida, Marina Barbosa de.  As Mulatas de Di Cavalcanti: Representação Racial e de Gênero na Construção da Identidade Brasileira (1920 e 1930). Dissertação para obtenção de grau de mestre em História, ao Departamento de História do Setor de Ciências, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007.
7: Catálogo Semana de 22 – antecedentes and consequences. Comemora dos 50 anos da realização da Semana de Arte Moderna. Museu de Arte Moderna de São Paulo & Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo do Governo de São Paulo, 1972.
8: Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Texto de Lygia Eluf. Folha de São Paulo & Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 1ª Ed. – 2013, p. 33.
9:
10: Capa de Fantoches da Meia-Noite. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra35293/capa-de-fantoches-da-meia-noite . Acesso em: 07 de Set. 2017.
11: Cavalcanti, Di. Ilustrações do Fantoches da Meia-noite.  Catálogo Comemorativo dos 50º Aniversário da Semana de Arte Moderna: Museu de Arte de São Paulo, Di Cavalcanti, São Paulo, 1972.
11.1: Batista, Marta Rossetti; Lopez, Telê Porto Ancona; Lima, Yone Soares de. Brasil: 1º Tempo Modernista – 1917/29 – Documentação. Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, 1972, pp. 76.
12: O Beijo. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra2612/o-beijo - acesso em: 07 de Set. 2017
14: SAMBA . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: . Acesso em: 07 de Set. 2017
16: Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Texto de Lygia Eluf. Folha de São Paulo & Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 1ª Ed. – 2013, p. 41.
17: RETRATO de Maria. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: . Acesso em: 07 de Set. 2017.
19: Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Texto de Lygia Eluf. Folha de São Paulo & Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 1ª Ed. – 2013, p. 20.
20: Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Texto de Lygia Eluf. Folha de São Paulo & Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 1ª Ed. – 2013, p. 47.
20.1: Batista, Marta Rossetti; Lopez, Telê Porto Ancona; Lima, Yone Soares de. Brasil: 1º Tempo Modernista – 1917/29 – Documentação. Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, 1972, p. 157.
21: Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Texto de Lygia Eluf. Folha de São Paulo & Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 1ª Ed. – 2013, p. 49.
24: Eluf, Lygia. Di Cavalcanti. Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Folha de S.Paulo; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2013, p.23
25: Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Texto de Lygia Eluf. Folha de São Paulo & Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 1ª Ed. – 2013, p. 21.
26: Almeida, Marina Barbosa de.  As Mulatas de Di Cavalcanti: Representação Racial e de Gênero na Construção da Identidade Brasileira (1920 e 1930). Dissertação para obtenção de grau de mestre em História, ao Departamento de História do Setor de Ciências, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007.
30: Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Texto de Lygia Eluf. Folha de São Paulo & Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 1ª Ed. – 2013, p. 57.
31: Marcondes, Marcos A. Coleção Grandes Artistas Brasileiros. Círculo do Livro; Art Editora, (SP), sd., p. 17.     
35: Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Texto de Lygia Eluf. Folha de São Paulo & Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 1ª Ed. – 2013, p. 15.
36: Marcondes, Marcos A. Coleção Grandes Artistas Brasileiros. Círculo do Livro; Art Editora, (SP), sd., p. 38.     
37: Marcondes, Marcos A. Coleção Grandes Artistas Brasileiros. Círculo do Livro; Art Editora, S. Paulo, sd., p. 42.
39: Marcondes, Marcos A. Coleção Grandes Artistas Brasileiros. Círculo do Livro; Art Editora, S. Paulo, sd., p. 43.
42: Marcondes, Marcos A. Coleção Grandes Artistas Brasileiros. Círculo do Livro; Art Editora, (SP), sd., p. 45.
43: http://www.evandrocarneiroleiloes.com – acesso em 14/9/2017
46: Eluf, Lygia. Di Cavalcanti. Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Folha de S.Paulo; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2013, p.50.
