MÚSICA NA PROGRAMAÇÃO DA
SEMANA DE ARTE MODERNA DE 22
SEMANA DE ARTE MODERNA DE 22
(Desenho de Luiz de Almeida: Nanquim sobre papel cartão (80 x 120 cm), elaborado para o Módulo "Música na Semana de 22" da exposição Retalhos do Modernismo).
VILLA-LOBOS
(SÍNTESE BIOGRÁFICA E HISTÓRICA)
Ilustração 1 - Villa-Lobos
Quando da realização da Semana de Arte Moderna de
1922, a música, principalmente os músicos Guiomar Novaes (1894-1979) e Ernâni
Braga (1888-1948), levaram mais público ao Teatro Municipal que os literatos,
que na verdade haviam planejado "protestos" e não "apresentação"
ou "show" artístico. Enquanto o público "enfrentava" os
literatos, os músicos "enfrentavam-se" nos bastidores. Villa-Lobos
(1887-1959), o “debussysta zangado”, segundo Oswald de Andrade (1890-1954),
escandalizou, mas foi o único dentre os demais músicos participantes que
conseguiu, após a Semana, constituir-se num dos maiores músicos brasileiros,
idolatrado não só no Brasil até os dias atuais.
Dentre os músicos que participaram dos Festivais da
Semana de 22, destacaram-se: Villa-Lobos, Guiomar Novaes, Ernâni Braga,
Fructuoso de Lima Vianna (1896-1976), Lucília G. Villa-Lobos (1894-1966),
George Marinuzzi (1901-93), Paulina d’Ambrósio (1890-1976), Orlando Frederico,
Alfredo Gomes, Alfredo Corazza, Pedro Vieira, Antão Soares, Frederico Nascimento
Filho e Maria Emma.
A Semana de Arte Moderna desenvolveu-se de 11 a 18
de fevereiro, tendo os Festivais nos dias 13, 15 e 17, os mais “quentes”, que
causaram todo tumulto, criando adeptos, mas também contrários, principalmente
na imprensa conservadora paulistana. Oscar Guanabarino (1851-1937), Galvão
Muniz, Galeão Coutinho (1897-1951; pseudônimo Cândido – redator-chefe do jornal
A Gazeta), Mário Pinto Serva (1881-1962),
da Folha da Noite, por exemplo,
tornaram-se ferrenhos contrários aos “moços futuristas” – mas que de nada
adiantou tanta polêmica, pois os “detonados futuristas”, mesmo sem nenhum
planejamento técnico, propiciaram o parto do Modernismo no Brasil e são,
principalmente nos tempos atuais, os protagonistas de intermináveis estudos,
teses, ensaios e pesquisas.
Nesta postagem, o Retalhos do
Modernismo, seguindo seus objetivos, não traz polêmicas, mas sim uma
simples Síntese Biográfica e Histórica
daquele que foi e é um dos maiores representantes da música brasileira, o
compositor, instrumentista e maestro Villa-Lobos, auxiliando estudantes e demais
interessados nas suas pesquisas. Na Internet podemos encontrar vasto material
sobre Villa-Lobos, todos importantes, tais como
o no site do Museu Villa-Lobos (http://www.museuvillalobos.org.br/), no do Itaú Cultural (http://enciclopedia.itaucultural.org.br/) e muitos outros. Mas não podemos esperar
que iremos encontrar tudo na Internet. Para conseguirmos conhecimento macro
(caso possamos dizer assim), devemos buscar nos livros. Existe um arsenal de
obras publicadas - algumas poderão ser encontradas nas “Referências” e na
“Bibliografia” no final desta Síntese.
Agora...
É degustar Villa-Lobos.
(Luiz de
Almeida – Outubro, 2017)
Sobre a Síntese Biográfica e Histórica:
1 – Em letras azuis está a síntese biográfica de Villa-Lobos;
2 – Para facilitar
a descrição e a leitura, salvo em descrição de terceiros, o nome de Villa-Lobos
foi abreviado para Villa, em vermelho;
3 – Em todos os
anos da vida de Villa, mesmo nos que não foram
encontrados dados sobre ele, foram adicionados dois “Adendos”: o “Cultural” e o
“Brasil”, onde foram descritos dados relevantes do período em cada área,
escolhidos pelo autor da Síntese;
4 – As
“Referências” e as “Ilustrações” foram numeradas e estão disponibilizadas no
final da Síntese. Outras, porém, estão no bojo;
5 – Toda obra
utilizada para a pesquisa está descrita no final da Síntese, em: “Bibliografia”.
Outras, porém, estão em “Referências” e no bojo;
6 – Todos os
endereços de sites e blogs utilizados para a pesquisa estão descritos, também
no final da Síntese, em: “Fontes Pesquisadas na Internet” – outros, porém, no
bojo;
7 – Se o leitor
tenha interesse na Apostila da Síntese, basta solicitar através do “Entre em
Contato”, janela disponibilizada no lado direito superior do Blog. O Blog
Retalhos do Modernismo envia por e-mail, em pdf, sem nenhum ônus;
8 – Caso o leitor
encontre algum dado equivocado ou tenha outros dados e informações sobre Villa, também poderá notificar o Blog através do
“Entre em Contato” – e o adicionamento será postado com as devidas referências.
Notas:
1
– Abreviaturas
utilizadas na Síntese:
Villa
(Villa-Lobos)
MA
(Mário
de Andrade)
MB (Manuel Bandeira)
SAM (Semana de Arte
Moderna de 1922)
p. (Página)
pp. (Páginas)
SÍNTESE BIOGRÁFICA E
HISTÓRICA
1887
– 5 de março: nasce Heitor Villa-Lobos, numa casa da Rua Ipiranga, em Laranjeiras - RJ,
filho de Raul Villa-Lobos (professor, funcionário da Biblioteca Nacional, autor
de livros didáticos) e Noêmia Monteiro Villa-Lobos, filha de músico: Santos
Monteiro. Os pais de Villa eram imigrantes espanhóis. Villa ganha um apelido da
família: Tuhu;
1888 –
(Nenhum registro encontrado).
Adendo Cultural: 10 de janeiro: Nasce no Rio de
Janeiro, Ernâni Braga, músico, compositor, escritor e poeta. Participou da SAM.
Amigo de Villa.
Adendo Brasil: Abolição da Escravatura no
Brasil, em 13 de maio.
Adendo Cultural: Machado de Assis lança um dos
seus romances realistas mais lidos: Dom
Casmurro. 2 de dezembro: nasce em São Paulo, Anita Catarina Malfatti –
artista plástica que se transformaria na protagonista do início do Movimento
Modernista no Brasil.
Adendo Brasil: Ano da Proclamação
da República, em 15 de novembro. Marechal
Deodoro da Fonseca (1827-92), com o apoio dos republicanos, demitiu o Conselho
de Ministros e seu presidente. Nesse mesmo dia, o marechal assinou o manifesto
proclamando a República no Brasil e instalando um governo provisório, assim
composto: Marechal Manoel Deodoro da Fonseca: Chefe do Governo Provisório,
Aristides da Silveira Lôbo: Ministro do Interior, Tenente-Coronel Benjamin
Constant Botelho de Magalhães: Ministro da Guerra, Eduardo Wandenkolk: Ministro
da Marinha e Quintino Bocaiúva: Ministro das Relações Exteriores e
Interinamente da Agricultura, Comércio de Obras. Em São Paulo, em 14 de
dezembro, termina o governo provisório triunvirato, composto por Prudente de
Morais (1841-1902), Rangel Pestana (1839-1903) e Joaquim de Souza Mursa
(1833-1893) que teria iniciado em 16 de novembro. É nomeado Prudente de Moraes,
como presidente do Estado. Seu governo terminará em 18 de outubro de 1890. O
conselheiro Antônio Prado era o prefeito de São Paulo. Sua gestão terminará em
1910.
1890
–
(Nenhum registro encontrado).
Adendo Cultural: 11 de Janeiro: nasce em S.
Paulo, Oswald de Andrade. 24 de julho: nasce na cidade de Campinas (SP), o
Poeta, autor de Nós, A Dança das Horas, Messidor e outros: Guilherme de
Almeida.
Adendo Brasil: Com
a Proclamação da República, o Brasil deixou de ser governado por um monarca para
ser governado por um presidente da República, pois passou a ser uma República
Federativa. 30 de maio: foi entregue ao Governo o esboço da nova Constituição
que, de 10 a 18 de junho realizou minuciosa revisão, efetuada, em especial, por
Rui Barbosa (1849-1923),
melhorando sua redação e modificando sua estrutura. 15 de setembro:
realizaram-se as eleições em todos os estados brasileiros. 15 de novembro:
instalou-se a Assembleia Constituinte, no Rio de Janeiro, no Paço da Boa Vista.
A nova Constituição seria promulgada no ano seguinte. Foi promulgado o Código Penal Brasileiro, antes da Constituição. O
governo, para incentivar a política de imigração estrangeira, para substituir a
mão-de-obra escrava, conseguiu a entrada no país de aproximadamente 184 mil
imigrantes, maioria se dirigindo ao Estado de São Paulo.
1891
–
(Nenhum registro encontrado).
Adendo
Cultural: 21 de
maio: Nasce Antônio Garcia Moya, em Arfete, Granada, Espanha. Vai chegar ao
Brasil em 1895. Foi desenhista e arquiteto. Foi denominado de “o poeta da
pedra”. Participou da Semana de 22. Foi o realizador da parte arquitetônica do
Monumento do Ipiranga, São Paulo e o ilustrador da edição original de Paulicéia Desvairada, de Mário de
Andrade (1893-1945), editado em 1922. 12 de abril: Nasce em Genebra, Suíça, o
artista plástico John Graz, que participaria da Semana de 22. Faleceu em 1980,
em São Paulo. 21 de julho: nasce em Vilma, capital da Lituânia, o artista
plástico Lasar Segall.
Adendo
Brasil: O Rio de Janeiro, com seus 522 mil habitantes,
constituía o único grande centro urbano. 24 de fevereiro: promulgada a primeira
Constituição Republicana Brasileira, que estabeleceu os três poderes:
Executivo, Legislativo e Judiciário, harmônicos e independentes entre si. Em 25
de fevereiro aconteceu a primeira eleição presidencial do Brasil e foi
indireta, desobedecendo a Constituição recém-formada. Foram candidatos à
presidência: Marechal Deodoro da Fonseca, Prudente de Morais (1841-1902),
Marechal Floriano Peixoto (1839-95) e José Higino Duarte Pereira (1847-1901). À
vice-presidência se candidataram: o Almirante Eduardo Wandenkolk (1839-1902) e
Marechal Floriano Peixoto. Foi eleito para presidente: Marechal Deodoro da
Fonseca, com 129 votos contra 97, atribuídos ao paulista Prudente de Morais. A
vice-presidência ficou com Marechal Floriano Peixoto. 3 de novembro: Deodoro
fecha o Congresso, prometendo para o futuro novas eleições e uma revisão na
Constituição. 23 de novembro: Deodoro renuncia. Com a renúncia, Floriano Peixoto
assumiu a presidência e governou no regime que ficou conhecido como "mão
de ferro" até o final do mandato, em 1894.
1892 – A família de Villa, por perseguição política, passa a
residir em Sapucaia – RJ e em Bicas e Cataguases – MG, permanecendo até meados
de 1893;
Adendo Cultural: 17 de janeiro: morre em S. Paulo o regente,
compositor, pianista e crítico musical, Alexandre Levy. 20 de março: nasce em
S. Paulo o escritor Menotti Del Picchia. 30 de maio: Em Fortaleza, na Rua
Formosa (atualmente Barão do Rio Branco), Antônio Sales e outros fundam a
“Padaria Espiritual”, cujo artigo primeiro, dos quarenta e sete do Programa de
Instalação, declara o objetivo principal: “I – Fica organizada, nesta cidade da
Fortaleza, capital da Terra da Luz, antigo Siará Grande, uma sociedade de
rapazes de Lettras e Artes denominada – Padaria Espiritual, cujo fim é fornecer
pão de espirito aos socios em particular e aos povos em geral”[1]. A Padaria Espiritual pode ter
sido o primeiro movimento com tendências de cunho modernista no Brasil. 27 de
outubro: nasce em Quebrangulo, sertão de Alagoas, o escritor Graciliano Ramos. Nasce em Rio Claro (SP),
Ignácio da Costa Ferreira, desenhista que ficou conhecido pelo seu pseudônimo:
Ferrignac.
Adendo Brasil: 26 de janeiro: sancionada pelo
presidente Floriano Peixoto a primeira lei eleitoral da República, logo após a
promulgação da Constituição de 1891. 6 de fevereiro: regulamentada a primeira
lei eleitoral do Estado de São Paulo, de 27 de novembro de 1891. Falece no Rio de Janeiro, em 23 de agosto, o Marechal
Deodoro da Fonseca.
1893
– A família retorna a
residência para o Rio de Janeiro. Villa começa a aprender clarinete e
violoncelo com o pai. Em entrevista concedida em 1957, o próprio compositor irá
declarar:
Desde a
tenra idade iniciei a vida musical, pelas mãos de meu pai, tocando um pequeno
violoncelo. Meu pai, além de ser homem de aprimorada cultura geral e
excepcionalmente inteligente, era um musico prático, técnico e perfeito. Com
ele, assistia sempre a ensaios, concertos e óperas, a fim de habituar-me ao
gênero de conjunto instrumental.
Aprendi
também, a tocar clarinete e era obrigado a discernir o gênero, estilo, caráter
e origem das obras, como a declarar com presteza o nome da nota, dos sons ou
ruídos que surgiam incidentalmente no momento, como, por exemplo, o guincho da
roda de um bonde, o pio de um pássaro, a queda de um objeto de mental, etc.
Pobre de mim quando não acertava...[1.1]
Adendo Cultural: 19 de janeiro: nasce em Petrópolis (RJ), a pianista
Magda Tagliaferro. 16 de maio: nasce no Rio de Janeiro, Ronald de Carvalho
(poeta). 9 de outubro: na cidade de S. Paulo, nasce Mário de Andrade, poeta,
ensaísta, romancista, contista, epistolográfico, folclorista, contista,
pesquisador, musicólogo, professor, crítico de arte, cronista, diretor de
cultura, “trezentos, trezentos e cinquenta”, etc.
Adendo Brasil: Iniciava a
formação, às margens do Reio Vaza-Barris, no sertão da Bahia, em uma fazenda
abandonada, uma povoação conhecida como Arraial de Canudos, liderada por
Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido como Antônio Conselheiro (1830-1897).
1894 – (Nenhum registro
encontrado).
Adendo
Cultural:
28 de fevereiro: nasce em São João da Boa Vista (SP), a pianista Guiomar
Novaes. No Rio de Janeiro, o autor teatral Arthur Azevedo (1855-1908) lança
campanha para construção de um teatro. Foi criada Lei Municipal determinando a
construção, mas não foi cumprida, apesar da existência do imposto para
arrecadação de fundos, que nunca foi utilizado.
Adendo
Brasil: Prudente
de Morais assume a presidência da República. Fundação da Escola Polytechina de
São Paulo.
1895 – (Nenhum registro
encontrado).
Adendo
Cultural: Nasce na cidade de Itapetininga (SP),
Antonio Gomide, artista plástico, cenógrafo e professor. 26 de julho: nasce em de São José dos Campos (SP), Cassiano Ricardo Leite, o poeta. 2 de novembro: nasce em São Paulo,
Antonio Paim Vieira, desenhista, retratista,
ceramista, ilustrador, professor de Artes. Participou da Semana de 22.
Adendo Brasil: 29 de junho: Morre
Floriano Peixoto.
1896
–
(Nenhum registro encontrado).
Adendo
Cultural: 25 de fevereiro:
nasce em Nova Friburgo, RJ, o pintor Alberto da Veiga Guignard. Nasce em Lucca,
Itália, Alfredo Volpi (faleceu em 1988), Muda-se com os
pais para São Paulo em 1897. Irá participar do Grupo Santa Helena em 1930.
Adendo
Brasil: Campos Sales (1841-1913): presidente do
estado de São Paulo é eleito em 31 de maio.
1897 – (Nenhum registro
encontrado).
Adendo Cultural: 23 de abril: nasce no Rio de
Janeiro, Alfredo da Rocha Viana Filho, o “Pixinguinha”, compositor, flautista,
saxofonista e arranjador. 28 de julho: numa sala do Museu Pedagogium, Rua do
Passeio (RJ), realizou-se a sessão inaugural da Academia Brasileira de Letras,
sob a presidência do escritor Machado de Assis (1839-1908) e com a presença de
dezesseis acadêmicos. O discurso inaugural foi feito por Joaquim Nabuco
(1849-1910). Nasce em Itapetininga (SP), a decoradora Regina Gomide, irmã do
artista plástico Antônio Gomide (1895-1967). Foi casada com o artista plástico
suíço John Graz (1891-1980). 3 de setembro: nasce em S. Paulo o compositor, professor e regente
Francisco Mignone. 6 de setembro: nasce no Rio de Janeiro: Emiliano Augusto
Cavalcanti Albuquerque Mello, o “Di Cavalcanti”. 27 de setembro: nasce Benedito Luís Rodrigues de Abreu, o Poeta, na
fazenda Picadão, município de Capivari (SP). 4 de novembro: nasce no Rio de Janeiro o músico,
compositor e regente Lorenzo Fernandez.
Adendo Brasil: Janeiro: inauguração do telégrafo
submarino entre Rio de Janeiro e Pernambuco. 22 de setembro: morte do Antonio
Conselheiro (Antônio
Vicente Mendes Maciel). Nasceu em Quixeramobim (Ceará) em 13 de março de 1830 e
faleceu em Canudos (Bahia) em 22 de setembro, líder da
comunidade da cidade de Canudos (Bahia), onde ocorreu a Guerra dos Canudos. Em
outubro: fim da Guerra dos Canudos, que morreram mais de 25 mil pessoas e a
cidade de Canudos foi destruída. O escritor Euclides da Cunha (1866-1909) era repórter
do O Estado de S. Paulo e foi
designado para fazer a cobertura dos acontecimentos em Canudos. No livro Os Sertões, Euclides descreve como era a
comunidade de Canudos liderada pelo beato Antonio Conselheiro. Pudente de
Morais era o presidente do Brasil. 12 de dezembro: Ouro Preto deixou de ser a
capital de Minas Gerais, cedendo lugar para a recém-construída “Cidade de
Minas”, que, em 1991, passaria a se chamar Belo Horizonte.
1898 –
(Nenhum registro encontrado).
Adendo
Cultural: Dia 15 de fevereiro, o Teatro São José, construído próximo ao largo de
São Gonçalo (hoje Pça João Mendes), em São Paulo, foi destruído por um
incêndio. São Paulo ficava sem teatro. 12 de março, em Santos (SP):
nasce o escritor Ribeiro Couto (faleceu em 1963). 21 de março: nasce
em S. Paulo o pianista, compositor e maestro João de Sousa Lima. 4 de agosto: nasce em Pinhal, município de Santa Maria
(RS), o poeta Raul Bopp (faleceu em 1984), autor de Cobra Norato. 20 de setembro: nasce em S. Paulo o escritor
modernista, crítico de artes Sérgio Milliet (faleceu em 1966). 8 de dezembro:
nasce em Rio Claro (SP), Yan de Almeida Prado – irá participar da Semana de 22
com trabalhos realizados conjuntamente com Antônio Paim Vieira (1895-1988).
Adento Brasil: Campos Sales inicia
seu governo como presidente da República que findará em 1902. Vital Brasil (1865-1950), no Instituto Bacteriológico de São Paulo, descobre
o primeiro soro eficaz contra a picada de cobras.
1899 – 18 de julho: falece seu pai, vitimado
pela varíola. A pedido da mãe escreve uma cançoneta: Os Sedutores. Passa
a tocar violoncelo em teatros, cafés e bailes. Foi sua tia Zizinha (Maria
Carolina Rangel) que lhe apresentou os Prelúdios e Fugas do Cravo
bem temperado de J. S. Bach, compositor que lhe serviu como fonte de
inspiração para a criação das nove Bachianas Brasileiras;
Adendo
Cultural: 16 de junho: nasce no Rio de Janeiro, o poeta Dante
Milano. 14 de julho: nasce em
Campinas (SP), o escritor modernista: Carlos Tácito Alberto de Almeida Araújo
(Tácito de Almeida, faleceu em 1940), irmão do poeta Guilherme de Almeida
(1890-1969). 10 de Agosto, na cidade de Amparo da Barra Mansa (RJ): nasce
Flávio de Carvalho (faleceu em 1973), artista plástico. 19 de dezembro: nasce no Recife, Vicente do Rêgo
Monteiro, artista plástico. Faleceu em 1970.
Adendo
Brasil: Sugerido por
Adolpho Lutz (1855-1940), o Governo do Estado de São
Paulo criou, na capital, o Instituto Soroterápico (futuro Butantã), que seria
dirigido por Vital Brasil.
1900 – Inicia o Curso de Humanidades no
Mosteiro de São Bento. Escreve A Panqueca, para violão;
Adendo
Cultural: Nasce, em Belo Horizonte (MG), a artista plástica
modernista Zina Aita (faleceu na Itália em 1967). Nasce em Belém do Pará, o
artista plástico Ismael Nery.
Adendo
Brasil:
Comemorações do IV Centenário do Descobrimento do Brasil. 7 de maio: em São
Paulo, foi inaugurada a primeira linha de bonde elétrico, que partia do Largo
São Bento com destino ao bairro da Barra Funda.
1901 - A família muda-se para MG, primeiro
para Bicas e depois para Cataguazes;
Adendo
Cultural: 17 de maio: nasce em S. Paulo, o
Poeta Luís Aranha. 25 de maio: nasce em S. Paulo, o escritor António
Castilho de Alcântara Machado d’Oliveira. 3 de
junho: nasce José Lins do Rego, escritor paraibano. Em Juiz de Fora (MG), nasce
Murilo Mendes (poeta). 7 de novembro: no Rio de Janeiro nasce Cecília Meireles
(poeta).
Adendo
Brasil: 19 de
outubro: Santos Dumont (1873-1932), pilotando o balão nº 6, dá a volta em torno
da torre Eiffel, em Paris, percorrendo 11 quilômetros.
1902 – Inicia o aperfeiçoamento da técnica de
violoncelo com Benno Niederberger, concertista e professor;
Adendo
Cultural: Anita Malfatti
(1889-1964) inicia seus primeiros estudos de desenho e pintura com a mãe. 25 de
julho: foi inaugura a primeira exposição coletiva nacional de relativa
significância realizada em São Paulo, capital, a “Exposição de Belas Artes e
Artes Industriais”, em um edifício localizado no Largo do Rosário, exibindo 406
trabalhos de pintura, escultura, artes industriais, cerâmica, cutelaria,
desenho, arquitetura e fotografia, de artistas nacionais e estrangeiros
residentes no País. Tarsila
do Amaral (1886-1973), com 16 anos, viaja à Europa com os pais, matriculando-se
no Colégio Sacré-Coeur, em Barcelona, quando inicia suas primeiras experiências
com pintura. 24 de janeiro: nasce em Porto Alegre (RS) aquele que seria o
“divulgador da estética modernista” no Rio Grande do Sul, Augusto Meyer. 31 de outubro: nasce em Itabira (MG),
o poeta Carlos Drummond de Andrade, ano que foi publicado Os Sertões, de
Euclides da Cunha.
Adendo
Brasil: 15
de novembro: Rodrigues Alves
(1848-1919) assume o poder e começa a reconstruir e sanear o Rio de Janeiro.
Irá governar até 1906.
1903 – Vai morar com sua tia Zizinha. Começa
a frequentar os “chorões”;
Adendo
Cultural: 5 de junho: início das obras do futuro palco da
Semana de Arte Moderna de 1922, o Teatro Municipal de São Paulo, projeto de
Ramos de Azevedo. 29 de setembro: Nascimento do artista plástico Cândido
Portinari, numa fazenda próxima de Brodowski (SP). Com 9 anos, chega ao Brasil,
Victor Brecheret (1894-1955). 15 de outubro: o prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos (1836-1913),
nomeado pelo presidente Rodrigues Alves, lança edital com Concurso para a
apresentação de projetos para a construção do Theatro Municipal. 7 de novembro:
nasce Ary Barroso, em Ubá (MG).
Adendo
Brasil: 28 de maio: em São Paulo, realiza-se o II Congresso
Socialista (o I é de 1892), que funda o Partido Socialista do Brasil. No Rio de Janeiro
acontece novo surto de febre amarela. Também no Rio, em agosto, acontece uma
greve geral pela jornada de 8 horas e por melhores salários. Oswaldo Cruz
(1872-1917) inicia campanha de saneamento para combater a febre amarela no Rio
de Janeiro.
1904 – Matricula-se no curso noturno do
Instituto Nacional de Música, RJ, para estudar violoncelo. Não existem
registros que Villa realmente frequentou as aulas;
Adendo Cultural: Inaugurado o primeiro cinema brasileiro no Rio de Janeiro. 15 de julho: nasce na cidade de Lambari,
Minas Gerais, a poetisa Henriqueta Lisboa.
Adendo Brasil: 1º de maio: Jorge Tibiriçá Piratininga (1855-1928) é eleito presidente do estado de São Paulo. Irá governar até maio de
1908. 31 de outubro: Aprovada a lei de vacinação obrigatória contra a varíola.
No Rio de Janeiro explode a revolta popular contra a vacinação obrigatória.
Washington Luís (1869-1957) é eleito deputado estadual por São Paulo. 15 de novembro:
Rodrigues Alves sancionou a nova lei eleitoral da República, que tomou o n°
1.269, conhecida pelo nome de Lei Rosa e Silva. Essa lei revogou a Lei
Eleitoral n° 35 de 26 de janeiro de 1892.
1905 – Vende parte dos livros herdados do pai
e inicia, com o dinheiro arrecadado e o violoncelo debaixo do braço, sua
primeira viagem ao Norte (passou por Espírito Santo, depois Bahia e
Pernambuco), pesquisando seu folclore e entrando em contrato com musicas
diferentes das que estava acostumado a ouvir: as modas caipiras, tocadores de
viola sertaneja, repentistas, o aboio dos vaqueiros e outros tipos que mais
tarde viriam a universalizar-se através de suas obras. Encantou-se mais com as
regiões norte e nordeste, com paisagens e ruídos diferentes do que estava
acostumado. [Nota: Existe entre os biógrafos uma dúvida muito
grande quanto às viagens de Villa pelo Brasil -
esta no Norte e as outras que vieram nos anos posteriores. Alguns chegam
afirmar que algumas das viagens não tiveram o itinerário mencionado pelo
próprio Villa – este, acreditam, inventou muita
coisa a respeito – e também afirmam até mesmo que algumas viagens não foram
realizadas. O escritor Paulo
Renato Guérios, no seu: Heitor Villa-Lobos: o caminho sinuoso da predestinação.
Ed. do Autor, Curitiba (PR), 2009, faz um relato espetacular a respeito desse
assunto.];
Adendo
Cultural: 2 de janeiro: início das obras
para construção do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O artista plástico
Lasar Segall (1891-1957) inicia estudos de arte na Academia de Desenho (em
Vilna), do mestre Lev Antokolski (1872-1942). Surge no Rio de Janeiro a
primeira revista brasileira de histórias em quadrinhos para crianças: O Tico-Tico. Ano da inauguração da
Pinacoteca do Estado de São Paulo, gestão do presidente paulista Jorge Tibiriçá
Piratininga, com a participação do mecenas e senador estadual Freitas Valle
(1870-1958). 17 de
dezembro: nasce o escritor Érico Veríssimo.
Adendo
Brasil: Lançadas as candidaturas para presidente e
vice-presidente de Afonso Pena (1847-1909) e Nilo Peçanha (1867-1924). A Light, empresa canadense
fundada em 1899, começa sua atuação no Rio de Janeiro. Já atuava na cidade de
São Paulo. Washington
Luís integrava ativamente a Assembleia Nacional Constituinte defendendo a
autonomia dos municípios frente aos governos estaduais e federal.
1906
– Recebe a proposta do
pai da moça que então namorava, para tornar-se representante de sua indústria
no Sul – não deu certo: nem a representação e nem o namoro;
Adendo
Cultural: Criado em S. Paulo o Conservatório Dramático e Musical. Ocorre mudança na direção
da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, com Eliseu Visconti (1866-1944)
sendo eleito para substituir Henrique Bernardelli (1858-1936). 12 de julho: morre no Rio de
Janeiro o músico, compositor, regente, organista e trompetista Henrique Alves
de Mesquita. 10 de outubro: morre o compositor mineiro Francisco Magalhães do
Valle.
Adendo
Brasil: No
Rio de Janeiro acontece a Conferência Pan-Americana. 23 de outubro: primeiro voo em avião por Santos Dumont, em Paris. Em
Taubaté (SP) é assinado o “Convênio de Taubaté”, visando favorecer os
cafeicultores. 15 de novembro: posse do presidente da República Afonso Pena e o
vice Nilo Peçanha. Irão governar até 1909.
1907 – Curta passagem pelo Instituto Nacional
de Música do Rio de Janeiro (depois Escola de Música da UFRJ). Meses depois,
abandona o trabalho acadêmico e inicia então a sua terceira viagem que o
levaria a Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso;
Adendo
Cultural: 1º de fevereiro: nasce em Tietê (SP),
o músico, maestro, compositor e pianista Camargo Guarnieri. No Rio surge a
revista Fon-Fon! - que foi o reduto
dos simbolistas. O artista espanhol Pablo Picasso (1881-1973),
(Registrado com o nome: Pablo Diego
José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la
Santísima Trinidad Martyr Patricio Clito Ruíz y Picasso), lança o
Cubismo.
Adendo Brasil: Em maio: começa
uma greve geral em São Paulo, onde os trabalhadores reivindicam a jornada de 8
horas de trabalho e aumento salarial. A greve durou um mês.
1908 – Conclui os Cânticos Sertanejos.
Muda-se para Paranaguá – PR, provavelmente buscando trabalho. Nessa cidade
chegou a participar de uma banda da Associação dos Empregados do Comércio que
animava os bailes da região e foi nessa cidade que Villa fez sua estreia como maestro, no
extinto Teatro Santa Cecília;
Adendo Cultural: 29 de setembro:
morte de Machado de Assis, escritor e fundador da Academia Brasileira de
Letras. No Rio de Janeiro é lançado o filme do cinematógrafo Pathé, Nhô Anastácio Chegou de Viagem,
considerado a primeira comédia nacional. Surge no Rio a revista Careta, reduto dos parnasianos.
Adendo Brasil: 7 de abril: o socialista Gustavo de Lacerda (1854-1909), funda a
Associação de Imprensa, mais tarde Associação Brasileira de Imprensa (ABI), com
objetivo de defender a liberdade de expressão e os interesses dos jornalistas.
Em maio: aprovada é aprovada a Lei do Serviço Militar obrigatório, iniciativa
do marechal Hermes da Fonseca (1855-1923), então Ministro da Guerra.
1909
– Retorna ao Rio de
Janeiro. 6 de junho: participa, no Instituto Nacional de Música, de uma
apresentação tocando violoncelo e acompanhado por Ernesto Nazareth, na peça O
Cisne, de Saint-Saens;
Adendo Cultural: Felipo Tommaso
Emilio Marinetti (1876-1944), escritor italiano, lança o Primeiro Manifesto Futurista no jornal Le Figaro, que irá influenciar os escritores modernistas,
principalmente Oswald de Andrade (1890-1954), ano que este inicia sua carreira
de jornalista. 14 de julho: inauguração do Teatro Municipal do Rio de Janeiro
pelo presidente Nilo Peçanha com capacidade para 1.739 espectadores. 15 de
agosto: assassinato do escritor Euclides da Cunha. 13 de novembro: Guiomar
Novaes chega a Paris (França), com bolsa outorgada pelo Governo do Estado de
São Paulo, para estudar durante quatro anos. Munida de uma carta de
apresentação de Luigi Chiaffarelli (Nasceu em Isernia (Itália), em 2 de
setembro de 1856. Considerado o maior pedagogo do piano, chegou no Brasil em 15
de agosto de 1880. Faleceu em São Paulo, em 16 de junho de 1923), ao seu colega
Isidor Philipp (1863-1958). Guiomar inscreveu-se no concurso de admissão ao
Conservatório, sendo aprovada em primeiro lugar entre 388 candidatos para 11
vagas, das quais somente duas reservadas a estrangeiros. Novembro: Joaquim José de Carvalho (1850-1918) funda a Academia Paulista de Letras.
Adendo Brasil: 15
de junho: morre o presidente Afonso Pena. Posse de Nilo Peçanha. Seu governo
terminará no ano seguinte. A campanha para presidência da República, em
1909-10, foi a primeira efetiva disputa eleitoral da vida republicana. O
marechal Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro, saiu candidato com o apoio do
Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e dos militares. São Paulo, na oposição,
lançou a candidatura de Rui Barbosa, em aliança com a Bahia. Santos Dumont, em
13 de novembro, em Paris, apresenta outro avião construído por ele, o Demoiselle, oito vezes menor que o 14-Bis, e capaz de voar a 96 km por
hora.
1910 – Viaja com um grupo de mambembe pelas
cidades do litoral, até dissolver-se em Recife, por dificuldades financeiras. Villa continua viagem para o Norte, com
escala em Fortaleza, onde se apaixonou por uma cearense, Carmem. Ficou sem dar
notícias da sua vida para ninguém e nem para a mãe Noêmia. Esta, informada de
que ele morrera, havia mandado celebrar missa pelo repouso da alma inquieta do
filho[2]. Começa a escrever Danças
Características Africanas;
Adendo Cultural: Anita Malfatti, em
agosto, financiada pelo seu tio e padrinho, Jorge Krug (falecido em 1919),
embarca para Alemanha no navio Cap Arcona, chegando a Berlim no dia 7 de
setembro. Iniciou os estudos de pintura no ateliê do artista Fritz Burger (1867-1916),
o seu primeiro mestre, onde estudou o “segredo da composição da cor” e as
teorias de subdivisão da cor. Em Londres acontece a primeira Exposição
Pós-Impressionista (Manet e outros pós-impressionistas), organizada por Roger
Fry. Após o manifesto geral dos pintores futuristas, a Igreja da Europa impõe
ao clero um “juramento anti-modernista”. Ano que o expressionismo alemão ganha
força. A Pinacoteca do Estado de São Paulo é constituída oficialmente. 11 de dezembro: nasce no Rio de
Janeiro, Noel Rosa – compositor, cantor, bandolinista e violonista.
Adendo Brasil: 1º de março: Hermes da Fonseca vence as eleições para presidente e em 15
de novembro toma posse, abalando a “política do café com leite”, pondo em
prática a chamada “política das salvações”, visando assim acabar com as
oligarquias cafeeiras e concentrar o poder. Durante o governo de Hermes da
Fonseca ocorreu a Revolta da Chibata, no Rio de Janeiro, de 22 a 27 de
novembro. Foi
um levante de cunho social, realizado em subdivisões da Marinha, sediadas no
Rio de Janeiro. O objetivo era por fim às punições físicas a que eram
submetidos os marinheiros, como as chicotadas, o uso da santa-luzia e o aprisionamento
em celas destinadas ao isolamento. Os marinheiros requeriam também uma
alimentação mais saudável e que fosse colocada em prática a lei de reajuste de
seus honorários, já votada pelo Congresso. Hermes da Fonseca governou até 1914.
O ano de 1910 a tuberculose, considerada Mal
do Século, matou mais 3 mil pessoas no Rio de Janeiro.
1911 – Conclui suas viagens e
retorna ao Rio de Janeiro;
Adendo Cultural: Anita Malfatti matricula-se
na Academia Lewin Funcke, cujo professor era Franz Heinrich Louis Corinth, que
utilizava o pseudônimo de Lovis Corinth (1858-1925), pintor expressionista
alemão. Na XXII Exposição da Primavera em Berlim, o termo
expressionismo foi aplicado pela primeira vez. Em agosto: Oswald de Andrade funda o semanário humorístico O Pirralho. Mário de Andrade
(1893-1945) ingressa no Conservatório Dramático e Musical, em São Paulo. 12 de setembro: com apresentação da ópera Hamlet, de Ambrósio Thomas, é inaugurado
o Teatro Municipal de São Paulo. A
Lei nº 1.271, de 21 de novembro, assinada pelo então presidente do Estado de
São Paulo, dr. Manoel Joaquim de Albuquerque Lins (1852-1926), no seu bojo,
dispõe sobre a organização da Pinacoteca do Estado de São Paulo e, em 14 de
dezembro, acontece a I Exposição Brasileira de Belas-Artes. 14 de setembro: Morre o poeta Raimundo Correia.
Adendo Brasil: Ano de lançamento da pedra fundamental da nova catedral de São Paulo, a
Catedral da Sé, que levaria 41 anos para ser inaugurada. Hermes da Fonseca, eleito presidente da
República, põe em prática a chamada “política das salvações”, visando a acabar
com as oligarquias cafeeiras e a concentrar o poder.
1912 –
Villa retoma os estudos das partituras dos
compositores clássicos e românticos. Viaja para Bahia. Em abril (15)
apresenta-se em Belém do Pará, no Teatro da Paz. Em julho (23) e setembro
(7), em Manaus, no Teatro Amazonas. Escreve a ópera Izaht, fusão de duas
óperas: Aglaia e Elisa (1910). Regressa ao Rio de Janeiro. 1º de
novembro: é convidado a tocar na casa de Lucília Guimarães (formada em solfejo,
piano e canto coral e conhecedora da música erudita), com quem se casará em
1913. A própria Lucília narra esse encontro com Villa:
- Foi no
dia de todos os santos (01/11/1912) que recebemos a visita de Villa-Lobos
trazido por um amigo de meus pais, Arthur Alves, o motivo era que iríamos ouvir
um rapaz que tocava muito bem violão (...). A noitada de música correu muito
bem, extremamente agradável e, para nós foi um sucesso o violão nas mãos de
Villa-Lobos. Terminando sua exibição, Villa-Lobos, manifestou desejo de ouvir a
pianista, e toquei, a seguir, alguns números de Chopin, cuja execução me
pareceu ter impressionado bem na técnica e na interpretação. Villa-Lobos, porém
se sentiu constrangido; talvez mesmo inferiorizado, pois naquela época o violão
não era um instrumento de salão, de música de verdade, e sim instrumento vulgar
de chorões e seresteiros. Subitamente, vencendo como que uma depressão,
declarou que seu verdadeiro instrumento era o violoncelo, e que fazia questão
de combinar uma reunião em nossa casa, para se fazer ouvir em violoncelo.[2.1]
Adendo Cultural: Oswald de Andrade viaja para a Europa. O Senador José de Freitas
Valle, político paulista influente, passa a receber na sua residência, na Vila
Kyrial, toda a intelectualidade paulista (escritores, músicos, artistas
plásticos, arquitetos, etc.). Oswald de Andrade retorna da Europa com o
“Manifesto Futurista” do poeta italiano Marinetti, publicado pelo jornal Le Figaro, em 1909. Acontece a Exposição Futurista em Paris. 22 de abril:
Criação do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, através do Decreto nº
2.234, sociedade que promovia concertos e
espetáculos com virtuosos, conjuntos de câmara e orquestras sinfônicas.
Adendo Brasil: Em S. Paulo, 17 de maio: devido o aumento da infração, começam as greves
operárias reivindicando aumento de salário.
1913 – Casa-se com Lucília Guimarães. O
casamento acontece no dia 12 de novembro, a contra gosto da mãe de Lucília.
Permanece morando com a família de Lucília na Rua Fonseca Teles, n.º 7, em São
Cristóvão. Ganha a vida tocando, de dia, na Confeitaria Colombo e, à noite, no
Assírio – restaurante localizado no Teatro Municipal. Morre a mãe de Lucília;
Adendo Cultural: Mário de Andrade é contratado como professor do Conservatório de São
Paulo, para lecionar História da Música. Em março: Lasar Segall realiza sua primeira
exposição em São Paulo, inaugurada no dia 2 de março e encerrada a 5 de abril,
à Rua São Bento, 85. Expos também em Campinas (SP), em junho, no Centro de
Ciências, Letras e Artes. 19 de outubro: Nasce no Rio de Janeiro, Vinícius de
Moraes.
Adendo Brasil: 28 de junho: morre
o ex-presidente Campos Sales.
1914 – Compõe Farrapos - op. 47, solo
para piano. Essa composição, em 1917 passa a fazer parte das Danças
características africanas, transformada em Farrapós – op.47 nº 1. Compõe
também: Tarantella;
Adendo
Cultural: Em Zurique, Nova Iorque e Paris, surgem as
primeiras manifestações do Dadaísmo. Lima
Barreto (1881-1922) publica Numa e a
Ninfa. Cassiano Ricardo (1895-1974) publica Dentro da Noite. Anita Malfatti, preocupada em conseguir uma bolsa do
Pensionato Artístico do Estado para aprimorar seus estudos em Paris, preparou
sua primeira mostra individual, inaugurada no dia 23 de maio, num salão no
primeiro andar da Casa Mappin Stores, Rua 15 de Novembro, 26, em São Paulo,
permanecendo aberta até junho, com o título: “Exposição de Estudos de Pintura Annita Malfatti”. Expos 33 obras:
gravuras, desenhos, esboços, aquarelas e óleos. 25 de junho: Guiomar Novaes estreia oficialmente no Municipal do Rio de
Janeiro. No final do ano, Anita Malfatti viaja aos Estados Unidos, Nova
York, para continuar seus estudos. 18 de novembro: nasce em Restinga Seca (RS),
Iberê Camargo.
Adendo
Brasil: 15
de janeiro: Washington Luís toma posse como prefeito da cidade de São Paulo.
Deixará a prefeitura somente em 16 de agosto de 1919. 1º de março, Venceslau Brás (1868-1966)
elege-se presidente da República e toma posse em 15 de novembro. É o retorno da
política do “café-com-leite”. 4 de agosto: a Alemanha declara guerra à
França. Inicia-se a Primeira Grande Guerra.
1915 – Em janeiro e fevereiro estreia como
compositor e realiza os primeiros concertos com suas obras, em Friburgo,
acompanhado de Lucília e Agenor Bens. Na ocasião, ele ao violoncelo, Lucília ao
piano e Agenor na flauta, tocou-se o Trio em dó menor. Lucília tocou um Estudo
de Chopin e uma das Danças Africanas, de 1914: Farrapos. Em
julho, estreia no RJ, em concerto patrocinado pela Sociedade de Concertos
Sinfônicos e sob a regência do patriarcal Francisco Braga, no Teatro São Pedro
(João Caetano). Atuou como violoncelista na orquestra. 13 de novembro: realiza
o primeiro concerto com obras exclusivamente suas, no salão do Jornal do
Commercio. Participaram desse concerto, além de Lucília ao piano, a convite
do próprio Villa: Sylvia de Figueiredo (pianista),
Humberto Milano (violinista), Frederico Nascimento Filho (barítono) e Oswaldo
Allionni (violoncelista);
Adendo Cultural: No final de 1914, Anita Malfatti
retornara aos EUA. Em
Nova York, matriculou-se na tradicional escola Art Students League, onde teve aulas com Georg Brant Bridgman
(1864-1943) e Dimitri Romanovsky (s.d.–1971). Não teve nenhum interesse em
estudar gravuras e então matriculou-se na Independent
School of Art. Lá conheceu o pintor e filósofo Homer Boss (1882-1956). 11
de novembro: Guiomar Novaes participa
do recital no Aeolian Hall, em Nova York.
Adendo Brasil: Nilo Peçanha toma
posse com a retaguarda das tropas federais. É aprovado o Código Civil
Brasileiro, disciplinando o Direito privado. 8 de setembro: o gaúcho Pinheiro
Machado, nascido em 8 de maio de 1851, político influente na esfera federal, é
assassinado no Rio de Janeiro. Devido a carestia reinante, as greves operárias são intensificadas em
todo o país.
1916
– Compõe, em memória
de Mozart, uma “Sinfonia” (1ª Sinfonia - Op. 112 - ?). Essa afirmação de
compor em memória de Mozart foi dada pelo próprio Villa a Arnaldo Estrela[3]. Compõe: Naufrágio de Kleonicos;
Adendo
Cultural: 28 de fevereiro: Guiomar Novaes estreia em Boston.
Em 6 de junho faz sua estreia com orquestra no Festival de Norfolk. Em 18 de
julho, acompanhada pela Civic Orchestral Society, apresenta-se no Madison
Square Garden para um público de aproximadamente 6 mil pessoas. Em agosto, Anita
Malfatti retorna ao Brasil. Tarsila do Amaral começa a trabalhar no ateliê de
William Zadig
(1884-1952). No Rio de Janeiro acontece a Exposição Geral de Belas Artes.
Adendo Brasil: É publicado por
Álvaro Bomilcar (1874-1957) estudo sobre o preconceito de raça no Brasil.
Altino Arantes Marques (1876-1965), em 1º de maio assume como presidente eleito
do estado de São Paulo. Governará até maio de 1920. Promulgado o Código Civil
Brasileiro que fora aprovado em 1915, e Implantado o Serviço Militar
Obrigatório no território nacional.
1917 – Compõe a 2ª Sinfonia – Op. 160. Fevereiro:
realiza o segundo concerto com obras exclusivamente suas, também no salão do Jornal
do Commercio. É apresentado a Darius Milhaud, compositor francês,
secretário do Embaixador da França no Brasil, Paul Claudel. Compõe os bailados Amazonas
e Uirapuru, primeiros marcos do seu estilo definitivo. Compõe também: Myremis
e Tédio da Alvorada. A partitura de Myremis está extraviada,
não podendo assim determinar se ela foi mesmo composta em 1917;
Adendo
Cultural:
Di Cavalcanti muda-se para São Paulo e começa a frequentar a Faculdade de
Direito do Largo São Francisco – e realiza sua primeira exposição individual,
em abril, na redação de A Cigarra,
localizada na Rua Direita, em São Paulo. Começa a frequentar o ateliê do pintor
impressionista alemão George Elpons (1865-1939).
17 de maio: Freitas Valle dá início ao 1º Ciclo de Conferências na Villa
Kyrial, terminando em 16 de agosto. Tarsila do Amaral, em São Paulo, estuda com
Pedro Alexandrino (1856-1942). Em 12 de dezembro, Anita Malfatti organiza nova
exposição em sala térrea cedida pelo Conde Lara [Antônio de Toledo Lara – empresário do ramo de café e empreendedor.
Nasceu em Tiete (SP), em 21/12/1864 e faleceu em São Paulo, em 20/4/1935],
na Rua Libero Badaró, 111 – considerada a primeira exposição de Arte Moderna do
Brasil. Expõe 53 obras, maioria com tendência impressionista, obras realizadas
nos Estados Unidos (período: 1915/16), e outras realizadas em São Paulo
(período: 1916/17). Também expos algumas obras de pintores amigos norte-americanos.
Suas obras chocaram o público. Na primeira semana vendeu oito obras. Em 20 de
dezembro, Monteiro Lobato (1882-1948) publica, na pág. 4, da edição vespertina
do jornal O Estado de S. Paulo, o
artigo: “A Propósito da Exposição de Malfatti” (Lobato transcreveu em 1919 no seu livro “Idéas de Géca Tatú”, Edição da
Revista do Brasil, com o título mais explícito de: Paranoia ou Mistificação? -
e subtítulo: A Propósito da Exposição Malfatti), em Artes e Artistas,
artigo em que condena a mostra com críticas duras e severas. Essa
exposição foi a que serviu para aglutinar os “moços de 22”, dentre eles: Di
Cavalcanti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Brecheret, Guilherme de
Almeida e outros. MA publica: Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, seu
livro de estreia, sob o pseudônimo de Mário Sobral. MB publica: A Cinza das
Horas, seu primeiro livro. Guiomar Novaes apresenta-se no Carnegie Hall, acompanhada pela Filarmônica de Nova York.
Adendo Brasil: Em São Paulo, greve
geral imobiliza todo parque industrial. No Brasil acontece a famosa “queima” de
3 milhões de sacas de café com alegação de evitar a queda de preços no mercado
internacional. O Brasil declara guerra à Alemanha.
1918 – 19 de maio: participa como
instrumentista, de concerto promovido pela Associação Brasileira de Imprensa,
executando Grieg e Lacombe. Esse concerto foi promovido em prol do Retiro dos
Jornalistas Inválidos. Outro concerto de Villa
em prol desse Retiro aconteceu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 15 de
Agosto. Segundo consta esse concerto foi um grande fracasso de público. Oscar
Guanabarino, no Jornal do Commercio, não perdeu a oportunidade para
criticar. Villa conclui a ópera Izaht. Compõe a Prole
do Bebê n.º 1, Suíte pianística. É apresentado a Arthur Rubinstein.
O famoso pianista polonês deixa-se conquistar por esta suíte – sobretudo
pelo número final, Polichinelo, passando a executá-la em suas turnês
artísticas;
Adendo Cultural: Em Agosto: acontece
a 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA),
Rio de Janeiro. Cândido Portinari (1903-62) matricula-se na
ENBA, onde já estuda Ismael Nery (1882-1948). Vicente do Rego Monteiro
(1899-1970) expõe em Recife. Anita Malfatti, ressentida com a crítica de
Monteiro Lobato, recua para o impressionismo. Monteiro Lobato, em maio, adquiri
a Revista do Brasil, que a manteve nos sete anos seguintes, até a falência dos seus
negócios em 1925, totalizando 113 números. - 30 de Novembro: nasce em
Curitiba - PR, o maestro, compositor e pianista Alceo Bocchino. 18 de dezembro: morre o poeta Olavo Bilac. Tarsila do Amaral,
temporariamente, pinta no ateliê do mestre alemão Georg Elpons.
Adendo Brasil: A “gripe espanhola” faz milhares de vítimas. Em São Paulo morrem mais de
8 mil pessoas no mês de outubro. No Rio de Janeiro, a situação foi mais grave,
pois morreram aproximadamente 17 mil pessoas. 1º de março: Rodrigues Alves é
eleito presidente e, vitimado pela epidemia da “gripe espanhola”, falece em 16
de janeiro de 1919, sem tomar posse. Posse de Delfim Moreira da Costa Ribeiro
(1868-1920), interinamente na presidência da República. Maria José Rebelo
(1891-1936) é aceita no Ministério do Exterior, tornando-se a primeira mulher
diplomata brasileira.
1919 – Tem início a divulgação das suas obras
no exterior, apresentando o Quarteto Op. 15, em Buenos Aires. Compõe as Canções Típicas Brasileiras
para voz e piano. Passa a residir na Rua Dídimo, nº 10, centro do Rio;
Adendo Cultural: Acontece no Rio de Janeiro a 26ª Exposição Geral de
Belas Artes, na ENBA, em agosto. Tarsila do Amaral, em definitivo, inicia estudos de pintura com George
Elpons. Vicente
do Rego Monteiro continua com sua exposição em
Recife. Ferrignac (Ignácio da Costa Ferreira – 1892-1958) expõe em Roma. MA a
Minas Gerais. Cecília Meireles
(1901-64) publica sua primeira obra literária: Espectros. Lima Barreto publica Vida
e Morte de M. J. Gonzaga de Sá. MB publica Carnaval. Guilherme de Almeida publica A Dança das Horas e Messidor.
21 de
maio: nasce em S. Paulo, Sílvio Mazzuca, maestro, pianista e compositor.
Adendo Brasil: 2 de janeiro:
Delegação brasileira parte para a Conferência de Paz, em Versalhes. 16 de
janeiro: vitimado pela gripe espanhola, morre, no Rio de Janeiro, Rodrigues
Alves. Epitácio Pessoa (1865-1942), em eleição extraordinária, vence Rui Barbosa
e é eleito presidente. Toma posse em 28 de julho.
1920 – Compõe o Choro n.º 1, para
violão e a Lenda do Caboclo, para piano. O pianista polonês, Arthur
Rubinstein (1887-1982), de volta ao Rio de Janeiro, em entrevista a A
Notícia, disse:
“É justo,
porém, já que se me apresenta esta oportunidade, declarar, ainda, que me
surpreendeu o sr. Villa-Lobos. Um grupo de amigos desse compositor brasileiro
proporcionou-me o ensejo de ouvir trabalhos seus e dessa audição ficou-me a
convicção de que seu país tem nesse compositor um artista eminente, em nada
inferior aos maiores compositores modernos da Europa. Tem todas as
características de um gênio musical. Do que necessita ele é viajar, para
tornar-se conhecido noutros países. Vou fazer executar nos Estados Unidos, por
Thibaut, Pablo Casals e eu o Trio nº 3, de sua autoria, que me foi dado
ouvir na referida audição”.[4]
-
Em julho: Weingartner, maestro alemão, chega ao Brasil e inclui em seu
concerto: Naufrágio de Kleonicos, de Villa;
Adendo Cultural: Acontece no Rio de
Janeiro a 27ª Exposição Geral de Belas Artes. Tarsila do Amaral viaja para
Europa fixando-se me Paris e frequenta a Académie
Julian, e estuda com Emile Renard (1873-1951). Em maio: Vicente do Rego
Monteiro, pintor pernambucano, após sua exposição em Recife, expõe em São
Paulo. 16 de
outubro: morre no Rio de Janeiro o compositor, pianista, organista e regente
Alberto Nepomuceno. Em
dezembro, MA começa escrever Paulicéia
Desvairada. Victor Brecheret realiza
exposição da primeira maquete do Monumento às Bandeiras, na Casa
Byington, em São Paulo. Chega ao Brasil: John Graz, artista plástico suíço, e
participa com obra na 27ª Exposição Geral de Belas Artes. Expõe, em dezembro,
no Salão do Cinema Central, em São Paulo, juntamente com Regina Gomide Graz (1897-1973),
decoradora, esposa de Antônio Gomide. Graz irá participar em 1922, da Semana de Arte
Moderna. Em
6 de dezembro, Menotti Del Picchia (1892-1988), no Correio Paulistano, escreve o artigo Futurismo, assinando como Hélios,
trazendo à tona a nova estética. Anita Malfatti realiza nova exposição
individual, a terceira, iniciada dia 18 de novembro até 4 de dezembro, no Clube
Comercial de São Paulo, com o objetivo de ganhar uma bolsa de estudos. O
governo reconheceu seu talento, mas quem recebeu a bolsa foi o escultor Victor
Brecheret. Zina Aita (1900-67) realiza sua primeira exposição individual no
Palácio do Conselho Deliberativo, na cidade de Belo Horizonte. Essa exposição é
identificada como um evento que revela os primeiros traços da modernidade artística
em Minas Gerais. Zina Aita também realiza exposição individual no Liceu de
Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e participa ainda da 27ª Exposição Geral de
Belas Artes, Rio de Janeiro.
Adendo Brasil: A Ford instalou sua primeira fábrica de
montagem no Brasil. Nesse mesmo ano, foi inaugurada a primeira linha de ônibus
urbanos de São Paulo. Em 1º de maio, Washington Luís Pereira de Souza toma
posse como presidente eleito do estado de São Paulo. Irá governar até maio de
1924. 7 de setembro: criada a Universidade do Rio de
Janeiro. Epitácio Pessoa proíbe a participação de jogadores negros no
selecionado brasileiro.
1921 – 13 de junho: Villa apresenta seu segundo concerto
sinfônico no Teatro São Pedro, promovido por Laurinda Santos Lobo (1878-1946)
dama da alta sociedade carioca. Nesse concerto o presidente Epitácio Pessoa
esteve presente. Oscar Guanabarino, na edição do dia 14 do Jornal do
Commercio, inicia seus ataques ao Villa.
Em outubro: Villa executou mais um concerto promovido
pela Sra. Laurinda Santos Lobo. Compõe a Prole do Bebê n.º 2, para
piano. 21 de outubro: no São Nobre do Jornal do Commercio, RJ, estreia
do Quarteto Simbólico para flauta, saxofone, harpa, celesta e coro
Feminino, na interpretação de Pedro de Assis, Antão Soares, Rosa Ferraiol e Lucília
Villa-Lobos – o mesmo concerto será repetido num dos Festivais da SAM, em
fevereiro de 1922. Nessa obra, Villa, pela primeira vez no Brasil, em
execução de Música de Câmara, utilizou jogos e projeções de luzes sugerindo
“ambientes estranhos de bosques místicos, sombras fantásticas”. 20 de outubro:
Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1891-1954) chegam ao Rio de
Janeiro, um dia antes do concerto de Villa.
Villa recebe a visita em sua casa no Rio de
Janeiro de: Graça Aranha (1868-1931), Ronald de Carvalho (1893-1935) e Paulo
Prado (1869-1943), que foram convidá-lo para participar de um evento que
aconteceria em S. Paulo no início do próximo ano (a Semana de Arte Moderna). O
compositor confirmou presença. - O maestro Francisco Braga (1868-1945), de
indiscutível destaque na vida musical do Rio, foi a um cartório e passou um
curioso “atestado de competência artística”:
“O senhor
Villa-Lobos tem um enorme talento musical. De uma capacidade produtora enorme,
tem uma bagagem artística considerável, onde existem obras de valor, algumas
bem originais. Não é mais uma promessa, é uma afirmação. Penso que a Pátria
muito se orgulhará, um dia, de tal filho. Cinco de dezembro de mil novecentos e
vinte e um. Francisco Braga”.[5]
Adendo Cultural: Sérgio Milliet (1898-1966) e Rubens
Borba de Moraes (1899-1986) voltam da Europa e divulgam os autores europeus de
vanguarda. Graça Aranha e Plínio Salgado (1895-1975) aderem ao modernismo.
Graça Aranha publica A Estética da Vida. 9 de janeiro, realizou-se um banquete no Palácio Trianon,
São Paulo, para comemorar o lançamento da obra “As Máscaras”, de
Menotti Del Picchia. Nesse evento, Oswald de Andrade faz um discurso criticando
os autores passadistas e exaltando a arte moderna. 8 de março: tem início o 2º
Ciclo de Conferências na Villa Kyrial, organizado por Freitas Valle, terminando
em 15 de junho. Também em março: Anita
Malfatti realiza exposição individual no Vestíbulo do Politeama Rio Branco, em
Santos (SP). É criada em São
Paulo a “Sociedade Paulista de Belas Artes”, com a finalidade de incentivar o
gosto pela arte. Em 27 de maio, Oswald de Andrade, no Jornal do Comercio de São Paulo, o artigo “O Meu Poeta futurista”, envolvendo MA num grande escândalo. Segundo
Mario da Silva Brito: “O poeta (Mário de Andrade) sofre, então, em nome da
literatura moderna, os mesmos vexames sofridos, poucos anos antes, por Anita
Malfatti, em nome da pintura avançada”. Victor
Brecheret, em 14 de junho, parte para a França. 23
de junho: morre no Rio de Janeiro, aos 40 anos, o escritor João do Rio, que
usava o pseudônimo de Paulo Barreto. Di Cavalcanti expõe, em novembro,
os desenhos originais do livro Fantoches
da meia-noite, na O Livro, em São
Paulo, Rua 15 de Novembro. Nessa exposição conhece o escritor Graça Aranha,
como também iniciou as conversas com os futuros moços e intelectuais paulistas.
Di promoveu a aproximação dos modernistas cariocas logo após o encerramento de
sua exposição. Surge definitivamente a ideia de organizar a Semana de Arte
Moderna. Criada a
Sociedade Concertos Sinfônicos - teve, em seu concerto inaugural apenas umas
quarenta pessoas; durante o ano seguinte, a plateia cresceu extraordinariamente
(cf. a revista “Musica” – S. Paulo, Ano I, nº 2, setembro de 1923).
Adendo Brasil: 14 de novembro: morte da princesa Isabel (nasceu em 1846), no Castelo d´Eu,
na França. Artur da Silva
Bernardes (1875-1955) é eleito presidente.
1922
– Participa da Semana de
Arte Moderna de S. Paulo. A SAM aconteceu nos dias 11 a 18 de Fevereiro. Três
dias: 13 (segunda-feira), 15 (quarta-feira) e 17 (sexta-feira), foram
destinadas à música. A programação é a que segue:
- Dia 13: Graça Aranha profere, inicialmente, uma
conferência sobre o tema A Emoção Estética na Arte Moderna, ilustrada
com música e poesia. A parte musical ficou a cargo do pianista, regente,
compositor, professor e folclorista Ernâni Braga, que executa D’Edriophtalma,
segunda peça da sequência Embryons Dessechés de Errik Satie e uma peça
de Francis Poulenc. A seguir, desenvolve-se a primeira parte do programa
musical: Villa-Lobos (Sonata nº 2, para violoncelo e piano, de 1916.
Intérpretes: Alfredo Gomes, no violoncelo e Lucília Magalhães Villa-Lobos no
piano); Trio nº 2, para violino, violoncelo e piano, de 1915.
Intérpretes: Paulina d’Ambrósio no violino, Alfredo Gomes, violoncelo e
Frutuoso Viana, piano. A segunda parte desse dia abre com uma conferência de
Ronald de Carvalho sobre o tema a Pintura e a Escultura Moderna no Brasil. Na
sequência dessa noite, mais Villa-Lobos com: Valsa Mística, para piano,
da Simples Coletânea, de 1917/19; Rodante, para piano, da Simples
Coletânea; A Fiandeira, para piano, de 1921. Intérprete: Ernâni
Braga; e finalmente: Danças Características Africanas (transcrição do
original para piano, composto em 1914/15, para octeto), com as seguintes Peças:
Farrapos (Dança dos Moços – Dança Indígena nº 1), Dankukus (Dança dos
Velhos – Dança Indígena nº 2) e Dankikis (Dança dos Meninos – Dança
Indígena nº 3). Intérpretes: Paulina d’Ambrósio (violão), George Marinuzzi
(violão), Orlando Frederico (viola), Alfredo Gomes (violoncelo), Alfredo
Corazza (contrabaixo), Pedro Vieira (flauta), Antão Soares (clarinete) e
Frutuoso Viana (piano).
- Dia 15: O segundo festival teve início com uma
palestra de Menotti Del Picchia. A seguir: Au Jardin Du Vieux Serail,
para piano, da Suíte Andrinople, com E. R. Blanchet. Após,
Villa-Lobos: O Ginete do Perrozinho, para piano, da coletânea Carnaval
das Crianças, de 1919/20. Debussy, com La Soirée dans Grenade, para
piano, das Estampes; Minstrels, para piano, do Livro I dos Préludes. Por
insistência da plateia, a intérprete executou ainda: L’Arlequim, para
piano. Intérprete: Guiomar Novaes. A segunda parte da noite foi iniciada com
uma palestra de Mário de Andrade, no saguão do Teatro. Na sequência, Renato
Almeida: “Perennis Poesia” (alocução omitida em vista agitação da plateia).
Retorna Villa-Lobos; Festim Pagão, para canto e piano, de 1919 – poesia
de Ronald de Carvalho; Solidão, para canto e piano, das Historietas,
de 1920 – poesia de Ribeiro Couto; Cascavel, para canto e piano, de 1917
– poesia de Costa Rego Júnior. Intérpretes: Frederico Nascimento Filho (canto)
e Lucília Guimarães Villa-Lobos (piano); Quarteto nº 3, para cordas, de
1916. Intérpretes: Paulina d’Ambrósio (violão), George Marinuzzi (violão),
Orlando Frederico (viola) e Alfredo Gomes (violoncelo).
- Dia 17: Na primeira parte, Villa-Lobos: Trio nº 3,
para violino e piano, de 1918. Intérpretes: Paulina d’Ambrósio (violão),
Alfredo Gomes (violoncelo) e Lucília Guimarães Villa-Lobos (piano); Lune
D’Octobre, para canto e piano, das Historietas – poesia de Ronald de
Carvalho; Eis a Vida, para canto e piano, dos Epigramas Irônicos e
Sentimentais, de 1921/23 – poesia de Ronald de Carvalho; Jouis Sans
Retard, Car Vite S’écoule La Vie, das Historietas – poesia de Ronald
de Carvalho. Intérpretes: Maria Emma (canto) e Lucília Guimarães Villa-Lobos
(piano); Sonata-Fantasia nº 2, para violino e piano, de 1914.
Intérpretes: Paulina d’Ambrósio (violão) e Frutuoso Viana (piano). Na segunda
parte da noite figuraram as seguintes obras de Villa-Lobos: Camponesa
Cantadeira, para piano, da Suíte Floral, de 1916/18; Num Berço
Encantado, para piano, da Simples Coletânea; Dança Infernal (ou
Bailado Infernal); para piano, de 1920 – do projeto de ópera Zoé.
Intérprete: Ernâni Braga; Quarteto Simbólico (Impressões da Vida Mundana,
de 1921). Intérpretes: Pedro Vieira (flauta), Antão Soares (saxofone), Ernâni
Braga (celesta), Frutuoso Viana (piano em lugar de harpa) e Coro Feminino. Essa
obra está registrada no catálogo do Museu Villa-Lobos sob o nome de Quatuor.
Tem como Movimentos: Allegro Con Moto, Andantino e Allegro Deciso. A
obra Quatuor dura cerca de 20 minutos.[6]
- José Miguel Wisnik, no seu O Coro do Contrários: a música em torno da
semana de 22, nos oferece uma bela descrição sobre Villa na Semana:
(...).
Villa-Lobos,
que, como já vimos, era com Gallet o compositor no Brasil com uma bagagem mais
tendente à modernização àquela altura, contribuiu para a Semana com vinte peças
de variado fôlego, todas incluídas na órbita da música de câmera, já que não se
mobilizou no momento nenhum aparato sinfônico.
Composto
em épocas diferentes dentro do período que vai de 1914 a 1921, o repertório de
Villa-Lobos para a Semana formou-se com duas sonatas, dois trios, dois
quartetos, um octeto (nas Danças
africanas), seis peças para canto e piano e sete peças para piano-solo. A
mais antiga entre todas era “Farrapos”, datada de 1914, e as mais recentes, o Quarteto simbólico e A Fiandeira. Mesmo as peças novas não
estavam sendo apresentadas pela primeira vez na Semana, e, ao contrário, a
maioria delas já havia passado mais de uma vez pelos programas de concerto de
Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. “Farrapos”, por exemplo, teria sido executada
já nos primeiros concertos de Villa-Lobos, em 1915, por Lucília Guimarães
Villa-Lobos. Registram-se já as primeiras apresentações da Segunda Sonata para violoncelo e piano em 1917, e do Segundo Trio, “Kankikis”, Terceiro Quarteto, “Festim pagão”,
“Cascavel”, de 1919. O Quarteto simbólico,
o Terceiro Trio e as Historietas foram apresentados em
primeira audição num só concerto realizado no Rio de Janeiro no dia 21 de
outubro, em homenagem a Madame Santos Lobo, a quem o compositor dedicou o Quarteto (Mais tarde, em abril de 22,
pouco depois da Semana, Villa-Lobos também apresentaria em São Paulo, em
concerto sinfônico de obras suas, uma peça em homenagem ao conselheiro Antônio
Prado, denominada Verde Velhice).[6.1]
- Em 12 de
fevereiro, Oswald de Andrade, no Jornal do Commercio (SP), publica na
coluna “Semana de Arte Moderna”: Carlos Gomes Versus Villa-Lobos, cf.
descrição parcial:
Carlos Gome é horrível. Todos nós o sentimos desde
pequeninos. (...).
(...).
Felizmente, a Itália, que chegou a dar a degradação
verista, tem hoje a genialidade moderníssima de Malipiero e Casella. Felizmente
nós temos hoje a imprevista genialidade de Heitor Villa-Lobos.
Vi-o anteontem no Municipal, nos primeiros ensaios
para a Semana de Arte Moderna.
Os seus olhos – oh! os olhos dos homens que
compreendem e amam os homens – traziam-me de novo a vizinhança das tragédias
supremas. Villa-Lobos movia-se irrequieto, perturbado, carregando todo o
sofrimento da vida. E os seus músicos espalhavam pelo palco, sem fim, a sonoridade solene e estranha dos seus
acordes feitos de cérebro e alma, de canção torturada e de alegre amargura. Que
violência suave, que rompimento de velhos mundos estáticos, que sensibilidade
cantante através de todas as desordens, de todos os choques, de todos os saltos
frios, de todas as invasões abismais.
Villa-Lobos é o filho comovido de seu tempo. Faz a
ofensiva musical dos renovamentos com os Seis da França, que têm a direção
jovial e agressiva de Jean Cocteau, com o russo Stravinsky, com os grandes
meninos da Itália – Malipiero, Casella, Castelnuovo-Tedesco, Victor de Sabata.
São Paulo vai ouvi-lo. E como São Paulo é a cidade
dos prodígios – herdeira das migrações e das entradas – vai aceita-lo. O nosso
velho e caduco ambiente de musicalidade decadista e convencional estalará ao
peso da mão genial do compositor de Kankukus e Kankikis.[6.2]
- Em 17 de fevereiro, Ronald de Carvalho publica no
O Estado de S. Paulo, o artigo “A música de Villa-Lobos”:
(...).
Quando asseveram, por exemplo, que a música de
Villa-Lobos é um puro artifício de timbres e sonoridades sem harmonia,
dispostos caprichosamente, ao sabor de uma fantasia desmedida, ou que falata às
telas de Van Dongen uma construção precisa, estamos em presença do famoso
equívoco entre o crítico e o artista. Villa-Lobos sente a vida como uma criação
contínua. Sua arte é masculina, imperiosa; estabelece uma série de problemas
que somos obrigados a resolver rapidamente, como se estivéssemos ante a
multiplicidade das massas de uma paisagem vista de um aeroplano. Ele compreende
a realidade como uma sucessão contínua de instantes, onde cada instante se
degrada em um torvelinho de movimentos infinitos. Ele não quer ser novo nem
antigo, mas simplesmente Villa-Lobos. Fara exprimir o turbilhão vital, inventa
os ritmos que os motivos quotidianos lhe sugerem. Sua lógica esta na forma que,
de espaço a espaço, surge enriquecida e renovada da sua sensibilidade.
O tecido do seu contraponto é opulento, cheio de
combinações inesperadas e originais, o mesmo acontecendo com os seus ornamentos
harmônicos de uma simplicidade requintada. Essa riqueza de técnica, entretanto,
só lhe dá mais força à inspiração, pois lhe oferece uma soma de recursos
enorme. Seus desenvolvimentos não são repetições mais ou menos mascaradas, não
são desenvolvimentos exteriores, mas lógicos e profundos. O desenho melódico de
Villa-Lobos revela uma inteligência aguda, mordaz, um espírito ágil que voa e
revoa sobre o espetáculo universal, sem se fixar, sem se deixar prender um só
minuto. Ele não conseguiria ver a realidade intensamente, se aceitasse a
receita imposta pelo crítico. Assim, não a fragmenta, não a divide
artificialmente em partes boas e más, mas a subjuga inteiramente.
Mostra-se, ao mesmo tempo, um caricaturista e um
decorador, um satírico e um poeta cheio de melancolia. Interessa-lhe toda a
realidade. Combina, às vezes, o ridículo e a dor com um poder de emoção e uma
opulência de imagens realmente admiráveis. No Quarteto Simbólico
podereis apreciar esse aspecto do seu temperamento. É uma página em que a
imaginação e o raciocínio se equilibram constantemente. Há nessa peça extraordinária,
além das qualidades de colorido e sobre o luxo de instrumentação, peculiares ao
seu engenho, um profundo comentário das vaidades humanas, feito num
claro-escuro de ironia, remoque e piedade, à maneira de um “capricho” de Goya,
ou de um desenho agudo de Beardsley. Baseia-se a composição desse Quarteto
em dois motivos: um de mágoa, de penetrante melancolia, que se desenvolve
principalmente no Andantino, e aparece, aqui e ali, em todas as partes da obra,
e outro de “humour”, de inquieta e crua mordacidade, que se mistura, num riso
claro de flauta, celeste e saxofônio, à frase nostálgica da harpa e das vozes
instrumentadas. Há aí um pouco da tristeza do criador em face das criaturas, um
pouco daquele “Albatroz” de Baudelaire.
Villa-Lobos ama a vida. Procura nos seus aspectos
raros ou triviais a substância da sua arte. Aos que o julgam apressadamente dá
apenas uma ideia de exuberância plástica, de fulgor impressionista. (...). Ele
é, sobretudo, um criador de ambientes, de mundos e paisagens espirituais. Os
temas que o inspiram são meros pontos de referência, onde, de trecho a trecho,
paira uma fantasia móbil como a onda. Sua arte é um contínuo milagre de
imprevistos e surpresas. Transmite-nos, ora, rápidas anotações da existência
cotidiana, da graça ou da amargura das coisas, como na série deliciosa das Historietas,
e nos Epigramas ou, como no Terceiro Trio, o grito desesperado do
instinto diante da realidade misteriosa do universo.
(...).
A música de Villa-Lobos é uma das mais perfeitas
expressões da nossa cultura. Palpita nela a chama da nossa raça, do que há de
mais belo e original na raça brasileira. Ela não representa um estado parcial
da nossa psiquê. Não é a índole portuguesa, africana ou indígena, ou a simples
simbiose dessas quantidades étnicas que percebemos nela. O que ela nos mostra é
uma entidade nova, o caráter especial de um povo que principia a se definir
livremente, num meio cósmico digno dos deuses e dos heróis. (...).
Villa-Lobos veio demonstrar, mais uma vez, que a
verdadeira tradição, em arte, é o respeito à antiguidade e o horror aos métodos
do passado. Somente se renova aquele que tem a coragem de se libertar. (...).[6.3]
- Em 18 de fevereiro, o Correio Paulistano
publica Semana de Arte Moderna, um dos poucos artigos elogiosos na época:
Com o festival de ontem, preenchido exclusivamente
com composições da lavra do maestro Villa-Lobos, encerrou-se a série de saraus
da Semana de Arte Moderna.
Bem mais concorrido que os anteriores, o sarau de
ontem teria deixado melhor impressão não fora a atitude de hostilidade assumida
em razão, valha a verdade, no começo e no fim do concerto, por uma parte
diminuta da assistência.
Felizmente, essa atitude foi francamente condenada
pela grande maioria, que obrigou ao silêncio os demais.
As composições do maestro Villa-Lobos, de épocas e
gêneros diferentes, produziram, em conjunto, ótima impressão, devendo
salientar-se porém, a Sonata Segunda para violino e piano, trabalhada
com felicidade e em que não escasseiam lindas frases musicais. Apesar de uma ou
outra extravagância e de umas tantas preocupações de modernismo a música de
Villa-Lobos revela desde logo um temperamento e um talento dignos de nota, em
que não falta também certa originalidade, como se evidenciou no Quarteto
Simbólico para flauta, saxofone, celeste e piano.
Tanto a Villa-Lobos, como a seus intérpretes, e
principalmente a Paulina d’Ambrósio, Ernâni Braga e Maria Ema, a assistência
premiou com farta messe de aplausos.[6.4]
-
Após a SAM, Villa permaneceu em S. Paulo para reger, em 7
de março, um concerto sinfônico só com obras suas, sob os auspícios da
Sociedade de Cultura Artística. Em 3 de março: O Estado de São Paulo, publica “Sociedade de Cultura Artística”, em
“Artes e Artistas”:
O
concerto de Villa-Lobos é patrocinado pela Sociedade de Cultura Artística, que
se dispõe a realizar uma série de promoções “aproveitando as oportunidades que
surjam pela presença em São Paulo de artistas de valor e pelo concurso de
elementos locais que se disponham a auxiliá-la nas suas tentativas artísticas”.
“Igualmente prejudicado pelos seus admiradores inconscientes e os seus
detratores apaixonados, Villa-Lobos é um musicista de qualidades excepcionais.