48: Coelho, Teixeira. Coleção Itaú Moderno – Arte no Brasil 1911-1980. Texto e org. de Teixeira Coelho e apresentação de Olavo E. Setúbal. Itaú Cultural, São Paulo, 2007, p. 44.
51: Eluf, Lygia. Di Cavalcanti. Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Folha de S.Paulo; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2013, p.68.
53: Eluf, Lygia. Di Cavalcanti. Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Folha de S.Paulo; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2013, p.25.
55: Eluf, Lygia. Di Cavalcanti. Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Folha de S.Paulo; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2013, p.59.
58: Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Texto de Lygia Eluf. Folha de São Paulo & Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 1ª Ed. – 2013, p. 87.
59: Eluf, Lygia. Di Cavalcanti. Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Folha de S.Paulo; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2013, p.68.
60: Eluf, Lygia. Di Cavalcanti. Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Folha de S.Paulo; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2013, p.15
61: Almeida, Lucinéia Aparecida Falcão. Imagens que falam – Educando alunos através de visualidades artísticas. Trabalho de Conclusão do Curso em Artes Visuais, habilitação em Licenciatura, do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília. 2013 pdf. p. 18 Fonte: http://vejabrasil.abril.com.br/galeria/rio-de-janeiro/leilao-de-arte/index.php#img/03.jpg - acesso em 2014
62: http://www.bolsadearte.com/obras/ - acesso em 12/9/2017
64: Almeida, Lucinéia Aparecida Falcão. Imagens que falam – Educando alunos através de visualidades artísticas. Trabalho de Conclusão do Curso em Artes Visuais, habilitação em Licenciatura, do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília. 2013 pdf. p. 18 Fonte: http://vejabrasil.abril.com.br/galeria/rio-de-janeiro/leilao-de-arte/index.php#img/03.jpg
69Foto ilustração do “Modernidade – Coleção de Arte Brasileira Odorico Tavares”. Curador Emanoel Araujo – São Paulo: Museu Afro Brasil, 2013, p. 22.
71: Lisboa, James. Catálogo Leilão de Arte. São Paulo, 2013, divulgação nº 132.
72: Lisboa, James. Catálogo Leilão de Arte. São Paulo, 2013, divulgação nº 133.
73 - Andrade, Mário de. Mário de Andrade - Cartas a Murilo Miranda – 1934/1945. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1981, p. 105n.
74: Eluf, Lygia. Di Cavalcanti. Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. Folha de S.Paulo; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2013, p.18.

Bibliografia: 
   
- Alambert, Francisco. A Semana de 22 – A Aventura Modernista no Brasil. Ed. Scipione, 2ª Ed., São Paulo, 1994.
- Almeida, Lucinéia Aparecida Falcão. Imagens que falam – Educando alunos através de visualidades artísticas. Trabalho de Conclusão do Curso em Artes Visuais, habilitação em Licenciatura, do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília. 2013, pdf.
- Almeida, Marina Barbosa de.  As Mulatas de Di Cavalcanti: Representação Racial e de Gênero na Construção da Identidade Brasileira (1920 e 1930). Dissertação para obtenção de grau de mestre em História, ao Departamento de História do Setor de Ciências, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2007.
- Almeida, Paulo Mendes de. De Anita ao Museu. Editora Perspectiva, São Paulo, 1976.
- Amaral, Aracy A. Artes Plásticas na Semana de 22. Editora 34, São Paulo, 5ª Ed. Revista e ampliada, 2005.
- Amaral, Aracy A. Tarsila: Sua obra e seu tempo. Editora 34 & Edusp, São Paulo, 3ª Ed. – 2003.
- Amaral, Tarsila do. Tarsila Cronista. Intr. e Org. Aracy Amaral. Edusp, São Paulo, 2001.
- Andrade, Gênese. Vicente do Rego Monteiro. Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 15, Folha de S. Paulo; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2013.
- Andrade, Mário de. Aspectos da literatura brasileira. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1943.