A Sociedade de Cultura Artística faz muito bem em apresentá-lo ao nosso público
para que o julgue tranquilamente num ambiente de tolerância e respeito”.[6.5]
- Em 18 do mesmo mês volta ao Rio para
reaparecer em S. Paulo em abril, e no dia 14 realiza um concerto, só com obras
suas, numa promoção da Sociedade de Concertos Sinfônicos. No dia 17, realiza-se
um concerto com música de câmera do compositor. Segundo depoimento de Fructuoso
Vianna (1896-1976), que mais tarde viria a se impor como compositor, sua
participação no movimento dependeu unicamente de sua ligação pessoal com o
autor de Danças africanas, e não de eventuais preocupações modernistas
prévias:
“Eu havia
me interessado pela figura de Villa-Lobos, que já tinha dado vários concertos
no Rio, em homenagem a Epitáfio Pessoa, inclusive. Villa-Lobos tinha
participado da composição de uma peça em três partes: “A Guerra”, “A Vitória” e
“A Paz”, das quais compôs a primeira, J. Otaviano a segunda e Francisco Braga a
terceira. Participei da Semana apenas como intérprete, em função da amizade de
Villa-Lobos, nada mais que isso”.[7]
-
Um dos episódios mais divertidos da apresentação no Municipal (nos festivais
da SAM), é a aparição de Villa
de casaca, como
mandava o figurino, mas de... chinelo:
“Achava-se
ele na ocasião atacado de ácido úrico nos pés e tendo um deles enfaixado,
apoiado em um guarda-chuva, entrou em cena”, conta a violinista Paulina
d’Ambrósio. A plateia, supondo tratar-se de “futurismo” apresentar-se assim,
aproveitou a oportunidade para bagunçar o concerto. Contudo, segundo a maioria
dos cronistas da Semana, a música de Villa-Lobos, apesar das vaias generalizadas,
acabou se impondo”.[8]
- Dois depoimentos importantes: o
primeiro a ser descrito, da violonista Paulina d’Ambrósio; o segundo de Ernâni
Braga (onde manifesta uma certa distância, menos acentuada, dos propósitos
modernistas, ao discordar de Villa sobre a pedalização de uma peça, o que
motivou um pequeno incidente na sua apresentação):
- (Paulina
d’Ambrósio): “Fazíamos
ensaios diários, executando sonatas, trios, quartetos e outros conjuntos num
abrir e fechar de olhos. Além de músicos e outros artistas, muitos dos quais
prematuramente desaparecidos e que, reunidos na casa de Villa-Lobos, penetravam
pela noite em saraus inesquecíveis. (...). Os ditos engraçados e pitorescos que
adiante relatarei e que tiveram lugar no teatro Municipal de S. Paulo,
motivaram momentos jocosos em nossas reuniões. Cumpre assinalar que as
realizações no referido teatro foram tumultuosas; - metade da plateia delirava
aplaudindo e restante vaiava. (...) Quanto a mim, antes de começar a tocar uma
sonata (aliás muito aplaudida) no levantar a alça do meu vestido que estava
fora de lugar, gritaram: - “Quem tem alfinete aí?”– o que me fez chorar de
nervosismo, sendo acalmada pelas boas palavras e olhares de advertência do
querido Villa. Achava-se ele na ocasião atacado de ácido úrico nos pés e tendo
um deles enfaixado, apoiado em um guarda-chuva, entrou em cena. Nessa mesma
ocasião o insuperável artista Nascimento Filho (vulgo “Pequenino”) começou a
cantar e então um gaiato nas galerias gritou: -“Ridi Pagliaccio”, e o Nascimento
replicou: - “Desse para eu lhe ensinar como se canta”, e o Villa, com a ponta
do guarda-chuva espetou-o para que se calasse. No dia seguinte, Nascimento
apareceu com um dos olhos arroxeados, produto de sua singular lição de canto”.[9]
- (Ernâni Braga): “Lembro-me que tinha de tocar a
“Fiandeira” de Villa-Lobos, entre muitas outras cousas. Dias antes executara
uma peça, que era a mais recente do meu querido amigo, em casa do professor
Luiz Chiaffarelli, para um grupo de discípulas suas e convidados. Villa-Lobos
estava presente. Quando eu acabei, ele se levantou, de olhos arregalados, e
declarou energicamente no meio da sala que aquilo que eu tocava não era dele.
Foi um
sucesso. Expliquei, então, aos ouvintes que o autor exigia na peça, e
principalmente no final, um pedal contínuo que me parecia insuportavelmente
cacofônico. Chiaffarelli pediu “bis” para a “Fiandeira”, com o pedal do autor.
Fiz a vontade do velho mestre. E todos pareceram muito contentes com a
cacofonia, inclusive Villa-Lobos que me abraçou entusiasmado. Só quem não
gostou o Chiaffarelli. Tomou-me a um canto, e me aconselhou: - use o pedal como
da primeira vez; o Villa – não é pianista; você é quem está com a razão. – Pois
bem, quando no meio da perturbação em que eu estava pelos incidentes daquela
noite fatídica, chegou o momento da “Fiandeira”, fiquei sem saber o que devia
fazer. Com pedal ou sem pedal? Villa-Lobos ou Chiaffarelli? Seguindo o conselho
do mestre acatado podia provocar um protesto do autor, e desta vez diante de um
público já meio zangado. Ataquei a peça litigiosa em plena turbação de
sentidos. E reduzi-a à quarta parte, porque me perdi no meio, e me achei sem
saber como, na última página. O auditório gostou daquela peça tão viva, tão
extravagante e... tão curtinha. Por isso aplaudiu muito, não dando tempo a
Villa-Lobos de protestar. Chiaffarelli depois me felicitou por eu ter
encontrado a fórmula exata de resolver o problema. Além de mestre admirável de
arte pianística, era Chiaffarelli sutilíssimo na arte da ironia”.[9.1]
- Sobre o que foi o acontecimento da
SAM, Villa escreve ao amigo Arthur Iberê de Lemos,
publicado no Jornal do Brasil em 6 de setembro de 1967. Eis apenas
um trecho dessa sua carta:
“Quando
chegou a vez da música, as piadas das galerias foram tão interessantes, que
quase tive a certeza de a minha obra atingir um ideal, tais foram as caias que
me cobriram de louros. //No segundo, a mesma coisa na parte musical, e na parte
literária a vai aumentou. //Chegamos ao terceiro concerto, que era em minha
homenagem. Que susto passaram os meus intérpretes, vais ver... //Organizei um
bom programa, revestido dos melhores intérpretes. Começamos pelo 3º Trio, que,
de quando em quando, um espectador musicista assobiava o principal tema,
paralelamente com o instrumento que o desenhava. A Lucília e a Paulina queriam
parar, eu me ria e o Gomes bufava, mas foi até o fim. Nos outros números, novas
manifestações de desagrado, até ao último número, que foi o quarteto simbólico,
onde consegui uma execução perfeita, com projeção de luzes e cenários
apropriados a fornecerem ambientes estranhos, de bosques místicos, sombras
fantásticas, simbolizando a minha obra como a imaginei. Na segunda parte desse
quarteto, lembras-te? o conjunto esclarece um ambiente elevado, cheio de
sensações novas. Pois bem. Um gaiato qualquer, no mais profundo silêncio, canta
de galo com muita perícia. Bumba... //Pôs abaixo toda a comoção que o auditório
possuía, provocando hilaridade tal que a polícia (finalmente) interveio
prendendo os graçolas e mais duas latas grandes de manteiga cheias de ovos
podres e batatas. Esses moços, ao serem interrogados, declararam que aqueles
presentes estavam destinados a coroarem os promotores da Semana de Arte Moderna
de S. Paulo, como se fossem flores e palmas, mas que tal não fizeram porque
respeitavam os intérpretes que na maioria eram paulistas. Uf!... chega”.[10]
-
Sobre a reação do público na SAM, é importante não esquecer que era um público
muito conservador e, logicamente, não poderia gostar das músicas apresentadas,
que tinham uma semelhança às do compositor impressionista francês, Debussy. Villa teve, logo após a SAM, um combatente
ferrenho com o jornalista e crítico carioca Oscar Guanabarino – que o criticou
em várias crônicas nas edições do Jornal do Commercio. Só para exemplificar, segui parcialmente uma
das publicações de Guanabarino, em 22 de fevereiro, intitulada Pelo Mundo
das Artes:
(...).
Nada conhecemos na pintura, na escultura e na
poesia, ente os artistas brasileiros a que se posa dar o título de futuristas.
Existe, é certo, um músico de talento ainda não cultivado bastante, que se
esforça para enveredar por esse caminho tortuoso: é o Sr. Villa-Lobos, que
procura esconder nessa ausência de bom senso, das suas partituras, o que lhe
falta em estudos de harmonia o que lhe falece em inspiração, o que da música só
se aproveita dos elementos som e ritmo, de modo que, no seu poma sinfônico A
Guerra, conseguiu belos feitos imitativos, grandeza onomatopaica e rajadas
descritivas no terreno da confusão, do alarido, da gritaria, da guerra, enfim,
nada mais tem produzido que mereça uma classificação entre os mestres. A sua
música rítmica é puramente africana, sem melodias e sem harmonias, de modo que
não resiste à menor análise harmônica sem que o crítico o classifique de disparatado
e absurdo.
E tanto isso é verdadeiro, tanto a sua música é
privada de bom sendo que um pistonista bem conhecido no Rio de Janeiro, tomando
parte num ensaio sob a regência do próprio autor, o Sr. Villa-Lobos, executou,
por troça, uma canção popular sem causar escândalo nem chamar a atenção do
autor.
Isso prova que tudo quanto estava sendo executado
era uma barulhada sem pés nem cabeça.
Tivemos aqui um futurista: o Sr. Milhaud que foi
vaiado em Paris, temos agora o Sr. Villa-Lobos que ouviu assobios e gaitadas em
São Paulo.
É doloroso.[10.1]
- Villa foi
defendido por Menotti Del Picchia (1892-1988), que rebateu as provocações de
Guanabarino. Esse crítico também atacou vários outros participantes da SAM. 15
de abril: Sérgio Milliet (1898-1966), publica no Lumière, Anvers, nº 7, Uma
Semana de Arte Moderna em São Paulo. Segue descrição parcial:
(...).
Você já
ouviu falar de Villa-Lobos, minha amiga, pois ele fez executar suas obras em
Paris com sucesso (Ver Nouvelle Revue
Française). É um compositor vagamente ligado ao grupo dos “Seis” e,
entretanto, ainda com um não sei quê de Debussy, mas o maior músico do Brasil
assim mesmo. Naturalmente ele era ainda completamente desconhecido no país dos
cafeeiros.
Muito bem
executadas, suas obras obtiveram uma consagração definitiva da elite e foram
copiosamente vaiadas pela maioria do público.
A notar
seu Trio (1916) cujo andante é muito
pessoal, as Danças Africanas
(Kunkukus e Kankikis) e Terceiro Quarteto
(instrumentos de corda – 1916) cujo scherzo
satírico (pipocas e potocas) é uma pequena maravilha de verve e o adágio uma
bela peça.
A música
de Villa-Lobos é uma das mais perfeitas manifestações da alma brasileira. Feita
de melancolia e de humor, ela traduz o que caracteriza este povo jovem saído de
um povo triste. A linha melódica, infinitamente variada, derrotou o público.
Villa-Lobos não desenvolve uma frase. Ele sintetiza e seu espírito plana sobre
o mundo das sensações que ele exprime à maneira de um Masereel em pintura.
O
público, hostil e refratário, diante da calma olímpica dos artistas sentiu-se,
perto do final, petrificado.
(...).[10.2]
-
Em julho: o deputado Arthur Lemos apresenta no Congresso projeto que previa a
liberação financeira para que Villa realizasse 24 concertos de artistas
brasileiros nas metrópoles europeias. O valor previsto no projeto era de 108
contos de réis. O projeto não foi aprovado. Os favoráveis ao projeto propuseram
uma emenda para que o valor fosse reduzido para 40 contos de réis. Aprovado, Villa recebeu a primeira parcela de 20 contos
de réis. A segunda parcela não recebeu. Aficionados de Villa, naquela ocasião, para ajudar
financeiramente a viagem, organizaram concertos no Rio e em São Paulo. Somente
assim conseguiu viajar para a Europa no ano seguinte. Em 6 de dezembro, no Rio-Jornal, Rio de Janeiro, é publicada
entrevista com Villa, com o título: Os Grandes Movimentos da Atualidade. Pelo fato da entrevista ser
muito longa, na sequência apenas a apresentação da matéria:
(...).
Villa-Lobos
é, entre os compositores da sua geração, o nome mais alto, e o mais querido.
Combatido a princípio, ele já é uma individualidade que ninguém tem o direito
de negar ou discutir. A sua arte, fina, profunda e original, constitui, agora,
um padrão de glória para a música brasileira. Porque foi ele, temperamento
rebelde de renovador, quem trouxe par o Brasil os métodos e os processos da
música nova. A obra de Villa-Lobos é dessas que nos honram e engrandecem.
Convencido
disso, foi que o governo brasileiro lhe confiou, ainda agora, a alta missão de
ir à Europa dar uma série de concertos de música brasileira. Villa-Lobos,
assim, vai ser o embaixador da arte nacional nos grandes centros do Velho
Mundo.
(...).[10.3]
Adendo
Cultural: MA é nomeado para a cátedra de História da Música no Conservatório
Dramático e Musical de São Paulo. Publica Paulicéia
Desvairada. Em fevereiro, em São Paulo, são realizados os festivais da Semana
de Arte Moderna, no Teatro Municipal. Os três dias principais foram:
13, 15 e 17. Era o início do Movimento Modernista no Brasil. O pernambucano
Vicente do Rego Monteiro, teve 10 obras expostas no evento, mas não esteve
presente. Entre os literatos a grande ausência foi a de MB, na ocasião estava
impossibilitado de viajar do Rio até São Paulo. Da. Olívia Guedes Penteado (1872-1934), desde 1919 na Europa, retorna a São Paulo depois da
Semana de Arte Moderna, da qual tomou conhecimento através do amigo Paulo Prado
(1869-1943). Inicia-se em 15 de maio, a publicação da Revista Modernista Klaxon, em São Paulo. Com capa criada
por Guilherme de Almeida, Klaxon termina em janeiro de 1923 com as edições
números 8/9. René Thiollier (1882-1968), um dos mecenas da Semana de
Arte Moderna, financiou o aluguel do Teatro Municipal para a realização do
evento, publica seu primeiro livro O Senhor
Dom Torres. 22 de março: Tem início o 3º Ciclo de Conferências na Villa
Kyrial, organizado por Freitas Valle, terminando em 21 de junho. Em junho,
Tarsila do Amaral retorna ao Brasil e, em São Paulo, é apresentada aos
modernistas por Anita Malfatti. Forma-se o “Grupo dos Cinco”, composto por
Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Menotti Del Picchia, Mário e Oswald de
Andrade. Em 2 de Agosto é
assinado o Decreto Nº 15.596, Ato de criação do Museu Histórico Nacional. Em
setembro acontece em São Paulo o I Salão da Sociedade Paulista de Belas Artes,
no Palácio das Indústrias, e Tarsila e Anita participam. Em 12 de outubro é
inaugurado o Museu Histórico Nacional. 1º de Novembro: morre no Rio de Janeiro
o escritor Lima Barreto. Em
novembro: Tarsila do Amaral parte para a Europa e é aceita no Salon officiel des artistes français.
Cândido Portinari expõe pela primeira vez uma obra sua no Salão Nacional de
Belas-Artes, no Rio de Janeiro. MA publica Paulicéia
Desvairada.
Adendo Brasil: 5 e 6 de julho:
Revolta do Forte de Copacabana. Os jovens tenentes revoltosos marcham pela Av.
Atlântica e são fuzilados pelas tropas do Governo, escapando da morte apenas
dois tenentes. Dezesseis mortes, dentre elas a de um civil que aderiu à Marcha.
Era o início do “tenentismo”. 7 de setembro: primeira
emissão de rádio no Brasil durante as
Comemorações do Centenário da Independência, realizada no alto do Corcovado, no
Rio de Janeiro, transmitindo o discurso do então presidente Epitácio Pessoa. (Embora na cronologia da comunicação eletrônica de massa brasileira o
surgimento do rádio no Brasil é marcado com a fundação da Rádio Clube de
Pernambuco por Oscar Moreira Pinto, no Recife, em 6 de abril de 1919). Realiza-se
no Rio de Janeiro a exposição comemorativa do Primeiro Centenário da
Independência. Ano da fundação
do Partido Comunista do Brasil. Em 15 de novembro: Arthur Bernardes (1875-1955)
é o novo presidente do Brasil.
1923 – Compõe Noneto. 29 de abril:
Novamente em S. Paulo, Villa rege, sob o patrocínio da Cultura
Artística, um concerto sinfônico com obras exclusivamente dele. 30 de junho:
inicia sozinho, a bordo de um navio francês “Groix”, a sua primeira viagem à
Europa: “Vim mostrar o que eu fiz. Se gostarem, ficarei, senão voltarei para a
minha terra”, declarou ao chegar a Paris. E Paris passou a ser sua segunda
cidade. Lá chegou e encontrou o apoio daquela que seria a grande artista do
modernismo e da antropofagia no Brasil, Tarsila do Amaral (1886-1973). Em 22 de
abril, MA escreve a MB, mencionando Villa,
conforme trecho que segue:
S. Paulo,
22 [de abril de 1923].
Querido
Manuel.
Há muito
tempo não te escrevo!
(...).
(...)...
O Villa-Lobos só conseguiu duas casas vazias e “déficit”... Nos jornais: cabala
para diminuir-lhe o valor. “Moço de talento”, “Músico interessante” e outros
pedantismos pesados, conselheirais...12 Burros! Mais que burros,
porque são maus. Infames! E sofro. Aqui em casa riem de mim porque ando a
sofrer males alheios. (...).
Trabalho
atualmente numa conferência: “Paralelo de Dante e Beethoven”, para o Vila
Kyrial13.
E vou
almoçar. Um adeus abraçado do
Mário.
- Nota 12: No mês seguinte, MA assinava na Revista
do Brasil nº 89, a crônica musical “Villa-Lobos”, contrapondo o valor
singular à inabilidade do músico carioca de se exprimir através de juízos
críticos-teóricos. O texto fixa o particular interesse de MA por Heitor
Villa-Lobos (1887-1959) que se tornava “cada vez mais músico brasileiro”. O
crítico expande o julgamento: “Porém esse nacionalismo que o dignifica, não é
nacionalismo exterior de Ligas patrióticas [...]. É qualquer coisa de mais
seguro e menos moda.” As raízes desse caráter musical brasileiro de Villa-Lobos
alimentaram-se de vertente da canção popular urbana, que se aliou ao
aprendizado erudito, com estágios no clarinete e violoncelo, este sob a tutela
de Benno Niederberger. Outros ramis de encontro com a cultura nacional se deram
nas quatro grandes viagens do autor das Bachianas pelo Brasil, antes de
1912. A ligação com os modernistas de S. Paulo foi propiciada por Graça Aranha
e Ronald de Carvalho, que o convidaram a aderir à Semana de 22, onde, para
escândalo de todos, em decorrência de uma dorida afecção no pé, apresentou-se
descalço. A celebridade, contudo, chega via Paris. Lá desembarcando em 1923,
dispara a habitual excentricidade: “Não vim estudar com ninguém; vim mostrar o
que eu fiz”. E venceu.
- Nota 13: Nota MB: Vila Kyrial: a
casa de José de Freitas Valle, o poeta Jacques d’Avray, muito amigo do grupo
modernista. A chácara da Domingos de Morais, nº 10, denominada Vila
Kyrial, “um dos mais luxuosos palácios de S. Paulo”, foi residência do deputado
e poeta José de Freitas Valle. (...).[11]
- Em maio: MA publica o artigo
“Villa-Lobos”, na Revista do Brasil nº 89,
São Paulo:
Villa-Lobos é tão perseguido pelo desamor e
impertinência da crítica indígena, que lhe nasceu o medo duma universal
incompreensão e a mania de explicar suas intenções. Como si sua arte magnífica
não bastasse para justificá-la, mete-se em explicações nem sempre claras ou
exatas, pretendendo principalmente minuciar uma por uma as sutilezas que pôs
nas suas construções – sutilezas que na realidade a música não pode transmitir
(...). Combarieu percebeu muito bem essa verdade quando deu à música a
definição conciliatória de arte de pensar, sem
conceitos, por meio de son. Ora aos que tiveram com Villa-Lobos uma
comunhão mais íntima ressalta o contraste ente a essência de sua música e o
valor comotivo que ele lhe dá. às vezes mesmo, (...) atinge pormenores de tal
maneira objetivos, que um julgamento mais leviano dar-lhe-ia às composições uma
intenção programática. Mas Villa-Lobos felizmente está um século adiante desse
romantismo. Sua musicalidade intensíssima e indissoluvelmente da essência da
música, sem nenhuma ligação intelectual.[11.1]
-
20 de maio: MA escreve para Tarsila do Amaral que se encontrava em Paris,
mencionando Villa. Segue apenas o trecho e a nota:
São
Paulo, 20 de maio de 1923.
Querida
Amiga.
Esta é a
terceira carta que te escrevo. (...) Para começar, mando-te esta impressão do Tédio
de Alvorada do Villa-Lobos6:
Nota 6: De acordo com informação do
estudioso Vasco Mariz sobre a peça Tédio de Alvorada, trata-se de poema
sinfônico, com a duração de 15 minutos, escrito em 1916, no Rio de Janeiro. Não
foi editado. Estreou no Rio de Janeiro, no Teatro Municipal dessa capital a 15
de maio de 1918, com a orquestra do maestro Soriano Robert. Já dentro da linha
nacionalista, e daí o interesse suscitado em Mário de Andrade, foi transformado
posteriormente (1918), no Bailado Uirapuru. O Museu Villa-Lobos possui o
autógrafo do Tédio de Alvorada. Depoimento telefônico de Vasco Mariz à
A. em 11 mar. 1998.
TÉDIO DE
ALVORADA
A
primeira voz da mata goteja das franças, úmida de orvalho.
O arrepio
da brisa
murmúrios
cochichos
asa
trépida no vale vasto, adormecido pela noite de estio.
Tudo acorda
e se queda num bafo lânguido de sumo e de suor.
SUSPIRO.
É o dia
mais uma vez.
O dia
outra vez.
Vai se
repetir a maravilha fantástica do dia.
Já surge
no céu desnublado do oriente o pincel verde do sol.
E ele
virá de novo pintar a mesma paisagem...
As mesmas
árvores vão equilibrar-se no quadro...
O mesmo
ribeirão nacionalista, com o sombrio das águas fundas...
De manhã
riscarão o céu sempre gritos...
Ao meio-dia
a natureza morrerá...
De tarde
o pormenor romântico dum veado...
O Dia
mais uma vez!
SUSPIRO.
A
madrugada enjoada vira-se no leito elevado.
Dá as
costas à Terra, para não ver.
Seus
cabelos duros de noite
caem
pesadamente pelas lombadas dos morros macios,
descobrindo-lhe
o corpo.
E sobre
as almofadas de horizonte, preguiçosa,
ela move
as hercúleas coxas róseas.
//Que
tal?
Dá um
grande beijo em Paris por mim.
E o meu
beijo nas tuas mãos.
Mario.
Rua Lopes
Chaves, 108.[12]
OBS:- No livro citado
“[12]”, na página 69, Nota 11, referente a uma carta que Tarsila do Amaral
escreve a MA, de Paris, em 23 de maio de 1923, surge o nome de “Vera
Janacopoulos”. A Nota 11, explica:
- Vera Janacopoulos,
cantora e intérprete de Villa-Lobos, foi a estimuladora da ida do compositor
para a Europa. Seu marido, Alfred Staahl, e Arthur Rubinstein apresentaram-no
ao editor Max Eschig, da casa Éditions Max Eschig, Paris, “e, em suas tournées
a famosa contara começou a divulgar-lhe as canções, em seus recitais em vários
países vizinhos” (ver Vasco Mariz, Heitor Villa-Lobos/ Compositor Brasileiro,
5 ed., Rio de Janeiro, Ministério da Cultura, Fundação Nacional Pró-Memória:
Museu Villa-Lobos, 1977, p. 71-7). (...).
-
11 de outubro: Sérgio Milliet envia carta de Paris a Yan de Almeida Prado
(1898-1987), mencionando Villa. Segue trecho:
Meu caro
Yan, recebi três cartas ao mesmo tempo. Ontem foi um dia de festa brasileira.
(...). Falas-me no incidente Vila-Oswald? Acho que foste mal informado. Em
realidade o Oswald não deu conselhos ao Vila. Mas quis mostrar-lhe, por
amizade, o movimento moderno francês e, naturalmente, sendo extremista, expôs
idéias extremistas que o Vila refutou violentamente. É tudo. (...). O Vila que
entrou com o pé direito em Paris e que já tem sucesso seguro é um músico genial
mas, nós o sabemos, um filósofo mulo e um péssimo crítico de arte. O estilo
dele em literatura é pompier, grandiloquente, bombástico. Não quero dar razão a
Oswald nem ao Vila. Apenas exponho os fatos. É natural que o Vila não tenha uma
cultura literária e artística como a do Mario, mas é também natural que o
Oswald não conheça música. O que acontece é que ambos não sabem discutir e
vivem com malentendidos entre si. Mas tudo isso já passou e eles já se dão
muito bem de novo. Eu assisto a todas essas intriguinhas com uma deliciosa
ironia. É muito difícil ver dois brasileiros discutirem idéias sem que se
ataquem no fim pessoalmente! Que povinho extraordinário. (...).[13]
-
24 de outubro: Sérgio Milliet escreve novamente para o Yan, mencionando Villa:
Recebi
ontem mais uma carta tua. (...). Jantamos ontem em casa de Tarsila com o
Cocteau que apresentamos ao Vila Lobos. Fecha. Vila impossível com teoria
geniais. Cocteau blagueur e sutil.
Não podiam se entender. Boa tarde assim mesmo. Aliás Vila não precisa de
Cocteau. Tem tido muito sucesso aqui e vai ser logo tocado pelo Colonne, etc. É verdade que o meio
avançado olha-o com pouca confiança e muita simpatia.[13.1]
-
17 de novembro: Villa envia carta a Yan de Almeida Prado:
“Yan, bom
amigo.
Desde o
dia em que pizei (com o pé direito) em Paris, senti-me inundado pelo olhar
radiante da boa estrella. E agora, vem augmentar esse contentamento uma
interessante carta tua.
Parece
impossível, mas esse endiabrado adivinho, que me citas com tanta graça,
buliu-me na tecla da minha vida. Somente, notei, que tu azulavas de tinta a tua
carta, com teu maduro cultivo de história e resplandecente talento, de quem
observa tudo atravez (talvez ainda) das redondas vidraças de uns americanicos
óculos, que se equilibram (um pouco distante como a lei da atração) de uns
fiapos endurecidos (como uma escova de dentes) que o vulgo chama de bigode.
Mas,
ficaria mais radiante, se me mandasses notícias desses queridos amigos de São
Paulo. Do Tacito, Couto, Mario, Paulito, os dois Vicentes, os Aranhas e etc.
Sobre a minha pessoa, nada te posso dizer aqui, porque ainda não consegui o que
pretendo, o que saberás certamente, logo que foi deliberado. Sobre as minhas
impressões é completamente impossível descrevê-las numa carta, mesmo reduzindo.
Só escrevendo um livro ou descrevendo pessoalmente.
Em todo
caso, la vae alguma cousinha:
Paris, é
Paris. Move-se continuamente. A sua vida exhorta a conquista e a conquista
surda e cega se ampara na novidade. É uma lucta terrível que subjuga a
sinceridade e os dons cultivados em favor do homem que substitue todas as
cousas pelo cérebro, como se a própria arte não fosse uma interpretação e sim
uma acção fisica, material.
Compreendo
perfeitamente toda intenção dos exagerados artistas daqui, cujo effeito, noto
com a minha nervosa calma de observador, um circulo vicioso, em que nem mesmo
se entendem.
São
inimigos uns dos outros, e cada qual acha que sua arte e opinião e uma sentença
definitiva.
Quanto a
mim, vejo-os do quinto andar da minha modesta morada intellectual de Paris,
como se visse um desordenado cordão carnavalesco atravessando fanaticamente a
nossa pequenina avenida Central. Tranquilamente vou-os deixando passar.
Longo
abraço do teu Villa”.[14]
Adendo Cultural: 21 de março: Tem
início o 4º Ciclo de Conferências na Villa Kyrial, organizado por Freitas
Valle, terminando em 20 de junho. O ano de 1923 foi quando realmente o
Modernismo no Brasil começou a ter seu momento áureo. Tarsila do Amaral, em
Paris, estuda com o pintor cubista e também escultor André Lhote (1885-1962),
na escola de Monstparnasse. Frequenta o curso de Albert Gleizes (1881-1953),
teórico do cubismo, e estagia no ateliê de Fernand Léger. Nesse ano ela pinta A Negra. Em agosto: Anita Malfatti viaja para a França (Paris) para cursar
desenho, onde encontram-se outros artistas brasileiros: Di Cavalcanti,
Brecheret, Rego Monteiro (1899-1970), Sérgio Milliet, Antonio Gomide e Tarsila.
Lasar Segall muda-se para o Brasil, residindo na cidade de São Paulo. No final
do ano, dezembro, Tarsila retorna ao Brasil. Realiza-se no Rio de Janeiro o “I
Salão da Primavera”.
Adendo
Brasil: 1º
de março: morre Rui Barbosa. 21 de abril: Edgard
Roquete Pinto (1884-1954) e Henry Morize (1860-1930), fundam a primeira estação
de rádio brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Em 9 de setembro,
falece Hermes da Fonseca.
1924 – Compõe o Choros n.º 2 e o Choros
n.º 7. Em Lisboa, dias 9 e 16 de março. O compositor realiza concertos na
Bélgica, em 3 de abril. Em Paris, participa de outros concertos, dias 7, 9 e 11
de abril. 30 de maio, em Paris, na Salle Des Agriculteurs, Villa realiza outro concerto, dedicado
inteiramente à suas obras. A embaixada do Brasil na França foi a patrocinadora
do evento. Participaram: o pianista Arthur Rubinstein, Vera Janacopulos, Souza
Lima, Coro Misto de Paris e Societé Moderne d’Instruments à Vent. A direção
coube a Villa. Arthur Rubinstein, fez questão de
interpretar Prole do Bebê nº 1. MB, na revista Ariel (S.
Paulo), anuncia a volta de Villa ao Brasil, em setembro. A revista foi
publicada no mês seguinte. MB menciona na crônica um depoimento de Villa:
“(...).
Em Paris, uma cousa o abalou perigosamente: o Sacre Du Printemps, de
Stravinsky. Foi, confessou-me ele, a maior emoção musical da sua vida”.[15]
-
10 de outubro: MA escreve para MB:
[S.
Paulo], 10 de outubro de [1924].
Manuel
Sem dúvida deves mandar o teu livro ao Paulo que não conserva contra ti o
mínimo ressentimento. (...). //Apesar da tua Santa Teresa alta e longínqua tens
de me fazer um favor. Desce ao Rio. Compra-me-ás uma Lenda do caboclo do
Villa-Lobos. Preciso dela com urgência para ser estudada por uma aluna minha.
(...).[16]
-
31 de outubro: MA escreve a MB mencionando Villa:
[S.
Paulo], 31 de outubro de 1924.
Manuel,
recebi as
coisas que mandaste pra Ariel78. Tomei a liberdade de mudar o
título “Cartas do Rio” pra “Villa-Lobos”, porque chama mais a atenção e para
variar. Serve. O escrito está excelente. O artiguete “Futurismo” creio que não
sairá no próximo número por não haver Sinfonieta. Há matéria demais. Farei
reproduzir os maravilhoso olhos da Heloísa79. //Aqui vão Primeiro
Andar e “Cenas de crianças”80. Estas foram escritas como férias
à Paulicéia no mês seguinte do da escritura primeira e tumultuária
desta. Não lhes dou a mínima importância e nunca as publicarei81
creio. Talvez alguma servisse pro Villa musicar. Villa que surpreendeu mais que
ninguém no Brasil, na América, quase que no mundo, sendo-lhe superior apenas
Mussorgski82, o material musical da criança. (...).
(...).
Mário
Notas:
- 78: Nota MB: Ariel: revista
musical que se publicava em S. Paulo e da qual fui correspondente no Rio.
- 79: A crônica “Villa-Lobos”,
noticiário sobre a chegada de Villa-Lobos ao Brasil, conta os sucessos do
músico em Paris. MB mostra uma personalidade genial, dotada de “imaginação
alucinatória”, trocando em miúdos algumas das declarações polêmicas de
Villa-Lobos: “Noto aqui, maliciosamente, que o nosso querido amigo voltou brabo
com os modernos. Não é moderno! [...] Eu não tenho estilo! [...] Aqui há um mal
entendido sobre palavras.” (...).
- 80: Nem MA, nem MB conservaram em
seus arquivos o manuscrito do poema aqui referido como “Cenas de crianças”.
- 81: Nota de MB: De fato nunca as
publicou. Sempre achei que mereciam ser publicadas.
- 82: Modest Petrovitch Mussorgsky (1839-1881),
compositor russo. [17]
-
16 de novembro: MB escreve a MA mencionando Villa:
[Rio de
Janeiro], 16 de novembro de 1924.
Mário.
Então Ariel
semi-morreu. E morreu para nós. Tenho pena, também. Tinha meu fraco por Ariel.
(...) //Ontem num concerto encontro-me com o Villa (Breve aparecerá aí por
S. Paulo). Fomos depois juntos à casa do Guilherme, onde se despedia o Ronald,
de partida para Peru, (...). //Saímos eu, Graça, Villa e Sérgio. (...) Eu
recitei para o Villa o “Rola-Moça”, o “Coronel Antonio de Figueiredo Leitão”
(com, por algo, a ponte “Eu quisera contar todas as histórias, etc.,
etc.”). Villa ficou assanhado.
(...)
Que quer
dizer Ciao? Adeus italiano?... Pois Ciao!
M.[18]
-
Carta sem data de MA a MB mencionando Villa:
[S.
Paulo, dezembro de 1924].
Meu caro
Manuel.
(...).
//Uma
coisa: Não me saber dizer nada do Villa? Me escreveu que vinha para cá, marcou
dia, até hora de chegada. Isso fazem quase duas semanas já137. E não
veio. E não escreveu mais. Não fui na estação. (...).
Adeus.
Mário.
Nota:
- 137: Villa-Lobos, em bilhete de 20 de
dezembro de 1924, informava sumariamente a MA: “embarco aqui infalivelmente terça-feira
23 do corrente e te pedir (sic) para comunicares aos nossos amigos”. (Arquivo
MA, Série Correspondência).[19]
-
18 de dezembro: MA escreve a MB mencionado Villa:
[S.
Paulo, post. 18 de dezembro de] 1924.
Manuel
(...).
Villa
chegou139. Como sempre: chega, vê e vence. E cansa também. Vence por
aquela força que tem, aquela inconsciência no agir em negócios que o tornam
singularmente cômico nesta cidade negociante. Domina por isso. Creio que
conseguiremos que ele arranje por aqui uns cobre e em troca dê uns concertos.
Vamos a ver! Mas ao mesmo tempo que domina a gente pela música e pelo jeito,
cansa, meu Deus! Quando ele começa a falar e diz teorias, críticas etc. é um
pavor. Nunca vi cabeça mais embrulhada que aquela. Às vezes tem críticas finíssimas,
acertadíssimas. Mas isso vem de embrulho com uma porção de nefelibatismos,
erros e até tolices. Mas não faz mal. A gente agüenta a conversa dele porque
lembra-se da música. Já estivemos juntos duas vezes. Hoje jantaremos em casa de
Dona Olívia. Vai ser uma boa noitada com Souza Lima, Segall, creio que Paulo
Prado também. Ando numa roda viva de prazeres e gostos. (...).
Conta-me
coisas e me abraça.
Mário
Não tem
jeito mesmo de vires ao concerto do Villa? Vê se arranjas isso. Está verão
aqui. Até fins de janeiro, data do concerto, já não terá mais chuva. S. Paulo
estará grandiosa.
Nota:
- 139: “O Villa chegou ontem aqui em S.
Paulo”, escreve MA, em 10 dez. 1924 a Sérgio Milliet em Paris. Contudo, os
concertos dele só se realizam no início de 1925. Em outra carta, sem data,
agora para Prudente de Moraes, neto, MA menciona a apresentação de Villa-Lobos:
“S. Paulo está cheia do Villa-Lobos. Já deu o 1º concerto. Estupendo. O só de
músicas dele vai ser dia 19 de fevereiro. O Noneto, o Trio para
instrumento de sopro, enfim o que ele tem de melhor entre as coisas modernas.
Moderníssimas. Acredito que ele não escapa da vaia”. Despedindo-se de prudente
nessa mesma carta, MA se queixa de abatimento e doença. No dia do tão esperado
concerto, 18 de fevereiro, a doença ganha proporções de cama e então, a carta
endereçada a Carlos Drummond de Andrade documenta o dissabor: “Devo estar bem
doente. Hoje inda por cima, estou triste. A estas horas o concerto de obras do
Villa deve estar pelo meio. Não fui.” (18 fev. 1925). [20]
-
18 de dezembro: MA escreve a MB mencionando Villa:
[S.
Paulo], 29 de dezembro de 1924.
Manuel,
(...).
Bem, tua
carta acabou. E a minha também. Vê se te resolver vir pro concerto do Villa.
Estive ouvindo umas coisas do Noneto e da peça pra piano e orquestra.
Fantástico. Se estiveres aqui eu te mostrarei as maravilhas que tem lá dentro.
O que é mais engraçado é que o Villa está fazendo justamente o que nós queremos
e o Z... não quer – Primitivismo pau-brasil. Não conte pro Villa isso. Era
capaz de fazer música universal e integrar-se no Cosmos.
Mário [21]
Ilustração 2 - Capa
do programa de uma das primeiras
apresentações de Villa-Lobos em Paris.
Adendo Cultural: 5 de fevereiro:
Blaise Cendrars (1887-1961) chega ao Brasil, no Rio de Janeiro, é recebido por
Graça Aranha, Ronald de Carvalho (1893-1935), Prudente de Moraes, neto
(1904-77), Guilherme de Almeida, Sérgio Buarque de Holanda (1902-82) e outros.
No dia seguinte segue para Santos (SP). Em Santos é recepcionado por Sérgio
Milliet, Luís Aranha (1901-87) e Rubens Borba de Moraes. As autoridades
brasileiras impediram o desembarque de Cendrars porque ele não tinha um braço.