- _______________. Correspondência Mário de Andrade & Manuel Bandeira. Organização, Introdução e Notas de Marcos Antonio de Moraes. Edusp, São Paulo, 2 Ed. – 2001.
- _______________. Correspondência Mário de Andrade & Tarsila do Amaral. Organização, introdução e notas por Aracy Amaral. Edusp, São Paulo, V. 2, 1999.
- _______________. Di Cavalcanti. Diário Nacional, São Paulo, 08 maio 1932.
- _______________. Mário de Andrade - Cartas a Murilo Miranda – 1934/1945. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1981.
- _______________. Taxi e Crônicas no Diário Nacional. Estabelecimento de texto, introdução e notas de Telê Porto Ancona Lopes. Livraria Duas Cidades & Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, São Paulo, 1976.
- Araújo, Olívio Tavares. Pintura brasileira do século XX: trajetórias relevantes. Rio de Janeiro: Editora 4 Estações, 1998.
- Bardi, P. M. História da Arte Brasileira. Ed. Melhoramentos, São Paulo, 1975;
- Batista, Marta Rossetti; Lopez, Telê Porto Ancona; Lima, Yone Soares de. Brasil: 1º Tempo Modernista – 1917/29 – Documentação. Instituto de Estudos Brasileiro – USP, São Paulo, 1972.
- Batista, Marta Rossetti. Anita Malfatti no tempo e no espaço. Biografia e estudo da obra. Editora 34 & Edusp, São Paulo, 1ª ed. – 2006.
- Batista, Marta Rossetti; Lima, Yone Soares de. Coleção Mário de Andrade – Artes Plásticas. Instituto de Estudos Brasileiros, USP, São Paulo. Edição comemorativa do cinquentenário da USP, patrocinada pela Metal Leva S.A. 1984.
- Beccari, Vera D’Horta. Lasar Segall e o Modernismo Paulista. Editora Brasiliense, São Paulo, 1984.
- Boaventura, Maria Eugênia. 22 x 22 – A Semana de Arte Moderna vista pelos seus contemporâneos. Edusp, São Paulo, 2000.
- Bandeira, Manuel. Andorinha, Andorinha. Edição Comemorativa do Centenário de Nascimento do Bardo (1886-1968). Seleção e Coordenação de textos de Carlos Drummond de Andrade. José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 2ª Ed. – 1986.
- Brito, Antonio da Silva. História do Modernismo Brasileiro: antecedentes da Semana de Arte Moderna. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 5ª Ed., 1978.
- Camargos, Marcia. Belle Époque na Garoa – São Paulo entre a Tradição e a Modernidade. Pesquisa e Texto de Márcia Camargos, São Paulo: Fundação Energia e Saneamento, 2003.
- ______________. Semana de 22 entre vais e aplausos. Boitempo Editorial, São Paulo, 2003.
- Catálogo: Arte no Brasil. Prefácio: Pietro Maria Bardi; introdução: Pedro Manuel. Abril Cultural, V.1, São Paulo, 1979.
- Catálogo da Exposição: Do Modernismo à Bienal. Textos de Maria Batista Rossetti, Fábio Magalhães e Radha Abramo. Masp, São Paulo, 1982.
- Catálogo: Modernidade – Coleção de Arte Brasileira Odorico Tavares”. Curador Emanoel Araujo – São Paulo: Museu Afro Brasil, 2013.
- Catálogo: O Modernismo no Brasil. Org. P. M. Bardi. Banco Sudameris Brasil S.A., São Paulo, 1982.
- Catálogo: Semana de 22 – antecedentes and consequences. Comemora dos 50 anos da realização da Semana de Arte Moderna. Museu de Arte Moderna de São Paulo & Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo do Governo de São Paulo, 1972.
- Coelho, Teixeira. Coleção Itaú Moderno – Arte no Brasil 1911-1980. Texto e org. de Teixeira Coelho e apresentação de Olavo E. Setúbal. Itaú Cultural, São Paulo, 2007.
- Cavalcanti, Di. Di CavalcantiGrandes artistas brasileiros. Texto Luís Martins. Círculo do Livro S.A.; Art Editora, São Paulo: 1983.