Nenhum imigrante mutilado podia adentrar o solo brasileiro nessas condições,
ainda que resultantes de um ferimento de guerra. Horas depois, com a
intervenção de Paulo Prado, Cendrars desembarcou e vai para São Paulo, onde é
recebido por outros modernistas, entre eles, Couto de Barros (1896-1966). 8 de
fevereiro: Lasar Segall abre à visitação pública do seu ateliê, à Rua
Oscar Porto, nº 31, em São Paulo, onde recebe a visita de modernistas, entre
eles Da. Olívia Guedes Penteado, o senador Freitas Valle, Godofredo da Silva
Telles (1888-1980), dr. José Manuel de Azevedo Marques (1865-1943), entre
outros. Em março, na Rua Álvares Penteado, 24, Segall realiza Exposição
Individual. 21 de fevereiro:
Cendrars realiza sua primeira conferência na casa do senador Freitas Valle e
outra no salão do Conservatório Dramático e Musical, em São Paulo. 9 de março:
Tem início o 5º e último Ciclo de Conferências na Villa Kyrial, organizado por
Freitas Valle, terminando em 17 de junho. Em abril: Oswald de Andrade lança o
“Manifesto Pau-Brasil”. 23 de março: Segall realiza Exposição Individual à rua
Álvares Penteado, 24, em São Paulo e retorna a Berlim. Acontece a viagem do
grupo modernista: Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Blaise
Cendrars às cidades históricas de Minas Gerais. Em São Paulo é realizado o “VI
Ciclo de Conferências da Vila Kyrial”, com palestras de Mário e Oswald de
Andrade, Blaise Cendrars, Lasar Segall e outros. 19 de junho: Graça Aranha
profere na Academia Brasileira de Letras a conferência “O Espírito Moderno” e, em seguida, desliga-se da Academia. Com a
eclosão da revolução de Isidoro Dias Lopes (1865-1949) em São Paulo, contra o
governo central da República, Tarsila e Oswald se refugiam com sua família na
Fazenda Sertão, propriedade do pai de Tarsila. Setembro: foi lançada no Rio de
Janeiro, a revista Estética, fundada
por Sérgio Buarque de Holanda e Prudente de Moraes, neto. No exterior, em
Paris, Vicente do Rego Monteiro realiza sua primeira exposição individual, na
Galerie Fabre. Tarsila regressa, em setembro a Paris. Zina Aita deixa o Brasil
fixando-se em Nápoles (Itália). Anita Malfatti participa do Salão de Outono de
Paris, no Grand Palais e também participa da Exposition d’Art Latin Américain,
no Musée Galleria.
Adendo Brasil: Em março, 31,
falece Nilo Peçanha. 1º de maio: Carlos de Campos (1866-1927) é o presidente
eleito do estado de São Paulo. Em julho: Revolução Tenentista, de Isidoro Dias
Lopes (1865-1949), em São Paulo. Bombardeio em São Paulo e recuo das tropas até
Catanduva, interior de São Paulo. Após a ocupação do centro da cidade pelas
forças rebeldes, Carlos de Campos refugiara em Guaiaúna, pequena estação de
trens, próxima à Vila Matilde. O presidente da República, Artur Bernardes
determinou o bombardeio da capital, a despeito dos esforços do prefeito e de
lideranças civis, que tentaram evitar a tragédia. A Revolução teve início no
dia 5 de julho e termina no dia 23.
[São
Paulo, post. 3 de janeiro de 1925].
Manuel.
Aproveito
uma estiada do abatimento e escrevo pra você. (...). //Fiquei triste com a
notícia de que de certo você não vem a São Paulo. Não sei quando será o
concerto das obras do Villa. Talvez mesmo em fevereiro. Se você estiver com o
Couto, ficará bem fácil dar um pulo até aqui. Se o programa valer a pena mando
falar. O Villa talvez não possa dar quase nada das coisas novas que tem. É tudo
dificílimo e requer concertistas consumados. Depois, ficam horrorizados com o
modernismo e fogem com o corpo. É uma pena. Um dos meus maiores desejos seria
ouvir o Trio para oboé, clarineta e saxofone. Me parece uma obra-prima.
Ontem estive com o Villa de manhã. Coitado, de cara inchada, creio que um
abcesso. Já soube que rasgou, pelo Rubens. Mas não fui lá, nem tive coragem pra
telefonar. Passei hoje o dia inteirinho deitado. (...).
Mário [22]
-
Em fevereiro, 8, 18 e 20, em S. Paulo, rege concertos somente com obras suas.
18 de fevereiro: quando Villa realizava concerto em S. Paulo, MA
escrevia carta a Prudente de Moraes, neto (1904-77). Segue a descrição apenas
dos dois primeiros parágrafos onde MA refere-se ao concerto de Villa:
18 de
fevereiro 1925
Prudente
Castigo
do céu... O concerto de Villa deve ter principiado agorinha mesmo...
Pra
disfarçar esta raiva de não ir escrevo aos amigos. (...).[23]
-
Villa realiza também concerto no Rio de
Janeiro. Compõe o Choros n.º 2, nº 3, n.º 8 e o n.º 10. Compõe
também as Serestas, para voz e piano. Em maio: viaja para a Argentina.
Após concerto é apresentado pelo embaixador brasileiro, Pedro de Toledo
(1860-1935). 26 de julho: MB escreve a MA mencionando Villa:
Rio de
Janeiro, 21 de julho de 1925.
Marioscunque
(...). Há noites atrás passei horas
agradáveis em casa do Villa. Não havia mais ninguém. E eu não deixei o homem
sair da música. Villa é enorme. Com um piano de aluguel arrebentadíssimo, uma
técnica à la diable, aquela voz, os olhos de louco e que mais, meu Deus?
ele cria um conjunto orquestral inédito, tão admirável como um quarteto de
cordas ou um jazz-band!! Eu rio e admiro a valer. Volto pra casa e não
posso dormir. Começo a ver uma porção de Villa-Lobinhos, falando,
gesticulando...
Abraços
do M. [24]
Mário
(...).
E o Vila
em concubinagem com Coelho Neto??131
Ciao.
M.
Nota 131:
O próprio
Henrique Coelho Neto (1864-1934), ao fazer publicar a conferência que antecedeu
à apresentação de Villa-Lobos no Instituto Nacional de Música, em 22 de
setembro, justifica-se do aparente paradoxo: “O nome do audacioso artista,
consagrado na Europa, já não desperta o riso: começam a tomá-lo a sério. Se o
público o acolheu com simpatia e, por vezes, até com entusiasmo, não fizeram o
mesmo certos mocinhos da grei chamada ‘futurista’, porque entenderam que
Villa-Lobos traíra convidando-me para figurar no programa do seu festival, a
mim, ‘um passadista ferrenho’”. Com ar de superioridade, Coelho Neto, não
obstante a confessada ignorância musical, reconhece no compositor o caráter
revolucionário, mas prevê um futuro menos tumultuário: “A sua música [...]
está, por enquanto, férvida, acachoada, revolvendo-se em turbilhão espumoso
[...] Há de chegar à planície e, remansada e límpida, correrá em rio, cantando
docemente, reproduzindo todos os sons da Pátria.” Ainda pela letra do
“passadista” encontra-se a alma do “modernista”: “Mas será Villa-Lobos
futurista? Não! Disse-m’o ele próprio, com energia. Nem futurista, nem
passadista – Eu sou eu!” (“Villa-Lobos”, s. ind., Arquivo MA, Série Matéria
Extraída de Periódicos).[25]
-
Em setembro, 22, Villa realiza concerto no Salão do Instituto
Nacional de Música, Rio de Janeiro. Coelho Neto, a convite do maestro, foi o
apresentador do concerto. 30 de outubro: MB escreve a MA mencionando Villa:
Rio de
Janeiro, 30 de outubro de 1925.
Mário.
(...).
Escrevi duas crônicas sobre o Villa, uma prao Brasil Musical, outra pra Idea
Illustrada. Naquela é só elogio porque o italianão quando me pediu pra
escrever alegou que não escrevia porque se escrevesse era pra meter o pau.
História. Ele não escreve porque não sabe escrever. E como no concerto ele
andou se rindo com um sujeito muito burro chamado Octaviano Gonçalves158,
eu resolvi no artigo pra ele tratar o Villa de gênio. Na crônica da Idea
como eu estava meio safado com o Villa homem, que reputo mau caráter, e safado
com certas burrices e presunções de Villa artista e filosquetroque, resolvi
esculhambar, reconhecendo aliás o mérito genial dele159. Também
achei estupendo o Septimino160.
(...).
Ciao!
M.
- 158: João Octaviano Gonçalves
(1892-1962), ou J. Octaviano, como assinava, colaborou em periódicos musicais e
lecionou no Instituto Nacional de Música, sucedendo a Francisco Braga na
cadeira de compositor, a partir de 1938. (...).
- 159: As duas críticas de MB ao
concerto de Villa-Lobos para pequenos conjuntos realizado no Instituto Nacional
de Música do Rio, em setembro de 1925, foram coligidas em Andorinha,
andorinha, sem indicação de periódico (“Villa-Lobos: um concerto em duas
críticas”, p. 89-92). Ambas, realmente, manifestam entusiasmo pela obra do
músico, ao concebê-la como “expressão de uma surpreendente vitalidade
espiritual”. Diferem estrategicamente. Na crítica da primeira quinzena de
outubro, MB não mede elogios: “um músico que sem favor podemos colocar entre os
seis ou sete nomes mais fortes da atualidade musical” e, a certa altura da
análise, constatando a audácia de Villa-Lobos, explode: “[...] genial. Genial,
sim senhores. Acabamos com essa covardia pequeníssima de só falar em gênio
quando o homem já morreu ou é estrangeiro!” No outro texto, também de outubro,
MB a propósito de declarações do músico na imprensa argentina, encontra espaço
para “esculhambar”: “Villa-Lobos para mim é músico e nada mais. Pensamento?
Nunca vi mentalidade mais confusa. Temperamento? Ouvido? Isso Sim”.
- 160: A mais forte [das peças novas de
Villa-Lobos] nos pareceu o Septimino (Choro nº 7), onde a par
daquela prodigiosa riqueza de ritmos e de efeitos de timbres que formam a
ambiência natural da música de Villa-Lobos [...] se encontram também deliciosos
motivos melódicos, tão frescos, tão isentos de rebusca como de vulgaridade,
comovendo a um tempo pelo que há neles de brasileiro e de universal. O Septimino
é uma obra forte e leve, forte pela rica timbres, pelas suas proporções
formosíssimas. Isso era bem sensível, apesar de alguns senões da execução que
carecia de mais ensaios.” (Andorinha, andorinha, “Villa-Lobos: um
concerto em duas críticas”, p. 89).[26]
Adendo Cultural: Ano de fundação da
Escola de Belas Artes de São Paulo. Ano também de fundação da Biblioteca
Municipal de São Paulo, à Rua Sete de Setembro, 37. Foi aberta ao público em
1926. Tarsila do Amaral regressa ao Brasil, em fevereiro e retorna a Paris em
dezembro. Tarsila Ilustra o livro Pau Brasil
(poesia), de Oswald de Andrade. Da. Olívia Guedes Penteado cria em seu
palacete, localizado entre a Avenida Duque de Caxias e a Rua Conselheiro
Nébias, São Paulo, o Salão de Arte Moderna, com a reforma de uma antiga
cocheira. Lasar Segall realizou a decoração do local, que ficou conhecido como
“Pavilhão Modernista”. No Rio de Janeiro, em agosto, acontece a 32ª Exposição
Geral de Belas Artes. Mário de Andrade publica a Escrava que não é Isaura. Vicente do
Rego Monteiro realiza em Paris, na Galerie Fabre, sua primeira exposição
individual. Di Cavalcanti retorna ao Brasil. 30 de junho: nasce em Campinas, SP, Anna Stella
Schic, pianista. Foi amiga de Villa. Veio se consagrar como a “grande intérprete
de Villa”,
gravando toda a obra pra piano do Maestro. Escreveu o livro: Villa-Lobos – O
Índio Branco. (Faleceu em 1º de fevereiro de 2009, em Nice, França). Lorenzo
Fernandez lança sua primeira obra orquestral: a Suíte Sinfônica, sobre
temas populares brasileiros. 18 de novembro: nasce em S. Paulo o maestro,
compositor, tenor e jornalista Diogo de Assis Pacheco.
Adendo Brasil: Acontece na cidade de São Paulo a primeira edição
da corrida de São Silvestre, iniciativa do jornalista Cásper Líbero
(1889-1943). Em julho: a Coluna Miguel Costa-Prestes inicia sua marcha pelo
Brasil. Washington
Luís assumiu o posto de Senador por São Paulo.
1926 – Compõe durante o ano as dezesseis Cirandas para piano. São elas: Nº1: Teresinha de Jesus; Nº 2: A Condessa; Nº 3: Senhora Dona Sancha; Nº4: O
Cravo Brigou com a Rosa; Nº 5: Pobre
Cega; Nº 6: Passa, Passa Gavião;
Nº 7: Xô, Xô, Passarinho; Nº 8: Vamos atrás da Serra, Calunga; nº 9: Fui no Tororó; Nº 10: O Pintor de Canaí; Nº 11: Nesta Rua, Nesta Rua; Nº 12: Olha o Passarinho, Dominé; Nº 13: À Procura de uma Agulha; Nº14: A Canoa Virou; Nº 15: Que Lindos Olhos; Nº 16: Có-Có-Có. 12 de abril: MB escreve a MA
mencionando:
“Villa sofreu operação safada na
bexiga”.[27]
-
15 de abril: MB escreve novamente a MA mencionando Villa:
Rio de
Janeiro, 15 de abril de [1926].
Mário.
(...).//(...);
de tarde fui me encontrar com o Dante pra irmos jantar com o Villa que eu
imaginava ainda de cama cheio de ataduras e atamoles, e dei com ele de braço
dado com o Dante na Avenida. Fomos pra rua Didimo. (...)//Depois do jantar
Villa cantou duas coisas de uma série Serestas que ele está compondo. A
1ª é pra “Pobre cega” do Álvaro Moreyra. A 2ª é prao “Anjo da guarda”. A música
do Anjo está matane parece uma tarde que não acaba mais. Fiquei com os olhos
cheios d’água me atraquei com o Villa, beijei-o. Que bruta comoção, puta merda!
Quando ele diz “um anjo moreno violento e bom – brasileiro” é tal e qual a
minha irmã, Mário! A música é de uma simplicidade e de uma elevação, toda
consonante mas de técnica bem moderna e imagine, o acompanhamento é um tema
sincopado popular, antes de começar o canto o piano faz um floreio de violão.
Começa o canto e quanto chega “ao pé de mim” há um ah! E o piano faz um
intermezzo movimentado depois volta a baita melancolia do canto completando a
melodia que tinha ficado suspensa. Eu senti uma felicidade... Vai demorar a se
publicar porque Villa já vendeu a suíte ao Sampaio Araujo que manda imprimir na
Alemanha. Porém eu arranjeit com o Villa mandar tirar uma cópia pra mim. Depois
eu tirarei uma pra você, pois estou doido que você conheça.
Está aí,
Mário. Uma abraço do Manu.[28]
-
18 de Abril: MA responde a carta a MB:
São
Paulo, 18 de abril de 1926.
Manu.
Vivi o
seu dia feliz. (...)//Me mande a coisa do Villa porque estou curioso de ver
coisa nova dele pra canto e que tenha comoção além de musicalidade pura que nem
a últimas. Toda a série de coisas pra violino e canto que ele fez ultimamente é
esplêndido como musicalidade, como música pura, porém não tem nenhum sentido
além do que nasce indeciso das impressões sensoriais. Estupendo porém sob o
ponto-de-vista união de poesia e som me parece indeciso e mesmo defeituoso. Eu
sei que a voz pode ser considerada como um instrumento e nada mais, como no Quarteto
simbólico, até gosto muito disso, porém desque se trate de poesia e música
acho que a música tem que ver com a poesia pra que a ligação seja íntima.
(...). Em geral não gosto da música pra canto do Villa. Gosto muito das coisas
recentes porém não considero isso música pra canto, é música pra dois
instrumentos: violino e voz. Estou pois impaciente pra ver o Anjo-da-guarda,
não se esqueça de me mandar. (...).//Ciao, Manu do coração. Em junho bem
possível que vá passar uma semana no Rio. Não conte pra ninguém.
Mário
O pai do
Gui acaba de morrer. Razão por que esta carta só vai hoje, segunda.[29]
Rio de Janeiro,
1º de maio de [1926].
Mário.
Com esta
lhe mando sob registro uma cópia da música que o Villa escreveu prao “Anjo da
Guarda”. Não garanto muito que a cópia esteja fiel. O que garanto é que foi
obra de amor pois me deu um trabalhão safado e desanimei duas vezes. O Villa
musicou também a poesia do Dante. Embora a melodia seja muito bonita, acho que
não condiz com o espírito da letra. Me parece que à poesia do Dante devia ser
aplicada aquela maneira claramente expositiva a que você se referiu em sua carta:
aqueles versos tem um tom expositivo, não cantante, e a melodia que o Villa
arranjou é cantantíssima. Tenho entendido e gostado das últimas coisas de canto
do Villa; os estudos e leituras que ele tem feito para a obra de folclore que o
Arnaldo Guinle encomendou a ele adoçaram, simplificaram, clarificaram o Villa,
é a primeira impressão45. A série das Cirandas para piano são
tão bonitas, tão brasileiras e tão pianísticas. É uma gostosura, como você diz.
Achei graça que no dia de receber a sua carta estive à noite em caso do Villa e
ele, indignado porque os acompanhadores das músicas de canto dele maltratam a
parte de piano, disse que de agora em diante vai pôr nas músicas: para piano
com acompanhamento de canto.
(...)
Um abraço
do
Manu.
(...)
Nota 45: O empresário e dirigente
desportista carioca Arnaldo Guinle (1884-1964), encontrando-se com Villa-Lobos
em Paris, convida-o para organizar material de feição popular coligido no
Nordeste pelos compositores Pixinguinha, Donga e João Pernambuco. Em 8 de janeiro
de 1925, Villa-Lobos, entrevistado por Alcântara Machado, explana o projeto:
"Pus-me então a elaborar a grande obra em que estou empenhado e que
compreenderá 3 volumes. O primeiro, sobre música [...]. O segundo e o terceiro
volumes sobre poesia e dança, serão divididos em 3 capítulos: folclore das
matas, dos serões e das capitais [...]. Tive necessidade de classificar, de
maneira absoluta, todas as músicas e todos os dados e documentos, que vão além
de mil.” (“Villa-Lobos e o folclore nacional”, Arquivo MA, Série Matéria
Extraída de Periódicos). Gorando o projeto, parte dessa documentação – os
folhetos de cordel – foi parar nas mãos de MA, possivelmente em 1929, que
passou a utilizá-la como objeto de pesquisa nos planejados Dicionário
Musical Brasileiro, Zoofonia, etc. (TERRA, Ruth B. Lêmos. A literatura
de folhetos nos Fundos Villa-Lobos).[30]
-
17 de setembro: MB escreve a MA mencionando Villa:
Rio de
Janeiro, 17 de setembro de [1926].
Mário.
(...).//Ainda
a respeito do Xangô: a melodia chim é mesmo a quem vem na Enciclopédia do
Lavignac mas preciso contar que foi o Villa quem deu com ela e batucou-a no
piano pra nós ouvirmos. Anteontem voltei à casa do Villa, ele ainda não tinha
chegado e eu fui verificar o caso no piano Confesso que achei muito menos
analogia e perguntei ao Villa: “É essa mesmo?” ao que ele respondeu: “É. É o
Xangô. Os mesmo intervalos”. Não disse nada a ele desta nossa conversa. Não
adiantava. Com o Villa quase que não adianta conversar sobre nada. A respeito
da maxixe quis aprender com ele. Depois verifiquei que ele repetia mal o que
ler no Guilherme de Melo86. Você conhece a obra dele? Ele dá o
maxixe como variante moderna do lundu de origem africana. O Villa me disse que
o Cardoso de Menezes velho possui em casa o primeiro maxixe, - o maxixe
original que apareceu nos clubes carnavalescos. Estou com vontade de procurar
esse homem e conversar com ele. A minha idéia é que a palavra “maxixe” vem do
título de algum lundu de sucesso onde apareceu pela primeira vez em ritmo mais
peculiar. (como o Charleston saiu do fox-trot)87.
(...).
Não posso
mais. Ciao.
M.
Notas:
- 86: Guilherme T. Pereira Melo
(1867-1932), autor de A Música no Brasil – Desde os tempos coloniais até o
primeira decênio da República, a primeira abordagem histórica da música
brasileira. (...).
- 87: No envelope que MA destinou para
guardar informações do verbete “maxixe” do planejado Dicionário musical
brasileiro, uma folha de papel jornal com informações sobre o termo mostra
a caligrafia de MB. Esse manuscrito, sem assinatura, informa: “Villa descobriu,
julga ter descoberto a origem do maxixe. Um afinador da Casa Artur Napoleão que
tem 84 anos e um certo comendador de igual idade assistiram ao nascimento do
maxixe num clube carnavalesco, o 1º que se fundou no Rio. ‘Maxixe’ era o
apelido do sujeito que nesse clube dançou o lundu de um certo jeito particular
que imitado depois por outros deu no maxixe. A música do lundu evoluiu da
mesma forma, impulsionada pelo movimento rítmico da dança. Os dois velhos
conhecem o 1º lundu-maxixe. Villa tomou nota de tudo. Será mesmo assim? Pelo
menos é razoável./[à margem] O clube parece que se chamava Altenberg ou coisa
parecida”.[31]
-
15 de novembro: Villa participa no Teatro Lírico do Rio de
Janeiro, do “O Grande Concerto de Coros e Orquestra”, um espetáculo de gala em
homenagem ao Governo da República. O coral teve a participação de cerca de 200
figurantes. Em 24 de Novembro, o programa foi repetido no Teatro Municipal do
Rio de Janeiro, com pequenas alterações. Realiza ainda três festivais
sinfônicos para a Associação Wagneriana de Buenos Aires, antes do seu retorno à
Europa. Compõe o Choros n.º 4, o n.º 5 e o n.º 6. Compõe
também as Cirandas, para piano. Segundo José Maria Neves (Villa-Lobos,
o choro e os Choros), renomado mestre e profundo conhecedor da obra
villalobiana, o Choros nº 10, “estreado no Rio em 15 de novembro,
representa a síntese da síntese – uma vez que os Choros se constituem na
síntese do pensamento musical de Villa-Lobos”.[32] No final do ano viaja novamente para a
Europa com Lucília. Em Paris hospeda-se no apartamento dos Guinle, na place
St. Michel. Com data de 30 de novembro, MB escreve o artigo
“Villa Regendo” [Bandeira,
Manuel. Andorinha, andorinha. Edição comemorativa do Centenário de
Nascimento do Bardo. Seleção e coordenação de textos de Carlos Drummond de
Andrade. Editora José Olympio, RJ, 2 ed. 1986, pp. 92/93], referindo ao concerto do Villa de 15 de novembro:
O grande
concerto de coros e orquestra realizado em 15 de novembro por iniciativa do
maestro Villa-Lobos, foi um dos mais belos espetáculos de arte brasileira que
já se ofereceu ao nosso público. (...)A música nacional há muito tempo que vem
repontando, balbuciando na obra dos nossos compositores. Agora tem-se a
impressão que começou a falar. Pelo menos este concerto do maestro Villa-Lobos
já nos deu uma sensação acabada e gostosa de coisa bem nossa.
(...).
No dia do
concerto havia mais luz, havia menos ingenuidade, não havia o cansaço. No dia
do concerto havia em toda a gente, no palco e na plateia, entusiasmo,
satisfação, gostosura, como se todo o mundo estivesse chupando manga numa
varanda de fazenda. (...).
No “Choro
nº 3” de Villa-Lobos a parte do Pica-pau é estupenda: a unidade do choro me
pareceu duvidosa com o “Nozanina-Orekuá” no começo, e aquele estapafúrdio
“Brasil! Brasil!” do fim. (...). Acho que ficava melhor “barril”.
(...).
Villa-Lobos
foi aclamado pela plateia unânime, como de fato merecia, estendendo-se os
aplausos aos seus numerosos colaboradores, entre os quais se contava a fina
flor dos nossos professores, cantores e amadores, que o presentearam em cena
aberta com uma baita batuta de ouro. [30.XI.1926]
Adendo Cultural: Tarsila do Amaral
faz a 1ª exposição individual em Paris, na Galerie Percier, em 7 de julho,
apresentado 17 obras feitas entre 1923 e 1926. Após a exposição Tarsila retorna
ao Brasil. Mário de Andrade começa a escrever Macunaíma. Anita Malfatti expõe no Salão da Sociedade dos
Artistas Independentes – aberto em março. Primeira vinda do
criador do Manifesto Futurista (1909), o escritor, poeta, político
egípcio-italiano, Felippo Godoy Tommaso Marinetti, no Brasil. Chega ao Rio de
Janeiro e faz palestra no Teatro Lírico, sendo apresentado por Graça Aranha. Blaise Cendrars faz sua segunda viagem ao Brasil. Mário de Andrade publica
Primeiro Andar e Losango cáqui. Oswald de Andrade e Tarsila casam-se em 30 de outubro.
De 20 de novembro a 5 de dezembro, Anita Malfatti realiza exposição individual
na Galerie André, rue des Saints-Pères, que foi inaugurada com uma vernissage
no dia 19, com a presença do embaixador brasileiro Luís Martins de Souza Dantas
(1876-1954). Ano de fundação da revista Terra
Roxa, em São Paulo. Victor Brecheret faz sua primeira exposição
individual em São Paulo, Rua São João, 187-A, iniciada em 4 (ou 7?) de dezembro.
Ano do
lançamento do Manifesto Regionalista,
no Nordeste, tendo na liderança: Gilberto Freyre (1900-87).
Adendo Brasil: Washington Luís
assume a presidência no dia 15 de novembro.
1927 – Em companhia de Lucília, parte
novamente para Paris e se instala na Place St. Michel n.º 11. Em 13 de março,
exibe com Souza Lima, na Salle Gaveau, música para um filme mudo – documentário
sobre o Brasil. Trabalha como revisor na casa Max Esching. Abril: Na Europa, Villa negocia a publicação das suas
partituras com a editora Max Eschig. Existe uma vasta correspondência entre Villa e Carlos Guinle versando sobre os
contratos com a editora Max. Essa correspondência faz parte do acervo do Museu
Villa-Lobos. Em 24 de outubro realiza concerto na Salle Gaveau, em Paris. Assim
foi anunciado pelo Le Courrier Musical, em 15 de outubro:
“Um
importante concerto consagrado à audição de obras de Villa-Lobos, um dos
líderes da escola musical sul-americana contemporânea, terá lugar na segunda
feira, 24 de outubro, em soirée, na grande Salle Gaveau. Os
famosos pianistas sr. Arthur Rubinstein, sra. Aline van Barentzen, sr. Tomás
Terán, a notável cantora sra. Elsie Houston prestarão sua prestigiosa
colaboração, enquanto que a orquestra, composta exclusivamente de artistas dos Concerts-Colonne,
será regida pelo sr. Villa-Lobos”.[32.1]
-
Em 5 de dezembro rege ainda na Salle Gaveau: Concerts Colonne e L’Art Choral;
Ilustração 3 - Capa
do cartaz de apresentação em Paris.
Adendo Cultural: A 15 de janeiro,
Antonio Gomide fez uma de suas poucas exposições individuais: “Exposição
Antonio Gomide - Afrescos e Pinturas”, em antiga galeria da Avenida São João,
187. 25 de janeiro: nasce no Rio de Janeiro o maestro,
compositor, cantor, pianista e violonista, Antônio Carlos Jobim. Anita Malfatti
participa do Salão dos Independentes, em janeiro e fevereiro. Participa também
do Salão da Tuileries, em abril e do Salon D’Outomme, em Paris. MA, Da. Olívia
Guedes Penteado, Dulce (filha de Tarsila) viajam ao Nordeste e Norte do Brasil,
chegando até Iquitos, no Peru. Oswald de Andrade publica Primeiro Caderno de Poesias de Oswald de Andrade, com capa de
Tarsila do Amaral. Em São Paulo, na Rua Santa Cruz, nº 325, Vila Mariana, o
arquiteto Gregori Warchavchik (1896-1972) constrói a primeira Casa Modernista
do Brasil, que passa ser sua residência. Os jardins da casa foram projetados
pela esposa do arquiteto, Mina Klabin (1896-1969). MA entra como crítico de
arte no Diário Nacional, de São
Paulo. Lasar Segall naturaliza-se brasileiro e realiza exposição individual em
São Paulo, à Rua Barão de Itapetininga, 50. MA publica o romance: Amar, Verbo Intransitivo. René
Thiollier, o mecenas da Semana de 22, publica O Homem da Galeria: ecos de uma época. Flávio de Carvalho (1899-1973) apresenta projeto ao concurso para o
palácio do governo, em São Paulo. Cícero Dias (1907-2003) realiza sua primeira
exposição individual no Rio de Janeiro. 25
de janeiro: nasce no Rio de Janeiro o maestro, compositor, cantor, pianista e
violonista, Antônio Carlos Jobim. 24 de novembro: falece, em Bauru (SP), o
poeta Rodrigues de Abreu. Em Cataguases, MG, surge a revista Verde com o Manifesto do Grupo Verde de Cataguases, com intuito principal de “Abrasileirar o Brasil”. No Rio de
Janeiro, Tasso da Silveira (1895-1968) lança a revista Festa.
Adendo Brasil: Getúlio Vargas (1883-1954) é eleito deputado federal. 27 de abril:
falece o presidente do estado de São Paulo, Carlos de Campos. Nesse mesmo dia,
Antonio Dino da Costa Bueno, então presidente do senado estadual, assume o
poder até 14 de julho, quando Júlio Prestes de Albuquerque torna-se Presidente
eleito. Seu governo terminará em outubro de 1930. Fundação do Partido
Democrático, com a participação de MA. A Constituição do Rio Grande do Norte concede, pela primeira vez no
país, o direito de voto às mulheres.
1928
– Em Paris, compõe o Choros
Bis, o Choros n.º 11. Em
junho, no Diário da Noite, é publicada a matéria A Música Brasileira
em Paris, transcritos na sequência apenas os dois primeiros parágrafos,
onde menciona Villa:
As origens da nossa música-Confronto com a américa
– O samba de um século mais antigo que o foxtrot, segundo Villa-Lobos.
O sucesso de Villa-Lobos em Paris não é um sucesso
de agência telegráfica. É autêntico. O interesse despertado pela audição de
suas obras não foi passageiro. Foi profundo, e perdura. Pode-se dizer que,
graças ao nosso grande compositor, a música brasileira foi e ainda é a grande
revelação musical da atualidade.
(...).[32.2]
Adendo Cultural: Lasar Segall realiza exposição individual, em julho, no Rio de Janeiro, no Palace
Hotel. Segall viaja e passa a residir em Paris. Tarsila pinta Abaporu e presenteia a Oswald de Andrade, no aniversário deste. Foi
essa obra que deu ideia a Oswald de Andrade, juntamente com Raul Bopp
(1898-1984), elaborar um manifesto denominado Antropófago, publicado no primeiro número da Revista de Antropofagia, em 1º de maio, que contava também com a
participação do escritor Alcântara Machado (1901-35). Tarsila realiza, em
Paris, sua terceira exposição individual na Galerie Percier. Anita Malfatti
participa da 39ª Exposition Societé des Artists Indépendantes, em Paris, no
Grand Palais. Em setembro: Anita retorna ao Brasil, partindo de Marselha, a
bordo do “Mendoza”, em 10 de setembro, aportando no Brasil no dia 27. Vicente do Rego Monteiro realiza sua segunda
mostra individual em Paris. Mário de Andrade publica Ensaio sobre a Música Brasileira e seu livro mais famoso e
polêmico: Macunaíma. Paulo Prado publica Retrato do Brasil. Cassiano Ricardo publica Martim-Cererê. Alcântara Machado publica Laranja da China. Anita Malfatti realiza mostra em São Paulo.
Adendo Brasil: 25 de janeiro:
Getúlio Vargas toma posse como governador do Rio Grande do Sul. 3 de dezembro:
“Cobriu a manhã gloriosa de hoje o luto do maior desastre da aeronáutica brasileira”
– essa era a manchete da edição vespertina do Globo de 3 de dezembro de 1928, que relatava uma tragédia ocorrida
no Rio de Janeiro: a queda de hidroavião da Kondor Syndicate, ocupado por
amigos de Santos Dumont. Em homenagem ao Pai da Aviação, que voltava da Europa
para o Brasil, o grupo resolvera sobrevoar o navio SS Cap Arcona que trazia
Dumont a bordo para despejar pétalas de rosas. Mas o aparelho caiu perto do
chamado Parcel das Feiticeiras, na altura da Ilha das Cobras, e afundou. Entre
passageiros, tripulantes e socorristas, morreram 14 pessoas.[32.3]
1929 – Janeiro: Suzanne Demarquez, em Paris,
publica na revista Musique, artigo sobre os Choros, de Villa. Compõe o Choros n.º 9, os 12
Estudos para violão. No início do segundo semestre, volta ao Brasil. 12 de agosto: MB escreve a MA
mencionando Villa:
Rio de
Janeiro, 12 de agosto de 1929.
Mário
(...)//A
novidade é a chegada do Villa. Não fui ao desembarque. Esperei encontrar-me com
ele na rua, o que se deu logo no dia seguinte. Ele me levou pra frisa dele no
concerto do Borovsky. De noite fui à rua Didimo ver Lucília. Villa vai dar já 3
concertos – canto (serestas) e música de câmara (sonatas e trios). Falando
muito num Varèse35, cuja música aliás ele não aceita nem compreende.
Tentei fazer que ele me explicasse o que era essa música de Varère (reação
contra Strawinsky – dizia Villa). Villa disse que são “blocos sonoros”. Mais
encore? Grande atrapalhação, muito gesto, uma porção de asneiras e ficou
por isso mesmo. O Villa continua “uma novidade”, como diz o Dodô. Não dá aqui o
Pai do Mato para fazer a vontade de você que pediu a 1ª audição para São
Paulo. Isto é sacanagem! Diz que foi um sucesso em Paris. Adeus.
Abraço do
M.
Nota 35: O compositor francês,
naturalizado norte-americano, Edgard Varèse (1883-1965), (...).[33]
-
Villa organiza concertos no Rio de Janeiro,
dia 26 de Agosto, no Teatro Lírico, e em S. Paulo, em 2 de outubro, rege:
Grande Concerto Sinfônico. Em 4 de outubro, volta à Europa. É professor de
composição no Conservatório Internacional de Paris e faz parte do Comitê
d’Honneur. Para termos uma ideia da perseguição do crítico Oscar Guanabarino,
segue uma publicação no Jornal do Commercio, edição de 26 de junho:
“Se
formos expor aos olhos estrangeiros todas as nossas vergonhas – ai de nós.
Basta o que acaba de fazer em Paris o “Barulhista” Villa-Lobos com a sua música
carnavalesca. Esse brasileiro que se proclama propagandista do que é nosso,
em matéria de arte nacional, publicou o Choro nº 10, composição cujo
ritmo é africano e a letra tola ou africana, não sabemos de que nação, mas que
o célebre introdutor de reco-reco brasileiro em Paris nos dirá se é
cabinda ou nagô. E é por essa forma que o propagandista nos desmoraliza em
Paris, procurando fazer crer que somos um povo de negros e que a nossa arte não
vai além da borracheira africana”. [34]
-
26 de outubro: MB escreve a MA mencionando Villa:
Rio de
Janeiro, 26 de outubro de 1929.
Mário.
Recebi o
seu bilhete acusando recebimento das coisas do Villa. Sobre esse caso me entendi
o cunhado dele que me perguntou se era a matéria referente ao folclore do
Brasil ou aos outros também. Respondi que era tudo. (...)//Não tive com o
Villa. Ele chegou daí no dia 5 e embarcou no dia seguinte para Barcelona, de
onde foi chamado por telegrama. Não se despediu de ninguém38. Está
tudo danado com ele: Téran39, Nascimento, Elsie, etc. Ele não deu
entrada de favor nem para a mãe do Nascimento que tomava parte do concerto!
Francisco Braga40 teve de comprar bilhete. Resultado: vazantes
desoladoras e antipatias gerais. A gente vai, aplaude, admira, mas reserva-se o
direito de esculhambar o gênio... Mas o Villa não faz caso de afeições e
simpatias: ele quer é o cobre e a admiração. Coitadinho do Villa, como diz o
Nestor Vítor!...
Abraços
do M.
(...)
Notas:
- 38: Villa-Lobos e Lucília remetem a
MA em 18 de outubro cartão postal de Barcelona onde se realizava a Exposição
Internacional: “Boa Viagem. Brilhante recepção, hospedagem num lindo hotel em
frente à Exposição que é uma maravilha! Concerto dia 25, 400 vozes e grande
orquestra que o Villa dirigirá, e ele começou a ensaiar no mesmo dia.
Escreverei logo e enviarei notícias e programas [...]”. Logo depois, de Paris,
Lucília relata os sucessos do marido no concerto “num salão que comporta 15 mil
pessoas” (7 nov. 1929. Arquivo MA, Série Correspondência). MA tinha divulgado
no Diário Nacional críticas sobre Villa-Lobos; no artigo de 25 de
setembro escreve: “Possuidor de uma musicalidade prodigiosamente fecunda, os
seus desenvolvimentos melódicos são talvez dos mais ricos e variados que
conheço.” (“Villa-Lobos”, Brasil 1º tempo modernista, p. 373).
- 39: O pianista espanhol Tomás Téran
(1895-1964) foi apresentado a Villa-Lobos em Paris, possivelmente em 1924.
Desde então, ajudou a difundir a obra do compositor brasileiro. Visitando o
Brasil em diversas ocasiões, só em 1930 aqui fixou residência, acabando por se
naturalizar. (...).[35]
- Em outubro, vários comentários sobre Villa foram
publicados na imprensa espanhola. Seguem, parcialmente, algumas dessas
publicações[35.1]:
As obras de Villa-Lobos foram as mais salientes,
não só deste concerto, mas, dos quatro festivais libero-americanos. Na música
desse jovem compositor brasileira há um poderoso instinto musical, uma força
rítmica extraordinária, um grande alento e um positivo dom de orquestração.
As obras dele estão cheias de fantasias harmônicas
e de complicações inúteis e de excessiva orquestração, mas dentro de todas
essas notas corre uma torrente de vida e vibra um sopro musical que impõe. Não
se pode duvidar disto depois de se ter ouvido os Choros X, especialmente
desde a e entrada do coro até o final, todo em um ritmo contínuo e uma melodia
que corre seguindo uma grande linha.
(J. Pahissa, no ‘Los Notícias’, em 26 de outubro).
-x-x-x-x-
Estamos convencidos que Villa-Lobos é um artista
originalíssimo e genial. Possui um conhecimento dos recursos técnicos admirável
e para se libertar, sem dúvida, da denominação de “selvagem” dada às suas obras
de vanguarda, pôs no programa o prelúdio sinfônico de Yzaht, de escrita
claríssima e perfeita e de amplas e belas harmonias engendradas nos mais puros
procedimentos clássicos.
(...).
O compositor Villa-Lobos tem inspirações geniais, é
realmente um caso extraordinário, de forte temperamento, nervos de verdadeira
força emocional, dentro dos atrevimentos e audácias da música contemporânea.
(Alfredo
Romea, no ‘El Noticiero Universal’, em 28 de outubro).
-x-x-x-x-
O que ouvimos deste compositor brasileiro foi bom,
muito bom, o melhor que nos deram estes festivais libero-americanos.
Assim pensava e continuei pensando quando na noite
de ontem ouvi a este admirável Heitor Villa-Lobos que para mim é um compositor
perfeito. O ímpeto é o que mais me surpreende neste músico, tão separado da
Europa e que tanto interessa aos europeus. Não crio que a América conte hoje em
dia com outro compositor do talhe de Villa-Lobos.
(Rafael Moragas, no ‘La Noche’, em 26 de outubro).
Adendo Cultural: 1º de Fevereiro:
Anita Malfatti abre sua mostra individual numa sobre loja na Rua Libero Badaró,
nº 20, em São Paulo, permanecendo até 9 de março. Tarsila do Amaral realiza sua primeira exposição individual em São
Paulo, no edifício Glória, início da Rua Barão de Itapetininga, nº 6 e no Rio
de Janeiro, no Palace Hotel. Mário de Andrade, Paulo Prado e Antônio de Alcântara
Machado (1901-1935) rompem amizade com Oswald de Andrade. Oswald de Andrade
separa-se de Tarsila e inicia relacionamento com Patrícia Galvão, Pagu
(1910-62). Em maio, Portinari faz sua primeira exposição individual, no Palace
Hotel do Rio de Janeiro. Em junho, embarca para a França. No Rio de Janeiro, Ismael Nery realiza exposição. O artista plástico
Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) retorna ao Brasil. Cândido Portinari
realiza sua primeira exposição individual, com 25 retratos, no Palace Hotel do
Rio de Janeiro e em seguida embarca para a França retornando ao Brasil somente
em 1931. 7 de setembro: Ismael Nery realiza sua primeira exposição individual
no Palace Theatre, em Belém do Pará.
Adendo Brasil: Acontece o Crack da
Bolsa de Nova York e o preço do café no mercado internacional cai, provocando a
falência de inúmeros fazendeiros brasileiros. Lançamento da candidatura de
Getúlio Vargas à presidência da República, em julho, pelo vice-governador do
Rio Grande do Sul, João das Neves.
1930
– Janeiro, 25, Villa está na Europa, em Paris. Em 3 de abril
e 7 de maio rege dois festivais: Festival Villa-Lobos, ambos na Salle Gaveau,
em Paris. Retorna ao Brasil chegando em Recife no dia 1 de junho, em companhia
do violonista belga Maurice Raskin. Realiza concertos nos dias 6 e 10, no
Teatro Santa Isabel. Dia 29 de junho, já está em S. Paulo, a convite de d.
Olívia Guedes Penteado. Elabora um plano de educação musical que é apresentado
à Secretaria de Educação de S. Paulo. Getúlio Vargas (1882-1954) chega ao poder
à frente de uma revolução. Nomeado interventor para S. Paulo, João Alberto
convida Villa para discutir o plano de educação musica. Ainda nesse ano compõe Bachianas
Brasileiras nº 1, 2 e 4. Segundo os críticos, a Bachiana nº 2 é a mais célebre de todas
as Bachianas. Ela é composta por: Prelúdio (O Canto do Capadócio),
Ária (O Canto da nossa Terra), Dança (Lembrança do Sertão) e Tocata
(O Trenzinho do Caipira). Sobre O Trenzinho do Caipira, uma
peças mais conhecidas de Villa, assim expressou o maestro russo André Kostelanetz
(1901-80), tradução de MB:
O “Trenzinho do Caipira” é uma das mais belas e
imaginativas páginas de Villa-Lobos. Nós a admiramos tanto que a gravamos duas
vêzes, sendo que a última vez com a New York Philharmonic completa.
(...).[35.2]
Ilustração 4 -
Villa-Lobos com a soprano Nair Duarte,
a pianista
Antonieta Rudge e, à direita, sua esposa Lucília, em 1930.
-
Consta que a situação financeira de Villa, nessa época, era precaríssima. MA
escreve nesse ano vários artigos enfocando Villa. Na sequência: descrição parcial de
alguns desses artigos, conservada a ortografia original:
Artigo A
– 2 de Julho, Diário Nacional de S. Paulo:
Que
Villa-Lobos tenha enfim no Brasil uma consagração digna dele é o que desejo.
Nós ainda não presenciamos com clareza o que ele representa para o Brasil. Por
mais que as transcrições de artigos sobre ele publicados no estrangeiro provem
a importância dele, essas transcrições não bastam para mostrar a formidável
propaganda do Brasil que Villa-Lobos faz lá fora. Ele não fixa cartazes nas
paredes do mundo, mostrando que o café é gostoso, enquanto a Colômbia planta
mais café valorizado pela nossa estupidez. Mas em compensação ele tornou o
Brasil uma coisa humana de permanência viva na consciência de milhares de
estrangeiros. Ele humaniza o Brasil lá fora. Às vezes uma revista musical
estrangeira repete nas páginas de um só número, em artigos, notícias,
programas, quatro, cinco e até mais vezes o nome dele. E não são apenas elogios
de uma consagração acarneirada e pacífica. Deus te livre! São irritações,
ataques, discussões, procuras de compreensão, notícias cuja importância os
diários aproveitam em títulos e subtítulos com grandes letras. (...).
Porque se
deu essa coisa benéfica e importante. Villa-Lobos e Brasil tornaram-se uma
coisa só na compreensão do mundo. Se é certo que essa espécie de juízo crítico
é por muitas partes falso, pois há na obra do grande compositor um número
enorme de invenções exclusivamente pessoais, que são dele e não do Brasil, ou
por outra: que são do Brasil apenas porque são exclusivamente de Villa-Lobos e
ele é nosso – não tem dúvida que essa unificação absoluta da obra de
Villa-Lobos e do Brasil veio nos beneficiar imenso como propaganda. Propaganda
que incontestavelmente jamais nenhum outro artista brasileiro realizou com
tanta eficácia a favor do Brasil.
Mas esse
artista, de uma genialidade que ninguém discute embora possam lhe discutir uma
ou outra criação, esse realmente grande compositor de uma atividade assombrosa,
de quem o Brasil está se beneficiando imensamente, nós deixamos que se debata
num angustiosa vida de aventuras musicais, virando empresário aqui, virando
virtuose de violoncelo em outra parte, se prendendo a empresas editoras que o
exploram a valer. É certo que todas essas atrapalhações de vida jamais impedem
o verdadeiro artista de produzir obras geniais. E de fato, a essa desproteção
vergonhosa, Villa-Lobos responde nos dando o Choros nº 10, o Amazonas, as
Cirandas, as Serestas e outros monumentos com que o Brasil enriquece a
música universal.[36]
ARTIGO B
- VILA LOBOS VERSUS VILA LOBOS
(Todos os artigos, de I a VII, da série
com o título: “Vila Lobos versus Vila Lobos, de Mário de Andrade, poderão ser
lidos na íntegra em: Andrade, Mário de. Musica, Doce Musica. Coleção:
Obras Completas de Mário de Andrade, Vol. VII. Livraria Martins Editora, S.
Paulo, 1963 – pp. 143 a 164. Mesmo na descrição
parcial que segue, poderemos verificar a postura de MA relacionada com os
concertos realizados por Villa, na cidade de S. Paulo, em 1930):
I
Como já
muitos sabem o número de novembro da “Revue Musicale”, de Paris, estourou
gratamente pelo Brasil a dentro, homenageando Vila Lobos com dois artigos e
retrato. Dois artigos excelentes.
Mas o que
me deixou muito imaginando é a pequena biografia com que a sra. Suzana
Demarquez inicia o artigo dela. É uma página apreensiva, com muitas coisas
verdadeiras, algumas leves inexatidões, e fantasia “charmante”. Aí se conta,
por exemplo, que o nosso grande musico, no periodo de 1909 a 1912, realizou
afinal a sua desejada viagem através das terras inda habitadas por indios,
incorporado a várias missões cientificas, principalmente alemãs. Foi assim que
poude viver da vida amerindia, observar longamente os seus colegas musicais de
tacape, assistir festas de feitiçaria, colher temas e penetrar intimamente a
psicologia dessas gentes e mais a ambiencia das nossas terras inda... não direi
que virgens, mas pelo menos ainda naquela mesma disponibilidade nupcial das
moças indígenas depois da cerimonia de nubilidade.
Todas
essa viagens de Vila Lobos através de sertões botocudissimos, seguindo
pacientes missões germânicas, me lembraram mais uma vez a apaixonada
imaginativa da sra. Delarue Mardrus, que uma feita, espaventada com as
aventuras de Vila Lobos, em Paris, escreveu sobre êle um artigo tão
furiosamente possuido de agua possivelmente alcoolica de Castalia, que o nosso
musico virou plagiario de Hans Staden. Foi pegado pelos indios e condenado a
ser comigo moqueado. Prepararam as indias velhas a famosa festa da comilança (o
artigo não diz se ofereceram primeiro ao Vila a india mais formosa da maloca) e
o coitado, com grande dansa, trons de maracás e roncos de japurutús, foi
introduzido no lugar do sacrifício. (...).
Afinal,
eu não culpo muito esta senhora que acredito mui sincera, apesar da sua
imaginação. (...).
Pois
também na vida de Vila Lobos as mulheres têm penetrado intimamente. Umas lhe
são de grande auxilio, como é o caso da esposa do musico, dona Lucilia Vila
Lobos, cujo maravilhoso devotamente desperta admiração em quantos se acercam do
inventor dos Chôros. Outras, direi, que lhe serão de curiosa
vulgarização, como é o caso desta sra. Delarue Mardrus. E que Deus as conserve
a todas pra que facilitem ao grande artista a escalada nem sempre espinhosa da
glória.
(1930).
II
Vila
Lobos inaugurou no sabado passado a série de concertos sinfonicos que veio
dirigir em S. Paulo. Antes de mais nada, carecemos compreender bem toda a
extraordinaria importancia dessa temporada. Os oito programas estão repletos de
novidades e só por isso têm um valor excepcional. Mas além disso teremos uma
demonstração especial do temperamento de Vila Lobos como regente. (...). Vila
Lobos tem dirigido algumas das milhores orquestras europeas. AS suas
interpretações interessam sempre e nelas, aliás, se revela o mesmo temperamento
viril, audacioso, impetuoso, com que as composições dele já nos familiarizaram.
Nada de preciosismos e de subtilezas barrocas: uma concepção global das obras,
sempre decisiva e sempre inventiva. Isso provou mesmo a interpretação do Primeiro
Concêrto Brandenburguês, de Bach, sabado, com a curiosa substituição do
violino pequeno por um violinofone. O efeito ficou curiosissimo, e
especialmente o timbre no segundo tempo, casando-se admiravelmente o timbre do
violinofone com o de certos instrumentos de sôpro.
Do
programa constavam ainda, em primeira audição, as Saudades do Brasil de
Dario Milhaud, que já fizeram a volta ao mundo.
(...).
Acabaram
o espetaculo as já célebres Dansas Africanas de Vila Lobos. Não tenho
mais o que dizer sobre essas tres peças que estão entre o que de milhor existe
na primeira fase do grande musico. Sempre é curioso notar porêm que entre os
indios de Mato Grosso, (pelo menos é o que conta Vila Lobos...), êle tenha
encontrado uma escala maior com a quarta aumentada, escala essa que freqüenta o
populario musical nordestino, como já demonstrei no “Ensaio”. Será pois mais um
dos raros elementos que ficam da influência amerindia dentro do homem
brasileiro atual.
(15 – VII
– 1930).
III
Realizou-se
ontem o sexto concêrto mensal da Sociedade Sinfonica de S. Paulo. Regencia de
Vila Lobos.
A vinda
de Vila Lobos a S. Paulo pra esta temporada sinfonica, levantou um certo número
de problemas.
Estabeleçamos
desde logo algumas verdades sobre o genial compositor como regente. Vila Lobos
é um grande regente? Para uma porção de espiritos faceis que vivem dentro da
rotunda felicidade ou da inveja, a resposta é simples. Um adorador de Vila
Lobos diz logo: é um grande regente. Um “inimigo” responderá com a mesma
certeza: é um pessimo regente. Mas por infelicidade nossa o problema é
bem mais complexo que êsse b-a-bá de sordidos despeitos e entusiasmos
desculpaveis.
Esta
claro que não podemos comparar Vila Lobos regente com um Furtwaengler, um Toscanini,
um Nikish. Simplesmente porquê êsses são profissionais da regencia, fizeram
dela uma carreira de virtuosidade, e nada têm mais que fazer na vida que
conceber um Beethoven deles e em seguida arranjar todos os fás sustenidos.
Ora o que
explica Vila Lobos regente, é justo essa circunstancia dele não ser virtuose
profissional de orquestra. O que faz não são tolices, são invenções, dados
característicos de personalidade. E sempre explicados e defendidos com uma
paixão que é só mesmo dêsse homem extraordinario, inteiramente destituido da
prática da vida, e que vive em familia com os vesuvios. Disso vem serem sempre
interessantissimas as interpretações dele. Chegam mesmo a ser ás vezes
notaveis, como a execução da Protofonia do Guaraní o ano passado,
e o Pacific de ontem. E mesmo quando certas “invensões” dele possam ser
discutiveis, como por exemplo, a substituição do Violino Pequeno por um
Violinofone, no Concêrto de Bach, nem por ser discutivel, a substituição
deixou de ser curiosa.
O que
distingue Vila Lobos como regente é a sua mesma personalidade de compositor, já
falei na crítica passada e sou obrigado a repetir, Violento, irregular,
riquissimo, quase desnorteante mesmo na variedade dos seus acentos, ora
selvagem, ora brasileiramente sentimental, ora infantil e delicadissimo, (As Cirandinhas
como perfeição de infantilidade musical encontram rarissimos rivais na
literatura universal). Está claro que um temperamento desses não pode dar um
cinzelador. De todos os artistas que conheço Vila Lobos é o mais incapaz de
fazer crochê.
As peças
que interpreta, êle as concebe em blóco, numa totalidade que não deixa de ser
insatisfatoria, eu sei, mais que é perfeitamente legítima.
Na
concepção que Vila Lobos tem que interpretação sinfonica, o que o prejudica em S.
Paulo é a propria constituição ainda atual das nossas orquestras. Na Europa a
direção dele tem sido sempre eficiente porquê as orquestras de lá são
mecanismos já tradicionalizados e maleaveis que podem seguir perfeitamente as
intenções dele. E a prova é que, si ainda discutido por muitos como compositor
(e isso apenas o honra e distingue em meios europeus ainda mais subservientes
ao anúncio e ao pagamento que os nossos), não sei que se tenha registrado
ataque à regencia dele.
Mas é que
lá Vila Lobos é respeitado como merece e lida com professores de orquestra
arregimentados. Aqui, infelizmente os professores de orquestra ainda não
compreenderam o pouco caso que fazem deles, alguns dos que os manejam. Vivem
sendo vítimas de pequenas decepções, de vaidadinhas ofendidas, e principalmente
instrumentos duma porção de interesses que não são os deles. (...).
E não se
diga que Vila Lobos não tem paciencia pra pormenorizar uma execução. Não foi
isso que quis dizer afirmando que êle concebia as obras em bloco. Sabe sim,
basta ver a maneira respeitosa com que pretendeu executar a Setima de
Beethoven. (...).
Muito
leitor ha-de estar sarapantado com estas discussões que parecem extemporaneas.
Não são não. Esses leitores não sabem que inferno é o meio musical paulista. Não
sabem que nos bastidores se trava uma luta de interesses e vaidades, de que, no
caso presente, são protagonistas alguns músicos importados, muitos de
nacionalidade duvidosa, cujo fito um dia foi fazer America. (...).
(...).
A
Sociedade Sinfonica, em cujos átos não influo de especie alguma, fez muito bem
em tomar o maestro Lamberto Baldi pra seu regente. Era o que S. Paulo possuía
de milhor, infinitamente superior a qualquer outro daqui, e com valor legítimo
em qualquer terra. Mas S. Paulo tem perfeitamente lugar para mais um regente.
Tanto mais quando se trata de Vila Lobos, uma gloria nacional,
incontestavelmente mais legítima que o sr. Presidente da República ou o conde
Matarazzo...
Infelizmente
não é mais possivel qualquer crítica ao concêrto de ontem. Não posso assim
falar da peça de Cools, que é a obra-prima... dêse autor, nem da “Burlesca” de
Copola que foi o milhor momento da noite como execução. Interessava ainda mais
falar sobre o Curuçá de Camargo Guarnieri, um bocado prolixo não tem
dúvida, mas com momentos deliciosos de invenção, e equilibrio polifonico
excelente.
(29-VII-1930).
IV
(...).
A
temporada Vila Lobos, que devido á complacencia honrosa de varias sociedades, o
grande compositor está realizando em S. Paulo, é um dêsses momentos em que
desejaria ser um livre espectador de vida, pra poder me divertir á vontade.
Porquê é incontestavel: nunca o meio musical paulista sofreu um malestar mais
divertido que o despertado nele pela temporada Vila Lobos. Mas não quero dizer
já tudo o que sei e sinto sobre essa temporada. Só no fim dela estudarei com
esta minha franqueza que tanto sarapanta este magno pomar de hipocisias que é o
nosso meio musical, as consequencias, os defeitos, os erros e os valores desta
já famigerada série de concertos.
O festival
Florent Schmidt, realizado ontem sob os auspicios da Sociedade Sinfonica de S.
Paulo, foi o momento em que culminou o malestar em que estamos.
O que foi
o festival de ontem? Um fracasso. Por um mundo de razões. Florent Schmidt é uma
das personalidades mais curiosas, mais nitidas, mais apaixonantes da musica
viva. Mas, como tantas vezes se dá, a personalidade de Florent Schmidt é muito
mais interessante que a música dele.
(...).
O
programa também era defeituosissimo. Longo, destestavelmente longo. Mato o
público. (...).
Mas a
falsificação do programa não consistia apenas no tamanho. Consistia na escolha
das peças centrais. (...).
Tudo isso
é muito triste e vou tocar nas falsificações comicas. Houve pelo menos duas.
Uma foi a do público, pelo menos parte do público, que se retirou depois do
intervalo, deixando o teatro semivazio. Isso é duma inocencia deliciosa!
Porquê
ser retiraram? Se retiraram muitos porquê Vila Lobos é considerado um musico
“futurista”. Logo: música dirigida por êle é logicamente futurista e
necessariamente incompreensivel. Mas que riso gosado havia de ter o cultissimo
Florent Schimidt sabendo que em S. Paulo, muita gente... julgou (!) não
entender essa delicia de sabedoria, tão á Rimsky pela sensibilidade, que é a Tragedia
de Salomé! Aquilo não tem nada de futurista. Aquilo é facil de entender,
como beber agua. Aquilo é bem feito, é gostoso e não fez adiantar um passo á
evolução musical. E por sinal que esteve bem dirigida. Orquestra sonora,
equilibrada, até com vivacidade de colorido, coisa que sob a direção de Vila
Lobos ela tanto vai perdendo.
A ultima
falsificação que desejo apontar é a dos que gosaram com o fracasso de ontem.
São seres despreziveis, está claro, mas vale a pena a gente se apoiar sobre
êsse chão pra se sentir mais elevado. (...). A temporada Vila Lobos que ela
coadjuva em maxima parte, ainda é um ato admiravel de benemerencia, com que a
Sociedade [Sinfonica de S. Paulo] não hesitou em ir de encontro a muitas
concessões imbecis da vida musical paulistana, para demonstrar as intenções
firmes com que vem alargando os horizontes musicais curtissimos desta nossa
desvairada Paulicéa. Ora uma sociedade assim, está claro que terá muitos
inimigos. (...). Não porquê êste fracasso “tenha sido um triunfo”, como se
costuma dizer em futeból, quando a gente está de cabeça inchada. Não foi
triunfo pra ninguem não. Mas foi uma manifestação de vitalidade, vitalidade
capaz de julgar por si, de se apaixonar, de reagir. Esse é um benefício imenso
num meio musical que tem vivido de venalidade, de carneirice, de professorado
fazedor de America, de trusts editoriais capitalistas, de ignorancia, de
improvisação e recitais de alunos. E esse benefício nos deram a Sociedade
Sinfonica de S. Paulo por todos quantos a compõem, a temporada Vila Lobos.
(27-VIII-1930).
V
A
Sociedade de Cultura Artistica ofereceu domingo passado aos socios, no
Municipal, mais um concêrto sinfonico, sob a regencia de Vila Lobos.
O
programa, tão interessante como todos os outros que o grande compositor nos vai
proporcionando, tinha como principais momentos a revelação de várias obras
ineditas de Homero Barreto e o reaparecimento de Antonieta Rudge como solista.
(...).
(2-IX-1930).
VI
AMAZONAS
A
Sociedade Sinfonica de S. Paulo cuja vida, apesar de tudo, continúa duma intensidade
magnifica, nos deu ontem o último concêrto que lhe competia nesta temporada
Vila Lobos. O programa culminava em interesse pela apresentação do poema
sinfonico Amazonas do proprio Vila Lobos. Hão-de me permitir pois que
fale exclusivamente sobre essa obra importantissima que está entre as mais
completas e principalmente entre as mais perfeitas do grande compositor. No
geral as obras longas de Vila Lobos nunca chegam a me satisfazer integralmente.
Está claro que diante de manifestações tão novas, tão inusitadas como por
exemplo o Noneto, o Mono Precoce, muito provavelmente a
insatisfação pelo total, apesar das belezas numerosas que encontro nessas
obras, provirá de insuficiencias minhas, que não me permitem seguir
inteiramente o pensamento e as intenções de Vila Lobos. D’aí, nessas obras,
certas passagens me parecem inexplicaveis, certas quedas bruscas de movimento
criador, certas faltas de logica no sentido musical, que não consigo digerir
inteiramente. (...). Ha realmente dentro da personalidade musical de Vila Lobos
uma permanente falta de autocritica, uma perigosa complacencia para consigo
mesmo, que lhe permite aceitar com facil liberalidade tudo o que lhe dita a
imaginação criadora. (...). Em geral nas peças grandes de Vila Lobos são raras
as que não apresentam assim longueurs desnecessarias, desenvolvimentos
que não adianta nada á arquitetura ou valor expressivo, momentos enfim que uma
severidade crítica acordada não permitiria existissem. E por isso me é
gratissimo saudar obras como os “Chôros nº 8”, ou nº 10 e êste Amazonas
que chego a compreender e a admirar integralmente.
(...).
Um
detalhe critico que não quero silenciar é que com o Amazonas, Vila Lobos
se afirma nessa música-natureza em que dum certo tempo prá cá êle vinha se
desenhando. (...).
Esses
elementos, essas fôrças sonoras são profundamente “natureza”, e o pouco que
retira da estetica musical amerindia, não basta para localiza-la como música
indigena. É mais que isso. Ou menos, si quiserem. Não é brasileiro também: é
natureza. Parecem vozes, sons, ruidos, baques, estralos, tatalares, simbolos
saidos dos fenomenos meteorologicos, dos acidentes geologicos e dos sêres
irracionais. É o despudor bulhento da terra-virgem que Vila Lobos representa,
milhor nesta obra que em nenhuma outra. Representação de que o Noneto
creio foi a primeira em data das tentativas, e de que já os Chôros nº 7
foram uma exposição excelente.
Música
aprendida com os passarinhos e as féras, com os selvagens e os tufões, com as
aguas e as religiões primarias. Música da natureza, junto da qual a 6ª
Sinfonia ou o Siegfried (não como beleza, está claro, mas como
significação cosmica) não passam de amostras bem educadinhas de natureza, pra
expor nas vitrinas, natureza já comercializada, limpinha e vestida na
civilização cristã.
Nada
conheço em música, nem mesmo a barbara “Sagração da Primavera” de Stravinski
(aliás de outra e genialmente realizada estetica) que seja tão, não digo
“primario”, mas tão expressivo das leis verdes e terrosas da natureza sem
trabalho, como a música ou pelo menos, certas músicas de Vila Lobos.
E paro
exausto sem ter enumerado todas as belezas e particularidades que julgo ver e
pude amar neste poema. Todo êle é duma logica musical estupenda e duma
qualidade alta que não desfalece, todo tão habilissimo que atinge a
virtuosidade de composição. Me sinto feliz por demais em saudar obra tão bonita
pra estar agora lascando algumas indiretas pesadas aos que negam a Vila Lobos a
ciencia de composição. Não vale a pena. Ele tem antes de mais nada a preciencia,
que poucos podem ter... Fossem os compositores que possuimos agora outros
tantos Vila Lobos e a música brasileira seria a maior do mundo, isso é que eu
sei.
(25-IX-1930).
VII
Realizou-se
o último concêrto da temporada que Vila Lobos organizou êste ano em S. Paulo.
Chegou o momento de observar com calma os resultados do movimento
interessantissimo que o grande musico levou a cabo com uma pertinacia
inconcebivel. Sentindo pela frente dificuldades e oposições ás vezes ferozes,
Vila Lobos, pra conseguir o que pretendia, não hesitou mesmo em sufocar os
movimentos mais expontaneos de amor-proprio, agüentando desacatos penosos. Mas
tenho que constatar: nem sempre a razão esteve com êle. O grande compositor,
como em geral toso os artistas excessivamente artistas, é uma personalidade
complexa por demais. Dentro dele as violencias, os erros, as grandezas, os
defeitos, os valores, se realizam sem controle, sem nenhuma organização social,
Vila Lobos, é um bicho do mato.
Não tem
dúvida pois que um temperamento dêsses é dificil de manejar no terreno das
relações práticas. Não só da parte dele os erros de procedimento se acumulam,
como da parte dos outros toda reação que não seja ditada pela própria admiração
ao compositor, é duma tolice vergonhosa. E uma impiedade, que ás vezes chegou
êste ano a ser infamante pra quem agiu contra o músico. Só foram realmente
nobres os que, sem porventura lhe ignorar os defeitos, souberam defender Vila
Lobos, auxilial-o, condescender com êle na medida em que isso não importava em
nenhuma desvalorização ou prejuizo social. Porquê só assim um artista do
temperamento de Vila Lobos, bicho do mato, anjo maluco ou criança genialissima,
como quiserem, póde realizar a obra que nos herdará e da qual o Brasil já está
beneficiando enormemente.
A temporada
que Vila Lobos realizou aqui foi realmente grandiosa nas suas proporções. Como
resultado, quer socialmente, quer no dominio desinteressado da arte, foi um
conjunto desnorteante de belezas, aguas-mornas, valores e prejuizos. Não é
possivel enumerar todos. No geral as execuções foram insatisfatorias. Vila
Lobos não é um bom regente. Pelo menos para as nossas orquestras que, além
de desorganizadas, são compostas de professores muito irregulares, alguns
chegam a ser otimos, outros chegam a ser absolutamente insuficientes. Pra reger
orquestras assim é preciso ter, além duma grande tecnica de regente, a
paciencia, a habilidade diplomatica. E isso então o autor dos Chôros jamais
teve nem jamais terá. Haja vista o artigo feio que, homenageador de Julio Prestes,
escreveu sobre a Música Revolucionaria... Revolucionaria falo, de João Alberto.
Faltam a
Vila Lobos várias qualidades que se tornam imprescindiveis a um regente. A sua
propria vida angustiosa e variada não lhe permite se dedicar ao estudo
minucioso das partituras. Isso ás vezes o escreviza de tal forma á leitura das
obras, durante a execução que êle não pode ter aquele dominio indispensavel do
regente sobre os regidos. É psicologico: os musicos não têm confiança, não se
deixam dominar por quem está sendo dominado por uma partitura. Perdida a
confiança, pode-se bem compreender que já não é mais possivel execução
perfeita.
Mas não é
apenas nisso que a regencia de Vila Lobos se vê prejudicada. A redondeza de
gesticulação, a audição-absoluta irregular, a insegurança interpretativa de
movimento que êle tem, como Beethoven tambem tinha, são ainda circunstancias
prejudiciais a um regente bom.
Mas si
confesso com franqueza estas coisas, estou longe de afirmar que Vila Lobos
esteja impossibilitado de reger.
Póde reger
perfeitamente, e mesmo, pela originalidade excepcional do seu temperamento,
póde nos dar ás vezes interpretações interantissimas. E nos deu várias. Porêm
pra que possa reger com eficacia, um artista nessas circunstancias tem de
contar, antes de mais nada, com a dedicação dos musicos de orquestra. E com
esta Vila Lobos conta na Europa, porquê lá o respeitam e as aparições dele como
regente são episodicas. Mas aqui, terra desabusada, ninguem respeita ninguem.
E, fôrça é confessar, o conhecimento de que a regencia de Vila Lobos não era
episodica, mas duraria por oito concertos, desculpa em grande parte a
má-vontade dos musicos.
Mas si a
má-vontade dêstes é, pois, mais ou menos explicavel, é indesculpavel o que
muitos deles fizeram. Houve de tudo. Não teve quasi desacato que possa fazer a
um regente, que muitos musicos da orquestra não tivessem praticado.
Recusaram-se
a tocar músicas determinadas pelo regente. Grande parte da culpa aqui cabia
tambem ao regente, querendo impor as professores a execução dum compositor
paulista por eles todos, e parece que com razão repudiado. Mas tambem o resto
da culpa é dos professores, que colocam seus odiosinhos pessoais como criterio
de julgamento de obras-de-arte. O compositor podia ser odioso como
personalidade, mas valiosa a música.
Não
pararam aí, porêm, os desacatos que alguns musicos da orquestra fizeram Vila
Lobos sofrer. Era incrivel nas execuções públicas, os olharezinhos que muitos
dêsses professores se trocavam a cada erro ou vacilação; alguns chegaram a rir francamente!
E isso ainda é pouco si se souber que o violino espala chegou a derrubar o arco
quando estava em execução! Eu quero saber no mundo qual foi até agora o musico
que se preze, que tenha derrubado o arco em execução pública. Si não me
apontarem nenhum, eu afirmo que a um, não posso dizer artista, a uma pessoa
dessas está esgotada a consideração. E isso ainda é pouco (!!!) si se souber
que outra... pessoa da orquestra se gabou de durante uma peça qualquer, ter
executado em surdina o Hino Nacional brasileiro, sem que o regente percebesse!
Não é possivel a gente classificar uma coisa dessas. Esse pobre moço, que aliás
é de pouquissimo ou nenhum valor, tão vaidoso é tambem, que imagina ter
conquistado Tripoli? Se engana. Conquistou apenas a sua propria desmoralização.
(...).
Bastam
êsses casos lamentaveis pra indicar o grupo com que Vila Lobos tinha que...
lutar. Está claro que muitos musicos na orquestra não incorrem nestas censuras
particulares, porêm mesmo assim houve de todos o que chamei de falta de
dedicação.
Tivessem
na regencia quem quer que fosse (e Vila Lobos não é um qualquer), infelizmente
incorrem na censura da indisciplina.
Mas a
culpa não era só deles não. Vila Lobos, nem que morres de fome, não devia se
conservar na regencia. Não é feio ceder quando isso resulta em bem comum. Todos
viamos entristecidos que a Sociedade Sinfonica de S. Paulo, iniciada
gloriosamente, cujos primeiros concertos foram dos mais belos que já se
conseguiu no Brasil, todos viamos entristecidos a degringolada em que ela ia.
Fuga de socios, combate mesquinho de pseudo-compositores, abatimento na
orquestra, impossibilidade dos jornais perseverarem numa critica pragmatica,
injustiça de programas que só muito mal representavam a música brasileira, sem
nomes como os de Henrique Osvaldo, de Lourenço Fernandez, de Luciano Gallet.
Porquê infelizmente nem o proprio Vila Lobos se isenta da acusação de crítica
partidaria. A Sociedade, que Vila Lobos recebeu em plena pujança, em
unanimidade vitoriosa, êle a deixa nas portas da morte. Isso em grande parte
por culpa da pertinacia nem sempre razoavel dele.
(2-XII-1930).
São
Paulo, 16 de novembro de 1930.
Manu,
(...).//Queria
muito conversar com você sobre o Villa que inda está aqui e cuja nem voz por
telefone posso aturar mais, ôh sujeito cansativo! Se fosse só cansativo. Mas
você não imagina o homem que ele virou depois que não sei se o traquejo das
viagens e dificuldades duras o desnaturaram por completo. Por causa dele afinal
é que a Sociedade Sinfônica levou com os burros n’água. Prejuízos que parece
Dona Olívia pagou, dissensões lá dentro entre a dedicada secretária e a
presidenta, fadiga nos demais irritados com o procedimento dos músicos de
orquestra que aliás, afora o conceito de disciplina, tinham todas as razões pra
desrespeitar o Villa. Que gênio esquisito! Pois o certo é que nem afinação fixa
ele tem! E imagine o que é isso pra quem pretende dirigir orquestra. Enfim uma
miséria. Fico é pensando que quando ele enxerga uma criança cai em êxtase
quando tem dinheiro no bolso gasta com o companheiro que estiver junto, enfim
fico pensando que das maiores misérias sai flor e está claro que falo estas
coisas pra você e que continuo defendendo embora com mais reserva o grande músico
brasileiro.
(...).
Mário[37]
-
20 de novembro: MB escreve a MA mencionando Villa:
Rio de
Janeiro, 20 [de novembro de 1930].
Mário.
(...).//A
propósito do Villa há um trecho de sua carta que achei engraçado, o que se
refere à falta de afinação do Villa. Você vai ver porquê. Lembra-se de um meu
amigo velhinho, o “seu” Vasconcellos? Tenho uma vaga lembrança de que o
apresentei uma vez a você. Vaga lembrança nada! Certeza, foi com ele que fomos
à casa do Mota (o da boa vitrola e uma porção de filhas). Foi com o bom
Vasconcellos que aprendi a tocar violão. Pois Vasconcellos conheceu o Villa
quando nele nem se sonhava que um dia pudesse dar nada. Naquele tempo o Villa
era tocador de violão e foi tocar em uma casa onde também esteve o
Vasconcellos. Diz o Vasconcellos que durante todo o tempo o Villa tocou com o
mi-bordão desafinado clamorosamente. Por causa desse bordão desafinado o
Vasconcellos nunca quis tomar a sério a genialidade do Villa. Toda vez que eu
catequizava o Vasconcellos eu sentia que no labirinto do Vasconcellos estava
teimosamente assentada no débito do Villa o quarto de coma que faltava ou
sobrava a aquele mi do violão do Villa. Eu sempre pensei que fosse talvez
defeito do ouvido do Vasconcellos, mas agora que você está falando nisso já estou
mais disposto a acreditar que o Vasconcellos tinha razão. E a tirar também como
consequência que o que faz o músico não é só o ouvido, como dizem,, pois se
pode ser um grande músico e ter mau ouvido.
(...).
Ciao.
Abraços do
M.[38]
Adendo Cultural: A Casa Modernista,
de Gregori Warchavchik, à Rua Itápolis 119, no bairro Pacaembu, em São Paulo, é
aberta à visitação pública, em março, com a “Exposição de uma Casa Modernista”.
Tarsila do Amaral é indicada por Júlio Prestes como conservadora da Pinacoteca do
Estado de São Paulo, permanecendo até outubro, perdendo o emprego após a queda
do governo de Prestes. Lúcio Costa (1902-98) assume a direção da Escola
Nacional de Belas Artes. Drummond de Andrade (1902-87) publica seu primeiro
livro Alguma Poesia. Brecheret
realiza Mostra Individual em São Paulo. Vicente do Rego Monteiro participa na
Galerie Zak, em Paris, da Première
Exposition du Groupe Latino-Américain de Paris. Manuel Bandeira publica: Libertinagem. O Poeta Guilherme de
Almeida é eleito para a Academia Brasileira de Letras. Ano da fundação da
Associação Brasileira de Música, por Luciano Gallet (1893-1931).
Adendo Brasil: Em 1º de maio
ocorrem eleições para presidente e vice-presidente da República. O
vice-presidente, João Pessoa, na chapa formada pelos opositores dos paulistas
que tinha Getúlio Vargas como candidato principal, foi assassinado na Paraíba
no dia 26 de julho, agravando a crise política. O movimento de insurreição que
saiu do Rio Grande do Sul fez com que o ainda presidente Washington Luís fosse
deposto pelas forças armadas no dia 24 de outubro, colocando uma Junta
Governativa Provisória formada por Tasso Fragoso, Mena Barreto e
Isaías de Noronha no poder. Assim, em outubro deflagra-se a
Revolução, que encerra a República Velha. Júlio Prestes (1882-1946) é eleito
Presidente do Brasil. A 15 de novembro instala-se o Governo Provisório,
presidido por Getúlio Vargas que assume o poder através de Golpe permanecendo
até 1945. Em novembro, 14 e 21, foram criados os Ministérios da Educação e do Trabalho.