- ___________. Ilustrações do Fantoches da Meia-noite. Catálogo Comemorativo dos 50º Aniversário da Semana de Arte Moderna: Museu de Arte de São Paulo, Di Cavalcanti, São Paulo, 1972.
- Duarte, Paulo. Mário de Andrade por ele mesmo. Prefácio de Antonio Cândido. Editora Hucitec; Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, São Paulo, 2ª Ed. corr. e aum. 1977.
- Eluf, Lygia. Di Cavalcanti. Coleção Folha – Grandes Pintores Brasileiros, V. 1. 1ª Ed. – São Paulo: Folha de São Paulo; Instituto Itaú Cultural, 2013.
- Eulalio, Alexandre. (1932-88). A Aventura Brasileira de Blaise Cendrars. 2ª ed. revista e ampliada por Carlos Augusto Calil. Edusp & Fapesp, São Paulo, 2001.
- Lisboa, James. Catálogo Leilão de Arte. São Paulo, 2013.
- Marcondes, Marcos A. Coleção Grandes Artistas Brasileiros. Círculo do Livro; Art Editora, São Paulo, sd.
- Mattar, Denise (Org.). Ismael Nery. Textos de Denise Mattar e Tadeu Chiarelli. Curatorial Denise Mattar. Publicação do Banco Pactual S.A. Rio de Janeiro, 2004.
- Mestres do Modernismo. Coord. editorial e introdução de Maria Alice Milliet, textos de Marcelo Mattos Araujo e outros. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Fundação José e Paulina Nemirovsky e Pinacoteca do Estado, 1ª Ed., 2005.
- Milliet, Sérgio. Diário Crítico de Sérgio Milliet, 1945. Introdução de Antonio Cândido. – 2ª Ed. – São Paulo, V. III, Livraria Martins Editora & Edusp, 1981.
- ____________. Diário Crítico de Sérgio Milliet, 1948/1949. Vol. IV. Coleção Departamento de Cultura, publicado pela Divisão do Arquivo Histórico de São Paulo, 1ª Ed. – São Paulo, 1950.
- Nascimento, Ana Paula. A contribuição editorial de Virgílio Maurício no jornal Gazeta de Notícias em 1923. Arte e suas Instituições – XXXIII Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte, UFRJ, set. 2013.
- Peccinini, Daisy. Brecheret e a Escola de Paris. Instituto Victor Brecheret; FM Editorial, São Paulo, 1ª Ed., 2011.
- Picchia, Menotti Del. Menotti Del Picchia o gedeão do modernismo: 1920/22. Introdução, seleção e organização de Yoshie Sakiyama Barreirinhas. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro; Secretaria de Estado da Cultura, São Paulo – 1983.
- Projeto Cultural Artistas do Mercosul. Lasar Segall. Textos de Vera d’Horta. Produzido e Editado pelo Grupo Velox, Buenos Aires, Argentina, 1999.
- Ribeiro, Maria Isabel Blanco. Tarsila do Amaral. Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros. Folha de S. Paulo & Instituto Itaú Cultural. 1ª ed. São Paulo, 2013.
- Rufinoni, Priscila Rossinetti; Pedrosa, Israel. Candido Portinari. Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros, V. 4, Folha de S. Paulo; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2013.
- Tavares, Odorico. Poema transcrito no Modernidade - Coleção de Arte Brasileira Odorico Tavares. Curador Emanoel Araujo – São Paulo: Museu Afro Brasil, 2013.
- Thiollier, René de Castro. A Semana de Arte Moderna. São Paulo: Cupolo, [s.d.].

Fontes Pesquisadas em Sites

DI Cavalcanti. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa971/di-cavalcanti - Acesso em: anos 2000 até 2017.
(*) Outras fontes pesquisadas em sites: ver em Depoimentos, Referências e Ilustrações.

Última atualização: 19/9/2017, por Luiz de Almeida