1931
– Inicia em janeiro,
extensa turnê artística pelo interior de S. Paulo (mais de 50 cidades),
juntamente com outros artistas: os pianistas Souza Lima (1898-1982), Guiomar
Novaes (1894-1979), Antonieta Rudge (1885-1974) e Lucília Villa-Lobos, e ainda
o violonista belga Murice Raskin e a cantora Nair Duarte Nunes. A primeira
cidade que recebeu a chamada “Excursão Artística” foi Campinas - SP, em 20 de
janeiro. 9 de maio: Villa promove um ensaio geral com mil vozes,
no Teatro Municipal de S. Paulo. 31 de maio: na cidade de S. Paulo, organiza a
primeira concentração orfeônica, sob o nome de Exortação Cívica, que teve a
participação de mais de 12 mil vozes. 21 de outubro: realiza outro concerto em
S. Paulo, regendo uma orquestra com 500 executantes. Compõe as Bachianas
Brasileira n.º 4 e Quarteto de Cordas n.º 5. Yan de Almeida Prado se
encontrava em Paris e recebeu carta de MA, datada de 7 de março, narrando o
episódio do Villa que mantinha contato com a ala política
de Getúlio Vargas. Segue trecho da referida carta:
“(...).
//Mas quem você carecia estar aqui para gosar agora é o Vila. Está uma delicia
da gente chorar por si de vergonha do mundo. Nem bem revolução venceu, Vila
deitou entrevista contando que sempre fora revolucionário, que Julio Prestes e tutti
quanti eram uns safadões, que sempre escrevera música revolucionária, que
até tinha uns hinos de 1924 e em 18 centos e não sei quantos que já eram
revolucionários e que a Polícia do Rio, tinha proibido. Mas que agora ia lançar
os tais hinos. Virou assecla de João Alberto e famulo musical do Palacio.
Mandou dona Olívia às urtigas e a delicia é que ela, já sabe, por elegância de
espírito, continua gostando muito dele e achando que a gente precisa de
proteger ele. Mas uma feita num teatro em que o Vila estava numa frisa em
frente da dela, eu falando que os músicos eram todos uns canalhas de merda, ela
perguntou: “Até aquele que está lá em frente?” Eu esgotado: Até aquele. Isso
ela perdeu as estribeiras de gentildama, deu uma gargalhada que se ouviu no abaixopiques,
de tão gosada. Percebi tudo. Sou perspicaz. Mas o mais engraçado é que o Vila
mandou publicar imediatamente os tais hinos e foi se ver... não era ninguém:
umas bobaginhas apressadas, que não valem nada musicalmente e com os textos
mais inocentes deste mundo. Sube até que ele depois percebeu isto e isso num
discurso na Escola Normal, porquê ele está preparando uma cantoria dos tais
hinos por 25 mil pessoas! Ele disse que os hinos foram proibidos pela Policia
porquê tinham nacionalismo por demais, podia ofender estrangeiro!!! Esta é
autêntica e guardo pra seu goso. Outras ainda ele tem feito e a última parece
que é ter brigado comigo pelo que me falaram. Bota a boca em mim, diz o diabo
não sei si é verdade. Está claro que não brigo com ele, fico na maciota
contemplando e gosando. No fundo com um imenso dó porquê parece mesmo (e foi
confissão dele pra mim num dia de confissões e vinho) parece mesmo que ele não
dá mais nada. Tinha chegado o momento de erudição ajudar e suprir a invenção,
como está fazendo com Stravinsky e tantos mais, mas cadê erudição? E o coitado
tem feito umas musiquinhas pra agradar, duma bestice palmar. Enfim... (...)”.[39]
- MA, no seu Musica, Doce Musica, mencionado
na descrição de 1930, em A Música no Brasil, p. 19, assim escreve sobre Villa:
Os
nossos compositores atuais têm trabalhado por reforçar a tradição indigena em
nossa música artística. De todos, quem mais se salientou nessa orientação foi
Heitor Vila Lobos, cuja fama hoje é universal, incontestavelmente a mais forte
de todas as manifestações musicais do homem brasileiro (“Serestas”, “Ciranda”,
“Cirandinhas”, edições da Casa Arthur Napoleão). Aspero, verdadeiramente
barbaro como temperamento, Vila Lobos assimilou perfeitamente as fôrças
primarias da música indigena, e delas tirou uma riqueza excepcional de
inspiração, quer sob o ponto-de-vista de invenção ritmico-melodia, quer como
riqueza de efeitos de orquestração. São numerosos os temas originais indigenas
de que o grande compositor tem se utilizado nas suas obras sinfonicas. E ainda
são notaveis as harmonizações que fez para cantos conservados em fonogramas do
Museu Nacional do Rio de Janeiro (“Nozani na Orekuá”, “Teirú”, “Uirô Mokocê
ce-maká”, ed. Max Eschig, Paris).
Adendo Cultural: 26 de janeiro: morre no Rio de Janeiro o
escritor Graça Aranha. 15 de março: MA, Paulo Prado e Alcântara
Machado lançam a Revista Nova. Através do Decreto
nº 4.965, de 11 de abril, em São Paulo, é dissolvido o Pensionato Artístico e
criado o Conselho de Orientação Artística. 9 de junho: morre no Rio de Janeiro: Henrique
Oswald, carioca nascido em 14 de abril de 1852, pianista, compositor,
concertista e diplomata brasileiro. Em 15 de junho, Tarsila do Amaral, que estava em Moscou juntamente com o
médico Osório César (1895-1979), realiza exposição individual e a conferência “A Arte no Brasil”, no Museu de Arte
Moderna Ocidental. 28 de
junho: morre no Rio de Janeiro o musicólogo e compositor: Luciano Gallet. O arquiteto Lúcio Costa assume a direção da
Escola Nacional de Belas Artes. Em setembro: Anita Malfatti, MB, Portinari
e outros, participam do júri da 38º Exposição Geral de Belas Artes, inaugurada
em 1º de setembro, denominado Salão
Revolucionário ou Salão de 31 e
ainda Salão dos Tenentes, no Rio de
Janeiro, com organização do arquiteto Lúcio Costa. Oswald de Andrade e Patrícia Galvão (Pagu),
fundam o jornal O Homem do Povo. Em
novembro: Lasar Segall realiza Exposição Individual na Galeria Vignon, em Paris.
Adendo Brasil: 18 de abril: através do Decreto nº 19.890,
institui-se o ensino obrigatório de Canto Orfeônico nas escolas do Município do
Rio de Janeiro. 12 de outubro: inauguração da estátua do Cristo Redentor, Rio
de Janeiro.
1932 – A convite de Anísio Teixeira (1900-71),
radica-se no Rio de Janeiro. É nomeado para o cargo de Diretor da
Superintendência de Educação Musical e Artística das Escolas Públicas do RJ
(SEMA), especialmente criada para ele. À frente da entidade, coloca em prática
suas ideias educacionais: a instituição do ensino obrigatório de música e canto
orfeônico nas escolas. Cria o Curso de Pedagogia de Música e Canto Orfeônico,
de onde surgiu o Orfeão de Professores do Distrito Federal. Compõe o Guia
Prático, com harmonizações de temas folclóricos. Escreve um Memorial ao
Presidente da República Getúlio Vargas, em 12 de fevereiro, reproduzido no Jornal
do Brasil, mencionando o quadro horrível em que se encontrava o meio
artístico brasileiro. Solicitava do Presidente estudos para encontrar um meio
prático e rápido para suavizar a situação. Nos dois últimos parágrafos daquele
memorial, assim escreveu Villa:
“Mostre
Vossa Excelência senhor presidente, aos derrotistas mentirosos ou aos
pessimistas que vivem não acreditando num milagre da proteção do governo às
nossas artes, que Vossa Excelência é de fato o lutador consciente e realizador,
tornando, incontinenti, uma realidade o Departamento Nacional de Proteção às
Artes. //E com isto Vossa Excelência terá salvo nossas artes e nossos artistas,
que bendirão toda a existência de Vossa Excelência. – Seu humilde patrício, //(a)
H. Villa-Lobos”.
-
Junto ao documento Villa anexou uma estatística de mais de 34
mil artistas desamparados, entre os Estados do Brasil. Maio: Villa cria o Orfeão de Professores, coral com
alunos do Curso de Pedagogia da Música. Em 24 de outubro, data do aniversário
da Revolução, conseguiu reunir no campo do Fluminense Futebol Clube, um coral
formado por alunos de escolas e do Instituto de Educação e do Orfeão de
Professores, num total de 18 mil vozes. Villa
foi duramente criticado por vários intelectuais da época que condenavam essa
sua atitude de estar apoiando Vargas. Oscar Guanabarino não perdeu a
oportunidade de criticar. Guilherme Figueiredo foi outro que condenou Villa pelo apoio a Getúlio (Ver no ano de 1942 desta
postagem, carta de MA a Guilherme Figueiredo sobre esse assunto). MA foi outro que se indispôs com Villa nessa ocasião e pelo mesmo motivo.
Sabemos que boa parcela dos paulistas era contrária ao governo de Vargas. Em
carta de 20 de janeiro de 1933, de MA para Prudente de Moraes, neto, podemos
ter uma noção mais exata dessa postura de MA – (O original dessa carta pertence
ao acervo Fichário Analítico: 1813, Villa-Lobos. Arquivo MA - IEB-USP,
como segue:
“S.
Paulo, 20-1-33
“Pru.
“Talvez
seja melhor assim, não falarmos no assunto vivo que interferiu conosco, a
revolução. Não que pudesse haver briga entre nós por causa dele: se da minha
parte, que é a apaixonada, sinto a impossibilidade dessa briga, da sua que é a
do intelectual, é justo que ela seja impossível também. Mas é assunto que, com você,
me causaria um sofrido malestar, e eu via com verdadeira desgraça o momento em
que carecesse falar nele com você. Sei que, embora estejamos intelectualmente
pertíssimo um do outro, uma diferença irremovível de atitude nos separa
irremediavelmente. Afinal chegou a tão esperada e bem temida carta de você.
Você é carioca, Pru, fagueiro e da substância do ar. Não de água, que toma a
forma de qualquer recipiente: de ar, que escapole à modalidade dos recipientes.
Eu, que me gritei um dia ‘bailarino brasileiro’ sou bailarino mas é nada, não
sei bailar. Peso mil quilos. Não de lealdade, que o ar também é leal, mas de
pedra no caminho. Se eu escrevesse pra você, tinha que mover a pedra. Você
compreendeu que a única solução era não mover a pedra e não moveu.
“Você me
pergunta o que penso do Quarteto Brasileiro nº 5, do Vila, e já não me é
penoso falar nesse cachorro. É que um quarteto bem Brasil, não tem dúvida,
misturada fabulosa de valores e imundícies, de prazeres reais e promessas que
não serão cumpridas.
“Pouco
antes da revolução de 30, o Vila Lobos, que aliás, com certa discreção, já
lambera o cu do Carlos de Campos, dedicava um concerto a Júlio Prestes. Nem bem
a revolução venceu, esse indivíduo publicou uma entrevista de insulto aos
vencidos, dizendo que fora revolucionário desde 1500 e até compusera
avant-la-lètre um hino da revolução que a polícia carioca proibira.
Escreveu algumas musiquices patrióticas, e diariamente, aqui, largava da
inocência, para ir lustras as esporas com que João Alberto estragou irremediavelmente
os tapetes civilizados dos Campos Elíseos.
“Bem: o
Vila, de amoral inconsciente que sempre fora, e delicioso, virara canalha com
sistema, e nojento. Mudança tão violenta assim, de contextura moral, havia
necessariamente de afetar a criação afetou mesmo. A produção musical do Vila
baixou de sopetão ao quase nada, como valor. Compôs uns hinos, uns coros, umas
transcrições de fugas de Bach para celo e piano e umas pecinhas pianísticas,
tudo simplesmente porco. De vez em longe uma linha, uma invenção de efeito,
acusava no meio da porcaria, o gênio despaisado. Aos poucos essas bonitezas
vieram se amiudando, prova, eu dizia comigo, que o Vila se acostumava aos
poucos com a canalhice consciente. Se acostumou enfim; e desse indivíduo, a
quem Deus, em desespero de causa neste deserto brasileiro, deu o gênio que
tinha que dar pra algum brasil no momento, o Quarteto Brasileiro já é
fruto maduro.
“O que
vale? Vale primeiramente pela técnica. Não daquela técnica mais verdadeira,
beethoveniana, que deriva imediatamente da criação. O Vila ignorante, sem
cultura, com um conhecimento deficientíssimo dos fatos musicais, sempre tivera
essa técnica. As obras dele eram irregularíssimas. Quando grandes, apresentavam
quase sempre formas desengonçadas, sobretudo compridezas irritantes, e
canhestrices pueris. Mas o Vila inventava. Não sabendo orquestração, criava
instrumentações admiráveis. Não sabendo o que é voz humana, deixa uma série
impressionante de efeitos vocais. Fragílimo na harmonia, a ponto de não poder me
definir uma feita o que era uma falsa relação, harmonizava com uma exatidão de
caráter, com uma, sim, uma necessidade fatal. Criou obras desengoçadas como o Fausto,
atrapalhadas como o Hamlet, irregulares como a Nona Sinfonia,
fatigantes pelas compridezas como a Tetralogia, algumas geniais como
estas. Me esqueci: completamente incapaz de discernir fatos musicais
(principalmente porque a vaidade o tinha como criando do nada), ignorante até a
miséria do que é criticamente o Brasil músico, a obra dele se tornou um
repositório incomparavelmente rico dos fatos, das constâncias, das sutilezas,
das originalidades musicais do Brasil. Não tem quase coisa do nosso populário
musical, de que a gente não vá encontrar exemplo na obra do Vila. Coisas que
ele absolutamente ignora, como até a espantosa de empregar uma escala
assimilável ao hipolídio, dos gregos da Antiguidade (fato que é raríssimo, mas
sucede, no Brasil), numa das Danças Africanas.
“Ora o
que choca mais, no Quarteto nº 5, é que surgiu um Vila com outra técnica,
a técnica que se aprende, a técnica acadêmica! A modernidade é apenas um
disfarce ronaldiano, no Quarteto. Em compensação, e ronaldianamente também, a
obra é surpreendentemente bem conformada, com os dois tempos propriamente
rapsódicos, o 1º e o 4º, enfeixando a parte mais livre interior. O equilíbrio é
sem exemplo nas outras obras grandes do Vila: nenhuma hesitação de
desenvolvimentos, nenhuma comprideza indiscreta, escolha quase sempre acertada
de elementos (pois que só a frase de conclusão do 3º tempo me parece
contestável). Apenas se verificará que houve um capachismo servil na pressurosa
e indiscreta escolha e abundância de temas da rapsódia infantil, no 1º e 4º
tempos. Houve sim, e isso deriva da vontade de servir (por isso que
chamei de capachismo servil...) que o Vila nunca teve e agora tem.
“Essa
VONTADE DE SERVIR a toda gente é que faz toda a imoralidade repulsiva do Quarteto
e que em Ronald, no Guilherme, sempre repugnou a você. O Vila se escondeu. Se
disfarçou. Quer conciliar as coisas, e, pois que se tornou um sistematizado
lambedor de cus, lambe os ditos do acadêmico criticante como do burguês
ouvinte, do modernista embandeirado como do passadista louco pra se rever no
novo. É um quarteto ‘gostoso’. E o Vila jamais não foi ‘gostoso’. Os instrumentos
estão tratados com um carinho que jamais, estragador de instrumentos e vozes, o
Vila teve. Estão bem nas suas tessituras propícias, bem nos seus efeitos
brilhantes ou amáveis. Pra soarem bem, como ordena a Academia, e agrada
a todos, artistas verdadeiros como o público boçal. Não é tudo. A polifonia, a
harmonia, com toques levemente róseos de atualidade, é velharia da mais safada
e saborosa, é do excelente quartetismo sensual dos maus românticos, dos
românticos banais e acadêmicos, Tschaikowski, Saint-Saens e idênticas chatices
de universal aplauso. Pleno domínio da gostosura disfarçada. Não tem aquela
desfaçatez, afinal das contas viril, leal, dum Puccini, dum Leoncavallo, que
escrevem coisas sensualmente fáceis, com franqueza, confessadamente. Não. É a
chatice sub-reptícia, escondida, elegantizada, emoldurada, dum Massenet, dum
Turina. E o pulhismo covarde.
“E qual a
criação? Na realidade pequeníssima. Nos dois tempos externos, o Vila quase que
apenas se limitou a transcrever para quarteto (com infinita ‘arte’, olés!)
algumas obras anteriores, do tempo em que esteve em plena floração. Mas quais
das obras dessa fase escolheu? As Cirandas? As peças de canto? Não,
escolheu as Cirandinhas, menos rebarbativas, menos importantes
historicamente, muito mais acessíveis, pois, por serem musiquetas pra criança
tocar, ele fora necessariamente obrigado a fazer mais simples, mas agradáveis
harmonicamente, pra que não repugnassem à criança. E que por essa suavidade,
essa acessibilidade, nas Cirandinhas perfeitamente exata, fizeram já um
sucesso público enorme. Que valor de criação posso dar a esses dois tempos, que
não passam duma transcrição academicamente felicíssima, com algum efeitinho no
meio, pra sossegar o possível rosnido de algum modernista?
“(...).
“Já nos
dois tempos internos do Quarteto a criação é maior, e especialmente no
2º tempo, tão feliz, que soa tão bem, mostra bem que o Vila, mesmo nesta nova
modalidade de caráter pode fazer coisas deliciosas, embora pouco admiráveis.
Porque à primeira vista e por momentos, você se deixa levar pela sensualidade
gostosíssima que há no Quarteto inteiro, especialmente, quanto a
sonoridalde, no 2º tempo, e vai se esquecendo de tudo pra gozar. A verificação
instintiva desse gozo é julgar, falando que o Quarteto é bom. Mas a
consciência do julgamento, quando você não é público apenas ‘hearer’, mas
‘listener’, repõe você numa elevação maior que a da sensualidade gostosa. E
então você repara espantado que no Quarteto não há quase nada! Nada de
novo, porque nos tempos internos, especialmente no segundo, tudo o que Vila pôs
já foi dito e com as mesmas palavras. Chega a ser extraordinário mesmo, como
nestas linhas e temas bonitões dos tempos internos, não mais aquela
primordialidade, aquela primariedade, aquela essência tão cheia de caráter, tão
irredutível, da temática vilalbesca da grande fase (Choros, Cirandas,
Amazonas). Não estou provocando uma simbologia fácil, dizendo que os temas
do Vila agora não têm caráter, agora que ele perdeu o dito. Usei dum galicismo,
lembrando que os franceses chamam comumente de ‘remplis de caractère’ aos
temas, aos arabescos melódicos que a gente percebe essenciais, embora não
consiga especificar bem porque. É mais fácil especificar defeitos que descobrir
as causas da beleza, tanto esta deriva de Deus e aqueles da consciência nossa.
Na temática propriamente vilabolesca deste Quarteto há um banal... um banal
distinto – que infelizmente nem é o ‘vulgar’ mais respeitável, é
caracteristicamente o ‘banal’. Tudo é revelho, efeitos como frases, como técnica
polifônica e harmônica. E tudo já existiu na pior fase da música, o Romantismo.
(...).
“Em
resumo: obra falsa. Academismo esplêndido, técnica admirável, forma excelente,
nenhuma invenção, disfarce de passadismo, sensualidade epidérmica, e a tal da
banalidade sutil – dom de russos e franceses. Será uma obra-prima. Mas é uma
obra-prima falsa. Que musicalmente me repugna”.[40]
Nota:
1 – Ver nesta postagem o “Adendo” de
1942, onde está postada outra carta de MA, esta a Guilherme Figueiredo, sobre
desavenças com Villa.
-
2 de junho, quinta
feira: as professoras do recém-instalado Curso de Pedagogia da Música e Canto
Orfeônico do Rio de Janeiro, cansadas de receber maus-tratos do compositor (Villa), redigiram uma carta anônima ao
carrasco. No início dos anos 1930, depois de uma década na Europa, ele
esbanjava poder e surtos de estrelismo, mas isso não conteve as ofendidas.
'Se
continuas a ameaçar-nos com os poderes absolutos de que te prezas faremos uma
representação ao Diretor Geral', ameaçam as missivistas. 'Não vês que tudo é
contraproducente quando o chefe não sabe ter atitudes? Não percebes que as
colegas se podem infiltrar desses teus modos estúpidos e passar a fazer o mesmo
com as criancinhas?' Encerram o ataque com a indicação: 'As professoras revoltadas
pelo teu trato'.
-
A folha, datilografada e sem assinatura, encontra-se na Biblioteca Nacional, no
Rio (consta do espólio do maestro Sílvio Salema, assistente de Villa), e só agora vem à luz, com outros
papéis - recortes, partituras, cartas e fotografias - arquivados ali e no Museu
Villa-Lobos. (Fonte: Luís Antônio Giron).
Adendo Cultural: 1º de fevereiro: criado o Serviço
Técnico e Administrativo de Música e Canto Orfeônico, através do Decreto
Municipal nº 3.763, subordinado à Diretoria Geral de Instrução do Distrito
Federal. Tarsila
do Amaral, em março, regressa a São Paulo. É presa por dois meses no Presídio
do Paraíso (São Paulo), por sua viagem à União Soviética no ano anterior. Di
Cavalcanti também é preso durante a Revolução Paulista, permanecendo preso por
três meses. Fora acusado de apoiar Getúlio Vargas. Portinari faz mostra individual no
Palace Hotel, Rio de Janeiro. Lasar Segall, depois de viagem, retorna ao
Brasil, São Paulo, onde fixa residência, à Rua Afonso Celso. 23 de novembro: Em
São Paulo, na residência do arquiteto Gregori Warchavchik, Anita Malfatti
participa da fundação da Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM). Além de Anita
outros modernistas estiveram presentes na reunião de formação da SPAM, tais
como: Mário de Andrade, Victor Brecheret, Tarsila do Amaral, John Graz e Lasar
Segall. Dentre os objetivos da SPAM eram: realizar reuniões, conferências e
exposições, todos para promoverem as Artes. A primeira exposição acontecerá em
abril de 1933. 24 de novembro:
inaugurado o Clube dos Artistas Modernos (CAM), à Rua Pedro Lessa, nº 2, em São
Paulo, sob a presidência de Flávio de Carvalho.
Adendo Brasil: 23 de maio: em manifestação na cidade de S. Paulo, morrem os estudantes
Mário “Martins” de Almeida (1901-32), Euclydes Bueno “Miragaia” (1911-32),
“Dráusio” Marcondes de Souza (1917-32), Antonio Américo “Camargo” Andrade
(1901-32) e Orlando de Oliveira “Alvarenga” (1899-1932). As iniciais de seus
nomes comporão a sigla “M.M.D.C.A”, estandarte do movimento constitucionalista.
9 de
julho: Inicio da Revolução
Constitucionalista. 23 de julho: suicídio de Santos Dumont.
1933 – Compõe uma coleção de modinhas que
inclui o Lundu da Marquesa de Santos, Cantilena, Remeiros do São Francisco.
26 de novembro: no Dia da Música, em louvor de Santa Cecília, numa festa
promovida pela Associação Orquestral do Rio de Janeiro, com a colaboração do
Departamento de Educação da Prefeitura Municipal e sob os auspícios do chefe do
governo e de sua Eminência, o cardeal d. Sebastião Leme, Villa participou com um concerto contando com
2 mil músicos civis e militares e mais de 10 mil vozes dos grupos orfeônicos.
Cria “Consertos Educacionais e Concertos Sinfônicos Culturais”, chamados por
ele de “Consertos da Juventude”. Ainda nesse ano é organizada a “Orquestra
Villa-Lobos”. Em setembro, através do Decreto Municipal nº 4.387, o Orfeão de
Professores, criado por Villa em 1932, passou a ser Superintendência,
uma extensão do Departamento de Educação do Distrito Federal: Superintendência
de Educação Musical e Artística (SEMA);
Adendo Cultural: Tarsila do Amaral
realiza no CAM (Clube dos Artistas Modernos), palestra sobre “Arte Proletária na União Soviética”.
Mário Pedrosa (1900-81) realiza conferência dobre “As Tendências Sociais da Arte e Kaethe Kollwitz”, conferência essa
considerada um marco para a moderna crítica de arte brasileira. Mário de
Andrade redige a apresentação da “Primeira
Exposição de Arte Moderna da SPAM” – Sociedade Pró-Arte Moderna. No Palace
Hotel no Rio de Janeiro, em outubro, Tarsila do Amaral realiza uma primeira
retrospectiva. 28 de abril: falece em São Paulo, o jornalista Nestor Rangel
Pestana. É aprovado o Decreto regulamentando o “Salão Paulista de Belas Artes”,
através da Sociedade Paulista de Belas Artes (esta criada em 1921). Em Agosto: Lasar Segall realiza Exposição Individual na Galeria Pró-Arte, no Rio de Janeiro. Em
novembro: no auge de sua curta existência, o CAM apresenta o primeiro
espetáculo do Teatro de Experiência criado por Flávio de Carvalho – iniciativa
inspirada pelo teatro surrealista de Antonin Artaud - era a peça Bailado
do Deus Morto, um teatro-dança de grande radicalismo, anticlerical,
contestadora da ordem burguesa e de seus valores. Seu elenco incluía atores e
sambistas, em um formato altamente inovador, cheio de experimentalismos que
misturava técnicas retiradas do teatro expressionista, dança
moderna, e teatro clássico grego. Após apenas três apresentações, o teatro é
interditado pela polícia e o espetáculo censurado. O evento marca o fim das
atividades do CAM, que sem outras formas de levantar fundos, se dispersa.
1934 – Rege, no Rio de Janeiro, seu bailado Jurupari
(Choros n.º 10), tendo Serge Lifar como protagonista. Villa executa dois concertos no Teatro João
Caetano, somente de músicas brasileiras. Escreve artigo para O Jornal:
“Novas Diretrizes da Educação Cívico-Artística Musical”, uma síntese das
instruções e regulamentos, oficialmente aprovados, do programa do Curso
Especializado de Música Instrumental para a formação do Músico de Banda. Villa inicia intensa divulgação do seu
projeto que houvesse ensino de música nas escolas, através de cartas para
várias instituições educacionais do país. Viaja, em julho, para Recife. Nessa
ocasião não executou nenhum concerto – fez palestras e visitou instituições
educacionais divulgando seu projeto;
Adendo Cultural: Em janeiro:
Acontece o I Salão Paulista de Belas Artes, em São Paulo, na Rua 11 de Agosto.
9 de junho: morre em São Paulo, Da. Olívia Guedes Penteado, vítima de
apendicite. Em dezembro, Portinari realiza sua primeira Exposição Individual na
Galeria Itá, em São Paulo. 6 de
abril: falece no Rio de Janeiro, Ismael Nery, sete meses antes de completar 34
anos. 21 de novembro: morre o escritor Coelho
Neto.
Adendo Brasil: 13 de março: no
Congresso Nacional, a primeira deputada brasileira ocupa a tribuna, a médica
paulista Carlota Pereira de Queiroz (1892-1982). Gustavo Capanema (1900-85)
assume o Ministério da Educação e Saúde. 16 de julho: promulgação da Terceira
Constituição do Brasil. É instituída, no rádio, a “Hora do Brasil”. Ano de fundação da USP – Universidade de São
Paulo, ocasião que foi implantada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
com a vinda de professores franceses. A Escola Politécnica de São Paulo é
incorporada à USP. Em 1934, durante a interventoria de Armando Sales
(1887-1945), foi nomeado prefeito da capital de São Paulo, Fábio da Silva Prado
(1887-1963).
1935 – Rege três concertos sinfônicos no
Teatro Colón de Buenos Aires. No Rio de Janeiro, comemorando o 250.º
aniversário de nascimento de Bach, rege em primeira audição a Missa em
si menor do compositor alemão. Villa retorna ao projeto de revisão da partitura
oficial do Hino Nacional. Foi muito criticado nessa ocasião por ter baixado um
edital que proibia a execução do hino até que o trabalho da comissão de
revisão, que ele havia formado, concluísse os trabalhos de correção. Esse
projeto de corrigir a partitura do Hino Nacional não foi resolvida de imediato,
pois permaneceu na pauta das discussões até 1942. Villa viaja à Argentina com a comitiva de
Getúlio Vargas em viagem oficial. Nessa viagem Villa dirigiu a estreia do
bailado Uirapuru. Aproveitou a viagem e proferiu conferências sobre
música. 8 de dezembro: MB escreve a MA mencionando Villa:
Rio de
Janeiro, 8 de dezembro de 1935.
Mário,
(...).//Parece
que o Villa afundou mesmo. Os jornais elogiaram muito, mas o público
“arrepunou”. Saiu do Municipal convencido que Bach é uma estopada. Já tive
ocasião de ouvir o orfeão do Villa. Aí a coisa é melhor. Também o que canta são
coisas simples quase sempre. Uma ou outra vez o Villa se mete numa fuga de Bach
e afunda de novo. E essa mania de massa que ele tem: 500 executantes! 700
executantes! Positivamente a batutinha dele não dá p’ra essas babilônias.
(...).
Abraços
do
M.[41]
Adendo Cultural: MA inicia a organização do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo e cria a primeira Discoteca Pública. Foi nomeado, a 31 de maio, chefe da Divisão de Expansão Cultura e Diretor do Departamento Municipal de cultura de São Paulo. A equipe que trabalhou com MA: Sérgio Milliet, Diretor da Divisão de Documentação Histórica e Social, e Rubens Borba Alves de Moraes, que ficara com a Divisão de Bibliotecas. 15 de fevereiro: falece no Rio de Janeiro, acidente automobilístico, o escritor Ronald de Carvalho. O crítico de arte, Virgílio Maurício (1892-1937), cria o Grupo Almeida Júnior. Um primeiro Grupo com esta denominação fora criado em 1928 por Torquato Bassi (1880-1967) – e tinha como objetivos: realizar exposições temporárias anuais com obras dos membros da entidade, promover conferências artísticas e ainda perpetuar a memória de Almeida Júnior. Foram feitas no mínimo duas exposições em 1936 e outra no ano seguinte. Alguns dos membros fundadores são: Samuel Ribeiro (1882-1952) – presidente de honra –, Lucy Citti Ferreira (1911-2008), Anita Malfatti, Georgina de Albuquerque (1885-1962), José Wasth Rodrigues e outros. 14 de abril: falece no Rio de Janeiro o escritor Antônio de Alcântara Machado. Cândido Portinari, na exposição do Instituto Carnegie, Pittsburg (EUA), conquista Menção Honrosa com a obra Café.
Adendo
Brasil: O
levante comunista comandado por Luiz Carlos Prestes (1898-1990) é derrotado
pelo governo. A Constituição Estadual de São Paulo altera o título de
Presidente do Estado para Governador do Estado. Eleito
para o governo de São Paulo, Armando de Salles Oliveira. Seu governo terminara
em dezembro de 1926.
1936 – 20 de janeiro: Villa participa da grande celebração da Missa
de São Sebastião, ocorrida na praia do Russel. A convite do Governo da
Tchecoslováquia, participa do Congresso de Educação Musical Popular, em Praga,
como delegado brasileiro. Nesse Congresso, através de uma longa conferência, Villa apresenta um panorama geral do Brasil:
geográfico, demográfico, cultural e educacional. Para encerrar sua participação
no Congresso, apresenta o “Coral de Crianças da Milicur Dum” de Praga,
cantando em português: Alegria de Viver e, em tcheco, Hino ao Sul do
Brasil. 28 de maio: de
Berlim, envia carta a Lucília desfazendo o casamento[41.1]:
Berlim,
28-5-36
Lucília
Esta minha
viagem de três meses à Europa foi mais especialmente para decidir de uma vez a
minha vida íntima, do que propriamente desempenhá-la como delegado aos
Congressos Internacionais de Educação Musical.
Tenho
certeza que não será nenhuma surpresa esta notícia tão decisiva que segue
abaixo.
Há muito
tempo venho consultando a mim mesmo esta resolução.
As razões
são poucas mas justas.
Não posso
viver em companhia de nenhuma esposa pela qual eu me sinto inteiramente
estranho, isolado, constrangido, enfim sem mais nenhuma afeição, a não ser uma
certa gratidão de ter se conservado fiel durante muitos anos em minha
companhia.
Proclamo
a nossa absoluta liberdade.
Porém com
a consciência tranquila que tudo fiz para que não lhe falte nada. Foi pelo meu
único intermédio que conseguiu os ótimos cargos que ocupa e que, por isso
mesmo, ganha mais do que eu e tem melhores garantias de vitaliciedade.
Desejaria
que nunca tivesse rancor de mim nem de ninguém, para que com calma e resignação
verificasse que nossa situação não poderia terminar senão desta forma.
Por
conseguinte ao voltar não irei mais para a casa da rua Dídimo 10, que desde
esta data considero-a unicamente sob a sua responsabilidade.
Naturalmente
devo concorrer com todas as despesas necessárias provocadas por esta mudança de
nossa vida.
Mandarei
um portador de confiança buscar tudo aquilo que me pertence pessoalmente e vou
morar sozinho com minha mãe. Desejando muitas felicidades pela sua nova vida.
Villa-Lobos
-
Villa passa a morar com a jovem cantora
Arminda Neves d’Almeida (1912-85), a “Mindinha”, na Rua Araújo Porto Alegre,
n.º 56, apto 54. Compõe o Ciclo Brasileiro, para piano. Dirigiu a ópera Colombo
nas comemorações do centenário de nascimento do músico Carlos Gomes;
Adendo Cultural: Em São Paulo
acontece o IV Salão Paulista de Belas Artes. Victor Brecheret, em São Paulo,
inicia a execução do Monumento às Bandeiras, cujo anteprojeto data de 1920 e
que é inaugurado em 1953 na Praça Armando Salles de Oliveira. 4 de fevereiro: Oscar Lorenzo Fernández (1897-1948) funda o Conservatório Brasileiro
de Música, que dirigirá até morrer. Segunda vinda de Felippo Godoy Tommaso
Marinetti, ao Brasil. É recebido em São Paulo pelos primeiros modernistas. Em 4
de julho, através do Ato Municipal nº 1.146, é criado o Departamento de Cultura
de São Paulo, projeto de Mário de Andrade. Luiz Martins, na época parceiro de
Tarsila do Amaral, realiza na Associação dos Artistas Brasileiros, Rio de
Janeiro, a conferência “A Pintura Moderna
no Brasil”. Chega a São Paulo, o artista plástico italiano, Ernesto De
Fiori (1884-1945).
Adendo Brasil: 12 de setembro:
Entra no ar a Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
1937 – Compõe as quatro Suítes do Descobrimento
do Brasil e a Missa de São Sebastião. Torna-se membro honorário da
Academia de Santa Cecília de Roma. A editora Vitale, edita o “Guia
Prático” de autoria de Villa. (Em 1966, esse mesmo Guia Prático foi reeditado
pelo Museu Villa-Lobos, consta de um volume de 86 páginas, contendo 138 versões
de canções, harmonizadas em estilo autêntico, para canto e piano, piano solo,
conjunto instrumental ou coro a duas e três vozes. As letras foram revistas e
adaptadas por Afrânio Peixoto, que assina também o prefácio). A Secretaria Geral de Educação e Cultura
– RJ, edita o “Programa de Ensino de Música”, elaborado por Villa. Na sequência, parte de um dos
depoimentos de Villa, a respeito:
“Em 1932,
a convite do Diretor-Geral do Departamento de Educação, fui investido nas
funções de orientador de música e canto orfeônico no Distrito Federal, e tive,
como primeiros cuidados, a especialização e aperfeiçoamento do magistério, e a
propaganda, junto ao público, da importância e utilidade do ensino de música.
Reunindo os professores, compreendendo-lhes a sensibilidade e avaliando as
possibilidades e recursos de cada um, ofereci-lhes cursos de especialização com
acentuada finalidade pedagógica, dos quais, logo depois, ia surgir o Orfeão de
Professores, onde, como nos cursos, ingressavam pessoas estranhas, atendendo à
complexidade artística das organizações. Procurando esclarecer o público,
principalmente certos pais de alunos, sobre os objetivos dessa atividade
educacional, moveu-me um duplo objetivo: retira-los do estado de incompreensão
em que se encontravam, e desfazer, de vez, as prevenções que nutriam e se
refletiam sobre os escolares, ocasionando lamentável resistência passiva aos
esforços renovadores da administração. Num ou noutro aspecto, realizava-se uma
ação de indiscutível alcance educativo. Nem por mais tempo se poderia retardar
a verdadeira interpretação do papel da música na formação das gerações novas e
da necessidade inadiável do levantamento de nível artístico do nosso povo. O
Canto Orfeônico é o elemento propulsor da elevação do gosto e da cultura das
artes, é um fator poderoso no despertar dos sentimentos humanos, não apenas os
de ordem estética, mas ainda os de ordem moral, sobretudo os de natureza
cívica.
Influi,
junto aos educandos, no sentido de apontar-lhes, espontânea e voluntária, a
noção de disciplina, não mais imposta sob a rigidez de uma autoridade externa,
mas novamente aceita, entendida e desejada. Dá-lhes a compreensão da
solidariedade entre os homens, da importância da cooperação, da anulação das
vaidades individuais e dos propósitos exclusivistas, de vez que o resultado só
se encontra no esforço coordenado de todos, sem o deslize de qualquer, numa
demonstração vigorosa de coesão de ânimos e sentimentos. O êxito está na
comunhão. O orfeão adotado nos países de maior cultura, socializa as crianças,
estreita seus laços afetivos, cria a noção coletiva do trabalho. Só quando
todas as vozes se integram num mesmo objetivo artístico, despidas de quaisquer
predominâncias pessoais, é que se encontrará a verdadeira demonstração
orfeônica. Nas escolas primárias e mesmo nas secundárias, o que se pretende, sob
o ponto de vista estético, não é a formação integral de um músico, mas
despertar nos educandos as aptidões naturais, desenvolvê-las, abrindo-lhes
horizontes novos e apontando-lhes os institutos superiores de arte, onde é
especializada a cultura. Oferecendo-lhes as primeiras noções de arte,
proporcionando-lhes audições musicais, cultivando e cultuando os grandes
artistas, como figuras de relevo da Humanidade, em todos os tempos. Esse
ensino, embora elementar, há de contribuir, poderosamente, para a elevação
moral e artística do povo. Assim, pois, as três finalidades distintas obedece a
orientação traçada para as escolas do Distrito: a) disciplina; b) civismo; c)
educação artística”.[42]
- MA, em estudo concluído em 26 de junho, divulgado
no Aspectos da Música Brasileira, em Compositores da Língua Nacional,
menciona Villa:
(...). Villa Lobos então é um tesouro de expressão
psicológica de textos, dentro da mais acentuada música nacional. As suas
incomparáveis Serestas, dignas de figurar junto das coleções tão
expressivamente psicológicas, dum Schumann, dum Wolff, dum Duparc ou dum
Mussorgski, as suas Serestas magistrais são cancioneiras, toadescas,
modinheiras principalmente e ao mesmo tempo claramente expressivas do que seus
textos dizem. Basta recordar o “Anjo da Guarda” sôbre a poesia de Manuel
Bandeira, as “Saudades de minha vida” sôbre Dante Milano, a “Na paz do Outono”
sôbre Ronald de Carvalho, a “Cantiga do Viúvo” sôbre Carlos Drummond de
Andrade, a “Redondilha” ainda sôbre os apaixonados versos de Dante Milano. Mas
na verdade careceria citar todas as Serestas!...
Não. Tanto estas como aquelas são tôdas
admiràvelmente expressivas de seus textos, e o nacionalismo inteligente jamais
não tirará expressividade a ninguém. Estou mesmo que si fizéssemos um balanço
entre as canções das gerações de Villa Lobos pra cá e as das gerações
anteriores, a canção moderna ganharia de longe pelo número e valor de obras
milhores.
(...).[42.1]
Adendo
Cultural:
13 de janeiro: Através da Lei nº 378, é criado o SPHAN – Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Lei que foi
regulamentada através do Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro. Victor Brecheret
regressa definitivamente ao Brasil, em São Paulo. 25 de maio: inaugurado no grill-room do Esplanada Hotel, o I Salão de Maio, criado por Quirino da Silva (1897-1981), com organização
de Geraldo Ferraz (1905-81), Paulo Ribeiro de Magalhães, Flávio de Carvalho e
Madeleine Roux. MA
promove, pelo Departamento de Cultura de São Paulo, o Primeiro Congresso de Língua Nacional Cantada. Acontece em São
Paulo a 1ª Mostra da Família Artística Paulista, constituída majoritariamente
com obras do Grupo Santa Helena. Tem origem o Sindicato
dos Artistas Plásticos de São Paulo, como associação de classe, visando
contribuir para a profissionalização da atividade artística. Anita Malfatti
realiza Exposição individual no Palace Hotel, Rio de Janeiro. Anita
também participa da 1ª Exposição da Família Artística Paulista, ao lado de
Bonadei (1906-74), Volpi, dentre outros do Grupo Santa Helena, no Esplanada
Hotel de São Paulo. Com
música de Villa,
Humberto Mauro lança seu filme “O Descobrimento do Brasil”. 4 de maio: morre no
Rio de Janeiro, Noel Rosa, vítima de tuberculose.
Adendo Brasil: 5 de janeiro: José
Joaquim Cardoso de Mello Neto (1883-1965), assume o governo de São Paulo até 10
de novembro, quando ocorre o golpe de Estado, onde caiu toda situação política
dominante em São Paulo. Getúlio Vargas, autorizado pelo Congresso, outorgou
nova Constituição – de caráter nitidamente fascista. Nomeou interventores para
todos os Estados, extinguiu os partidos políticos e determinou a supressão dos
direitos individuais. Instaurado o Estado Novo, que duraria até 1945, apoiado
pela classe média e pela burguesia. O Congresso é dissolvido. Francisco Luís da
Silva Campos (1891-1968), Ministro da Justiça, foi quem redigiu a nova
Constituição, de inspiração fascista.
1938 – Compõe as Bachianas Brasileira n.º
3, n.º 5, n.º 6, e o Quarteto de Cordas n.º 6. Compôs a trilha
sonora do filme Descobrimento do Brasil - feito por Humberto Mauro para
o Instituto Nacional de Cinema Educativo. 23 de novembro: MA publica a crônica As Bachianas no “Estado”, transcrita em Musica,
Doce Musica (livro já citado nesta Síntese), pp. 273 a 277, transcrição
parcial a seguir (conservada a ortografia original):
A
Sociedade Propagadora de Musicas Symphonicas e de Camara, que acaba de
apresentar em audição integras as “Bachianas” de Villa Lobos, teve
evidentemente muito maior preocupação de se baptisar bem explicativamente que o
proprio Villa Lobos, evocando o nome de Bach para denominar esta sua
composição. Que é das mais recentes, aliás. O titulo integral da peça é
“Bachianas Brasileiras”, o que fez um jornal, noticiando a audição, corrigir o
erro aparente para “Bahianas Brasileiras”, sem reparar que fazia uma
lapalissada.
Não.
Trata-se exactamente de Bach e de “Bachianas”, e já se está fazendo um pouco de
exploração sobre o nome ambicioso que Villa Lobos deu à sua nova série de
peças. Em todo caso, parece que a intenção do autor, não foi somente fazer uma
homenagem ao grande Bach, nosso deus maximo de todos os musicaes. Pelo que me
informou alguem, que ouviu do proprio compositor, Villa Lobos acha muitas
analogias entre a invenção musical de Bach e a musica popular brasileira, e
disso derivou o seu titulo enigmatico.
Será
verdadeira essa parecença? Talvez haja que distinguir entre coincidencia e
parecença. (...).
Ha um
bocado de Bach na musica brasileira popular, mas o desnorteante é que ha um
bocado de tudo. (...).
(...).
E
justamente, a primeira das tres “Bachianas Brasileiras” é uma embolada. A obra
divide-se em tres peças distinctas, seguindo o córte das sonas: um presto
inicial (Embolada), um andante largo central (Modinha) e uma “Conversa” em
andamento rapido para acabar. É concebida para uma orchestra exclusivamente de
violoncellos, e tem sido sempre executada por oito destes instrumentos. A
polúphonia é systematicamente a quatro partes, permittindo a duplicação das
vozes nos oito violoncellos, o que não me parece, porém, sufficiente para dar
ao conjunto um efficiencia orchestral. Permanece-se num tal ou qual sabor de
madrigalismo, que sensivelmente não é o desejo do autor. Imagino estas
“Bachianas” executadas, supponhamos, por cincoenta e quatro violoncellos, a
peça adquirirá toda a sua efficiencia, e esta será formidavel.
Apesar de
uma unica audição, tive a idéa de que se tratava de uma das mais importantes
obras de Villa Lobos, e das mais caracteristicas da sua maneira mais original,
mais delle. A “Embolada” inicial principalmente é de um caracter, e mesmo de
uma virtuosidade de escriptura excellentes. Poucas vezes o grande compositor
terá ido mais longe na maneira de tratar eruditamente os themas do nosso
populario, destratando-lhes a virgindade analfhabeta, sem com essa transposição
perder de vista a essencia nacional. Apesar das deformações eruditas, apesar
mesmo da audacia virtuosistica que desenha toda a peça, sente-se em qualquer
momento que estamos num Brasil nacional.
Sob este
ponto de vista ha que comparar esta Embolada com a “Conversa” de que Villa
Lobos fez o final de suas “Bachianas”. Construida com o processo imitativo, num
fugato systematico, e apesar do caracter da sua thematica, esta “Conversa”
divaga muito por vezes, perdendo muito como nacionalidade. Não será isto um mal
quanto á musica, e a peça continua uma curiosa conversa de quatro pessoas,
muito afflictas, mas o problema permanece sem solução. Desta vez foi o material
que dominou o artista. (...).
E só me
falta falar da peça central, a Modinha. Aqui Villa Lobos criou uma melodia de
andamento largo, de extrardinaria belleza. Estamos sem duvida a muitas leguas
da nossa modinha e por certo muito afastados tambem de Bach. Talvez um exame
mais sossegado me faça mudar de opinião, mas esse distanciar-se dos modelos não
terá maior importancia. É possivel que o nosso compositor tnha querido se
aproximar daquelles largos vetecentistas de que Bach é prodigo e são um dos
maiores titulos de gloria da escola de arcos italiana, mas a verdade é que o
tomou totalmente a sua esplendida veia melódica pessoal, sempre rara, incapaz
da menor facilidade. E Villa Lobos nos deu talvez o seu mais bello andante. Uma
intensidade profunda e vigorosa, uma grandeza serenissima de que não se
encontrará em nossa musica brasileira outro exemplar.
E assim
são, a meu ver, estas “Bachianas Brasileiras”, que o publico de São Paulo ainda
desconhece. Se o primeiro tempo me pareceu o mais integralmente bem conseguido,
o segundo nada lhe deve em belleza. E o terceiro, talvez que numa execução mais
perfeita, com maior claridade nos movimentos das partes, iguale em valor os
outros dois. De qualquer forma é sempre interessantissimo, e as “Bachianas
Brasileiras”, apesar de toda a ambição do titulo, são uma das obras mais
importantes da phase actual de Villa Lobos.
Adendo Cultural: Acontece em São
Paulo o II Salão de Maio, em 27 de junho, no Esplanada Hotel. Na ocasião, MA
adquiriu a obra de Guignard: “A Família
do Fuzileiro Naval”. MA é exonerado do Departamento Municipal de Cultura de
São Paulo e muda-se para o Rio de Janeiro, assumindo o cargo de diretor do
Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal. Leciona Filosofia e
História da Arte. Acontece o IV Salão
Paulista de Belas Artes, em São Paulo. Anita Malfatti realiza duas exposições individuais: uma no seu próprio ateliê, na Rua
Ceará, 219, São Paulo. Lasar Segall representa oficialmente o Brasil no
Congresso Internacional de Artistas Independentes realizado em Paris. 26 de setembro: nasce em S.
Paulo, Júlio Medaglia, maestro e arranjador.
1939 – Compõe As Três Marias, para
piano. Em outubro, numa entrevista sobre educação, foi relembrada aquela sua
famosa frase que dizia: “O futebol fez desviar a inteligência humana da cabeça
para os pés”. Villa tratava os aficionados do famoso
esporte, os discutidores de times e clubes, de “futebóis” – dizia:
“São uns
futebóis...”. E disse mais: “Francamente já gostei do futebol. Cheguei a fazer
parte do grupo que fundou o América Futebol Clube. Eu mesmo já joguei futebol.
Não me oponho ao futebol, nem a nenhum esporte praticado esportivamente.
(...).//É pena que hoje em dia o futebol brasileiro tenha perdido seu caráter
de esporte para transforma-se num negócio outro qualquer”.
-
22 de novembro: Cezar Ladeira, na Hora do Brasil, interpreta a Oração
a Santa Cecília, Padroeira da Música, escrita por Villa especialmente para o Dia da Música. (A descrição é do Heitor
Villa-Lobos – Tradição e Renovação na Música Brasileira, de Maria Celia
Machado, Editora Francisco Alves & Editora UFRJ, Rio de Janeiro, 1987,
pp.48-49):
Santa Cecília! Divina Protetora da Música!
Ouve, em regozijo à tua santa imagem, em satisfação
à influência sacrossanta do teu poder milagroso, em humildade pela grandiosa e
eterna obra de Deus, à veneração de uma raça, à evocação de um povo, as preces
ardentes, cheias de Alma e Fé, dos artistas sonoros do Brasil!
Tu, que deste ao Brasil o privilégio do amor pela
música; que fizeste dos pássaros, rios, cachoeiras, mares, ventos e da gente
desta terra uma sinfonia incomparável, cujas melodias e harmonias têm influído
na formação da inteligência e bondade brasileiras, auxiliando espiritualmente a
disciplina coletiva da mocidade e dos homens para servir às funções úteis e
indispensáveis da humanidade, para melhor compreensão do valor consciente ao
folclore regional e sentir artisticamente a música nacional;
- Ilumina aos que desejam ajudar a arte do Brasil;
- Protege aos que acreditam no valor e utilidade da
música;
- Ajuda aos que anseiam proteger os artistas;
- Inspira aos que cantam o hino da nossa Pátria, a
uma execução perfeita, como prova de obediente disciplina cívica;
- Esclarece aos que confundem a manifestação
popular nativa, boa mas inculta, com a expressão de arte cultivada;
- Entusiasma os verdadeiros artistas que vivem
desanimados pela confusão que a opinião pública estabelece entre o valor
autêntico e os falsos artistas;
- Alegra os que imaginam que a música será algum
dia a Bandeira Sonora da Paz Universal;
- Encoraja os compositores que, desanimados na
carreira da vida musical, vêm satisfazendo o declive do gosto popular;
- Mostra aos indiferentes que vivem em várias
camadas sociais a felicidade de quem ama a música;
- Perdoa os que não acreditam na cura dos anormais
e na educação dos princípios da disciplina cívico-social pela música;
- Faze com que a opinião pública saiba respeitar o
valor das artes e dos bons artistas brasileiros;
- Guia a mocidade pela arte do som;
- Anima aos que consideram a música de interesse
nacional por ser um dos fatores que educam o espírito, tal como a educação
física fortalece e desenvolve o organismo.
Santa Cecília! Divina Protetora da Música!
Ouve, em regozijo à tua santa imagem, em satisfação
à influência sacrossanta do teu poder milagroso, em humildade pela grandiosa e
eterna obra de Deus, à veneração de uma raça, à evocação de um povo, as preces
ardentes, cheias de Alma e Fé dos artistas sonoros do Brasil!
-
Villa sempre lutou para que o sistema
educacional no Brasil fosse aprimorado e valorizado, deflagrando um movimento
de salvação nacional através da educação artística. Assim dizia:
“Somente
a educação salvará o povo brasileiro. Nossa ação foi baseada no educador.
Graças ao devotamento desses professores vamos conseguir a elevação do nível
cultural do povo”. Andrade Muricy, crítico e musicólogo, escreve artigo para a edição de 19
de julho do Jornal do Comércio (RJ): “//O Brasil deve este imenso
serviço a Villa-Lobos. //A campanha, pública ou secreta, feita à ação deste
educador, visando diminuí-lo, só diminuiria, se eficaz, a educação nacional.
Villa-Lobos tem sido um surpreendente propulsionador da consciência musical e
artística brasileira, e, além disso, primacialmente, um coordenador da nossa
sincera, porém incerta e dispersiva, consciência cívica. //Só os pósteros
poderão aquilatar a valia, a importância, a dificuldade árdua do seu
infatigável esforço. Uma resistência orgânica e mental excepcional, uma
capacidade de trabalho que se diria sem limite, uma verdadeira incapacidade de
desanimar, fizeram deste artista um dos mais fortes construtores do Brasil de amanhã.
//Esse criador, cuja obra honra de modo brilhante e impressionante os foros
culturais do Brasil no estrangeiro, dá a sua pátria o presente inapreciável de
sua abnegada atividade educativa, tão mal compreendida por muitos, porém já
estimada por numerosos outros que a julgaram sem espírito preconcebido e com
conhecimento de causa.[43]
-
Através do Decreto-Lei nº 1.063, de 20 de janeiro, a Universidade do Distrito
Federal, na época com um corpo de professores de alto nível, entre eles: Villa, Lorenzo Fernandez, Andrade Muricy e
Arnaldo Estrella – foi declarada inconstitucional e extinta pelo então Ministro
de Educação e Saúde, Gustavo Capanema, a serviço da ideologia autoritária do
Estado Novo;
Adendo Cultural: 18 de fevereiro: nasce em Recife
– PE, o músico, pianista e compositor, Marlos Nobre. 25 de junho: nasce em S.
Paulo, João Carlos Martins, pianista e maestro. Acontece em São Paulo o Salão
Paulista de Belas Artes e o 2º Salão da Família Artística Paulista, no
Automóvel Clube. Cândido Portinari trabalha nos murais do Ministério da
Educação e participa do V Salão do Sindicato e realiza exposição individual.
Mário de Andrade assume, no Rio de Janeiro, a chefia da Seção do Instituto
Nacional do Livro. O III Salão de Maio tem sua última edição, devido desavenças
entre Flávio de Carvalho e a comissão organizadora.
Adendo Brasil: É criado o DIP – Departamento de
Imprensa e Propaganda, órgão de censura aos meios de comunicação.
1940 – Concentração orfeônica no estádio do
Vasco da Gama, reunindo aproximadamente 42 mil vozes de crianças estudantes.
Nessa concentração aconteceu uma grande ovação ao presidente Vargas.
Compõe o balé Mandu-Çarará e os Prelúdios, para violão. 4 de
fevereiro: no O Jornal do Comércio, há um relado do Dr. Sebastião
Barroso sobre Villa:
“Eu acompanhei-o desde a sua meninice; viveu
durante anos seguidos metido em orquestras como violoncelista, agarrado sempre
aos tratados de harmonia, de contraponto, de orquestrações (sic) e nas suas
ousadias instrumentais, rítmicas, melódicas e harmônicas, na há de contrário ao
que os grandes mestres determinam de básico e essencial. (...)”.
-
Na longa carta a
Oneyda Alvarenga, datada de 14 de setembro de 1940, MA relata episódio sobre as
“Cirandas” de Villa. Segue o trecho, conf. Andrade, Mário de; Alvarenga,
Oneyda. Cartas. Livraria Duas Cidades, SP – 1983. pp. 282/283:
(...). As
“Cirandas” e em consequência as “Cirandinhas”, sem dúvida das coisas mais
geniais do Vila, ele as deve a mim. Fui eu que observando certa renitência no
Vila em aceitar o aproveitamento folclórico, observando a dificuldade de
construção formal dele e outras coisas assim, escrevi uma carta de pura mentira
pro Vila, me dizendo encantado com as obras de Allende, um chileno que eu
fingia descobrir no momento, observava as peças em forma A-B, uma aproveitando
um tema popular, outra de criação livre, quando muito se servindo de
constâncias folclóricas, coisas assim, e está claro fingindo uma admiração
danada pelo homem, que ia escrever sobre ele, coisas que, eu sabia, deixavam o
Vila sangrando em sua imensa vaidade. Mas a esperteza maior foi, em seguida,
fingindo amizade subalterna, pedir a ele que me escrevesse umas peças de
meia-força pros meus alunos de piano. Como sempre: nenhuma resposta, o Vila só
escreve carta precisando da gente. Mas poucos meses depois vim no Rio, não me
lembro mais onde, era uma festa, havia muita gente, creio que intervalo de
concerto, me encontro com o Vila numa roda. E ele imediatamente: “Olhe, vá lá
em casa! tenho umas coisa pra você. Bem! não é nada daquilo que você me pediu!.
E sorriu com arzinho superior meio depreciativo. Eu fui e eram as “Cirandas”. E
era exatamente o que eu pedira, e que tivera a intenção de provocar no Vila,
embora estivesse longe de imaginar “Cirandas”. (...).
Adendo Cultural: Di Cavalcanti
retorna de Paris, onde esteve exilado desde 1936 e passa a residir em São
Paulo. Suas obras despachadas, cerca de 40 pinturas e desenhos, desaparecem. Em março: Lasar Segall realiza Exposição Individual na Galeria Neumann-Williard, de Nova Iorque.
Em São Paulo é fundado o Clube de Cinema
São Paulo e a Empresa Cinematográfica Atlântica. MB é eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Realiza-se no Rio de
Janeiro, a 3ª Exposição da Família Artística Paulista, com apresentação de
Sérgio Milliet. Em
dezembro, 17, acontece o 7º Salão Paulista de Belas Artes em São Paulo.
1941 – Nova demonstração de canto orfeônico
no estádio do Vasco da Gama. Sob a regência de Villa e Sílvio Caldas, canta o Gondoleiro do
Amor, de Castro Alves, acompanhado por 30 mil vozes. Conclui a versão
orquestral da Bachianas Brasileiras n.º4. Observação de MA, nesse ano:
“Pocos
anos depois de finda guerra (de 1914), e não sem ter antes vivido a experiência
bruta da Semana de Arte Moderna, de S. Paulo, Villa-Lobos abandonava consciente
e sistematicamente o seu internacionalismo afrancesado, para se tornar o
iniciador e figura máxima da Fase nacionalista em que estamos”. [44]
Adendo Cultural: Anita Malfatti é
eleita presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. Mário de
Andrade retorna do Rio e inicia seus trabalhos na seção paulista do SPHAN –
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Adendo Brasil: 28 de Agosto: entra no ar, pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, o
jornal “Repórter Esso”, na voz de
Romeu Fernandez (?-?), anunciando o ataque de aviões da Alemanha à Normandia,
durante a Segunda Grande Guerra.
1942 – Dirige o Conservatório Nacional de
Canto Orfeônico, Rio de Janeiro. Esse Conservatório foi oficializado pelo
Decreto nº 4.993, de 26 de novembro, assinado por Getúlio Vargas. Villa dirigiu essa entidade até 1957.
Cria a sua própria orquestra sinfônica. Compõe a Bachianas n.º 7, o Poema
de Itabira, sobre texto de Drummond de Andrade, e o Quarteto de Cordas
n.º 7. Em 8 de junho: MA escreve a Guilherme Figueiredo e faz referências à
pessoa de Villa:
S. Paulo,
8-VI.42
Guilherme
meu velho
São
precisamente 18 horas e vinte minutos. Acabo de ler a sua história da musica.
(...).
Está
claro que não entro no mérito das opiniões críticas de você, são de você e o
livro é de você. Talvez apenas eu pedisse pra você raciocinar um bocado mais na
esculhambação que você passa em Vila Lobos(*). Não sugiro que você tire nada do
que escreveu, mas não me parece que você equilibrasse bem a sua admiração pelo músico
com a sua repulsa justa pelo homem. Ora o homem é coisa particular e Vila Lobos
o que é, é músico. E a meu ver, embora irregular nas obras de fôlego porque aí
êle não pode suprir aos desenvolvimentos da inspiração com uma tecnica que êle
não tem, êle é autor dos Choros nº 10 que você esqueceu de citar e é
positivamente um esquecimento grave. Quanto a peças pequenas, piano, canto, o
Vila apresenta uma bagagem onde não são raras as obras-primas – perfeitissimas.
Acresce ainda que o Vila é uma celebridade de conhecimento internacional e não
sei si será muito patriotico (no bom sentido socializador da palavra) essa
inflação do homem, na sua página, em detrimento do compositor.
(...).
Decerto
vou no Rio a semana que vem, lhe avisarei. O melhor dos abraços do
Mario
(*) Minha
indignação contra Villa Lobos se devia à adesão ao “Estado Novo”, a cujo
serviço colocara o seu nacionalismo musical.[45]
Adendo Cultural: Em março é fundada
a “Sociedade Brasileira de Escritores”, sob a presidência de Sérgio Milliet e
vice MA. Em Abril: MA realiza a famosa conferência “O Movimento Modernista”, no Salão de Conferências da Biblioteca do
Ministério das Relações Exteriores (Itamarati), no Rio de janeiro. 19 de julho:
falece em São Paulo, Pedro Alexandrino.
Adendo Brasil: Vargas vai
declarar guerra à Alemanha.
1943 – É nomeado Doutor em Música Honoris
Causa pela Universidade de Nova Iorque e também pela Universidade de Los
Angeles;
Adendo Cultural: Anita Malfatti
participa da Exposição de Arte Moderna, em Belo Horizonte (MG), no Edifício
Mariana, em maio. Participa também da exposição Anti-Eixo, no Museu Histórico e
Diplomático do Salão Itamaraty, no Rio de Janeiro, e na exposição Anti-Eixo, na
Galeria Prestes Maia, em São Paulo. Mário de Andrade
escreve extenso ensaio sobre o artista plástico Lasar Segall. 3 de outubro:
falece em São Paulo, Paulo Prado. Sérgio
Milliet assume a direção da Biblioteca Municipal de São Paulo e apresenta
projeto de arquivo e documentação de arte sobre papel, dando início a um acervo
de desenhos e gravuras originais que pudessem ser guardados em pastas,
permitindo o fácil acesso a pesquisadores e historiadores de arte. Segall
realiza exposição individual no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), Rio de
Janeiro. Segall publica o álbum de gravuras Mangue, com desenhos feitos
em 1924, composto de 42 reproduções em zincografia, três xilogravuras originais
e uma litografia, com textos de Jorge de Lima (1886-1953), MA e MB – onde
focalizou a zona de meretrício do Rio de Janeiro.
Adendo Brasil: Implantado,
oficialmente, no Brasil, o Curso de Jornalismo, através do Decreto-Lei Nº 5480,
de 13 de maio, pelo então presidente Vargas e pelo ministro da Educação,
Gustavo Capanema.
1944 – Compõe a Bachianas n.º 8, o Quarteto
de Cordas n.º 8 e a Sinfonia n.º 6 (Montanhas do Brasil). Faz sua
primeira viagem aos Estados Unidos. Érico Veríssimo serviu de intérprete para Villa que não falava inglês – e consta que
Veríssimo passou grandes apuros, pois Villa
falava muita asneira e ele tinha que fazer a versão para o inglês inventando
outras frases complemente diferentes, como por exemplo: pediram para Veríssimo
dizer a Villa:
“O fato
de ele não falar inglês não tem a menor importância. Nós o admiramos tanto que
só de ficar aqui a olhar para ele sentimo-nos felizes”.
- Após a tradução, Villa responde:
“Diga que
não sou papagaio e nem palhaço de circo”.
- E Veríssimo traduz:
“O
maestro declara que se sente felicíssimo por estar aqui hoje”.
- Villa realiza
concertos sinfônicos na Rádio Nacional, Rio de Janeiro. É eleito Membro
Correspondente da Academia Nacional de Belas Artes, Argentina. Realiza excursão
ao Chile e aos Estados Unidos. MA, em 19 de outubro, escreve crônica sobre Villa no jornal Folha da
Manhã: O perigo de ser maior, in “Mundo Musical”. Aqui podemos verificar a
preocupação do cronista em “justificar” suas ponderações a respeito do Villa na época que este se
“juntara” ao governo Vargas. Na sequência, descrição parcial:
(...).
Aqui já
não estou gostando muito de mim, porque no meu ideário vieram lembranças
tristes, e a maldade me enrugou. Eu gostava era daquele Vila Lobos antes de
1930, que ainda não aprendera a viver. Que vivedor maravilhoso era ele então!
Fazia uma malvadeza colérica, sem nem de longe saber que estava fazendo uma malvadeza
colérica, saía bufando da casa que o hospedava, grosseiro, mal-educado, e logo
estava em plena rua se espojando no chão, esquecido, puro, anjo, pasteurizado,
brincando com uma criança que passeava... Pobre, numa dificuldade reles de
dinheiro, ganhava uma bolada boa, tinha dívidas a pagar, mas convidava a gente
pra um restaurante, onde acabava gastando não só o que ganhara, mas uma quantia
que os outros precisavam completar. Fazia uma improvisação no violoncelo,
completamente ruim e mal-executada, ou se arrepelava porque lhe tocavam errado
a ‘Lenda do Caboclo’, exemplificando ao piano de maneira horripilante, pra logo
estar ganhando horas empinando papagaio, e vir jogar na pauta os esboços duma
Ciranda ou de qualquer outra obra-prima. Depois, tudo mudou e não bom falar...
Mas preciso sempre que se afirme que muitos, que a maioria dos músicos
verdadeiros do Brasil, repudiam, até envergonhados, quase todos os escritos
‘com palavras’ publicados por Vila Lobos desde então. Desde as suas entrevistas
até os seus opúsculos de diretor dos serviços públicos. Mas nada impedirá,
nada, que ele seja o criador de numerosas obras-primas musicais, de uma
produção imensa que é quase toda do maior interesse de estudo e execução, um
dos compositores mais fortes do mundo contemporâneo. Apenas, como poesia, Vila
Lobos não é objeto de exportação nacional”.
-
A partir desse parágrafo Mário discorre sobre algumas obras para piano e
reafirma sua admiração pelas Cirandas. O crítico termina o artigo com
fecho de ouro:
“Pois é:
cheguei onde desde o princípio desta crônica eu pressentia que iria chegar. Com
Vila Lobos não é questão do bom e do ruim, mas de homens bons e de homens
ruins. Vila Lobos diz muita tolice e pratica outras tantas. Está certo
verificar sempre que ele não é objeto totalitarista de exportação diplomática.
Não é um pocket-book, isso não! Mas Vila Lobos é compositor. A música dele anda
impressa. E decide que ele está entre os mais fortes compositores da
atualidade. Quem, por essas Américas finas e grossas, tirar da pessoa dele
conclusões de valor ou qualificação, do Brasil ou mesmo dele: que se enforque”.[46]
-
Outra observação importante quando relacionamos MA e Villa é o livro inacabado de Mário, O
Banquete – Livraria Duas
Cidades, SP, prefaciado por Jorge Coli e Luiz Carlos da Silva Dantas – onde
reuniram os artigos publicados no “Mundo Musical”, da Folha da Manhã, já
mencionados. No O Banquete, muito provavelmente, Mário tenha “camuflado”
Villa no personagem “Janjão”. Outro personagem
desse livro, a milionária “Sarah Light”, provavelmente Mário “camuflou” a
pessoa da Dª. Olivia Penteado. Não sabemos qual seria o fim projetado por MA,
mas Janjão teria um fim triste, pois este seria “jogado na rua”, como
podemos verificar no Capítulo X: As Despedidas – A luta moral do compositor.
Noturno. Janjão jogado na rua;
Adendo Cultural: Realiza-se, em Belo
Horizonte – MG, a primeira Exposição de
Pintura Moderna em Minas, no governo do prefeito Juscelino Kubitschek
(1902-76). Inaugura-se o Curso de Artes Visuais de Guignard. O Museu Nacional
de Belas Artes do Rio de Janeiro realiza exposição de pintura brasileira e
norte-americana. Em novembro, em Londres, acontece exposição coletiva de
pintores brasileiros. Anita Malfatti expõe no VIII Salão do Sindicato dos
Artistas Plásticos. Participa também
de outras exposições coletivas: de Artes Plásticas, no ABI, Rio de Janeiro; no
Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, na Galeria Prestes
Maia; na de Pintura Moderna Brasileira & Norte-Americana, também na Galeria
Prestes Maia. A Livraria Martins Editora inicia a publicação
das Obras Completas de MA.
Adendo Brasil: A Força
Expedicionária Brasileira embarca para a Itália, desembarcando dia 16 de julho,
com 25 mil homens e o Brasil entra definitivamente na Guerra.
1945 – 14 de julho: Villa funda a Academia Brasileira de Música
(ABM) e torna-se seu primeiro presidente. A ABM foi criada nos moldes da
Academia Francesa. É uma instituição cultural sem fins lucrativos. Compõe-se de
40 acadêmicos. Compõe a Bachianas Brasileiras n.º 9, a Fantasia
para violoncelo e orquestra, o Quarteto de Cordas n.º 9. Nos Estados
Unidos, rege a Sinfônica de Boston em programa “só Villa-Lobos”;
Adendo Cultural: Janeiro: Sérgio Milliet inaugura a Secção
de Arte na Biblioteca Municipal de São Paulo, o primeiro acervo público de
arte moderna brasileira. 22
de janeiro, em São Paulo, acontece o Primeiro
Congresso Brasileiro de Escritores. 25 de fevereiro, Mário de Andrade vem a
falecer de ataque cardíaco, na sua casa, em São Paulo. 14 de março: morre no Rio de
Janeiro, o compositor e regente Antônio Francisco Braga. 24 de abril:
falece em São Paulo, o artista plástico italiano Ernesto De Fiori. O palacete
de Da. Olívia Guedes Penteado, localizado entre a Avenida Duque de Caxias e Rua
Conselheiro Nébias, São Paulo, foi demolido, destruindo uma das obras-primas de
Lasar Segall, de 1925. Em novembro: Anita Malfatti realiza exposição individual
em São Paulo, na Rua 7 de Abril, no Instituto dos Arquitetos, no Edifício
Esther, com algumas obras nitidamente impressionistas.
Adendo Brasil: 21 de fevereiro: Conquista de
Monte Castelo pela Força Expedicionária Brasileira (FEB). O Partido Comunista
Brasileiro (PCB), única organização que, mesmo na clandestinidade, se
identificava com a resistência à ditadura e com as ideias libertárias, catalisa
grande parte desse processo. Artistas e intelectuais aglutinam-se em torno de
suas propostas transformadoras e lança candidato próprio à presidência da
República. O PCB, após 18 anos de ação clandestina, em novembro, consegue registro
em termos definitivos. Fim da ditadura Vargas. Extinguiu-se o Estado Novo. Toma posse interinamente, José Linhares
(1886-1957). Novas eleições, em 2 de dezembro, eleito presidente o general
Eurico Gaspar Dutra (1883-1974).
1946 – Compõe o Quarteto de Cordas n.º 10.
Falecimento da mãe, Noêmia. Nesse ano o diplomata Dr. Vasco Mariz, 25 anos,
procura Villa com o interesse de escrever a biografia
do Maestro. Fato que realmente aconteceu, assim como Mariz viria escrever
outros livros sobre Villa. [Até hoje os livros de Vasco
Mariz sobre Villa-Lobos são referências indispensáveis para se estudar a vida e
a obra do Maestro. Sem desmerecimento aos outros autores, cravo novamente outro
nome para os interessados em conhecer Villa-Lobos: Paulo Renato Guérios – e seu
mais recente livro: Heitor
Villa-Lobos: o caminho sinuoso da predestinação. Ed. do Autor, Curitiba
– PR, 2009 – 2ª edição]. Villa recebe Prêmio de Música, que fora
concedido pelo Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura. O músico
Oscar Lorenzo Fernandez, neste ano, na “A
contribuição harmônica de Villa-Lobos para a música brasileira” – In: Boletin
Latino Americano de Música. a. 5, nº 6, abril de 1946 – p. 284, assim se
refere a Villa:
“Só quem
convive com esse grande artista, exteriormente tão desigual, é capaz de
compreender a sua evolução lenta e segura, pois Villa-Lobos, desde os seus
trabalhos de mocidade, em que se sente uma técnica deficiente e mão incerta,
embora já se notem acentos da sua força criadora, começa uma ascensão em que a
técnica vai melhorando dia a dia, vai enriquecendo-se até um período em que
atinge grande complexidade, para alcançar, no momento atual, uma maior
simplicidade de meios e, ao mesmo tempo, grande poder de síntese e de emoção,
numa cristalização total de sua poderosíssima personalidade. É esse,
geralmente, o quadro lógico da evolução dos grandes mestres: o de um Bach, o de
um Beethoven, o de um Wagner e será, sem dúvida, surpresa para muitos saberem
que Villa-Lobos, tido pela maioria por louco, não sei porque, é um artista
perfeitamente normal, observador, estudioso e, sobretudo um grande trabalhador”.[47]
Adendo Cultural: Em fevereiro: na Biblioteca Municipal do Rio de Janeiro, acontece a
“Exposição de Retratos de Mário de Andrade”. Acontece no Chile exposição de
Arte Brasileira organizada por Berto Udler. Acontecem em São Paulo o Salão do Sindicato
dos Artistas Plásticos e o Salão Paulista de Belas Artes, ambos na Galeria
Prestes Maia; e Exposição Homenagem
Póstuma a Mário de Andrade, na Galeria Itá. 7 de outubro: a Academia Brasileira de Música foi
reconhecida de utilidade pública por Decreto Federal.
Adendo Brasil: 31 de janeiro: posse do presidente Eurico Gaspar Dutra. Inicia-se o
período de democratização do país. 18 de setembro: promulgada a quinta Constituição
do Brasil. O governo cria o SESI (Serviço social da Indústria) e o SESC
(Serviço Social do Comércio). Através de Decreto Presidencial são fechados
todos os cassinos no Brasil e a proibição de todo tipo de “jogo de azar”. É criada a
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC).
1947 – Faz sua segunda viagem aos Estados
Unidos. Ganha o prêmio do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura.
Escreve com os libretistas Forest e Wright, a opereta Magdalena;
Adendo Cultural: Os artistas plásticos
John Graz e Antônio Gomide expõem em conjunto, em galeria da Rua Barão de
Itapetininga, São Paulo. 6 de julho: a
Academia Brasileira de Música é instituída como Órgão Técnico Consultivo do
Governo Federal, através de Decreto. Cândido Portinari, perseguido pelo
governo Dutra, exila-se no Uruguai. 2 de julho: tem início o Museu de Arte de
São Paulo (MASP), à Rua 7 de abril, 230, através do empresário
e jornalista Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello (1892-1968) e o
crítico de arte italiano Pietro Maria Bardi (1900-99). Também em julho, Cândido Portinari realiza sua primeira
exposição individual em Buenos Aires (Argentina), no Salón Penser.
Adendo Brasil: 14 de março:
Adhemar de Barros (1901-69), toma posse como governador de São Paulo. Seu
governo terminará em janeiro de 1951. O Tribunal Superior Eleitoral cancela o
registro do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
1948 – Em março: Em Roma, rege a Sinfonieta nº 2, composta no ano
anterior. A sua ópera Malazarte
é estreada nos Estados Unidos. Tem sua saúde agravada e é operado de câncer na
bexiga, nos Estados Unidos. Compõe a Canção de um poeta do Século XVIII
e o Quarteto de Cordas n.º 11;
Adendo Cultural: Lasar Segall viaja aos Estados
Unidos e, em março, realiza Exposição Individual na Galeria Artistas Americanos Associados (Associated American Artists Galleries), Nova York e, em maio, na União Pan-Americana, Washington. É realizada no
Teatro Municipal de São Paulo, Exposição
Coletiva de Artes Plásticas de Pintoras e Escultoras de São Paulo. Criação do
Museu de Arte Moderna (MAM) no Rio de Janeiro. O Museu de Arte Moderna de São
Paulo foi constituído oficialmente, por escritura pública, em 15 de julho. 4 de
julho: morre o escritor Monteiro Lobato. 27 de agosto: morre no RJ o
músico carioca (professor, compositor e regente): Lorenzo Fernandez. 20 de
setembro: morre em SP, Ernâni Braga, músico, compositor e intérprete de Villa.
1949 – Reinicia as turnês artísticas pela
Europa e Estados Unidos. Em Israel, compõe um poema sinfônico em homenagem ao
novo Estado;
Adendo Cultural: 8 de março: abertura da sede oficial do Museu de Arte Moderna de São
Paulo, à Rua 7 de abril. O MASP da Av. Paulista será inaugurado em 7 de
novembro de 1968, projetado pela arquiteta italiana Lina Bo (1914/92), esposa
de Pietro Maria Bardi. Acontece
a Primeira Retrospectiva de Anita Malfatti no MASP, São Paulo. Acontece em
Salvador (Bahia), o 1º Salão Baiano de Belas Artes, no Hotel Bahia. Em
19 de junho, em São Paulo, falece o desenhista e arquiteto Antônio Garcia Moya.
Tem início o acervo da Pinacoteca da Associação Paulista de Medicina que será
inaugurada em 1951.
1950 – Compõe o poema sinfônico Erosão;
o Assobio a Jato, para flauta e violoncelo, e o Quarteto de Cordas
n.º 12;
Adendo Cultural: Tarsila do Amaral
realiza retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a convite de seu
diretor, Sergio Milliet. Cândido Portinari participa da XXV Bienal de Veneza,
com seis obras.
Adendo Brasil: 18 de setembro: às 22 h, em São Paulo, foi ao ar o primeiro programa da
televisão brasileira, TV Tupi. 3 de outubro: Getúlio Vargas é eleito
presidente, obtendo 3.849.040 votos (49% dos votos válidos). Os outros dois
concorrentes, Eduardo Gomes (1896-1981), 30%, e Cristiano Machado (1893-1953),
22%.
1951 – Viaja para o Texas, Escandinávia,
Estocolmo, Copenhague, Paris. Compõe o Quarteto de Cordas n.º 13, o Concerto
para violão e orquestra e a Sinfonia n.º 9. Na sua passagem pela capital
da Paraíba, João Pessoa, Villa faz conferência se posicionando diante
da realidade musical brasileira. Algumas das suas colocações na Conferência:
- “O
Brasil tem uma forma geográfica de um coração. Todo brasileiro tem este
coração. A música vai de uma alma a outra. Os pássaros conversam pela música.
Eles têm coração. Tudo que se sente na vida se sente no coração. O coração é o
metrônomo da vida, e há muita gente na humanidade que se esquece disso. (...).
//Meus amigos, foi com esse pensamento que eu me tornei músico. Foi por isso
que eu me tornei um escravo profundo e eterno da vida do Brasil, das coisas do
Brasil. (...). Eu estou tão contente, cada vez mais, de ser brasileiro! (...).
//Eu fui pela música. E, se por acaso o meu exemplo puder servir de alguma
coisa a todos os meus patrícios, façam o mesmo. Sejam livres. Lembrem-se do
coração. Lembrem-se que este é que é o metrônomo da realidade. Com ele terão a
razão econômica de tudo, das coisas. Terão a medida exata da realidade da
própria vida. Lembrem-se de que é a arte que vem do coração para um coração, de
uma alma para outra alma, e a música é a primeira arte que conduz às outras
artes. Eu não digo isto porque sou música, não. Mas ela tem um poder positivo,
digamos um poder biológico. //Ela é uma terapêutica para a alma doente. A
música é um consolo para o sofredor. A música é um embalo para o pequenino no
colo de suas mães, seus pais. A música é o alento do desventurado. A música é a
alegria daqueles que são alegres. A religião, qual das religiões que existem
sobre a Terra e que não usou a música como elemento de atração aos seus
crentes? Essa música que Santo Ambrósio utilizou para formar depois os cânticos
litúrgicos definidos. É com essa música, senhores, que nós precisamos
compreender que o Brasil vive, e que ninguém percebe. //Ninguém percebe que o
país musical que existe sobre a Terra deixa passar, vagamente,
indiferentemente, essa música tão pura, música da alma, música do coração. Que
importa que haja duas espécies de música: a música da manifestação espontânea,
a música popular, e a música da alma elevada, da alma intelectual, a música da arte.
O folclore é o intermediário desses dois elementos, é a ciência da pesquisa, é
o traço de união de que se utiliza o criador para, tirando do povo essa música,
essa arte espontânea, burilar no seu coração, na sua alma, e trazer outra vez
para o povo. (...).[48]
Adendo Cultural: Acontece em São
Paulo o 1º Salão Paulista de Arte Moderna. 20 de outubro: inaugurada em S. Paulo a I Bienal de São Paulo, no
edifício Trianon (atualmente o edifício do MASP), na Avenida Paulista, com
obras de vários artistas modernistas.
Adendo Brasil: 18 de janeiro:
Vargas toma posse.
1952 – Recebe do Governo do Estado de S.
Paulo encomenda para obra comemorativa do IV Centenário da capital paulista – será
a Sinfonia n.º 10, Sumé Pater
Patrium. Viaja para Paris. Torna-se Membro Correspondente do Instituto da
França. Volta aos Estados Unidos;
Adendo Cultural: Acontece em São
Paulo a “Exposição Coletiva comemorativa da Semana de Arte Moderna de 1922”. O
artista Plástico Alberto da Veiga Guignard organiza o 7º Salão de Belas
Artes da Cidade de Belo Horizonte, na Prefeitura de Belo Horizonte – MG.
Tarsila do Amaral recebe o 2º Prêmio Nacional de Pintura, no valor de Cr$
50.000,00, quando da participação na I Bienal do Museu de Arte Moderna de São
Paulo. 27 de
setembro: morre na via Dutra o cantor Francisco Alves, chamado de “Chico Viola,
Rei da Voz”. O velório foi realizado na Câmara Municipal, na Cinelândia (RJ).
Adendo Brasil: 1º de janeiro:
Lucas Nogueira Garcez (1913-82) assume o governo do estado de São Paulo. Seu
governo terminará em janeiro de 1955. Vargas cria o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDE), a fim de incentivar a indústria nacional.
1953 – Compõe o Quarteto de Cordas n.º 14,
a Odisséia de Uma Raça, dedicada ao Estado de Israel; o Concerto n.º
2, para violoncelo e orquestra. Rege em Buenos Aires, a Orquestra Sinfônica
Nacional. Na 4ª edição do Pequena
História da Música, da Livraria Martins Editora, MA menciona Villa:
(...)
(Vila-Lôbos, Schoenberg, Stravinski, Wiener, etc.), usam constantemente efeitos
novos de voz na canção. Efeitos que, si enriquecem a música, são golpes duros
no bel canto e ainda no conceito da canção. Vila-Lôbos, a êsse respeito,
servindo-se de elementos do populário brasileiro, construiu uma série
genialíssima de obras pra canto e piano (“Sangô”, “Estrêla é Lua-Nova”, “Canidê
Ilune”, “Nozani-Ná” etc.).[48.1]
Ilustração 5 - Villa-Lobos é homenageado
na Câmara Municipal de Caracas – 1953
Adendo Cultural: Zina Aita volta ao
Brasil, Teresópolis, por curto período e retorna para a Itália. 20 de março: morre o escritor
Graciliano Ramos, consagrado como o maior romancista brasileiro depois de
Machado de Assis.
Em maio, concorrendo com a produção cinematográfica de 26 países, o filme
brasileiro: “O Cangaceiro” é premiado
no Festival de Cannes, na França, dirigido por Vitor de Lima Barreto. O Brasil
todo canta: Mulher Rendeira.
Adendo Brasil: Vão para o ar a TV
Rio (Canal 13) e a TV Record (Canal 7), de S. Paulo. Através da Lei n.° 2.004,
Vargas cria a Petrobrás, empresa estatal que detinha o monopólio de exploração
e refino do petróleo no Brasil.
1954 – Visita Israel a convite do governo de
Tel-Aviv. Compõe o Quarteto de Cordas n.º 15, a Sinfonia n.º 11
(encomendada pela Sinfônica de Boston), o Quarteto de Cardas n.º 16.
Recebe, nos Estados Unidos, o título de Doctor Of Music. Escreve a sua Décima Sinfonia, Sumé
pater patrium, escrita para o 4º Centenário da Cidade de S. Paulo. Nessa
obra, Villa adaptou os versos de Anchieta no poema Beata
Virgine, composto quando Anchieta se achava em Iperoig, como refém nas mãos
do selvagens. Esta obra, também chamada de Sinfonia ameríndia, foi
composta para orquestra, coro misto e solistas, sendo dividida em cinco tempos:
Alegro (A terra e os seres), Lento (Gritos de guerra e a voz da terra),
Allegretto Scherzando (Yurupichuna e a vida dos silvícolas), Lento (Aparição de
Anchieta e Poco Allegro (S. Paulo de Piratininga). Embora composta
para o 4º Centenário de S. Paulo, esta obra, dedicada a Mindinha, teve sua
estreia em Paris, no Teatro dos Campos Elíseos, com a Orquestra e o Coro da
Radiofusão Francesa, sob a regência do autor, a 4 de abril de 1947;[49]
Adendo Cultural: Por ocasião das
comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo, foi construído o Palácio
das Exposições, no Parque do Ibirapuera, onde acontece a Exposição de História
do Brasil. 22 de outubro: morre o
escritor Oswald de Andrade, na cidade de S. Paulo. Acontece em São Paulo, no
Museu de Arte Moderna, a Exposição Coletiva de Arte Contemporânea.
Adendo Brasil: 24 de agosto:
Vargas recebe um ultimato do ministro da guerra, exigindo seu afastamento.
Isolado no Palácio do Catete, Getúlio Vargas redige seu testamento e
suicida-se. Posse de João Café Filho (1899-1970), vice-presidente.
1955 – Está em Paris. A imprensa francesa faz
referências elogiosas a concertos na Salle Gaveau. Compõe Yerma (ópera
em três atos) e o balé Emperor Jones. Recebe a medalha “Richard Strauss,
da Sociedade Alemã de Proteção aos Direitos Autorais dos Músicos”. Recebe
também do Presidente da República, Café Filho, a Comenda “Ordem do Mérito”;
Ilustração 6-
Villa-Lobos dirigindo
a Orquestra de
Filadélfia, em 1955
Adendo
Cultural:
Anita Malfatti apresenta no MASP, a convite de Pietro Maria Bardi, a exposição “Tomei a liberdade de pintar a meu modo”.
Acontece o 4º Salão Paulista de Arte Moderna, exposição coletiva, na
Galeria Prestes Maia, em São Paulo. Em julho: acontece em São Paulo a III
Bienal Internacional de São Paulo. No Rio de Janeiro, sob a coordenação do
Itamaraty, em 27 de fevereiro, foi aberta no Teatro Municipal do Rio, uma das
maiores exposição de artes até então. 17 de dezembro: falece em São Paulo,
Victor Brecheret.
Adendo Brasil: Café Filho adoece e é afastado do cargo de presidente. Carlos Luz (1894-1961) assumiu o
cargo interinamente do dia 8 de novembro a 11 de novembro. Foi deposto. Nereu
Ramos (1888-1958) governou de 11 de novembro a 31 de janeiro de 1956. 3 de outubro: Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-76) é eleito
Presidente, obtendo 36% dos votos válidos.
1956 – Em Paris, Villa, no Teatro dos Campos Elíseos,
apresenta o seu Descobrimento do Brasil. Em Nova York, escreve a ópera Yerma, baseada na peça teatra de Garcia Lorca; escreve o balé Emperor Jones, também baseado em texto
teatral de Eugene O’Neill. De volta ao Brasil, vê morrer na Justiça
o processo de plágio que lhe movia o espólio de Catulo da Paixão Cearense por
sua utilização, no Choros n.º 10, da letra para Schottisch Yara, de
Anacleto de Medeiros;
Adendo Cultural: Acontece em São
Paulo, no Museu de Arte Moderna, a exposição “50 anos de Paisagem Brasileira”.
Di Cavalcanti participa como representante do Brasil na XXVIII Bienal de Veneza
e recebe o I Prêmio da Mostra Internacional de Arte Sacra de Trieste, Itália.
Adendo Brasil: 31 de janeiro: posse de Juscelino Kubitschek, como presidente do Brasil.
1957 – O The New York Times traz
editorial saudando os 70 anos do compositor. Seu aniversário foi comemorado o
ano todo – o “Ano Villa-Lobos”, declarado pelo Ministro da Educação e Cultura,
Clóvis Salgado: com palestras, debates e concertos. Em S. Paulo é promovida a “Semana
Villa-Lobos” e o compositor recebe o título de Cidadão Paulistano. A entrega do
título aconteceu na Câmara Municipal de S. Paulo, em 25 de setembro. Compõe o Quarteto
de Cordas n.º 17. Trabalha na partitura do filme Green Mansions, que
se transformará na Floresta do Amazonas;
Adendo Cultural: Zina Aita realiza
a exposição individual “Ceramiche di Zina
Aita”, na Galleria d’Arte Vanvitelli, em Nápoles – Itália. Participa também
da exposição coletiva “Mostra do Presépio”,
no Palácio Braschi, em Roma, e da exposição coletiva “Manifestação de Arte Nacional”, no Palácio Real, em Nápoles. 2 de
Agosto: Lasar Segall, vítima de enfermidade cardíaca, falece em sua casa, na
Rua Afonso Celso, em São Paulo. Foi sepultado no Cemitério Israelita da Vila
Mariana. Em setembro: acontece na 4ª Bienal do MASP, em São Paulo, a Exposição
Comemorativa Lasar Segall. Em São Paulo, a exposição de Anita Malfatti, de
1917, foi comemorada com uma mostra individual no “Clubinho” com desenhos e algumas
experiências abstratas. Anita Malfatti participa da exposição coletiva: “Arte
Moderna no Brasil”, em Buenos Aires (Argentina), no Museu de Arte Moderno;
ainda na Argentina, em Rosário, no Museu Municipal de Bellas Artes Juan B.
Castagnino; em Santiago do Chile, no Museu de Arte Contemporáneo; em Lima
(Peru), no Museu de Arte de Lima. Rego Monteiro retorna ao Brasil. Os poetas
paulistas Décio Pignatari (1927-2012), Haroldo de Campos (1929-2003) lançam o
"Manifesto Concretista".
Adendo Brasil: Fevereiro: inicia-se a construção da nova capital, Brasília, sob a
direção dos arquitetos Oscar Niemeyer (1907-2012) e Lúcio Costa, autor do plano
piloto da cidade.
1958
– Rege a Orquestra
Sinfônica Brasileira, no Rio de Janeiro, na primeira audição do Magnificat
Alleluia. Compõe a Bendita Sabedoria, para coro misto, a Fantasia
Concertante para orquestra de violoncelos;
Adendo Cultural: Janeiro: o
escritor, desenhista e pintor modernista Flávio de Carvalho, escandaliza a
elite moralista da cidade de S. Paulo, desfilando pelo centro da cidade com
saiote e meias rendadas de bailarina, alegando estar criando uma “nova moda
masculina” mais adequada ao clima do país. Março: acontece na Galeria de Artes
das Folhas, São Paulo, exposição Retrospectivas de desenhos e gravuras de Lasar
Segall. Como destaque na música: Surge a Bossa Nova, sob a liderança de João
Gilberto (1931), Roberto Menescal (1937), Chico Feitosa (1935-2004), Tom Jobim
(1927-94) e Nara Leão (1942-89). Estreia no Teatro de Arena a peça “Eles Não Usam Black-Time”, de
Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006). Falecimento do artista plástico Ignácio da
Costa Ferreira (Ferrignac). 14 de fevereiro: falece, em São Paulo, um dos
mecenas dos modernistas, o senador Freitas Valle.
1959
– 12 de julho: rege o
seu último concerto em Nova York, no Empire
Music, ao ar livre (Festival de Verão de Nova York). 7 de setembro:
assiste, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a uma execução do Magnificat
Alleluia, sob a regência de
Edoardo Guarnieri (1899-1968). Recebe a Medalha Carlos Gomes. A doença
que o acometera em 1948 volta a agravar-se. É internado no Hospital dos
Estrangeiros, voltando para casa depois de uma surpreendente recuperação;
Ilustração 7 -
Villa em seu último aniversário,
em maio de 1959.
–
17 de novembro, 16 horas:
Heitor Villa-Lobos morre em seu apartamento da Rua Araújo Porto Alegre, no Rio
de Janeiro. Foi velado no Salão Nobre do Ministério da Educação e Cultura, e
sepultado no dia seguinte, no cemitério de São João Batista.
Adendo
pós-falecimento de Villa-Lobos:
No adeus a Villa-Lobos, (...),
centenas de pessoas acompanharam o seu velório e o cortejo pelas ruas do Centro
e da Zona Sul. Durante toda a noite até a tarde do dia seguinte, o corpo do
compositor – vestido de fraque, gravata branca e rubi na lapela – foi velado no
auditório do Ministério da Educação e Cultura (MEC) por amigos, parentes e
admiradores, entre eles o presidente Juscelino Kubitschek.
- Era uma das mais altas
expressões da alma brasileira, um dos mais autênticos interpretes do nosso povo
e da nossa terra. Sua obra engrandeceu e revelou o Brasil, tornou maior o nosso
país. Dele se poderá dizer que continuará realmente vivendo através dos tempos,
com a força do seu gênio – afirmou JK na época.
(...). Do MEC, o cortejo com o
caixão levado por um carro do Corpo de Bombeiros seguiu até Teatro Municipal,
na Cinelândia. Ali a orquestra do teatro, sob a regência do maestro Edmundo
Blois, executou para o povo, a “Marcha fúnebre”, de Beethoven. Depois passou
pelo Obelisco a caminho do Cemitério São João Batista, em Botafogo, onde foi
sepultado “O índio de casa” (nome do documentário de Roberto Feith sobre o
músico).[50]
-x-x-x-x-
De longe e de perto, nós brasileiros estamos
continuamente em grande luto, com a perda do nosso inesquecível Villa-Lobos: glória
da nossa terra, glória de todas as Américas, glória de um mundo civilizado que,
consternado, sente sempre a falta da sua gigantesca personalidade!
Seu espírito, porém, não morrerá nunca; seu nome e
seu trabalho ficarão eternamente na história da civilização humana.
Minha alma saudosa chora pelo amigo que perdi e
pelo Maestro que venerava. [Bidu Sayão (1902-99)].[51]
1960 – Criado o “Museu
Villa-Lobos”, através do Decreto nº 48.379, de 22 de junho, com sede no
“Palácio da Cultura”, Rio de Janeiro, dirigido por Mindinha até sua morte, em
1985;
Ilustração 8 -
Villa-Lobos com Arminda,
sua segunda esposa,
fundadora do Museu Villa-Lobos. (sd)
1961 – O prefeito de Nova
York, Robert F. Wagner, proclama o dia 5 de março como o Dia Villa-Lobos;
1967 – O Conservatório
Nacional de Canto Orfeônico do Rio de Janeiro, criado e dirigido por
Villa-Lobos, é transformado em “Instituto Villa-Lobos”, através do Decreto nº
61.400, de 1º de Outubro;
1987 – Em 5 de março:
Quando das comemorações do 1º Centenário de Nascimento de Villa-Lobos, O
Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por
solicitação do Departamento de Instrumentos de Arco e de Cordas Dedilhadas da
Escola de Música, decidiu, por unanimidade, outorgar-lhe o título de “Doutor Honoris
Causa – post-mortem.
DEPOIMENTOS
Arminda Neves d’Almeida (Mindinha):
(...).
Villa-Lobos, o incompreendido de muitos que não
privaram de sua intimidade, foi a figura humana mais extraordinária que
conhecemos. Amigo leal, companheiro dedicado, músico intransigente mas
reconhecido aos seus fiéis intérpretes, foram as facetas admiráveis de seu
caráter.
Lutou vigorosamente contra a mais feroz das
enfermidades; trabalhou até o seu último alento. Não limitou sua existência às
precárias fronteiras da condição humana. A golpes de gênio, criando mesmo nos
momentos de maior angústia e dor, Villa-Lobos construiu, sozinho, o próprio
monumento de sua glória. Jamais correu atrás de louvores graciosos.
Os instantes de mais puro prazer de seus últimos
anos de vida foram aqueles em que, nas suas tournées pelo mundo afora,
pôde ouvir suas obras, recolhendo as multidões o frêmito afetuoso e entusiasta
do aplauso. Recebia consagrações e honrarias com a simplicidade dos gênios e
sentia-se feliz de ver sempre ao seu redor os amigos sinceros e verdadeiros.
Foi extremamente reconhecido àqueles que, de
qualquer modo, procuraram ajuda-lo no início de sua carreira artística. Com ele
aprendemos a querer bem e a ser gratos a Gilberto Amado, aos Penteado, aos
Guinle, a Laurinda Santos Lobo, a Paulo Prado, a Rubinstein, ao Bouças e muitos
outros.
Sem o calor de sua presença irradiante e amiga,
conforta-nos, no entanto, haver concorrido com uma pequenina parcela de nossa
dedicação, nosso profundo respeito e admiração e, sobretudo, nosso amor puro e
sincero, par a sua tranquilidade de produzir e ser feliz.
Não fomos a sua Musa Inspiradora. Villa-Lobos
possuía dentro dele mesmo a fonte inesgotável de inspiração.
Estamos convencidos, isso sim, de ter sido a sua
companheira e colaboradora de todas as horas; que não temeu as convenções
humanas e enfrentou, sem esmorecimentos, todas as barreiras de incompreensões,
visando sempre a sua felicidade pessoal.
Com que emoção nos recordamos, vê-lo escrevendo
como primeiras notas de uma nova criação musical, a carinhosa dedicatória “Á
Mindinha”. Esse é o tesouro inestimável que nos foi legado e que guardaremos no
fundo de nossa alma com infinita saudade.
Depoimentos.
Presença de Villa-Lobos, 1º V. Museu
Villa-Lobos. Departamento de Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1965,
pp157/158.
Luís da Câmara Cascudo:
Um dos mais eminentes compositores de universal
projeção contemporânea. Sua imaginação prodigiosa, a surpreendente
originalidade das soluções técnicas, a beleza envolvente e sempre nova de sua
melodia, a riqueza inesgotável dos recursos da expressão, o domínio soberano em
qualquer dos gêneros, a graça, irradiante e natural simpatia de sua figura,
fizeram-no personalidade de invulgar e rara presença na legitimidade do gênio
indiscutível. Sua obra, vasta e soberba de solidez e força sugestiva, mantém o
sabor musical acentuadamente brasileiro, mormente do folclore, fonte predileta
da inspiração magistral, valorizando rondas infantis, bailados indígenas que
viviam a mitologia ameraba, danças e cantos negros, modinhas e choros dos
seresteiros românticos, numa elevação de ritmos da tradição e aproveitamento
dos efeitos instrumentais populares. Não os estilizava, mas recriava, ampliando
em sonoridade as simples células motoras que existem na dinâmica do instinto musical
brasileiro. O interesse, devotamento, alegria do convívio humano para com todas
as manifestações de cultura coletiva do Brasil, integram Villa-Lobos como uma
das égides naturais na campanha de pesquisa e estudo do folclore nacional.
Cascudo, Luís da Câmara. Dicionário
do Folclore Brasileiro. Global Editora, São Paulo, 12ª ed. 2012, pp.
719/720.
Edoardo Guarnieri:
Conheci Villa-Lobos, como compositor, muitos anos
antes de eu vir para o Brasil. Suas obras eram muito mais conhecidas na Europa
do que na sua pátria. Eu, que vivi na França e Itália, conheci o Brasil através
da música desse grande compositor, isto durante a primeira grande guerra.
Guarnieri, Edoardo. In: Entrevista
ao Diário da Noite – 1949. Disponível em:
http://bernardoschmidt.blogspot.com.br/2013/02/menotti-del-picchia-fala-de-edoardo-di.html
- acesso em 2014.
Anna Stella Schic:
Como é difícil falar de Villa-Lobos!. (...). No fundo,
tudo é importante quando se trata dessa imensa criatura, dessa força da
natureza, desse ser, tão grande e tão simples. Villa-Lobos foi o mestre
exigente e o amigo de todos os momentos: foi ingênuo como uma criança e “rusé”
ao extremo na sua profunda intuição ao contato das pessoas. Que ninguém
imaginasse que poderia conquista-lo com mesuras, elogios rasgados ou
homenagens. Ele sorri por trás do enorme charuto e ficava flanando bem por cima
de tudo, quando não arrasava, pura e simplesmente, qualquer atitude afetada.
(...).
Villa-Lobos, o imenso Villa-Lobos, o criador
inesgotável, que em seus últimos dias ainda se preocupava com o penteado da
afilhada, representa aos olhos do mundo o que o Brasil possui de autêntico e de
pujante. Passou, assim, Villa-Lobos, a habitar o céu e a irradiar a beleza de
sua arte sobre a terra.
Depoimentos.
Presença de Villa-Lobos, 1º V. Museu
Villa-Lobos. Departamento de Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1965, pp. 15 e
17.
Clovis Salgado:
Reverenciamos em Heitor Villa-Lobos o gênio musical
mais poderoso dos músicos, em todos os tempos.
Sua vibrante sensibilidade foi beber inspiração na
fonte prodigiosa da tradição popular e buscava força na assombrosa fertilidade
da terra virgem. Por isso, suas criações têm o vigor, a solidez e o sabor das
peças autêntica.
Em suas melodias canta a própria alma da nossa
gente. Em suas harmonias vibram os clamores da terra, das florestas, das
cachoeiras, dos mares e dos céus do Brasil.
Depoimentos.
Presença de Villa-Lobos, 1º V. Museu
Villa-Lobos. Departamento de Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1965, p. 55.
NOTAS:
[1] Azevedo,
Sânzio de. A Padaria Espiritual e o Simbolismo no Ceará. Casa de José de
Alencar, Fortaleza, CE, 2ª ed., 1996 – p. 59.
[1.1]
Kiefer, Bruno. Villa-Lobos e o Modernismo na Música Brasileira. 2ª Ed.
Editora Movimento (Porto Alegre) & INL: Fundação Nacional Pró-Memória
(Brasília), 1986, p. 123.
[2] Nóbrega,
Adhemar. Presença de Villa-Lobos. MEC/Museu Villa-Lobos, RJ, 4º vol.,
1969, p. 17.
[2.1] Pinto, Maristela
Barros. In: “Lucília Guimarães
Villa-Lobos (1894-1966) – História de vida de uma mulher musicista e artista e
seu trabalho silencioso junto ao mestre Villa-Lobos”. Pesquisa apresentada
por Maristela Barros Pinto como mestranda pela Universidade Severino Sombra, Vassouras/RJ,
no XIV Encontro Regional da ANPUH-RIO – Memória e Patrimônio, de 19 a 23 de
julho de 2010. Pdf disponibilizado na Internet, p. 4. Acesso em 2012.
[3] Estrela,
Arnaldo. Os Quartetos de Cordas de Villa-Lobos. MEC/Museu Villa-Lobos,
RJ, 1970, p.10.
[4] Guimarães,
Luiz. Villa-Lobos Visto da Plateia e na Intimidade. RJ, 1972, p. 224.
[5] Horta,
Luiz Paulo. Villa-Lobos – Uma Introdução. Jorge Zahar Editor, RJ, 1ª
ed., 1987, p. 42.
[6] Kiefer,
Bruno. Villa-Lobos e o Modernismo na Música Brasileira. 2ª Ed. Editora
Movimento (Porto Alegre) & INL: Fundação Nacional Pró-Memória
(Brasília), 1986, pp. 59 a 61, 100.
[6.1]
Wisnik, José Miguel. O Coro dos Contrários: a música em torno da semana de
22. Livraria Duas Cidades, SP, sd, pp. 71/72.
[6.2]
Boaventura, Maria Eugênia (Org). 22 por
22: A Semana de Arte Moderna vista pelos seus contemporâneos. Edusp, São
Paulo, 2000. pp. 77 a 79.
[6.3] Batista,
Marta Rossetti; Lopez, Telê Porto Ancona; Lima, Yone Soares de. Brasil: 1º Tempo Modernista – 1917/29 –
Documentação. Instituto de Estudos Brasileiro, São Paulo, 1972, pp. 304 a
306.
[6.4] Boaventura,
Maria Eugênia (Org). 22 por 22: A Semana
de Arte Moderna vista pelos seus contemporâneos. Edusp, São Paulo, 2000.
pp. 453/454.
[6.5] Wisnik,
José Miguel. O Coro dos Contrários: a música em torno da semana de 22. Livraria
Duas Cidades, SP, sd, p. 91.
[7] Idem, pp.
74/75.
[8] Rezende,
Neide. A Semana de Arte Moderna. Editora Ática, SP, 1ª Ed., 2000, p. 43.
[9] Wisnik,
José Miguel. O Coro dos Contrários: a música em torno da semana de 22. Livraria
Duas Cidades, SP, sd, p. 75.
[9.1] Idem,
pp.78/79.
[10] Villa-Lobos.
Coleção A Vida dos Grandes Brasileiros. Editores: Domingo Alzugaray e
Cátia Alzugaray. Editora Três Ltda, Cajamar – SP, (edição exclusiva para
assinantes das Revistas “Isto É”: Gente e Dinheiro), sd, pp. 82/83.
[10.1]
Boaventura, Maria Eugênia (Org). 22 por
22: A Semana de Arte Moderna vista pelos seus contemporâneos. Edusp, São
Paulo, 2000. pp. 259/260.
[10.2] Idem,
pp. 131/132.
[10.3]
Batista, Marta Rossetti; Lopez, Telê Porto Ancona; Lima, Yone Soares de. Brasil: 1º Tempo Modernista – 1917/29 –
Documentação. Instituto de Estudos Brasileiro, São Paulo, 1972, p. 312.
[11] Andrade, Mário de & Bandeira, Manuel. Correspondência
Mário de Andrade & Manuel Bandeira. Org. Intr. e Notas: Marco
Antonio de Moraes. EDUSP & IEB, SP, 2ª ed., 2001 – pp. 87/88; Notas p.
89.
[11.1] Wisnik,
José Miguel. O Coro dos Contrários: a música em torno da semana de 22. Livraria
Duas Cidades, SP, sd, pp. 142/143.
[12] Andrade, Mário de
& Amaral, Tarsila do. Correspondência Mário de Andrade &
Tarsila do Amaral. Org.
Aracy Amaral. EDUSP & IEB, SP, 1ª ed., 2001 – p.64/67.
[13] Prado,
Yan de Almeida. A Grande Semana de Arte Moderna. Edart – Livraria
Editora Ltda. – SP, 1976 – pp. 67/68.
[13.1] Idem,
pp. 72/73.
[14] Idem, pp.
75/76.
[15] Bandeira,
Manuel. In: Ariel – revista de cultura Musical, ano II, out. 1924, nº
13, SP.
[16] Andrade, Mário de & Bandeira, Manuel. Correspondência
Mário de Andrade & Manuel Bandeira. Org. Intr. e Notas: Marco
Antonio de Moraes. EDUSP/IEB, SP, 2ª ed., 2001 – p. 135.
[17] ________.
Correspondência Mário de Andrade & Manuel Bandeira. Org. Intr. e
Notas: Marco Antonio de Moraes. EDUSP & IEB, SP, 2ª ed., 2001 – p. 142;
Notas p. 143.
[18] Idem -
pp. 148/149.
[19] Idem –
p. 163.
[21] Idem –
p. 164; Nota: p. 172.
[23] Andrade,
Mário de. Cartas de Mário de Andrade a Prudente de Moraes, neto – 1924/36. Organizado
por Georgina Koifman e apresentação de Antonio Cândido. Nova Fronteira, RJ,
1985 – p. 74.
[24] Andrade, Mário de & Bandeira, Manuel. Correspondência
Mário de Andrade & Manuel Bandeira. Org. Intr. e Notas: Marco
Antonio de Moraes. EDUSP & IEB, SP, 2ª ed., 2001 – p. 220.
[29] Idem –
pp. 286/287.
[32] Machado,
Maria Célia. Heitor Villa-Lobos – Tradição e Renovação na Música Brasileira.
Ed. Francisco Alves & UFRJ, RJ, 1987, p. 72.
[32.1]
Kiefer, Bruno. Villa-Lobos e o Modernismo na Música Brasileira. 2ª Ed.
Editora Movimento (Porto Alegre) & INL: Fundação Nacional Pró-Memória
(Brasília), 1986, p. 137.
[32.2] Batista,
Marta Rossetti; Lopez, Telê Porto Ancona; Lima, Yone Soares de. Brasil: 1º Tempo Modernista – 1917/29 –
Documentação. Instituto de Estudos Brasileiro, São Paulo, 1972, pp.
336/337.
[32.3]
Disponível em: http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/em-1928-homenagem-santos-dumont-termina-na-maior-tragedia-aerea-do-pais-10942291#ixzz4hkjQjN5s
– acesso em 21/5/2017.
[33] Andrade,
Mário de & Bandeira, Manuel. Correspondência Mário de Andrade
& Manuel Bandeira. Org. Intr. e Notas: Marco Antonio de Moraes.
EDUSP & IEB, SP, 2ª ed., 2001 – pp. 431/432 – Nota 35: p. 433.
[34] Guérios,
Paulo Renato. Heitor Villa-Lobos: o caminho sinuoso da predestinação. Edição
do Autor, Curitiba - PR, 2009, p. 186.
[35] Andrade, Mário de & Bandeira, Manuel. Correspondência
Mário de Andrade & Manuel Bandeira. Org. Intr. e Notas: Marco
Antonio de Moraes. EDUSP & IEB, SP, 2ª ed., 2001 – pp. 433/434 – Notas
38 e 39: p. 435.
[35.1] Batista,
Marta Rossetti; Lopez, Telê Porto Ancona; Lima, Yone Soares de. Brasil: 1º Tempo Modernista – 1917/29 –
Documentação. Instituto de Estudos Brasileiro, São Paulo, 1972, pp. 385/386.
[35.2] Depoimentos. Presença de Villa-Lobos, 1º V. Museu Villa-Lobos. Departamento de
Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1965, p. 12.
[36] Machado,
Maria Célia. Heitor Villa-Lobos – Tradição e Renovação na Música Brasileira.
Ed. Francisco Alves & UFRJ, RJ, 1987, pp. 3/4.
[37] Andrade,
Mário de & Bandeira, Manuel. Correspondência Mário de Andrade
& Manuel Bandeira. Org. Intr. e Notas: Marco Antonio de Moraes.
EDUSP & IEB, SP, 2ª ed., 2001 – pp. 466/467.
[39] Prado,
Yan de Almeida. A Grande Semana de Arte Moderna. Edart – Livraria
Editora Ltda – SP, 1976 – pp. 81/82.
[40] Revista do IEB/USP – SP, 27, 1987
- pp. 53/57.
[41] Andrade,
Mário de & Bandeira, Manuel. Correspondência Mário de Andrade
& Manuel Bandeira. Org. Intr. e Notas: Marco Antonio de Moraes.
EDUSP & IEB, SP, 2ª ed., 2001 – p. 620.
[41.1]
Franco, Afonso Arinos de Mello; Lacombe, Américo Jacobina. A Vida dos Grandes Brasileiros – Villa-Lobos. Texto de Francisco
Pereira da Silva. Grupo de Comunicação Três S.A., São Paulo, 2003, pp. 143/144.
[42] Villa-Lobos.
Programa de ensino de música. Departamento de Educação do Distrito Federal.
Programas e Guias de Ensino. RJ, Secretaria Geral de Educação e Cultura, 1937.
p. VIII.
[42.1]
Andrade, Mário de. Aspectos da Música
Brasileira. Obras Completas de Mário de Andrade – Vol. XI. Livraria Martins
Editora, São Paulo, 1965, p. 115.
[43] Machado,
Maria Célia. Heitor Villa-Lobos – Tradição e Renovação na Música Brasileira.
Ed. Francisco Alves; UFRJ, RJ, 1987, pp. 43/44.
[44] Andrade,
Mário de. Aspectos da Música Brasileira. Martins, S. Paulo, 1965, p. 32.
[45] _________.
A Lição do Guru (Cartas a Guilherme Figueiredo) – 1937/1945. [Copyright
by Guilherme Figueiredo]. Civilização Brasileira, RJ, 1989 – pp. 51
a 54.
[46] Toni,
Flávia Camargo. Mario de Andrade e Villa-Lobos. Conferência apresentada
no IEB/USP, a 26 de março de 1987. Revista do IEB-SP, nº 27:43-58, p. 51, 1987.
[47] Revista do
IEB/USP, SP, nº 42, 1997, pp. 59/63.
[48] Machado,
Maria Célia. Heitor Villa-Lobos – Tradição e Renovação na Música Brasileira.
Ed. Francisco Alves; UFRJ, RJ, 1987, pp. 92 a 95.
[48.1]
Andrade, Mário de. Pequena História da
Música. Obras Completas de Mário de Andrade – Vol. VIII. Livraria Martins
Editora, São Paulo, 1953, pp. 206/207.
[49] Idem,
pp. 58/59.
[50] Vilela, Gustavo. Matéria: Multidão se despediu de Villa-Lobos em cortejo pelas ruas do Rio em 1959. In: http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/multidao-se-despediu-de-villa-lobos-em-cortejo-pelas-ruas-do-rio-em-1959-14582483 – acesso em setembro de 2017.
[51] Depoimentos. Presença de Villa-Lobos, 1º V. Museu
Villa-Lobos. Departamento de Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1965, p. 41.
ILUSTRAÇÕES:
2 – Reprodução do livro: “Villa Lobos por Alejo Carpentier” –
IMESP, 1991, P. 33.
3 – Idem, p. 43.
4 – Idem, p. 35.
5 – Idem, p. 54.
6 – Reprodução do
jornal Letras & Artes – Matéria
“Villa e o poeta da Vila”, de Eurico Nogueira França. Março de 1987, p. 6.
7 – Reprodução da Folha Ilustrada. Folha de S. Paulo.
Edição de 27/3/1997, p. 10.
8 – Reprodução do
livro: “Villa Lobos por Alejo Carpentier”
– IMESP, 1991, P. 67.
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http://www.viamusical.com.br/cursos/historia-do-violao/villa-lobos
- acesso em setembro 2017
https://oglobo.globo.com/cultura/cem-anos-apos-estreia-de-villa-lobos-como-compositor-divulgacao-da-obra-ainda-um-desafio-16463803
- acesso em setembro de 2017
http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=404#.Wc2OEsZrziw
– acesso em 28/9/2017
VÍDEOS IMPORTANTES SOBRE VILLA-LOBOS
https://youtu.be/3WNDf03560c
- Parte 1
https://youtu.be/NEk95jHc1Ng
- Parte 2
- Oliveira,
Márcia de. Professora de Literatura e Língua Portuguesa - Graduada em Letras
pela Universidade Federal do Ceará – UFC.
NOTA FINAL:
– Última atualização da Síntese Biográfica e Histórica de Villa-Lobos: Outubro
de 2017, por Luiz de Almeida.